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A Maratona - M. Night Shyamalan

___A Maratona___
M. Night Shyamalan

Começa hoje a nova seção do Pipoca Net "A Maratona". A ótima ideia proposta pelo nosso amigo Francisco não podia esperar e tive que colocá-la em prática. A volta oficial do blog, prevista apenas para julho, parece estar sendo adiantada aos poucos. De mansinho estamos voltando. Depois de meses turbulentos e atarefados estamos voltando aos poucos. Um passo após o outro. Sem pressa. "A Maratona" falará sobre os melhores diretores da atualidade, com biografias e análises de cada filme. Falarei sobre a recepção da crítica e do público sobre cada filme. Sobre a importância de cada um, e claro, uma crítica básica, que não faz mal a ninguém. É, como o nome sugere, uma maratona. Longa, difícil, mas interessante. Dissecarei cada passo da carreira do cineasta. É ou não é uma legítima maratona?
O primeiro cineasta a ser analisado é M. Night Shyamalan, uma dos diretores mais interessantes não por suas obras, mas por ser o diretor que foi de gênio a charlatão em menos de dez anos.

Aproveite e sinta-se em casa, afinal, o "Pipoca" sempre foi e sempre será seu.
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Tudo que sobe, desce...


É incrível como um cineasta pode ir de gênio a "charlatão" em tão pouco tempo. De 1999 (ano que o cineasta lançou o que pra muitos é sua obra-prima "O Sexto Sentido") a 2004(ano em que lançou "A Vila" e as críticas negativas tornaram-se constantes) o diretor caiu no conceito de noventa por cento das pessoas. É incrível, também, como ele pôde ter lançado um filme tão bom, e gradativamente, lançado filmes cada vez piores (não na minha opinião, mas na dos outros). E como se o primeiro fosse nota dez, o segundo nota nove, o terceiro oito, e assim sucessivamente até chegar na mediocridade. Não acho que Shyamalan tenha piorado tanto. Todos os seus filmes, na minha opinião, são bons. É nítido, claro, que o cineasta que lançara "Corpo Fechado" e "Sinais" não é mais o mesmo, e que o tempo não fora seu amigo. Aquele que fora tachado (precoce e absurdamente) como o "novo Spielberg", ou então, "sucessor de Hitchcock" agora é conhecido co
mo o cara que enganou a todos. Mostrou a todos um ótimo projeto, promoveu seu nome e começou a fazer porcarias. Teria Shyamalan dado um golpe de sorte? Seria "O Sexto Sentido" o tal golpe?
Me considero fã de Shyamalan, mas tenho de reconhecer: Shyamalan fora muito, mas muito superestimado em 1999. O indiano que até então lançara dois filmes sem apelo algum, de repente lança um suspense surpreendente, e comparado com mestres do cinema e é indicado a uma saraivada de prêmios, inclusive, Oscar de Melhor Filme, Direção e Roteiro Original. Tudo bem, o filme e o cineasta mereciam, mas será que tudo o que veio depois não foi um exagero?

-Uma pequena biografia

Manoj Nelliyattu Shyamalan nasceu na Índia em 1970, mas foi morar ainda na sua infância na Filadélfia, nos Estados Unidos. Filho de médicos, demonstrou paixão pelo cinema desde que ganhou uma câmera quando tinha oito anos de idade. Seu grande ídolo sempre foi Steven Spielberg (hummmmm)

Na época em que frequentou a Universidade de Nova York, Shyamalan resolveu alterar seu sobrenome do meio para Night, passando a assinar desse modo ao invés de Nelliyattu.

Apesar de ter nascido na Índia cresceu no subúrbio de Filadélfia, onde rodou todos seus filmes (menos Praying with Anger). Durante a adolescência fazia filmes caseiros, fato que prenunciou sua brilhante vida de cineasta. Desde seu filme Olhos Abertos, de 1998, sempre aparece atuando em seus filmes.

Shyamalan também escreveu o roteiro de "O Pequeno Stuart Little".

-O sucesso surpreendente

Antes do sucesso surpreendente de "O Sexto Sentido", Shyamalan lançou dois pequenos filmes. O primeiro "Praying with Anger", é uma quase auto-biografia. Fala sobre um jovem indiano que retorna ao seu país depois de viver alguns anos na América, e lá descobre toda a força da religião e faz uma viagem de auto-conhecimento, fato que aconteceu com o diretor. O filme é pouco conhecido, e eu confesso: não assisti. Shyamalan tinha vinte e dois anos quando o fez e quase nada se assemelha aos filmes sucessores. Em 1998 Manoj lança "Olhos Abertos, que fala sobre um menino que procura a Deus depois de seu avó morrer. Assim como o primeiro e quase todos os filmes do diretor, este tem forte teor religioso. Mas foi em 1999 que o indiano mostrou o talento ao mundo. Com um roteiro inteligente e original, Shyamalan assustou e surpreendeu cada espectador com "O Sexto Sentido". É incrível como o diretor conseguiu dar pistas sem entregar o final antes do tempo. Incrível também, é o plano sequência em que a mãe do garoto fecha todas as gavetas e portas do armário, sai da cozinha, vai até a área de serviço, volta em seguida e tudo está aberto novamente. Milhões em caixa e indicações ao Oscar ao lado de filmes como "Beleza Americana" e "À Espera de Um Milagre". Algo pouco visto no cinema. Um sucesso surpreendente.

