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Uma semana...

É meus amigos cinéfilos, falta exatamente uma semana para a maior premiação/festa do cinema: o Oscar. Muita gente vem dizendo que o Oscar deste ano está fraco, porque os filmes que concorrem são fracos. Ora, então o ano de 2001 foi o pior de todos (ano em que Gladiador venceu, e seu maior concorrente era Traffic e até mesmo Chocolate fora indicado...). Pra mim, a melhor edição do Oscar fora a de 2008, afinal, contou com os melhores filmes: Sangue Negro, Onde os Fracos Não têm Vez, Desejo e Reparação, O Gângster, Na Natureza Selvagem, entre outros. O ano de 2009, particularmente, foi um dos piores da década, afinal, foi o ano que o nada mais que "bonzinho" Quem Quer Ser Um Milionário venceu. Contava com apenas um longa realmente bom na lista (O Curioso Caso de Benjamin Button). Outro ano deplorável foi o de 2003, se não estou enganado no ano. Foi aquela edição do Oscar cujo vencedor foi Chicago. É incrível como um ano bom para o cinema tenha sido tão ruim para o Oscar. O ano de 2004 foi incrível, afinalm fora o ano que O Retorno do Rei levara 11 merecidos Oscar. Foi o ano também que a obra-prima de Clint Eastwood foi lançada (Sobre Meninos e Lobos). Foi o ano que Cidade de Deus, de Fernando Meireles teve quatro indicações ao Oscar incluindo melhor direção, competindo com gente como Peter Jackson, Eastwood e Peter Weir.

Mas porque tudo isso?

Oras, para dizer que sim, o Oscar 2010 é sim muito bom, afinal, conta com ótimos filmes.

Em qual edição do Oscar 70% dos filmes indicados são bons? Não lembro de nenhuma! Se fossem cinco indicados, isso significa que três dos cinco filmes são bons. No caso deste ano, sete dos dez indicados são realmente bons. E isto, é número surpreendente. Desde 2008 não tínhamos uma ano com tantos filmes bons.

Então, não saia por aí falando bobagens. Avalie o ano, os filmes e o Oscar.

Diga nos comentários, qual a edição do Oscar que você mais gostou. Pode ser mais de uma.

Enquanto aqui no blog, é correria total. Tenho que escrever sobre os favoritos até domingo, e minhas férias, infelizmente, já acabaram, então...

Fique por aqui. Leia meus textos sobre os favoritos e apontem os de vocês. É sadio e legal.

Abraços e fiquem por aqui!

Matheus Pereira

Obs.: Perdoem a demora para postar, é que as férias terminaram e o ano acabou de começar literalmente. Em poucos dias, tudo estará no lugar novamente. Assim espero!

Falta muito pouco para a maior festa do cinema mundial. E eu, claro, estou correndo contra o relógio.

Mas antes de tudo, vamos lembrar os indicados a Melhores Efeitos Especiais:

-Avatar
-Distrito 9
-Star Trek

Sem rodeios e fescura: o prêmio de Efeitos Especiais e de Avatar. Se não for, nem sei o que pensar. Distrito 9 e Star Trek são ótimos na área com efeitos grandioso e realistas, mas não podemos negar a perfeição de Avatar. Gostando do filme ou não, me desculpe, mas é retardado aquele que não admite a perfeição técnica do filme. Não precisa comentários. Não precisam explicações. Basta ver o trailer e constatar os magníficos efeitos. Sem falar na revolução que o filme causou na área. O 3D e a captura de movimentos são espetaculares e trazem aos olhos algo que até então não fora visto. É uma pena que Distrito 9 tenha sido lançado no mesmo ano de Avatar. Se o filme de James Cameron não existisse, você pode ter certeza que a ficção produzida por Peter Jackson seria uma das favoritas. Muitos acham os efeitos de Star Trek melhores. Eu não acho pelo seguinte fato: os efeitos de Distrito 9 são mais sutis e mais realistas. Os de Star Trek são mais explícitos e um tanto comuns. Mas aí você pensa: "esse blogueiro deve estar louco ao dizer que Star Trek tem efeitos explícitos e Avatar não". Eu explico: os efeitos de Avatar, são sim, explícitos, mas são inéditos. Novinhos e surpreendentes. Muitos reclamam da ausência de 2012 e o segundo Transformers. Bem, acho qualquer um dos indicados muito superiores que os dois esquecidos recém citados.

Quem vence: Avatar
Tomara que não vença: São todos competentes, mas se é pra escolher apenas um, escolho Star Trek.
Torço para: Avatar
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Vamos lembrar os indicados a Melhor Maquiagem:

-Il Divo
-Star Trek
-The Young Victoria

Se há uma categoria surpreendente, esta é a de Maquiagem. Infelizmente não posso fazer comentários mais profundos pois não assisti Il Divo e The Young Victoria. Mas posso comentar pela lógica: Star Trek deve vencer. Por quê? Oras, porque é o que mais tem indicações e o que mais se encaixa na categoria. Mas não se surpreenda se a Academia resolver supreender e dar o prêmio pro filme italiano. A maquiagem que visita o sutil e o mais "exagerado" (não falta de uma palavra melhor, uso esta) deve ser a melhor das três. Il Divo trás, talvez, a maquiagem mais sutil dos três. É a mais "escondida", e isso ajuda muito, já que um dos principais objetivos da maquiagem (e dos efeitos visuais, ou você não lembra quando Gladiador venceu o Oscar na categoria) é este: esconder e ser o mais realista possível, fazer com que o real se misture com perfeição à maquiagem. Sinceramente, não sei os atributos de The Young Victoria nesta área. Creio que o envelecimento dos personagem e a "recriação" de maquiagem da época seja muito competente a ponto de roubar a vaga de filmes (muito mais competentes, creio) como Distrito 9.

Quem vence: Star Trek (digo isso pela lógica, pois não vi os outros dois)
Tomara que não vença: Como não vi os outros dois, seria uma falta de educação com você, leitor, fazer esse tipo de afirmação.
Torço para: Também não posso afirmar, mas é claro que Star Trek está na frente pelos fatos expressos nos comentários.
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Quentin Tarantino e a Weinstein Company se uniram a Upper Playground e a divisão de marketing do Global Studios para criar A Arte Perdida de Bastardos Inglórios.

Vários artistas criaram sua versão de pôster para o longa de Tarantino. Eles estão sendo apresentados na galeria da Upper Playground.

A quantidade de pôsters é limitada e cada uma custa cerca de 300 dólares. Todo o dinheiro ganho será revertido para as vítimas do Haiti.



Eis o novo cartaz da aguardada refilmagem de "A Hora do Pesadelo".


Pessoalmente, estou bem ansioso para assistir. A atuação de Jackie Earle Haley promete. Tomara que não seja mais um filme idiota de serial-killer...

O filme é produzido por Michael Bay e tem estreia dia 16 de abril, aqui no Brasil.

Vencedores do BAFTA 2010

Eis os vencedores do BAFTA 2010, o "Oscar" britânico. É considerável um bom termômetro, mas este ano parece ter derrapado feio...

Melhor Filme:
Guerra ao Terror

Melhor Diretor:
Kathryn Bigelow – Guerra ao Terror

Melhor Roteiro Original:
Guerra ao Terror

Melhor Roteiro Adaptado:
Amor Sem Escalas

Melhor Ator:
Colin Firth - Direito de Amar

Melhor Atriz:
Carey Mulligan – Educação

Melhor Ator Coadjuvante:
Christoph Waltz - Bastardos Inglórios

Melhor Atriz Coadjuvante:
Mo’nique – Preciosa

Melhor Filme Britânico:
Aquário

Prêmio Carl Foreman (para diretores, roteiristas ou produtores britânicos estreantes):
Duncan Jones – diretor de Lunar

Melhor Filme de Língua Não-Inglesa:
O Profeta

Melhor Animação:
Up – Altas Aventuras

Melhor Trilha Sonora:
Up – Altas Aventuras

Melhor Fotografia:
Guerra ao Terror

Melhor Edição:
Guerra ao Terror

Melhor Direção de Arte:
Avatar

Melhor Figurino:
The Young Victoria

Melhor Som:
Guerra ao Terror

Melhor Efeitos Visuais:
Avatar

Melhor Maquiagem e Cabelo:
The Young Victoria

Melhor Curta de Animação:
Mother of Many

Melhor Curta-Metragem:
I do Air

Prêmio Orange Rising Star (votado pelo público):
Kristen Stewart
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Comentários: Em geral, uma piada. Não me entendam mal. Eu adoro Guerra ao Terror, nota dez, poderia até levar o prêmio de Melhor Filme e Melhor Direção, mas sinceramente, seis prêmios é uma superestimação ignorante! Talvez seja o calor da notícia, mas estou sentindo uma revolta inacreditável do BAFTA, prêmio que até este ano, levava muito a sério. O longa de Kathryn Bigelow levou os prêmios de Fotografia, Edição e Som (!!!!!!!!). Com a fotografia de Avatar e A Estrada, Guerra ao Terror merecia ficar na lanterna. Tem uma boa fotografia, mas muito inferior as outras. O prêmio de edição até é válido, mas mesmo assim, não é a melhor. E som... err... uma piada ao cubo! Com Avatar na concorrência... sinceramente... Como já comentei aqui mesmo no blog, a área de som do filme não tem NADA de mais. É nítida minha torcida para Avatar, mas eu gosto muito de Guerra ao Terror e fico feliz com a vitória de qualquer um, mas tudo tem limite. Fiquei muito feliz com a vitória de Colin Firth por Direito de Amar, Carey Mulligan, mesmo tendo feito um trabalho magnífico, só venceu por ser britânica. Premiação que se comprova bairrista e um tanto fora de órbita. Tem bem cara de britânico mesmo!

TOP 20
Os Melhores da Década

20º - Moulin Rouge (2001)


Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann
Elenco: Nicole Kidman, Ewan McGregor, John Leguizamo, Jim Broadbent e Richard Roxburgh
País de Origem: Austrália e Estados Unidos
Gênero: Romance/Musical
Duração: 127 min.

