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Especial - Zack Snyder - "Watchmen"



Universos paralelos são constantes nos filmes de Zack Snyder. Até mesmo "Madrugada dos Mortos", seu primeiro filme, era calcado em algo que não aconteceu e nunca acontecerá. "300" se passava claramente num mundo alternativo. Alterando os rumos da história com total liberdade, o longa que acompanhava as aventuras dos trezentos guerreiros espartanos certamente não levou a realidade e os fatos históricos para se "criar". "Watchmen", terceira obra do cineasta, é, sem sombra de dúvidas, um filme ambientado num universo paralelo. Basta constatar as reeleições de Nixon e os demais diferentes rumos históricos para comprovar isso. A conclusão que se pode chegar é a de que só um universo paralelo é capaz de suportar, de afugentar, os vícios, a imaginação louca e as ambições de Snyder. As lutas, a força sobre-humana, a liberdade histórica em si. Toda essa liberdade, essa despretenção, exige um pouco de paciência e bom senso do espectador. É preciso sentar e embarcar na viagem proposta pelo cineasta. É impossível crer em algumas coisas; não culpo. Mas é hipocrisia criticar um filme como "Watchmen" sabendo de quem é e de onde vem. O que se pode apontar como desfavorável: os constantes flashbacks. Ainda que alguns flashbacks sejam belos e muitos deles funcionem narrativamente e servem positivamente à trama, alguns surgem deslocados e sem propósito. Ainda assim, a maioria dos flashbacks (até mesmo todos), mostra um pouco de cada personagem. A atenção dada a cada personagem, aliás, é excelente. Cada um tem sua personagem e ponto certo na história. Todos têm um posicionamento moral, cada um tem sua complexidade e suas facetas, o que afasta a obra do simples "filme de herois". Como todo projeto de Snyder, este tem visual fabuloso e é muito divertido.

Matheus Pereira

Especial - Zack Snyder - 300

Especial - Zack Snyder - "300"



"300" é uma experiência visual arrebatadora. As imagens são tão belas que nem percebemos os furos no roteiro e os clichês. "300" é um filme divertido. É daqueles que tiram as pessoas de suas casas, que fazem com que elas vão ao cinema, afinal, a maioria vai ao cinema para se divertir, para ver movimentação. Tem gente que vai ao cinema porque o filme em questão é grandioso, é belo e merece ser assistido em tela grande. "300" se encaixa nesses atributos. É o tipo de filme que, através de seu visual e sua fantasia de épico, move as pessoas e, incrivelmente, se torna uma experiência mais gratificante. Zack Snyder é, segundo jornalistas e amigos, um apaixonado pelo Cinema. É possível ver isto em "300". Os closes, os planos, os quadros. Tudo, além de invencionismos e exercício de estilo, são prova de seu amor e devoção à Sétima Arte e à obra que tem em mãos. "300" pode não ser uma obra filosófica, cheia de questões interessantes e metáforas, ou repleta de simbolismos; é, para os detratores, um belíssimo quadro em movimento. Mas a narrativa do segundo trabalho de Snyder não é ruim. Tem erros, é claro, mas não se trata de um roteiro sofrível ou covarde para com a obra em que se baseia. Não trás ótimos desenvolvimentos de personagens, mas não limita, felizmente, as figuras em cena à meras descrições ou maneirismos. É importante que se diga que, embora Snyder tenha na maior parte do tempo uma boa direção, o cineasta ás vezes exagera, e a simplicidade vista em seu filme anterior ("Madrugada dos Mortos") não se faz presente. Com tropeços aqui e ali, "300" ainda consegue ser uma obra satisfatória e divertida. Este é o filme que lançou Snyder definitivamente.

Matheus Pereira

Mais um passo...

Mais um passo...

Você pode não saber, mas os blogs de cinema estão muito bem representado. A SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) reúne blogueiros de todo o Brasil num só lugar. Unir, divulgar e organizar os blogs de Cinema são alguns dos objetivos da Sociedade.