-De super-herois a ET's

E Shyamalan seguiu surpreendendo e arrebanhando ótimas críticas. Ainda que não tenha conseguido o mesmo feito que conseguira com o filme com Bruce Willis, Shyamalan arrebanhou novos fãs, comprovou a inteligência e originalidade e cada novo projeto do homem era aguardado segundo a segundo. Veio então "Corpo Fechado" com Samuel L. Jackson e, novamente, Bruce Willis. O filme fora aclamado pela crítica e pelo público e fez um sucesso "interessante". A história de um homem que sofre de rara doença (seus ossos quebram como vidro) e encontra um outro que é totalmente ao contrário (sofreu vários acidentes e nunca sequer sofreu lesões sérias) agradou a grande maioria. É claro que muita gente torceu o nariz, afinal, esperavam algo melhor e ainda mais surpreendente. Em seguida, M. Night lançou "Sinais". Filme com Mel Gibson que fala sobre estranhos sinais em plantações, sinais estes feitos por alienígenas. Um ótimo suspense. Surpreendente e matafórico até a raiz. Novamente, muita gente torceu o nariz. Uns queriam mais ação, outros, um final mais surpreendente...

-A fórmula de Shyamalan

Shyamalan é um daqueles caras que faz uma coisa, vê que dá certo e faz tudo que vem depois da mesma forma, pois sabe que a fórmula funciona. Mas até quando tal fórmula funciona? Depois de "O Sexto Sentido", Shyamalan viu que o suspense era um bom terreno, e como ele mesmo sempre disse, sempre gostou do gênero. Viu também que um final surpreendente rende ótimas críticas e um bom dinheiro. Viu que fazer pontas em seus filmes, como o mestre fazia, também rende boas comparações e interessantes curiosidades. Só que a fórmula tornou-se um fardo. A fórmula antes usada "intencionalmente" agora virou cartilha a ser seguida rigorosamente. Todos os seus filmes tinha que ter um final surpreendente. E o público se viciou nessa fórmula e exigia que seus filmes tivessem o tal final chocante.
Shyamalan já estava abusando da cartilha, foi capaz de se escorar na campanha "Não conte o final deste filme" para "A Vila", mas ora, a tal surpresa nem vem no final, e sim, antes dele. Um bom tempo antes do filme terminar nós já sabemos de tudo, prova de que a fórmula estava perdendo a força.

-Quando a "fórmula" se torna maior que o filme...

Veio então "A Vila". Sem dúvidas, é o filme de Shyamalan que mais dividiu o público e a crítica. É o velho "ame ou deixe". De um lado pessoas defendem com unhas e dentes, apresentam metáforas convincentes e dão um novo ponto de vista. De outro, pessoas chamam o filme de chato, equivocado, sem graça, infantil, e uma tonelada de críticas negativas. Pertenço ao primeiro grupo. Defendo o filme em debates e simples conversas. Reconheço que o filme tem sua parcela de erros e que algumas metáforas são infantis, mas no geral, o filme é bem escrito e muitíssimo bem executado. Um dos filmes mais "estéticos" do diretor. Bela fotografia, figurinos caprichados e excelente direção de arte. Se não foi o mais caro de sua carreira, fora um dos mais dos tecnicamente mais difíceis. Tenho de reconhecer também, que aqui a fórmula passou a ser maior que o próprio filme. O suspense contínuo está lá e não deve sair, mas a história de não contar o final não caiu bem. Colocaram o "final chocante" num pedestal. A surpresa era mais esperada que o filme em si. Todos assistiam apenas para ver o final e se surpreender. Quando isso acontece é um grande problema, afinal, se o final fracassa, a obra inteira vai para o mesmo buraco. Quando um diretor se preocupa demais com o final e com as surpresas que o mesmo pode acarretar, é hora de rever conceitos ou mudar de gênero. Shyamalan fez mais ou menos isso.

-O Conto de Fadas

E o indiano reviu seus conceitos e mudou de gênero. Ainda que deixando o suspense um pouco de lado, o pé continuou fincado na fantasia. Nada ET's, espíritos ou coisas do tipo. