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A Ponte – O Outro Lado do Cartão Postal



Por Anabela

Imagens são poderosas. Evocam sonhos e pesadelos. Destroem idealizações. São imagens belas e ao mesmo tempo aterradoras que encontramos em um documentário chamado A Ponte. Durante todo o ano de 2004, o documentarista Eric Steel posicionou câmeras em direção a Golden Gate, a famosa ponte em São Francisco, para registrar imagens 24 horas por dia.
Moveu-o a informação de que lá seria o lugar onde se comete o maior número de suicídios no mundo! O resultado de seus registros embora triste e perturbador, é fascinante. Através de suas lentes, vemos uma Golden Gate quase sempre envolta em neblina. Cúmplice em seus 130 m de altura, de pessoas que a escolhem como último cenário de suas vidas.
Entre surfistas, turistas e suicidas, mesclam-se imagens de vida e de morte. Um homem fala por alguns minutos no celular, pula o parapeito e se benze antes de se atirar na água. Uma família ao visitar pela primeira vez a ponte, testemunha o salto de uma mulher que lhes sorri antes de pular.
Um surfista presencia uma queda e declara-se inconformado com a idéia de que alguém decida morrer num dia tão belo e ensolarado como aquele. Dois rapazes conversam por alguns minutos com um homem que subitamente se atira na água. Uma moça é salva, contra sua vontade, por um fotógrafo que a puxa de volta à segurança pela gola de seu casaco. Depoimentos de familiares e amigos daqueles que saltaram, nos levam a conhecer histórias de desilusões amorosas, expectativas frustradas e distúrbios mentais. Gene, metaleiro cabeludo com predileção pela cor preta, considerava-se um fracassado em todos os aspectos de sua vida. Lisa, esquizofrênica, já sofrera várias desilusões amorosas. Ruby era depressivo com histórico de suicídios na família. Jim passava por sérias dificuldades financeiras. David tomava antidepressivos e tinha dificuldades para dormir. Philip não conseguia lidar com suas frustrações e já tentara morrer duas vezes. Todos personagens de uma história com o mesmo final. Todos deixando entre parentes e amigos, perplexidade e um grande sentimento de culpa.

A história de Kevin é peculiar. Diagnosticado como bipolar, alternava momentos de depressão e euforia. Alucinava, ouvia vozes. Chegou à ponte chorando e atendendo ao pedido de uma turista russa que não percebeu suas lágrimas, fotografou-a. Depois de 40 minutos de exitação, saltou. A queda de longos 7 segundos deu-lhe tempo de perceber que não queria morrer. Torceu o corpo para que caísse de pé, mergulhou numa profundidade de 12 metros e lutou para chegar à superfície, onde inacreditavelmente manteve-se flutuando com a ajuda de uma foca. Quebrou vários ossos, teve hemorragia interna, entrou em coma, mas sobreviveu.
Uma mulher vinda do Texas e que não se identifica, após desistir de saltar declara: “ Não sei se as pessoas pensam no processo pelo qual passamos quando decidimos acabar com nossa vida. É uma busca; é como procurar uma faculdade para estudar e examinamos os prós e os contras. É um ato destrutivo, mas é um processo bastante racional, apesar de muitos o considerarem irracional”.
Nisso reside o mérito do trabalho de Steel. Seus personagens não são apenas números numa estatística macabra; ele os humaniza e dá-lhes voz. No ano de 2004, vinte e quatro suicídios foram registrados, mesmo com todo o policiamento do local. Os que já tomaram sua decisão, diferentemente daqueles que só querem chamar a atenção, não se deixam impedir. Uma das últimas imagens que vemos é a de Gene, em suas roupas pretas, saltando de costas com os longos cabelos ao vento. Impactante e inesquecível, esse é um raro exemplar de cinema que nos leva a refletir e rever conceitos.

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