Todo ano, a Sociedade abre vagas para novos membros. Nos meses de março e outubro, os blogueiros interessados podem se inscrever para tentar integrar o grupo. Pois há uns dias atrás me inscrevi. Já acompanhava a Sociedade há um tempo, mas sempre perdia a data das inscrições. Dessa vez foi diferente. Mandei meus dados e, confesso, não estava muito confiante. São muitos blogs e a concorrência é forte e acirrada.

Nove blogs foram aceitos. O "Pipoca Net" foi um deles. É com muita felicidade e orgulho que digo: o "Pipoca" faz parte da SBBC.

Depois da "peneira", em que os blogs são avaliados e os melhores são escolhidos, eis que o "Pipoca" está entre os escolhidos.

O que resta fazer? Agradecer, claro. Aos membros da SBBC, por escolherem e confiarem em mim e no "Pipoca Net". A todos os leitores e visitantes. Vocês fazem o "Pipoca". A todos os parceiros, a todos os amigos que sempre estiveram aqui e sempre apoiaram o blog. À titia, Ana, que já passou por aqui e sempre me apoia; aos irmãos Richar e Fernando, que também colaboraram com o blog; ao Caio, que foi um dos fundadores, parceiro desde o início. Aquele que concebeu o belo design do blog e que também colaborou nos primeiros textos.

Enfim, obrigado a todos. Este é mais um importante passo.

SBBC:
http://blogueiroscinefilos.wordpress.com/

Novo site da SBBC:
http://blogueiroscinefilos.com.br/

Matheus Pereira

Especial - Zack Snyder - "Madrugada dos Mortos"



"Madrugada dos Mortos" não é nenhum blockbuster de verão. É o primeiro longa de Zack Snyder e certamente faria mais sucesso se fosse lançado agora, depois do sucesso de "300" e com o nome do cineasta conhecido e, digamos, respeitado. Refilmagem de "Dawn of the Dead", de George A. Romero, "Madrugada dos Mortos" ainda não trás os vícios de Snyder, mas é, sem dúvidas, um exercício do que o diretor sempre quis fazer e fez nas obras posteriores. Fazendo bom uso da violência e concebendo sequências que são, no mínimo, interessantes (como aquela, logo no primeiro ato, em que a câmera segue o carro da protagonista enquanto mostra todo o terror e o caos que acabara de se instalar), Snyder já mostra ter bom faro visual. "Madrugada dos Mortos" não tem o escopo dos antigos filmes de Romero e não funciona tão bem se analisarmos suas metáforas, já que elas soam antiquadas ou simplesmente repetitivas. Ainda assim, é interessante acompanhar certos acontecimentos e decisões tomadas no decorrer da trama. Trancar os personagens em um shopping, ainda que não seja uma ideia original, é algo interessante e uma boa fonte a ser explorada, e que talvez funcione melhor atualmente do que nas décadas de 70 ou 80. Decisão acertada também é manter boa parte da trama dentro do prédio. A tensão aumenta e a esperança de sobrevivência é quase nula, já que os mortos-vivos cercam o local impedindo qualquer tipo de fuga. Snyder explora com inteligência esse clima opressor e desenvolve bem seus personagens e acontecimentos. Alguns personagens vistos em "Madrugada dos Mortos" não recebem devida atenção, tornando-se unidimensionais, o que prejudica a trama e a torna formulaica em alguns momentos, mas o cineasta, ao menos, não aniquila sua história em prol da violência barata ou da ação desenfreada. "Madruga dos Mortos" é um suspense tenso que não pára em nenhum momento. A dinâmica dos personagens e das cenas é ótima, e mesmo presos a um só lugar a trama se desenrola com fluidez, mantendo a atenção do espectador até o fim. A primeira empreitada de Snyder no cinema peca pelos clichês e pela falta de um pouco mais de ousadia. É um filme divertido e, diferente de outros do gênero, está longe de ser vazio. Ainda que seu conteúdo não traga nada de novo ou surpreendente.

