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O Peso de Carregar o Personagem - Parte 1


Conheça o typecasting, fenômeno em que as estrelas do cinema e da TV são eternamente reconhecidas por um único personagem.

por Caio Falcão


Cansado da imagem de bom moço, o ator que viveu Frodo Bolseiro na trilogia “O Senhor dos Anéis” não pensou duas vezes antes de aceitar papéis politicamente incorretos no cinema. Elijah Wood interpretou um empregado desonesto em “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (2004), um serial killer em “Sin City” (2005) e um jovem envolvido com torcidas violentas em “Hooligans” (2005). Ao buscar identidades opostas à que lhe deu fama, o ator escapou de um estigma que poderia perseguí-lo por toda a vida: ficar eternamente associado a seu personagem.

O problema é comum. Já afetou grandes estrelas do cinema e das séries de TV – especialmente as de maior sucesso. Os hollywoodianos chamam de typecasting o fenômeno em que atores e atrizes tornam-se conhecidos por interpretar personagens clássicos e, depois disso, não conseguem ser vistos de outra forma. Correm o risco de decepcionar os fãs ao atuar em papéis que entram em choque com a identidade do personagem, até porque, geralmente, o protagonista tem um caráter positivo, e qualquer desvio nessa conduta pode significar uma afronta ao público. Também não é raro que os admiradores de um ator esperem que ele siga um estereótipo particular e papéis que fogem desse perfil podem representar fracassos comerciais (como a gente já comentou aqui na coluna passada).

São muitos os artistas que não conseguem trabalho ao fim de um filme ou de uma série de sucesso. Logo depois da fama mundial como o herói da série de TV “As Aventuras do Superman” (1952 – 1957), conta-se que o ator George Reeves – antecessor de Christopher Reeve – teria participado do filme “A Um Passo da Eternidade” (1953). Mas antes da estréia, ao submeter a produção a testes de audiência, a diretoria perdeu a cabeça. Espantou-se com a platéia, que gritava: “É o Superman!” Resultado: as cenas do ator foram todas cortadas.

Os elencos das longas séries de TV são os mais suscetíveis ao typecasting. “Seinfield”, “Friends”, “Sex and the City”, “Arquivo X” e “Jornada nas Estrelas” são fortes exemplos disso. Seus atores dificilmente se destacam em outros papéis. Quando aparecem em trabalhos diferentes, a comparação é inevitável. Na tentativa de serem lembrados como eles mesmos – e não como o antigo personagem – mudam os trejeitos e o visual: cortam e pintam o cabelo, capricham na maquiagem e emagrecem. Mas a reação típica do público é de estranhamento e, por vezes, de repulsa.

Vários motivos colocam um ator na sombra de seu personagem. Geralmente, seu talento é limitado ao papel de sucesso. Ou então, marcas do seu visual só combinam com um perfil. É o caso dos intérpretes que, pela expressividade, só fazem filmes de terror, ou das atrizes que, devido à beleza exagerada, estão fadadas a femme fatale. Sem contar os galãs, que dificilmente são escolhidos como vilões. Outros atores só representam tipos assustadores ou problemáticos.
É o caso de Michael Barryman, que devido a uma rara doença não desenvolveu cabelo, unhas ou dentes. Quando não representa um tipo esquisito, como em “Um Estranho no Ninho” (1975), “Mulher Nota 1000” (1985) e “Viagem Maldita” (2006), Barryman é escalado para papéis cômicos, como em “Rejeitados pelo Diabo” (2005).

O typecasting também afeta atores mirins. Há dois exemplos emblemáticos no cinema: Macaulay Culkin, de “Esqueceram de Mim” (1990) e Haley Joel Osment, de “O Sexto Sentido” (1999). As duas grandes promessas do cinema – com talento reconhecido – cresceram, perderam o carisma e sumiram. Até chamaram a atenção pelo envolvimento com drogas, mas nem isso recuperou o destaque da infância.
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Na próxima semana, a matéria continua, e nós falaremos um pouco mais sobre o typecasting e a aceitação do público. Não percam!

1 comentários:

George Reeves sofria de depressão por não conseguir se libertar da sua imagem de superman. Sua história foi contada no ótimo Hollywoodland e sua morte permanece um mistério até hoje.

24 de setembro de 2009 às 12:22  

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