Quando um cineasta ressucita algo ou alguém, o nome dele é timbrado na história do cinema. Baz Luhrman foi o cara que, de certa forma, ressucitou o gênero musical no cinema. Alguma obra aqui e ali apareciam, mas nenhuma que trouxesse a luz do sol de volta ao antes badalado gênero musical. O que estava faltando? Músicas? Atores qualificados? Não. Estava faltando uma mente criativa e corajosa como a de Luhrmann. Estava faltando aquele toque especial que só o diretor poderia dar. Misturando os ingredientes essenciais (músicas alegres, romance, belos cenários e figurinos luxuosos) com toques únicos e originais (o tom onírico, a alegria ímpar e contagiante e uma originalidade pura) Luhrmann conquistou o mundo como ninguém e trouxe um novo olhar e o devido respeito ao gênero. A belíssima Nicole Kidman arranca suspiros com sua beleza, digamos, diferente. McGregor (ator que parece ter se perdido após trabalhar neste filme) concebe um personagem honesto, doce, fiel e apaixonado. Broadbent parece ter nascido para o personagem que mesmo tendo a imagem paternal para as dançarinas e companheira para os clientes tem lá suas ambições e segredos. Roxburgh interpreta aquele vilão caricato (e isso, incrivelmente, não é um problema), que é só um vilão ambicioso e nada mais. Com um roteiro simples, sem muitas ambições narrativas, mas com um clima e uma "alma" poderosa, Moulin Rouge marcou. Depois dele, nenhum musical foi o mesmo, e nenhum marcou tão consideravelmente a história do cinema.

Matheus Pereira

Top 20
Os Melhores da Década
Uma pequena introdução


Como é bom falar de coisas boas. Relembra-las e posteriormente dividi-las com alguém. Como é bom olhar para trás e ver que o tempo, foi sim, muito generoso. Nos trouxe da felicidade a tristeza, da sorte ao azar, do amor ao ódio, do bom filme ao péssimo. É só olhar para os últimos dez anos e ver como o cinema foi bom. Pra mim não tem essa conversa de "os anos noventa é 'isso'", "os anos oitenta é 'aquilo'", "tal década é melhor". Isso me irrita. Cada década tem a sua marca, a sua trajetória, sua parcela de filmes bons e ruins. Rotular esta década é difícil. Ainda é cedo para tal. Talvez no final da década que vem possamos, ao menos, dizer que esta década foi a que marcou alguma coisa. Se foi relavante para a história, sinceramente, não sei. Mas pra mim. Pra minha alma, pro meu espírito foi sim, muito relevante.

Como o tempo passa. Como a gente vive bastante em dez anos. Enquanto estamos vivendo achamos que o tempo passa voando, mas se olharmos para trás, veremos que vivemos bastante, presenciamos muito.

Foi por gostar de relembrar o passado e as coisas boas, que comecei a matéria Melhores Momentos-Anos 2000. Já postei cinco partes, e pretendo postar muito mais. Preciso de tempo e paciência, mas com certeza, terminarei a matéria (que considero o texto que mais gosto de escrever). Agora, que a década se esvaiu por completo, começarei a postar, um por um, os melhores filmes da década na minha opinião. Se possível, postarei um filme por semana, se não, por quinzena. A partir de amanhã eu começarei a postar os filmes. São vinte. Escolhi minuciosamente os vinte melhores filmes da década e os separei em uma lista. Amanhã, postarei o vigésimo melhor filme da década, na próxima semana o décimo nono e assim, sucessivamente.

Alguns filmes, muito provavelmente, não agradarão a maioria, mas explico: todos os filmes são de meu gosto. Escolhi os filmes que mais me marcaram. Que mais me emocionaram, que de uma maneira ou outra me tocaram e deixaram em mim, uma marca considerável.

É extremamente difícil escolher um número "x" de filmes. São tanto bons filmes que vinte é muito pouco. Se pudesse, separaria, tranquilamente, uns cinquenta filmes, mas resolvi escolher apenas vinte. É claro que uma ausência e outra vai pesar, mas seguimos em frente. Prepare-se para surpresas.

Comentem! Façam suas listas e tentem adivinhar quais são os meus filmes favoritos nesta década.

Obs.: Parece que foi ontem que a década de noventa terminou, e em seu finzinho trouxe uma obra-prima chamada Clube da Luta. Para que foi ontem!


Matheus Pereira

Kick-Ass ganha mais um trailer! E é para maiores!

Assista logo abaixo! Digite o dia, o mês e o ano de seu nascimento nos espaços, para liberar o trailer (digite qualquer data se quiser).

O filme é dirigido por Matthew Vaughn e acompanha um estudante nerd chamado Dave Lizewski que decide virar super-herói, apesar de não ter a menor capacidade atlética ou coordenação motora. As coisas mudam quando ele encara vilões reais com armas de verdade.O protagonista será vivido por Aaron Johnson. Nicolas Cage vive um ex-policial.


Crítica - Um Olhar do Paraíso

Peter Jackson é sem dúvidas um dos melhores diretores da atualidade, mas é também, o cineasta com carreira mais estranha, mais atípica. Começou com o terror extremamente trash, com muito humor e pitadas de pastelão. Trash - Náusea Total, Meet the Feebles, Fome Animal são os três primeiros filmes do cineasta e que pouco lembram o que o cineasta é hoje. Tirando a criatividade e a genialidade para criar mundos fantasiosos e seres estranhos, Jackson mudou bastante desde aqueles anos de trash. Jackson é daqueles diretores que aprenderam a dirigir e fazer bom cinema simplesmente dirigindo. Foi fazendo e errando que ele aprendeu. Assim como Quentin Tarantino, a grande escola do diretor foi o próprio cinema. Talvez fora através daqueles nauseantes trashs que Jackson aprendeu e concedeu a melhor trilogia da história. Como pode ser visto, Jackson sempre gostou de ousar. Com pouquíssimo dinheiro e situações precárias, o cineasta sempre lutou para filmar e lançar seus filmes. Fazia a maquiagem de cada alienígena ou monstro, escrevia, produzia, dirigia e atuava. Sempre gostou de fazer o impossível. De passar dos limites e fazer mais do que realmente podia e tinha condições. Foi assim no início, foi assim com a trilogia do anel, foi assim com King Kong e é assim com o ótimo Um Olhar do Paraíso.

Um Olhar do Paraíso
está mais para Almas Gêmeas (quarto filme de Jackson e primeiro mais sério. Recebeu a primeira indicação ao Oscar e lançou Kate Winslet) do que para O Senhor dos Anéis. Então, vá tirando seu pangaré da chuva e não espere muita grandiosidade. Talvez seja isso que faz com que as pessoas critiquem (injustamente) tanto o filme de Jackson. As pessoas vão a cinema com uma imagem errônea do diretor. Esperando demais. Isso não pode ocorrer com diretor ou ator algum. Temos de ir ao cinema com a mente aberta, atenta e vazia. Temos que esquecer todos os trabalhos anteriores e nos atentar apenas para o hoje, para o agora. Esqueça Frodo, Gollum e o gorilão. Aqui a história e o clima são outros e não há porque comparar o "branco" com o "preto". É claro que para Jackson foi extremamente difícil dar o próximo passo. Depois de angariar 17 Oscar e 3 bilhões de dólares com a trilogia do anel e surpreender o mundo com King Kong veio a dúvida: "como continuar?" "e agora?". Jackson, como sempre, arriscou. E muito. Invés de dirigir outra aventura cara, cheia de efeitos especiais e ação, Jackson optou por adaptar um drama. Drama mesmo. Daqueles sem ação, com bastante diálogo e uma mensagem diferente das que ele já passara até aqui. Muito torceram o nariz, claro. Mas outros, como eu, acharam a escolha certíssima. Já estava na hora de Jackson voltar para o terreno mais calmo e mais dramático. Eu (e creio que muita gente) queria ver se Jackson ainda sabia levar um drama sem muitos efeitos computadorizados com maestria. Queria ver se ele não tinha se deslumbrado com mundos gigantescos. E minha concepção foi melhor do que eu esperava: não! Ele não se deslumbrara e ainda sabe levar, magistralmente, um bom drama. Simples (até ali) e com forte carga emocional (até King Kong tinha forte carga dramática. Jackson sabe o que faz).

É claro, que para quem esperava outro longa do estilo Lord of the Rings, sem decepcionou. Mas desde sua primeira notícia The Lovely Bones já se mostrara um longa mais contido. Menos arriscado e mais pé no chão do que os outros longas. Apesar de beber na fonte da fantasia/ficção (até agora, TODOS os filmes de Jackson tem elementos fantasiosos. É só pesquisar e ver com os próprios olhos), Jackson se atém principalmente ao mundo real (como todos os seus filmes). A história: Susie Salmon é uma bela e inteligente garota de quatorze anos. Com os sentimentos mais profundos aflorando aos poucos, Susie está despertando para um mundo novo. Mas esta descoberta de um novo mundo é interrompida quando Susie, ao voltar da escola, é estuprada e assassinada pelo vizinho (Stanley Tucci, mais que sensacional). Susie então vai para um lugar entre este mundo e o paraíso. De lá, o "anjo assassinado" vê a reação de sua família com o acontecido e a impunidade de seu algoz. Entre o céu e a terra, Susie sonha com o que não irá acontecer e vê como as coisas caminham na terra. Tentando conexões com seu pai, Susie faz de tudo para denunciar seu assassino e passa por experiências inimagináveis.

Estabelecendo sempre uma conexão entre a terra e o "paraíso de Susie" (os barquinhos dentro das garrafas é uma das conexões mais fortes), Jackson sabe misturar bem os momentos no céu com os na terra. Visitando um lugar e outro regularmente, Jackson nos emociona (vejo muito de Spielberg em Jackson: mestre na técnica e manipulador raro de emoções) e abre espaço para alívios cômicos (muitos deles com Susan Sarandon). Jackson vai até o limite nos emociona e nos choca sem mostrar nada (novamente: vejo muito de Spielberg em Jackson): não vemos estupro e agressão alguma, mas todo o prólogo para tais crueldades nos parte o coração. Jackson, conhecido como um dos poucos diretores que sabem unir técnica, inteligência e alma em seus filmes, faz bonito aqui. Cuidando de seus personagens, Jackson injeta alma em cada personagem. Seja ele grande ou pequeno, cada um tem seu jeito de sofrer, cada um tem seu jeito de agir. São únicos. O pai (interpretado com simplicidade e emoção por Mark Wahlberg) tem uma sede obsessiva de justiça. A mãe (Rachel Weiz) não sabe como viver ante a tal tragédia, perdida ela foge de tudo e todos. A irmã, assim como o pai quer descobrir o monstro assassino e mostra uma força inacreditável. A avó (Sarandon), sempre de bem com a vida tenta trazer de volta uma alegria que parece nunca mais voltar e por fim: o assassino (Tucci). Humano, claro. Muitos criticam Jackson por fazer do assassino uma caricatura. Eu discordo completamente. Apesar de não sabermos objetivamente o passado do assassino, temos uma ideia. Acima de tudo, o matador é humano. Cruel e louco, mas humano. É aí que Jackson acerta. Jackson dá um início, um meio e um fim para cada um. No caminho sentimos o que os personagens sentem e nos identificamos ,ao menos, com algum. Mas Jackson, é claro, dá um espaço para técnica e para mostrar toda sua experiência na composição de planos e enquadramentos. Só pela técnica, Jackson já merece indicações a prêmios e aplausos. Quadros que parecem pinturas (a cena em que o assassino abre a tampa do esconderijo e de lá sai uma forte luz iluminando os dois é belíssima) e planos incríveis (o travelling vertical que passa pelo chão e mostra o esconderijo é um belo exemplo dentre vários) fazem parte de cada segundo do filme. Jackson capricha na plasticidade do paraíso. Com imagens belas e inesquecíveis, o paraíso do cineasta é colorido. É impossível comentá-lo aqui. A única coisa que posso fazer é dizer pra você assistir o filme e se deslumbrar com tais imagens. Merecia ao menos uma indicação de melhor direção a algum prêmio, tamanha a perfeição técnica. É claro que temos efeitos aqui (Peter Jackson ama um efeito especial). Quando chegamos ao paraíso, Jackson aproveita e incere uma porção de belos efeitos especiais. Tudo no paraíso é na base da computação gráfica. De enormes garrafas flutuando a folhas de árvores que se transformam em pássaros, tudo é visualmente perfeito.

O roteiro assinado pelo trio Jackson, Fran Walsh e Philippa Boyens se baseia no livro Uma Vida Interrompida - Memórias de um Anjo Assassinado, de Alice Sebold. Modificando alguma coisa aqui e ali e dando seus próprios estilos, os roteiristas fazem um trabalho, mas tropeçam de vez em quando. Cito apenas dois problemas que me chamaram bastante atenção: excesso de informação. O excesso de acontecimentos e tramas paralelas atrapalha. Jackson talvez não quis fazer novamente um filme com três horas de duração. Colocou os mesmo assuntos que colocaria num filme de cento e oitenta minutos só que com duas horas de duração. Resultado: amontoado de detalhes e tramas. É tanta coisa dita e tantos acontecimentos, que nem tudo é resolvido e alguma coisinha fica pairando. Jackson parece não dar conta de tudo e as duas horas parecem extremamente curtas para tudo que os roteiristas querem contar. Outro erro é o final. É claro que não revelarei nada, mas algumas coisas poderiam ser mais bem resolvidas (o destino de um personagem, especificamente). Algumas coisinhas acabaram e ficamos pensando: "só?", "nada mais, é só isso". Poderiam ter caprichado um pouco mais no final apenas.

Jackson pinta belos quadros, mas tem uma bela ajuda. A direção de arte do filme é, de longe, uma das melhores do ano. Caprichando no design do paraíso e na recriação da época, a direção de arte de Um Olhar do Paraíso foi injustamente esquecida nas premiações. Apelando para cores fortes a direção de arte é mais que fundamental para o filme. A fotografia é perfeita. Todas (ênfase no TODAS) as cenas no paraíso têm uma bela fotografia. Cada cena, cada segundo é amparado por uma belíssima fotografia (destaque para a iluminação). Com um figurino contido, e por consequência realista, toda a parte técnica do filme merece aplausos. O filme conta ainda com uma bela trilha sonora e efeitos especiais excelentes (afinal, é a WETA a responsável).

Mas não basta só técnica. Tem que ter um bom elenco. E este filme tem isso também. A começar pela bela e talentosa Saoirse Ronan. É incrível como uma garota de quinze anos tem um talento equivalente a muitas veteranas por aí. Ela tem um controle inimaginável sobre seu personagem. Mark Wahlberg surpreende pela competência e pela forte personalidade de seu personagem. Susan Sarando, competente como sempre, arranca os poucos risos. Mas é Stanley Tucci a estrela mais brilhante do elenco. Tucci concebe, sem dúvida, uma das melhores atuações masculinas dos últimos meses (perdendo apenas para Christoph Waltz). Seu personagem não é um mero assassino. Tem uma vida, uma fachada. Um papo convidativo e uma face real extremamente real. Bom de papo e podre em seu âmago, o personagem dá nojo mas nunca se torna desinteressante (não entenda errado, eu não simpatizo com estupradores, eu abomino, assim como todo mundo quero não apenas presos, mas a sete palmos da superfície terrestre), afinal, a cada vez que a câmera desvia de sua vida e de sua história queremos que ela volte imediatamente e mostre mais um pouco daquele monstro tão bem interpretado por Tucci.

Emocionante, Um Olhar do Paraíso me conquistou. Diferente de quase todo mundo, adorei o filme. No final queremos mais. Queremos mais emoção e mais daquelas cenas belíssimas. Não está isento de erros, mas o resultado é tão agradável e satisfatório, que tais erros passam em branco. Jackson é o cara, e creio que vai ser por muito e muito tempo, seja comandando épicos gigantescos sem precedentes, seja dirigindo dramas emocionantes e mais simples. Devo ser o único no mundo a dizer isso: Um Olhar do Paraíso é um dos melhores filmes deste ano que acaba de começar.


Nota: 9,0

Matheus Pereira

É a lógica: geralmente o filme mais barulhento vence. Os musicais também tem lugar reservado entre os vencedores, mas este ano Nine, único musical literal, ficou de fora. Então, restaram mesmo os barulhentos e as surpresas.

Como eu já explicara aqui mesmo no blog, a categoria de "Som" é destina a área que capta os sons emitidos no momento, no estúdio e nas externas. É o tal do "som direto", não estou enganado. Já a "Edição de Som", como o próprio nome já diz, abrange a área que edita efeitos sonoros na pós produção. Sons feitos por computador ou efeitos sonoros captados separadamente e editados depois são exemplos (assista um dos extras do DVD duplo de King Kong, nele, você ficara sabendo detalhe por detalhe sobre a edição de som. A captura de sons e a edição posterior. É um prato cheio e bem explicadinho).

Mas antes dos comentários e das apostas, vamos relembrar os indicados a Melhor Som:

-Avatar
-Guerra ao Terror
-Transformers - A Vingança dos Derrotados
-Star Trek
-Bastardos Inglórios

Como você pode ver, há surpresa entre os indicados. Trata-se de um filme que quase ninguém (ninguém, pra ser exato) apostou para esta categoria. São. São eles mesmo: os bastardos de Tarantino. Sem dúvida é uma grande surpresa, já que o filme não inova tanto na área, mas claro, não deixa de ser interessante. Até que nesta categoria, a de Som, a surpresa não é tão grande quanto na de Edição de Som. Talvez esta indicação tenha sido uma maneira de homenagear e dar mais indicações para o filme, afinal, a Academia ama épicos, principalmente se estes forem sobre a Segunda Guerra Mundial. Não vejo chance alguma para o longa de Quentin, mas não descarto uma surpresa ainda maior se o filme vencer. Outro que não está com muitas chances e parece estar aqui pelo mesmo motivo do outro (ser mais uma indicação na coleção) é Guerra ao Terror. O trabalho é ótimo, sem dúvida, mas é muito comum. É "certinho". E como já disse em uma recente crítica minha, não basta ser certinho, tem que ousar, ser mais que certinho. E "Guerra" não ousa muito nessa área. O trabalho é competente, mas nada que mereça um prêmio. Uma indicação já está de bom (mas muito bom) tamanho. A briga mesmo está entre os grandes barulhentos: Star Trek, A Vingança dos Derrotados e o favoritíssimo Avatar. Já sabemos que este prêmio está quase decidido: Avatar será o provavel vencedor. Disso todo mundo sabe. Mas não posso deixar de comentar os outros dois. Star Trek tem um ótimo desempenho na área e se destaca, mas parece estar longe da vitória. Já o segundo Transformers parece o único capaz de tirar o careca dourado dos ET's azuis. O desempenho da continuação é tão bom quanto o do primeiro filme. É, em suma, muito barulhento. Dá dor de cabeça, e isso, já o põe na briga. Mas a única indicação, a péssima recepção da crítica e a existência de Avatar o distanciam da vitória. Falando do favorito: além de ser barulhento, inova na área. Assim como os outros épicos grandiosos, Avatar enaltece o som, que torna-se parte fundamental para a história. Diferente dos outros quatro, Avatar parece encarar o som com mais seriedade e com sede de inovação. E isto, já o catapulta para o alto e para muito próximo da estatueta dourada. Mas um para a conta dos gigantes alien azulados de James Cameron.

Quem deve vencer: Avatar
Tomara que não vença: Bastardos Inglórios (nunca achei que ia torcer para que o filme de Tarantino perdesse algo)
Torço para: Avatar

Vamos lembrar agora, os indicado a Melhor Edição de Som:

-Avatar
-Guerra ao Terror
-Up
-Star Trek
-Bastardos Inglórios

Se na categoria de Som o filme de Quentin Tarantino já surpreendera, na de Edição de Som a surpresa tomou ares de absurdo. Não que a área do filme seja ruim ou incompetente, mas não merecia uma indicação. Filmes mais ousados e mais "felizes" na área como Distrito 9 e até mesmo o longa de Michael Bay merecia estar no lugar ocupado pelos matadores de nazistas. Ficando com a vaga pelo mesmo motivo que o beneficiara na categoria anterior, Bastardos Inglórios parece estar perdido no meio dos outros indicados, mas não se surpreenda, se no dia sete de março, no teatro Kodak, o nome do filme for anunciado como o vencedor da categoria, dando mais um prêmio para o filme que se passa da segunda grande guerra. Guerra ao Terror aqui, está menos perdido que na outra categoria. O desempenho do filme nesta área é mais notável e a indicação é merecida, porém, tal indicação já é um grande prêmio. Star Trek, assim como na categoria irmã, parece correr, correr, correr, mas nunca chegar perto da estatueta. Muito se deve pela concorrência. É bem barulhento e cumpre com competência seu papel, mas esta categoria também já de uns tais de Na'vis. O único que pode desbancar a mega-produção de Cameron é Up, da Pixar, que está sempre cutucando os favoritos da categoria. Como se trata de uma animação, a edição de som é fundamental. Sem uma edição competente um filme do estilo seria um completo desastre. A edição de som é a segunda alma de uma animação, já que as vozes, sons e tudo mais são editados posteriormente. Mas Avatar parece já estar com o Oscar nas mãos. Tão difícil como em uma animação (já que o filme é quase uma), a edição de som do longa merece reconhecimento. Só as cenas de batalha, por serem barulhentas e bem editadas, já merecem o prêmio. Além de ser quase uma obrigação reconhecer um trabalho tão dífícil e cansativo, o longa inova na área e é o merecedor.

Quem deve vencer: Avatar
Tomara que não vença: Bastardos Inglórios (desculpa Tarantino?!)
Torço para: Avatar, mas não ficaria nem um pouco triste se Up vencesse.
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Por enquanto é só. Em breve tem mais. Espero que tenha gostado do texto e do formato. Abraços e façam suas apostas!

Matheus Pereira

Pós Carnaval e Apostas

Dizem que o ano começa, realmente, só depois do carnaval. Não deixa de ser verdade, afinal, a festa mais alegre vai embora, a seriedade do ano chega tendo o fim das férias de acompanhante. É depois do carnaval que paramos, deixamos o coração desacelerar e pensamos no futuro. As férias estão acabando e a rotina vem chegando. O ano já começou com força total aqui no blog, e esse ritmo tende a aumentar agora que o ano começou definitivamente.

Este ano o carnaval foi bem agradável. Posso dizer que torço desde pequeno para a Beija-Flor, mas tenho que reconhecer a perfeição das outras escolas. Unidos da Tijuca, a minha querida Beija-Flor, a Mocidade, a Grande Rio e a Porto da Pedra estão entre as minhas favoritas. Mas agora isso já é passado.

Faltando menos de um mês para o Oscar, me vejo obrigado a começar minhas apostar, para que, perto da premiação, não haja correria. Queria começar daqui uns dias, para não terminar as apostas muito antes da entrega dos prêmios e não correr o risco dos favoritos mudarem repentinamente.

Começarei bem devagar. Ainda essa semana, ou na outra, pretendo começar a escrever e postar a sexta parte dos Melhores Momentos: Anos 2000 e iniciar com meu TOP 20 da década. Sobre o TOP 20 dos melhores da década, postarei de quinze em quinze dias, essa, ao menos, é a ideia. Veremos como se encaminham as coisas.

Bem, acho que é isso. Ainda hoje começarei com os palpites!

Está dada a largada!

Que começem as apostas!

Matheus Pereira

Crítica - Amor Sem Escalas

Amor Sem Escalas, de Jason Reitman, é do tipo "Tá, e daí? Só isso?", mas também é daquele "Pensando bem, é um ótimo filme". Fica difícil tomar partido. Escolher um lado. Para este que vos fala, tomar uma decisão certeira, para este filme, é muito difícil. Por isso, que esta produção nunca vai receber uma nota dez vinda de mim, muito menos uma nota cinco, indicando mediocridade, afinal, o filme me agradou, mas alguma coisinha parece que não conectou. Algo pequeno (ou não tão pequeno assim) parece ter ficado fora de órbita. Não sei explicar ao certo. Talvez seja por isso que uma análise para este longa está sendo bem difícil de ser redigida. Talvez seja um tempero. Sim. Um detalhe que você nota apenas quando experimenta. Um detalhe que modifica, atrapalha, mas no fundo, no fundo, não atrapalha drasticamente o resultado final. Parece que faltou a pimenta, que você sente falta, mas no final da refeição ainda abre um sorriso, pois com pimenta ou não, a refeição incrivelmente te agradou. Acho que essa descrição cabe perfeitamente ao que eu senti no final do novo filme de Jason Reitman. É um ótimo filme, sem dúvidas, mas também é, assim como os outros dois filmes do cineasta, muito superestimado.

A história: Ryan Bingham é um consultor que tem a tarefa de demitir funcionários para cortar os gastos das empresas. Quando não está no trabalho, ele gosta de passar o tempo em quartos de hotéis e cabines de vôos. Mas seu emprego e as constantes viagens ficam ameaçadas quando a jovem Natalie chega em sua empresa apresentando uma nova forma de demitir pessoas: através do computador e sem precisar sair de casa ou da empresa. Ryan vê nisso uma ameaça sem tamanho e faz de tudo para provar que a invenção é inapropriada. Assim, seu chefe manda Natalie viajar com Ryan durante um tempo para que ela aprenda um pouco sobre a profissão. No caminho, Ryan se apaixona por Alex, uma sensual executiva e aprende sobre as coisas boas da vida, ou não.

É um filme "ok". Corretinho. Certinho demais. Cada item está em seu devido lugar, dando a impressão de que tudo foi muito pensado antes de ser feito, o que pode suar como algo ensaiado. Mas para ser tudo isso que as pessoas dizem e para ser um "quase bicho-papão" das premiações, um filme não pode ser certinho. Tem que ser mais que certinho. Tem que correr um perigo. Tem que chegar no limite. Bater na cara de quem tiver em tal limite e voltar para terreno seguro. Amor Sem Escalas fica todo tempo em terreno seguro e não alça voos perigosos que resultariam em resultados ainda melhores. Fica todo tempo no mesmo campo, do mesmo jeitinho. A impressão que temos é que Reitman tem medo. Tem medo de chegar em um lugar sem volta. Tem medo de arriscar, e depois, não saber voltar para o calor do "campo seguro". Por optar ficar neste mesmo lugar, Amor Sem Escalas tem sempre o mesmo clima. Sempre o mesmo jeito certinho e, por vezes, irritante. Não é a toa que os melhores momentos ocorrem fora do mundo sem graça do personagem de George Clooney (o casamento, por exemplo) e reservam as melhores frases, os melhores simbolismos e momentos de maior descontração.

Jason Reitman, diretor dos também superestimados Obrigado Por Fumar e Juno, concebe uma direção interessante no ponto de vista técnico e narrativo, o único problema e o citado no parágrafo acima. Reitmam parece ter medo de escolhas mais perigosas e escolhe ficar no mesmo ritmo, no mesmo clima, na mesma coisa. Reitmam transporta muito bem o texto que tem em mãos (adaptado de um livro de Walter Kirn por Sheldon Turner e pelo próprio Reitman) e dirige suas cenas muito bem, mostrando um grande avanço na direção desde Juno. Quadros bem alinhados e planos "normais", mas interessantes (como os que seguem de perto os personagens, focando suas malas e a rápida montagem que mostra o personagem de Clooney arrumando sua mala, mostrando perfeitamente que o sujeito já está mais do que acostumado com o ritmo e com a tarefa). Reitman é sutil e inteligente em seus simbolismos. Ao mostrar Ryan (Clooney) diante de suas irmãs num completo desconforto, Reitman mostra que o sujeito é, na verdade, um estranho. Nada mais que isso. Apenas um homem que elas chamam estranhamente de irmão. O cineasta acerta também, em uma cena em que Ryan está de frente para um grande painel de viagens (aquele grande painel nos aeroportos que indicam quais os voos que estão acontecendo e os próximos) e o foca de longe, mostrando o insignificante tamanho do sujeito ante a todas aquelas viagens que ele tanto ama fazer. Reitman usa imagens e palavras para provar que Ryan pensa apenas nele mesmo. Note, que Ryan anda sempre bonito. Sempre bem arrumado, com ótima aparência e com uma mala milimetricamente arrumada. Porém, Ryan não tem casa e vive longe da família, logo, não se apega a nada, tanto objetos quanto pessoas. É por isso que seus apartamentos nunca sofrem um toque de decoração, por exemplo. Ryan entra e sai dos apartamentos e não muda nada, afinal, em poucas horas ele estará indo embora e deixará tudo aquilo pra trás. Ryan não pára em lugar nenhum e procura não ter amigos. É só ele e a mala. Reitmam sabe ilustrar isso muito bem, através de simbolismos e imagens sutis. Reitmam criou, sem dúvidas, um interessante personagem (embora tal personagem revolte ás vezes) e o compôs (juntamente ao ator, Clooney) milimetricamente.

O roteiro é uma mistura de originalidade e adaptação. Explico porque: o livro de Walter Kirn, no qual o filme se baseia, conta apenas a história de um homem que gosta de viajar, foi Reitman e Turner que deram a profissão para o personagem. Se parar pra pensar, cinquenta por cento é adaptação e cinquenta de roteiro original, afinal, toda a profissão e as coisas que giram em torno dela não estavam no livro. É por este e outros motivos que o roteiro ganhou e ganhará vários prêmios por aí, e merece. Faz escolhas interessantes (o final é bem resolvido e foge dos clichês, porém, sigo dizendo que o roteiro, assim como a direção, não alça grandes voos) e assim como o resto do filme, é certinho. Está no ponto, por isso, não há muito o que falar. Tenho de comentar, claro, que o roteiro tem um cuidado extremo com o personagem principal. Ao final da projeção, Ryan se torna um amigo quase íntimo do espectador. Conhecemos cada traço da personalidade do sujeito. É um homem solitário e organizado consigo mesmo. Eu vejo muitas semelhanças entre Ryan e Summer, personagem de Zooey Deschanel em (500) Dias Com Ela. Ambos gostam da solidão. Ambos fogem de relacionamentos e coisas que podem se apegar. Tudo que possa lhe machucar ou lhe prender em um só lugar os assombra. Principalmente a Ryan. O homem foge da família, dos amigos e dos relacionamentos sérios. Tudo que o prende, que lhe dá responsabilidades e que o impede de viajar ele abomina. Isso fica explícito nas palestras que ele dá. Ryan tenta passar que tudo que temos em volta, só nos prende, impede que nos movamos. Ryan sempre leva uma mochila. Ele diz para as pessoas sentirem as alças nos ombros e depois colocarem tudo: de objetos como escovas de dente e celulares até a casa ou apartamento, cachorro e familiares. No final, pede para eles voltarem a sentir os peso da mochila e as alças nos ombros. O resultado: a mochila está muito pesada, e tal peso, impede que nos movamos. Em suma: quando nos apegamos a algo ou alguém, permanecemos no mesmo lugar ou pra sempre ou quase isso. Quando temos todos esses objetos e todos estes familiares paramos num mesmo lugar, e dependendo, no tempo. A filosofia de Ryan é tão inteligente e tem argumentações tão boas, que acabamos nos rendendo. Acabamos concordando com tudo e passamos a entender o sujeito. Mas o roteiro não está isento de erros. A personagem de Vera Farmiga é um tanto superficial. Ela é apenas uma mulher com que Ryan sai e transa. Nada mais. Pouco é dito sobre ela. Ela é elegante, sexy, inteligentíssima, viaja como Ryan e não gosta de se prender a coisas e pessoas. Mas parece que a personagem merecia um pouco mais de atenção. De resto, os personagens são interessantes e bem construídos.

Mas vamos ao tão comentado elenco. Digamos que está como todo o resto: certinho (não quero me tornar repetitivo, mas é verdade). Começando por George Clooney interpretando... George Clooney (só que com outro nome). Sim! Ele interpreta ele mesmo. Um homem que não quer casar, que não para num lugar só, dorme com quer quiser e dispensa depois, não quer ter filhos e está bem como está: sozinho. É um retrato dele mesmo com nome e profissão diferentes. Durante o filme algumas piadas em relação a isso são ligadas diretamente à vida real do ator. Quando a personagem de Anna Kendrick lhe pergunta se ele nunca vai casar (ele diz que nunca) e se algum dia vai ter filhos (esta pergunta ele responde com um "Talvez", assim como o ator na vida real), por exemplo. Clooney interpretando Clooney pode prejudicá-lo nas premiações(assim como Mickey Rourke ano passado), afinal, interpretar si mesmo é muito fácil (imagine você interpretanto você mesmo! Que chato e fácil seria). O que quero dizer com isso, é que Clooney não faz um trabalho excepcional, apenas correto e interessante. Mas nada que faça com que ganhe prêmios ou receba tanto elogios como tem recebido. Vera Farmiga é uma superestimação dentro de uma superestimação. É incrível (e absurdo) que a atriz tenha recebido indicações a tantos prêmios. Ela não faz nada demais (com muita ênfase no "nada"). Se ela foi indicada por uma atuação tão simples, porque Mariah Carey não foi? Ela interpreta uma personagem comum, sem grandes desafios. Nada mais. Quem se destaca no elenco é a linda (linda, linda, linda, linda, linda, perfeita, linda...) Anna Kendrick. A atriz injeta uma doçura e uma segurança a sua personagem que é impossível não se apaixonar. Merece todos os elogios que vem recebendo.

Enfim, Amor Sem Escalas tem seus problemas e é muito corretinho, mas é interessante e inteligente de um modo geral. Faltou um temperinho. No final ficamos com a sensação "É só?", mas depois vamos interpretando-o de forma mais adequada. O filme é como a filosofia de Ryan: é tão inteligente e tem argumentações tão boas que acabamos nos rendendo.

Nota: 8,5

Matheus Pereira

Janeiro e fevereiro talvez sejam os meses mais "corridos" para blogueiros cinéfilos, afinal, são os meses de premiações (este ano março também fará parte dessa lista). Janeiro é o mês em que as apostas começam, e nós blogueiros, temos que nos manter atentos, a notícias e aos favoritos. Temos o Globo de Ouro e os prêmios dos sindicatos. Fevereiro é o mais cheio. Os indicados ao Oscar são revelados, é o mês do BAFTA e as apostar ficam mais quentes. Agora, para tentar adivinhar quem ganha. São meses difíceis, mas gratificantes. São os meses que muitos de nós estamos de férias, e podemos voltar quase toda atenção para os filmes e a temporada de premiações. Qual cinéfilo não gosta da temporada de premiações? Pode até achar o Oscar um porre, mas abre um sorriso de orelha a orelha para ver os filmes que chegam no circuíto brasileiro. Nós blogueiros sofremos. Temos que estar por dentro das notícias, fazer ballots, separar favoritos, estar por dentro do favoritismo de cada, mas temos, acima de tudo, que ter opiniões próprias. Temos que expressar nossos pontos de vista. Temos que escrever (e não ache que isso é fácil. É bem difícil) textos completos, agradáveis e com conteúdo, e de preferência, exclusivo ou novo, o que é bem difícil na blogosfera. Além de manter o blog ativo, temos que arranjar tempo para os filmes. Janeiro e Fevereiro são os meses que as melhores produções chegãm às telas, se não as melhores, as voltadas às premiações. Temos que assistir, se não todos, a maioria. Depois de assistir, temos que aproveitar a história fresquinha na memória e escrever um crítica. Em parte por blog. Em parte para si mesmo. Para o ego. Afinal, como é bom assistir um filme e por tudo pra fora. Em forma de palavras, publicadas ou não, colocamos tudo que achamos pra fora. No final, tais palavras vem pra cá. Não podemos deixar a história envelhecer nem que seja dois dias, pois atrapalha. Então, temos que correr, como vontade ou não, para o blog. Tento fazer de tudo para que o blog não se torne uma profissão. Uma responsabilidade homérica, e sim, uma diversão responsável. Sim, isso mesmo. Tento fazer que o blog seja minha diversão, mas séria (é possível essa mistura? Diversão séria existe?). Tento colocar seriedade em cada palavra. Este blog não é um blog de humor. É sobre cinema. Há de se ter seriedade e humor. Há de brincar com ele sem ultrapassar os limites. Há de brincar mas manter a seriedade. É quase um filho.

Você sentado no conforto da sua cadeira ou no sofá ou na cama tem o direito de ler um bom texto, sem abusos sem palhaçadas. Tem o direito de ler um texto humorado, interessante e verdadeiro. E nós, temos o dever de entregar um texto assim. Que você quer ler. Pra mim, um texto tem de ser, em primeiro lugar, um diálogo, uma conversa, em que eu escrevo e troco de opiniões com você sem vê-lo pessoalmente ou falar diretamente. Se você ler e concordar vai fazer um sinal positivo com a cabeça e pensar: "Concordo". Se não, vai fazer o oposto do sinal recém citado e vai mentalizar a sua opinião, contrastando com a minha. Não deixa de ser uma conversa.

Mas enfim, há um bom tempo eu não postamos nossas colunas. A Ana está aterefada, o Richar está de férias e eu estou montando especiais sobre o Oscar. A minha coluna não está sendo postada devido as constantes críticas que tenho postado e aos especiais sobre o Oscar. Minha matéria sobre os melhores momento da década está arquivada por uns dias, mas pretendo continuar com os textos antes mesmo do Oscar (amo a matéria, e tenho que terminá-la, se não, estaremos no final deste ano e eu estarei falando da década passada).

Depois que estes turbulentos meses passarem, tudo volta ao normal. As colunas voltam com força total e as apostas para o Oscar 2011 começam (tá, tá, brincadeirinha). E claro, o ano promete. Teremos quadros novos, talvez alguma parceria e novidades em geral. Pra você descobrir, basta visitar todos os dias, de preferência. Para entrar em contato, comente. Seus dedos não vão cair e eu não te matarei caso fales algo que não seja agradável. Sinta-se em casa. O blog antes de ser nosso, é de vocês.

Eu amo esses meses turbulentos, mas também amo o futuro, e parece que ele vai ser perfeito. É esperar pra ver. Até lá, muito suor vai cair de nossos rostos e muitas letras serão postadas. É só visitar, ler e opinar. Não há coisa melhor que ser cinéfilo.

Ah! E eu creio que esta seja a minha coluna. Se quiser, encare o texto como se fosse. Seria interessante se o visse assim. (risos)

Abraços e sonhem com o que tiver que sonhar, afinal, ninguém controla os sonhos.

De um cinéfilo cujas férias estão acabando
Matheus Pereira

Crítica - Preciosa

Preciosa é um filme triste, depressivo e forte. Um filme desaconselhável para pessoas que estão passando por problemas ou estão tristes de alguma maneira, já que a história do filme pode deixá-las mais tristes ainda. Ou não. Preciosa talvez seja extremamente recomendável, já que a esperança que se esconde atrás de tanta tristeza é recompensadora. Há de se ter paciência e mente aberta para assistir o filme, do contrário, a raiva tomará conta, e talvez, nem consiga chegar ao final da projeção. A desgraça é protagonista. Da violência ao estupro. Do analfabetismo à exclusão. Tudo de ruim que pode-se pensar está em Preciosa. Mas surpreendo-me ao dizer, que isso não é um problema. Pode até ser exagerado de vez em quando, mas talvez essa desgraça seja necessária, para quando a esperança e a volta por cima se fizerem presentes o contraste ser notável. É triste. Não é para qualquer um ver o pai estuprando a própria filha. Não é fácil ver a mãe jogando qualquer coisa na direção da menina. Não é fácil ver tamanho sofrimento para uma pessoa só, mas como eu já dissera, quando a esperança vem, a tristeza tira férias. E Preciosa (filme e personagem) toma rumos diferentes e uma luz no fim do túnel inspiradora.

O filme se baseia em Push by Sapphire e conta a história de Claireece Precious Jones, garota de 16/17 anos que é obesa, analfabeta, pobre, é estuprada pelo pai e agredida violentamente pela mãe, tem uma filha com problemas mentais e um segundo bebê está a caminho. Em suma: uma pessoa extremamente sofrida. Precious encontra esperança quando é expulsa da escola onde estuda e é mandada para uma escola alternativa. Precious começa a ver o lado bom de ter o segundo filho e poder ser uma mãe exemplar. Em sua caminhada para melhorar de vida, Precious conhece uma professora bondosa (a bela Paula Patton), um enfermeiro que quer ajudar acima de tudo (um surpreendente Lenny Kravitz), amigas que a inspiram e uma assistente social (uma irreconhecível e excelente Mariah Carey). Aos poucos, o sofrimento vai dando espaço para o começo de uma nova vida.

Dirigido com vigor por Lee Daniels (seu segundo filme, o primeiro fora o mediano Matadores de Aluguel, com Helen Mirren), Preciosa é um filme emocionante. Daniels concebe uma direção segura tanto com os atores quanto com história que tem em mãos. Além de ter um poder incrível de manipulação emocional, o cineasta sabe utilizar recursos técnicos. Não é a toa, que os momentos mais difíceis de assistir são aqueles em que a menina está em casa, sendo agredida (moral e fisicamente) pela mãe e violentada pelo pai, e os melhores são os que ela está na escola. Daniels passa com perfeição o simbolismo: a casa da menina é apertada, escura, suja. O poço. O lixo. Já a escola é iluminada, grande, passa bem a imagem de "lugar feliz". É claro que Daniels contou com a ajuda do competente diretor de fotografia e da direção de arte. Daniels falha apenas em misturar alguns estilos. Na maioria das vezes adota uma câmera estática, sem muitos movimentos. Em outras, adota a câmera na mão, bem movimentada e com bastantes zooms. Mas isso não prejudica (já que uma câmera de mão é sempre bem vinda), só não adota nem um estilo, nem outro. Daniels concebe quadros interessantes e bem elaborados, e planos inteligentes (nas cenas de estupro, Daniels posiciona muito bem sua câmera). Mereceu a indicação ao Oscar.

O roteiro é competente e tem um ótimo ritmo. Apesar de se tratar de um drama, o ritmo é excelente e em nenhum momento o filme se torna monótono. Sabendo misturar o lado "sujo e triste" com o lado "limpo e promissor" sem confundir, o roteiro, mesmo abusando da desgraça, é interessantíssimo e nunca se perde. Tratando seus personagens com cuidado e carinho, o emocional dos personagens é que tem prioridade. "Do bem" ou "do mal", cada personagem tem um coração. Cada personagem tem um passado, mesmo que este não seja mostrado. Sabemos de tal passado simplesmente olhando o presente. Um feito notável. O roteiro dá uma pequena tropeçada com o destino do enfermeiro e das colegas de Precious, mas isto se torna insignificante ante a toda inteligência e competência mostrada até ali.

Mas é o elenco de Preciosa que merece todos os calorosos aplausos. Preciosa é, com certeza, um filme de atores. São as atuações que o mantém firme. Começando pelos coadjuvantes, temos a bela e meiga Paula Patton. A professora que faz de tudo para ajudar Precious vê, logo no primeiro encontro, que ali há uma menina com um ótimo futuro, mas que só precisava ter o presente ajustado. Apostando na simplicidade, Patton emociona. Mariah Carey, é sem dúvida, uma das melhores coisas deste brilhante elenco. Despida de qualquer luxo, glíter, maquiagem ou seja lá o que a deixava linda, Carey surpreende ao não querer chamar atenção, e sim, conceber uma atuação emocionante e centrada. Não reconheci a cantora, devido a falta de maquiagem e a excelente atuação (o que não era esperado). Mas as maiores surpresas são essas duas: Mo'Nique e Gabourey Sidibe. A primeira merece, sem dúvidas, todos os prêmios que recebeu e com certeza vai receber. Aquela comediante sem um talento notável parece não mais existir. Aqui, a carga dramática de sua personagem é surpreendente, e Mo'Nique dá conta do recado, e todas as suas cenas exigem muito dela. Mas a melhor de todas é aquela em que sua personagem explica o porquê de toda sua raiva, e acaba desmoronando num choro contido, mas revelador. Um verdadeiro monstro mal-amado e facilmente compreendido. Uma das melhores atuações femininas do ano. A grande descoberta é Gabourey Sidibe. O descoberta de Lee Daniels começa envergonhada, calminha, mas aos poucos vai demonstrando grande emoção e um espírito único. A cena em que ela faz uma revelação para sua professora e para suas colegas e começa a chorar, parte o coração de qualquer um e provavelmente vai ser o clipe que vai passar quando seu nome for citado na cerimônia do Oscar.

Mesmo sendo pesado, Preciosa tem uma esperança inspiradora e é capaz de achar um raio de luz e futuro no mais escuro dos túneis. No final, nos emocionamos. Pensamos. Precious passa por muito sofrimento e mesmo assim levanta a cabeça e segue em frente, em quanto alguns de nós somos saudáveis, felizes e mesmo assim reclamam da vida. Marca. Gruda na memória, e de lá, não sairá tão cedo.

Nota: 8,5

Matheus Pereira

Crítica - A Estrada

A Estrada é, definitivamente, um road-movie. Road-movie, como o próprio nome já supõe, é um "filme-estrada", ou seja, se passa na estrada, no caminho. Nunca para. Quando para é de visita, mas não fica em apenas um lugar. Um exemplo de road-movie é o excelente Diários de Motocicleta do brasileiro Walter Salles e o mais recente Zumbilândia. Seu (s) personagem (ens) está sempre na estrada, sempre tem um destino, ou ao menos, um caminho a trilhar. No caminho passam por várias dificuldades e conhecem um bocado de pessoas. Um exemplo clássico de road-movie é, por que não, O Mágico de Oz, tendo em vista que a menina vai caminhando até seu destino e no caminho conhece vários seres e aprende várias coisas. O clássico escrito por Mark Twain talvez tenha influenciado muita gente com sua narrativa ligeira e os acontecimentos sempre excitantes. Essa é a qualidade de um road-movie: está sempre "caminhando", "evoluindo". Nunca fica muito tempo em um lugar só. Está sempre se movimentando. Digamos que é um verdadeiro nômade. As pessoas gostam disso. Gostam de personagens que tem um objetivo a ser alcançado, gostam que os personagens a cada momento estejam em lugares diferentes, assim, a trama não fica monótona e nem repetitiva, afinal, de tempos em tempos está em um lugar diferente e sofrendo coisas diferentes. Eu, particularmente, adoro road-movies. Mas este estilo não está isento de problemas. O grande problema desse tipo de filme, talvez seja o fato de que, muitas das vezes, a história se torna episódica. Cada lugar é um episódio, cada parada é um novo capítulo, cada pessoa que cruza o caminho é uma história, e isso ás vezes confunde, desvia a atenção do espectador e atrapalha narrativamente, afinal, trata-se de um filme, não de uma série ou novela. Um road-movie, funciona realmente e se torna uma experiência agradável e divertida nas mãos certas e conscientes. David Lynch, Ridley Scott, Alfonso Cuarón, o já citado Walter Salles, já se aventuraram nesse estilo de filme, e foram bem sucedidos. Um road-movie não pode ser apenas uma viagem visual, em que a cada momento um novo lugar é conhecido. Há de ser um "road-movie mental e emocional". Sim. Junto com os lugares, o (s) personagem (ens) deve (m) crescer mental e emocionalmente. No caminho deve aprender, olhar, dizer, escutar. Um personagem de road-movie tem de começar de um jeito e terminar de outro completamente diferente. Pensando diferente, tendo pontos de vista diferentes. A Estrada é um road-movie completo. Visual e mental, o filme de John Hillcoat é um legítimo e excelente "filme estrada", em que a estrada percorrida pela mente é mais importante daquela percorrida fisicamente. Mas um "filme estrada" só chega ao ápice quando o espectador aprende algo ao lado do (s) personagem (ens), "A Estrada" consegue tal feito em partes, mas falha em outras.

Baseado em um livro de Cormac McCarthy (a mesma mente criativa que concebeu Onde os Velhos Não Têm Vez) a história é sobre um homem (que não tem nome, se chama Homem) e seu filho (que também não tem nome, se chama Rapaz), vivendo em um mundo pós-apocalíptico, bem no estilo "Mad Max", os dois sobrevivem no limite, em situações extremamente precárias. No caminho, os dois aprendem com muitas coisas e pessoas, mas principalmente, um com o outro. Os dois estão indo para o sul, fugindo do rigoroso inverno. Durante essa perigosa odisseia, o Homem vai lembrando dos últimos dias do "mundo normal" ao lado de sua mulher.

Note a enorme diferença entre o "mundo normal" e o mundo pós-apocalíptico. Logo no início vemos flores coloridas, um cavalo, roupas e acessórios coloridos e muita cor. Logo depois somos jogados alguns anos no futuro e somos apresentados a um mundo caótico, sombrio, sem cor, sem vida. Um mundo que fora devastado por alguma catástrofe cuja qual não conhecemos, ficamos suspensos, não sabemos ao certo o que de fato aconteceu. Aos poucos, com ajuda de flashbacks, vamos entendendo um pouquinho sobre o que ocorreu. A fotografia é excelente. E já se destaca nas primeiras cenas recém citadas. A diferença entre um mundo é outro é notável, e o universo devastado é um dos melhores e mais reais do cinema nos últimos anos. Há de se dizer que o mundo devastado é bem econômico. Sem muitos exageros e pouquíssimos efeitos especiais, o diretor de fotografia faz com que o pouco vire muito, com muita criatividade. É sem dúvida alguma um grande injustiçado ao Oscar nesta categoria.

A direção de John Hillcoat é correta. Não extraordinária, tenho que confessar. Não trás nada novo na área e para o gênero (road movie e pós-apocalíptico), mas é correto e nunca deixa de ser interessante. Mesmo não inovando, permanece na linha "correta", segue o manual, com quadros interessantes e planos convencionais. Hillcoat acerta ao dar prioridade à história não à ação, embora esta tenha espaço considerável com cenas bem orquestradas. Hillcoat sabe usar cada aspecto da produção na frente de sua câmera, sabe usar a técnica, a história e as atuações, ou seja, dá espaço para tudo.