Matheus Pereira

Especial - Zack Snyder

Especial Zack Snyder


Zack Snyder foi proclamado "visionário" com apenas dois filmes no currículo. Marketing, sem dúvidas. Snyder foi assim chamado porque poucos haviam explorado o visual de seus materiais tão bem. O cineasta, como poucos, conseguiu tornar seu filme bem melhor graças ao visual arrebatador (estou falando de "300", é claro), e se não fossem as belas imagens e as sequências inventivas, "300" talvez não fosse metade do que foi. É divertido, mas nenhum exemplo de como se construir uma narrativa. Snyder pode ser considerado, também, o cineasta que levou menos tempo para se tornar um ícone pop dos bastidores do cinema e para ser adorado pelos nerds do mundo todo. E repito, bastaram apenas dois filmes para isso. Depois do filme sobre os guerreiros espartanos, seu nome estampou os cartazes de outra obra ousada: "Watchmen". A "bíblia" das HQs foi levada para as telas com o mesmo invencionismo e viagens surreais do diretor. Antes de o filme ser lançado, a Warner - estúdio responsável pela fita - já havia gritado aos quatro cantos do mundo, através de trailers e qualquer tipo de propaganda, que Snyder era um visionário. O adjetivo, - exagerado, é claro - que já estava quase nascendo no consciente coletivo dos cinéfilos mais apressados, pegou fácil. Os mais exigentes e aqueles que têm mais "afinidade" com o Cinema, sabem que tudo isso é puro negócio, tudo um exagero. Mas como a maioria idolatra as coisas e pessoas facilmente, o título de "visionário" pegou, e Zack, é claro, adorou a ideia. E ele se acha o visionário que disseram por aí.

Snyder é um excelente diretor, sem dúvidas. Por mais que tenha detratores, digo, sem medo, que o cineasta sabe o que faz. Exagera em alguns pontos? Sem dúvida; mas carrega e posiciona sua câmera com inteligência e sabe o que fica bem ou não na tela do cinema, da TV ou até mesmo de um computador ou celular. Snyder entende de imagens, de belas cenas, de visual. Quando bem amparado, Zack sabe carregar uma história. Seu primeiro filme, por exemplo, "Madrugada dos Mortos", tem um bom roteiro, e o diretor soube transpô-lo para as telas com cuidado. Carregou a trama com precisão e não se perdeu.

Zack Snyder é, pra mim, aquele típico diretor que segura um filme desde que seu nome é anunciado como o responsável por tudo. Fico tranquilo quando sei que um projeto será dele. Fiquei muito feliz ao saber que o próximo "Superman" está em suas mãos. Confio no cineasta. Seus filmes são belos e os roteiros são, em geral, satisfatórios. Basicamente, seus personagens têm bom desenvolvimento e nenhum de seus filmes tem buracos enormes na trama. Ainda que, ás vezes, as imagens quase sobreponham a história, Snyder consegue equilibrar tudo muito bem. Mas isso não faz dele um visionário.

Com 45 anos e jeito de garotão, Zack Snyder está com todo o fôlego. Ano passado lançou a animação "A Lenda dos Guardiões", na última sexta feira "Sucker Punch - Mundo Surreal" chegou aos cinemas e se prepara para dirigir o novo "Superman". Nos próximos dias, falarei um pouco sobre cada um dos filmes do diretor, encerrando, claro, com a crítica de seu último filme.

Matheus Pereira

Crítica - "Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles"



Já escrevi várias vezes aqui no blog e em vários lugares que quando um filme cumpre o que havia prometido, não há como criticá-lo. Não podemos ignorar os erros evidentes, é claro, mas temos de ser complacentes e entender que aquilo nada mais é do que a confirmação do que já sabíamos e do que era prometido desde o início de sua produção. Já no primeiro trailer de "Invasão do Mundo: Batalha de L.A." podíamos ter certeza que ali estava mais um filmes sobre invasões alienígenas com muita ação, explosões, tiros e patriotismo. Não temos o presidente que reza na frente das câmeras ou faz discursos edificantes que em nada ajudam na hora do caos. Porém temos os soldados que são parceiros, que deixam mulheres grávidas para trás e que nunca desistem. Há, obviamente, aquele que vai se casar e antes do matrimônio parte para a batalha. Há o estrangeiro com nomes inventivos e nunca vistos numa fita do gênero (como Martinez, Santos ou qualquer outro nome latino que surge facilmente na cabeça de alguém). Mas também há aquela adrenalina e aquela ação que todos esperavam. É sabido que muitos esperavam que "Invasão do Mundo" estivesse mais para "Distrito 9" do que para "Independece Day", mas a maioria sabia que o que seria visto pulsando na tela era mais um "Transformers" ou um "Falcão Negro em Perigo" com ETs.

Filmes como "IdM" são feitos seguidamente para cumprirem o papel que este cumpriu: divertir por um tempo, mas não render debates numa mesa com os amigos, ou teorias interessantes acerca de metáforas e segredos escondidos (como, por exemplo, o próprio "Distrito 9" e o ótimo "Cloverfield"). O longa dirigido por Jonathan Liebesman (do ruim "O Massacre da Serra Elétrica - O Início" e do apenas "assistível" "Darkness Falls") é pacote fechado sobre as aventuras de um grupo de soldados, pacote este que poderia ser distribuído para os jovens para que estes ingressem no exército, na aeronáutica ou na marinha. Em outras palavras, um panfleto que exalta as glórias e o poder de um homem com armas na mão.

A história é simples: alienígenas chegam a Terra e acabam com meio mundo para conseguir água (se os ETs de M. Night Shyamalan fugiam da água em "Sinais", aqui, segundo "especialistas", os visitantes indesejáveis queriam nosso bem mais precioso). É isso. O núcleo da trama é sobre alguns soldados que mergulham na batalha para resgatar civís e fazer alguma coisa que preste. O roteiro de Christopher Bertolini (responsável pelo texto de "A Filha do General") tem vários clichês. Além dos já citados no primeiro parágrafo deste texto, algumas frases típicas deste tipo de obra estão lá. Aquelas que você certamente conhece e já viu várias vezes em vários filmes por aí. O roteirista, como era de se esperar, encara seu público como se fosse um bando de dementes: ao ver certo acontecimento no ato final da história, um personagem repete a cena em palavras, para ter certeza de que seus companheiros, e consequentemente os espectadores, entenderam o que acabara de acontecer.

O elenco encabeçado por Aaron Eckhart (agradável em qualquer situação) não foge das regras básicas da atuação. Cada uma faz o seu papel, caminham - ou correm - até suas marcações e pronto. No início os vários nomes que surgem na tela podem confundir, mas não se preocupe, não se importe em guardar os nomes, pois mais tarde alguns personagens serão jogados para qualquer lado e esquecidos, voltando a aparecer no final ou quando são chamados aos berros pelos colegas. A direção é convencional e aposta no estilo semi-documental para dar realismo às cenas. Muita câmera na mão para dar a verossimilhança que tanto apetece produções do tipo.

Bons efeitos e produção caprichada completam o pacote, e mesmo que tenha apontado vários pontos negativos em meu texto, confesso que gostei de "Invasão do Mundo". Talvez não seja o filme que eu indique para os amigos, mas certamente não será aquele que previno as pessoas antes de assisti-lo. Se quiser cenas de ação e correira, é um bom prato. Se não quiser pensar muito e só querer curtir as imagens, é uma ótima refeição.

E eu juro que esperava um "ALISTE-SE, JÁ" aparecer na tela assim que o filme terminou.

Matheus Pereira

Crítica - "Não me Abandone Jamais"



"Não me Abandone Jamais" poderia muito bem ser uma aventura futurística cheia de efeitos visuais, cenas de ação e clichês do gênero. Poderia se passar numa realidade paralela cheia de mistérios e segredos mirabolantes. A base da trama ajuda. Mas não é isso que acontece. O filme dirigido por Mark Romanek (do bom "Retratos de uma Obsessão) é um drama intimista repleto de questões filosóficas. É, também, um romance que foge das convenções do gênero e emociona genuinamente. Melancólico, "Não me Abandone Jamais" é um filme difícil. Trás personagens tristes afogados num mundo igualmente triste. Da trilha sonora a fotografia, tudo remete a uma tristeza que parece nunca acabar. É uma obra que certamente não irá agradar quem busca histórias de amor e redenção com finais felizes e reconfortantes.