O roteiro é competente. Bem adaptado por Joe Penhall, o roteiro, na maioria das vezes, é correto, mas tropeça de vez em quando. Vamos analisar. Primeiro algumas partes boas: o roteiro acerta ao deixar os clichês do gênero de lado e dar bastante ênfase à relação de pai e filho, à sua viagem, aos encontros com outros personagens. O roteiro acerta ao não dar muitas informações e mostrar apenas o necessário. Mas nem tudo são flores no roteiro de "A Estrada". Os flashbacks ora funcionam, ora não. Na maioria das vezes os flashbacks ajudam, mas ás vezes estes se tornam desnecessários. Muitos pontos interessantes são apenas citados ou nem são tocados. Um ponto muito interessante é sobre o "início do fim", mas este é mostrado apenas em flashbacks dentro da casa. Não vemos como tudo começou, como o mundo foi acabando. Não falo sobre os motivos que fizeram com que a população fosse dizimada, mas seria interessante se o roteiro mostrasse um pouco de como o mundo foi ruindo. Outro ponto interessante que não tem o devido cuidado, é o que diz respeito aos canibais. Pouquíssimo é mostrado sobre tais pessoas. Não há embates (morais ou físicos), e personagens que poderiam ser bem explorados ficam descartados e pouco sabemos sobre tais canibais. Outro pequeno erro do roteiro é a velocidade de certas coisas. É um road-movie bem rápido. Pode ser um ponto a favor ou contra, já que impede que o filme caia na monotonia, porém certas coisas vão e vem num piscar de olhos, não há muito tempo para apreciar algum personagem ou alguma passagem. E no final, tudo se resolve mais rápido do que o esperado e os créditos surgem antes do necessário. Pode sim ser um ponto a favor, mas ás vezes atrapalha.

Viggo Mortensen concebe uma interpretação magistral, única e sublime. Sem exageros, e aos poucos, o ator vai tecendo um personagem tridimensional e interessantíssimo. Um pai corajoso, forte, que mata e morre para salvar seu filho, que não tem medo de errar perto de seu filho e desvia a atenção do menino para longe da desgraça. Mortensen fora esquecido nas premiações. Pena. Mas o grande destaque vai para o pequeno Kodi Smith-McPhee, que insere uma emoção surpreendente ao seu personagem e uma fragilidade/coragem incrível. Conta com participações marcantes de Charlize Theron, Robert Duvall (confesso que não o conheci de primeira) e Guy Pearce.

Enfim, A Estrada é um ótimo filme. Visual e narrativamente, A Estrada marca e não é um filme para fracos. Seco, cru, forte e realista "A Estrada" mostra sem pudores o fundo do poço. O futuro da humanidade, em que existem os "tipos bons" e os "tipos maus", e que ambos são do tipo "mendigo". A luta pela sobrevivência, os resquícios de alma nos homens e uma faísca de esperança nas poucas crianças, fazem de "A Estrada" mais do que um simples filme sobre o fim dos dias e um perfeito retrato de quem somos nós, sobre nossos limites, sobre até onde vamos por nós mesmos e por nossos familiares. Enfim, é sobre um futuro certeiro e próximo.

Nota: 8,0

Matheus Pereira

Crítica - Guerra ao Terror


Pouquíssimos são os filmes que melhoram com uma segunda visita. Pouquíssimos mesmo. Enquanto a maioria tende a piorar ou manter a média, uns surpreendem e, ás vezes, nem parecem o mesmo filme. É o caso de Guerra ao Terror, tenso filme de guerra de Kathryn Bigelow, e que atualmente é o favorito (ao lado de Avatar) ao Oscar de Melhor Filme. Na primeira vez que assisti (há uns três ou quatro meses atrás, em DVD), achei um bom filme. Bem dirigido e bem escrito, mas confesso que não achei nenhuma obra prima. Não sei explicar o motivo, mas não achara todo o quadro que pintavam e pintam. Eis que assisto novamente. Justamente para ver se minha opinião mudava. E, com muito orgulho, dou o braço a torcer (nunca achei que diria isso): minha opinião mudou. E muito.

"Em DVD?", você deve se perguntar. "Mas o filme está nos cinemas!", você deve pensar consigo mesmo. Bem, se você ainda não sabe, eu explico: a Imagem Filmes, distribuidora do filme aqui no Brasil, achou que seria um filme ruim, com pouco apelo comercial e resolveu lançar o filme diretamente em DVD, em abril de 2009, antes mesmo da estreia nos EUA (!!!). O resultado: o filme foi tornando-se famoso, angariando prêmios, elogios e acabou sendo escolha certa entre os indicados ao Oscar. É claro que a distribuidora não ficaria para trás e resolveu lançar o longa nas telonas. Na última sexta feira o longa chegou às salas de cinema, mas é claro, muita gente já tinha assistido e o filme pode ser um fracasso, já que muita gente deixa de frequentar o cinema para assistir o filme em DVD, em casa e por um preço bem menor. A única coisa que pode ajudar são as indicações ao Oscar, mas algumas pessoas nem sabem que o filme recebera tais indicações.

Vamos por partes, afinal, Guerra ao Terror é bem mais difícil de analisar do que parece.

Vamos começar pela Direção surpreendente de Bigelow. Confesso (e não entendam o que lerão a seguir como machismo de minha parte), que o filme se torna ainda mais surpreendente por ser comandado por uma mulher. Não que uma mulher seria incapaz de comandar um filme desses, mas convenhamos, não é todo dia que uma mulher dirige um filme de guerra. Surpreende o "pulso" que Bigelow tem sobre seu filme. O clima denso e tenso é incrível, e na Sétima Arte, surpreende que uma mulher tenha sido responsável por tal clima. Além do clima tenso e da carga emocional, Bigelow capricha no visual, e constroi cenas visualmente perfeitas (as cenas de explosões, em câmera lenta, o cartucho caindo em câmera lenta e levantando grãos de areia, entre outras). Bigelow trata seu filme com extremo realismo. Basta esperar alguns segundos de projeção para constatar o estilo semi-documental. Mas é na já citada "densidade" que Bigelow surpreende. A cada bomba desarmada o clima tenso aumenta, e Bigelow usa, além da narrativa, a plasticidade, as imagens. Bigelow aproveita tudo e usa tudo a seu favor.

O roteiro (indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original) de Mark Boal há de ser ter um grande destaque. Primeiro porque é original, afinal de contas, segundo porque é o tipo de roteiro que nunca "cai", está sempre tenso e envolvente. Boal nunca deixa seu roteiro cair na desgraça episódica ou monótona e a cada bomba ou a cada cena nos prende cada vez mais. Os diálogos bem elaborados, peças geralmente descartadas em produções do gênero, chamam atenção, principalmente as palavras que o personagem de Jeremy Renner fala para seu filho, além de serem originais, nos fazem pensar e nos acompanham muito além da sala de cinema. Boal se dedica a seus personagens. À personalidade de cada um. William James (Renner) é o homem que de tanto passar na guerra e desarmando bombas, trocou, aos poucos, sua família, seu lar, seus ideais entre outras coisas. Um homem instintivo, ágil e inteligente, mas que precisa de uma certa dose de adrenalina para sobreviver. Sanborn (Anthony Mackie) é o mais centrado, mais dependente da família e "seguidor de regras". É um bom e forte homem, mas tem suas fraquezas. Um dos personagens mais interessantes, é sem dúvida, o especialista Eldridge. Homem jovem. Típico soldado que quer ação, quer violência, mas que se choca com um simples corpo baleado, por exemplo. A guerra tomara conta do pobre rapaz, que fora do campo de batalha, jogava violentos jogos de video-game. Uma forma de se aproximar da guerra e nunca esquecê-la, e de saciar a sede de ação, mesmo que esta seja através de um video-game. Eldridge é uma mistura incrível de medo e coragem. Ora medroso, ora valente, Eldridge é, em resumo, uma criança posta na guerra, louca para fingir que é Rambo. Uma escolha excelente e corajosa de Boal é acrescentar o menino Beckhan na história. Se parar pra pensar, o menino não é uma simples chave para levar ao ápice emocional, mas sim, para representar os últimos resquícios de vida e emoção presentes em William James, personagem de Renner. O menino jogador de futebol e vendedor de DVDs piratas, pode ser facilmente duas coisas: 1) A infância perdida e sofrida de James. Talvez o menino seja o lado moleque de James, o lado inocente perdido em algum canto. 2) Algum tipo de ligação entre James e o mundo real. O mundo emocional. Beckhan talvez represente o filho de James, e até mesmo sua família. A amizade que nasce entre os dois é tão grande e rápida, que logo pensei: James tomou Beckhan como seu filho temporário. Talvez seja isso, talvez não. Vai da visão de cada um.

O grande destaque (e o filme tem vários) vai para o elenco. Começando pelas pontas magníficas de Guy Pearce, David Morse e Ralph Fiennes (nomes que alavancaram um pouco a fama do filme). Mas são os desconhecidos que roubam a cena. Brian Geraghty (Eldridge) concebe um personagem frágil, com medo, mas com resquícios de coragem. Uma criança. Anthony Mackie concebe um personagem forte, que de início pode parecer superficial, mas que com o tempo mostra-se tridimensional. Mas Jeremy Renner é realmente o grande astro. Renner não tem uma grande cena, daquelas que viram clipes para o Oscar, e sim, uma atuação sublime. Rica em detalhes.

Enfim, Guerra ao Terror é um pacote completo. Tem ação, drama, suspense e um bocado de coisas boas. Altamente recomendável. Bigelow surpreende e concebe este que é, sem dúvidas, um dos melhores do ano.

E claro, assim como a guerra, Guerra ao Terror é uma droga.