A trama se passa num passado alternativo onde a ciência descobriu uma maneira para que as pessoas possam viver até os cem anos. Mas este não é o grande atrativo da obra. A história de Kathy (Carey Mulligan, ótima), Tommy (interpretado por Andrew Garfield que rouba todas as cenas) e Ruth (Keira Knightley. Um pouco apagada perto de Mulligan e Garfield) desde a infância num colégio interno até a descoberta do mundo na juventude, esconde algumas verdades que mudam suas vidas radicalmente. As "razões de ser" de cada um são abaladas com revelações assustadoras que comprometem suas esperanças do futuro e suas vontades de viver.

Romanek guia o brilhante texto de Alex Garland (o mesmo roteirista do ótimo "Extermínio) - baseado na obra de Kazuo Ishiguro - com firmeza. Sem revelar as surpresas da trama antes do tempo e criando um clima opressor e melancólico com sabedoria, o cineasta não se rende a exercícios de estilo ou devaneios tolos, seu objetivo é mostrar a vida e as questões que movem as ações dos personagens. O roteiro de Garland, aliás, desenvolve os personagens com cuidado, revelando detalhes mínimos no decorrer da trama que tornam cada um em seres críveis e multifacetados. E ainda que perca um pouco do ritmo em certos instantes, o roteiro volta a dar guinadas interessantes e toma novo fôlego de tempos em tempos.

As atuações vistas em "Não me Abandone Jamais" merecem atenção especial. Mulligan concebe uma personagem meiga, contida que, mesmo sabendo da verdadeira razão de sua existência, não deixa de ser a amiga fiel e a mulher forte que já dava sinais desde a infância. Ainda que demonstre inegável tristeza e parece vencida em alguns momentos, a fibra de Kathy, sua personagem, nunca é posta em cheque. Já Garfield rouba todas as cenas. Sem cair na pieguice que facilmente poderia se render, Garfield entrega uma interpretação sutil, e mesmo na cena em que se entrega a gritos histéricos não perde a linha, o foco. Já Knightley, como já apontado anteriormente, tem seu brilho ofuscado pelo talento dos colegas de cena. Sua personagem é a menos interessante, não devido a sua atuação ou as ações repreensíveis de sua personagem, mas porque o talento e a história dos outros dois personagens são muito maiores e mais interessantes.

Não muito rebuscado do ponto de vista técnico, mas profundo se analisarmos sua narrativa, "Não me Abandone Jamais" é cult sem forçar. Não obriga ninguém a considerá-lo assim. Apenas é. É um drama "simples" que passa sua mensagem sem apelar a sentimentalismos baratos e a clichês desnecessários. Uma obra para ser apreciada e guardada com gosto.

Matheus Pereira

Crítica - Rango

Crítica - "Rango"



Ainda que a animação abra inúmeras portas e proporcionem altos voos aos realizadores, deve ser muito difícil escolher um tema para transformar em filme. Tendo em mente que o processo de criação de uma animação é muito longo e complicado, é preciso saber com total certeza o que se deseja fazer. É algo que envolve riscos, talvez seja a área do cinema mais perigosa. Fazer um filme sobre pinguins que dançam é algo muito arriscado. Criar uma obra que conte a história de um robô solitário que não fala é algo perigoso e que pode dar errado; investir anos de trabalho na história de um rato que é cozinheiro também é um feito que pode não ser reconhecido. Assim, chegamos a "Rango". É importante que se diga, que, mesmo sabendo que a imaginação das crianças "aceite" bastante coisa, é complicado ter como personagens principais um camaleão solitário e magricelo e uma porção de personagens atípicos que fogem completamente do "desenho bonitinho". São animaizinhos que, mesmo tornando-se fofinhos com o passar do tempo, são esquisitos e podem afundar uma boa ideia. Afinal, ainda que os pequenos "aceitem" bastante coisa, eles são bem exigentes. "Rango" merece atenção só por isso. Investir em personagens atípicos, estranhos e que tenham algo a dizer.