Nota: 10,0
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1ª Obs.: Guerra ao Terror recebeu 9 indicações ao Oscar 2010: Melhor Filme, Direção, Ator, Roteiro Original, Fotografia, Edição, Trilha Sonora, Som e Edição de Som.
2ª Obs.: O cartaz lá no topo foi criado por mim. Não é oficial.
Matheus Pereira

Existem filmes que assistimos uma ou duas vezes no cinema. Inúmeras vezes em DVD e quando, por fim, é televisionado, assistimos mais uma vez. Olhando para o passado próximo e para o presente, poucos são os filmes que se encaixam nessa descrição: "filmes que não cansamos de assistir". Poucos também são os filmes que permanecem com uma boa média, ou seja, quando você assiste pela primeira vez dá nota nove ou dez, mas quando assistido pela segunda ou terceira vez, geralmente a nota cai, por as imperfeições vão aparecendo. Muito poucos são os filmes que melhoram a cada visita. Bastardos Inglórios de Quentin Tarantino é assim. É um filme gostoso de assistir. Toda vez que temos oportunidade devemos assistir, e a cada visita, melhora ainda mais. No momento, não sei dizer que "Bastados Inglórios" é um bom vinho, daqueles que se tornam mais deliciosos com o tempo, mas creio que seja assim como todos os filmes de Tarantino. Talvez, para muitos, os filmes de Tarantino sejam bem isso mesmo: vinhos. Que precisam de um bom tempo para serem apreciados. Que precisam de um longo descanso para serem adorados pelas pessoas. Comigo, ao menos, foi assim. Foi só depois de alguns anos que fui aprendendo a gostar do cinema do cineasta. Foi depois de algum tempo que soube apreciar o bom cinema do diretor. Mas aí, eu lhe pergunto: será que são os filmes que precisam esperar um tempo para serem apreciados, ou somos nós que devemos esperar uns anos para, enfim, assisti-los? Será que somos nós que devemos aprender com certas coisas, e assim, termos olhos limpos para "enxergá-los"? Um pouco dos dois. O tempo é bom para ambos. E os filmes de Tarantino, assim como nós, envelhecem e aprendem. Podem se desgastar fisicamente, mas a alma e a experiência jamais se desgastam. Os filmes dele são do tipo que você acha uma coisa hoje e outra completamente diferente daqui uns cinco ou dez anos. Os filmes de Tarantino podem ser muitas coisas, dentre elas um casal. Sim, um casal. Nós, espectadores, somos um e o filme outro e, ás vezes, levamos anos para se entender perfeitamente.

Bastardos Inglórios é claramente um filme de Tarantino. Bastam uns três minutos para ter essa constatação. Um homem corta lenha. Em uma França dominada por nazistas, tal homem esconde uma família de judeus embaixo do assoalho. Eis que chega na casa do pobre cortador de lenha e fazendeiro o Coronel Hans Landa (Chistoph Waltz), conhecido pela alcunha de "o caçador de judeus". É a partir da chegada de Landa que um longo diálogo começa. E é aí que notamos que é um puro filme de Tarantino. O cineasta dá uma aula de como criar tensão e um jogo de gato e rato apenas usando palavras. Cortantes, afiadas, mas proferidas com delicadeza por um maquiavélico Chritoph Waltz. Aos poucos, usando sua inteligência, Landa descobre o que, na verdade, já sabia: embaixo de seus pés há uma foragida família judia. Landa chama seus soldados e sem dó ou piedade, mata toda a família judia. Aliás, "quase" toda, pois a filha, Shosanna escapa. É aí que começa a trama de vingança de Bastardos Inglórios. Shosanna munida de toda a raiva e sede de vingança do mundo, planeja matar os nazistas um por um (ou todos de uma vez). Mas calma, eu não revelei nada de mais, afinal, este brilhante prólogo (primeiro capítulo, na verdade) de Tarantino serve para apresentar alguns personagens, e o que realmente importa é o texto e sua genialidade, e isto, nem seu eu quisesse, conseguiria transpor nesta crítica.

Logo após conhecemos os bastardos inglórios do título. Matando nazistas e arrancando escalpos. Liderados por Aldo Raine (Brad Pitt caricato, mas extremamente divertido), os bastardos arrancam informações dos nazistas e os torturam com todo o gosto. As histórias de Shosanna e dos bastardos caminham paralelamente, até se encontrarem no cinema (de Shosanna, e que será palco do lançamento de um filme alemão. Tal lançamento trará várias figuras nazistas importantes, dentre elas Adolf Hitler), cesto de "ovos podres", local onde a vingança de Shosanna e a missão dos bastardos serão postas em prática. Paro por aqui e não revelarei mais nada sobre a trama. Sobre os bastardos, bem, Tarantino poderia explorá-los melhor. Mostrar mais cenas com os loucos matadores de nazistas, mas infelizmente isto fica apenas na imaginação. Pitt, como já citei, está bem caricato no filme (propositalmente, acredito), mas muito divertido. Seus arrancadores de escalpos também são caricatos: o Urso Judeu (interpretado com vontade por Eli Roth) e o grandão e caladão Hugo Stiglitz (Til Schwelger) são os melhores exemplos. Outro personagem caricato (este com certeza absoluta: propositalmente) é Hitler, que já na sua primeira cena dá chiliques ("Não! Não! Não! Não! Não!").

Em Bastardos Inglórios, constam as frases mais antológicas do ano. Mas o que faz tais frases tornarem-se antológicas? Simples: criatividade e originalidade. Simples frases como "O bar é no globo" e "Attendez la crème", já são repetidas incansavelmente por cinéfilos. Dentre as melhores está aquela? "O trabalho de um bastardo nunca está pronto!". Propositalmente ou não, a frase de efeito acaba se tornando muito pertinente, afinal, lutando com todas as forças ou não, pragas nunca serão dizimadas por completo, tanto que até hoje, aprendizes e seguidores do nazismo ainda estão espalhados mundo a fora. Tarantino além de criar frases afiadas e com muito humor, cria interessantes pensamentos, como a comparação dos judeus com ratos, logo no início do filme. Landa, conversando com o fazendeiro, diz que os ratos não fazem praticamente nada, mas se um deles entrasse em sua casa, você o atacaria sem pensar. O fazendeiro diz que ratos causam doenças. Landa então dá seu "xeque-mate": ele diz que esquilos também causam doenças e são bem parecidos com os ratos, mas mesmo assim, não o mataria. Se você parar para pensar, Landa subjetivamente entrega a raiva inconsequente dos nazistas: eles matam judeus (ratos), que são pessoas iguais as outras, erram da mesma maneira que um alemão ou francês (esquilo), mas inexplicavelmente os judeus são mortos, os alemães ou franceses não. A estrutura narrativa do longa também merece destaque. Dividida em capítulos bem específicos, Tarantino conta história paralelas com maestria. Não se perde entre uma história e outra, e sabe unificá-las perfeitamente. Conhecemos cada história e cada objetivo com calma e muito diálogo. Tudo é bem explicado e contado, provando que Tarantino é um perfeito Forrest Gump.

O aspecto técnico do filme surpreende, principalmente por ter sido filmado e finalizado em apenas oito meses. O filme recebeu merecidas oito indicações ao Oscar 2010. Além das de Melhor Filme, Direção, Ator Coadjuvante e Roteiro Original. O filme foi indicado a Melhor Fotografia (e se Avatar não existisse, era Oscar na certa), Edição (em nenhum momento o ritmo cai, e a montagem da história paralelas são perfeitas e nunca tropeçam), Som e Edição de Som (é bem barulhento sim!). A bela fotografia já merece destaque nas primeiras cenas, principalmente no diálogo de Landa e o francês. A fotografia se sobressai nas cenas externas, com destaque para a cena em que os bastardos interrogam alguns alemães em busca das localizações de outros alemães. Outra área que merece destaque é a trilha sonora, que mesmo não sendo original, chama atenção (as trilhas dos filmes de Tarantino são sempre perfeitas). As músicas dos antigos westerns e as instrumentais (a música que toca nos créditos finais fica impregnada na memória) se encaixam perfeitamente na história.

É impossível dizer com certeza qual a melhor coisa de Bastardos Inglórios, afinal, tudo é excelente no filme. Mas com certeza podemos afirmar que Christoph Waltz é uma das três melhores coisas do filme. Waltz concebe uma interpretação sublime. Rica em detalhes. Da apresentação à falta de modéstia ao exibir seu rótulo (Caçador de Judeus). Do papo conquistador à inteligência e o lado poliglota (o sujeito muda do francês para o inglês, do inglês ao alemão e do alemão ao italiano). Waltz dança entre o estereótipo dos vilões, o que é um perigo, Waltz chega no limite mas nunca cai no precipício. O simples movimento que ele faz para uma personagem repousar a perna na sua é engraçado e único. Waltz, é claro, merece o Oscar.

Tarantino tem um estilo único de direção. Os plano-sequencia, os travellings (verticais e horizontais), os ângulos inclinados, entre outros. O plano-sequencia no saguão do cinema (dura mais de um minuto) é incrível. Mas Tarantino peca um pouquinho ao incluir alguns flashbacks desnecessários (quando Landa chega no jantar em que estão Gobbels e Shosanna, Tarantino mostra um flashback de Shosanna fugindo de Landa no início do filme. Dá a impressão de que Tarantino colocou o flashback apenas para lembrar de que fora ela que fugira de Landa, o que todos já sabiam), como o de Hitler explicando a sua ida à prémiere. Mas são erros pequenos perto de toda a técnica do diretor.

O DVD é bem luxuoso. Tem uma bela capa e um menu estático muito bonito, porém é pobre em seus extras. Trás apenas trailers do filme (teaser, americano, internacional e japonês), Cenas estendidas ou alternativas (nenhuma muito interessante) e "O Orgulho da Nação" na íntegra, com mais de seis minutos de duração. Trás opções de dublagem, mas claro, grande parte é legendada devido as constantes cenas com variados idiomas.

Fico imaginando daqui umas três décadas, nomes como "Tarantino", "Spielberg", "Cameron", "Scorsese", "Jackson" sendo sinônimos de genialidade e ligados diretamente a estilos e maestria, assim como "Hitchcock" e "Kubrick" são. Fico imaginando o grau de respeito que as pessoas impostarão ao pronunciar "a obra-prima do mestre ...", assim como nós cinéfilos falamos daqueles dois senhores recém citados. Talvez o mundo enlouqueça e chame esses nomes como sinônimos de cinema ruim ou de caça-níqueis (o mundo já enlouqueceu, e hoje chama de mestre o que na antigamente era o pior diretor do mundo: Ed Wood, então, tudo é possível), talvez o mundo fique cego e chame fenômenos como Avatar de "caça-níqueis" e filmes como Pulp Fiction de superestimados. Tudo é possível. Mas o que importa é que hoje, esses caras já são tratados como mestres e o futuro, a Deus pertence.

Nota: 9,5

Matheus Pereira

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