"Rango" conta a história de um simpático e solitário camaleão que tem a imaginação bem fértil e que, depois de um acidente na estrada, é deixado para trás sem água e a mercê dos perigos do mundo. Seguindo as orientações de um sábio animal que acabara de ser atropelado, o camaleão caminha por quase todo o deserto, até achar uma águia assassina e posteriormente uma habitante de Poeira, chamada Feijão. Ao chegar a cidadezinha, o camaleão com camisa havaiana logo finge ser um heroi e sem querer acaba prestando um enorme serviço aos assustado habitantes do lugar. Assim, Rango - nome que "inventou" ao ler o rótulo de uma garrafa - se torna o heroi de poeira e logo recebe uma importante missão.

Outro ponto que deve ser apontado é que "animação" não é um gênero, e sim, um modo de fazer cinema. A "animação" pode ser uma aventura, uma comédia, um romance e até mesmo um filme adulto. A "animação" pode, sem dúvidas, cair bem como faroeste. E "Rango" mais uma vez merece atenção por isso. É uma animação/faroeste, com animais estranhos e com questões que fogem das lições baratas de alguns "produtos" lançados ultimamente. Gore Verbinski (da ótima trilogia "Piratas do Caribe" e do surpreendente "O Chamado"), dirige "Rango" com sabedoria. Sabendo que tinha um material ousado em mãos, o cineasta tentou agradar todos os públicos. Assim como os filmes da Pixar, a obra de Verbinski traz os ingredientes que agradam os pequenos e os acompanhantes destes (e aí se incluem os irmãos mais velhos, o tio, a tia, os pais...). Se as crianças ficarão deslumbradas com as belas imagens e com as cenas de ação, os adultos poderão se deliciar com as várias referências ao cinema. "Rango" faz menção a inúmeras obras consagradas: dos clássicos do western até "Matrix". Sem escancarar suas homenagens ou depender delas, "Rango" se torna ainda mais divertido, seja trazendo a "Cavalgada das Valquírias" para uma sequência emocionante no meio do deserto ou dando vida nova a personagens imortais que fazem parte do imaginário dos cinéfilos. Mas ater-se a apenas estas qualidades é um desserviço a "Rango".

Impecável do ponto de vista técnico (a responsável pela animação é a ILM), "Rango" torna cada personagem crível graças a detalhes quase imperceptíveis que tornam a experiência visual marcante. Mas a história de "Rango" também é um ponto forte. Ainda que não tenha a demasiada profundidade da maioria dos filmes da Pixar, o longa de Verbinski traz questões interessantes e personagens bem desenvolvidos, multifacetados e cheios de vida. Se a Pixar ou a DreamWorks ou qualquer outro estúdio não lançar nenhuma obra a altura, "Rango" certamente será a melhor animação do ano.

E o segundo melhor faroeste, depois de "Bravura Indômita".
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A partir desta crítica a cotação dos filmes será feita através de estrelas (numa escala que vai de uma estrela a cinco) e não mais por notas (3,0, 6,5, 9,0, etc)

Matheus Pereira

Algumas observações...

Este ano não vou comentar sobre os vencedores do Oscar. Não há o que comentar. Dizer o que? Tudo já foi dito. Os vencedores já são conhecidos e falar ainda mais sobre o prêmio é repetir mais uma vez coisas que já foram escritas em todo o lugar. O blog não ficará melhor e muito menos pior porque não comentou sobre o Oscar. O que pode ser dito é que não gostei de "O Discurso do Rei" ter saído vencedor. Mas comentar tudinho seria um exercício fatídico.

Ainda na onda do Oscar, é com orgulho que digo: fiquei em segundo lugar no bolão organizado pela Fabiane Bastos, do Dvd, Sofá e Pipoca. Com apenas dois pontos de diferença do primeiro lugar, fiz treze pontos dentre as categorias que opinei (é importante que se diga: não opinei em todas as categorias). Foi muito legal participar e ficar bem colocado. Mas o melhor de tudo é a troca de opiniões e a postagem coletiva.

O ano já começou há um bom tempo, o carnaval está aí e o blog segue o seu caminho. Com poucas ou muitas postagens, o Pipoca Net sempre será o Pipoca Net.

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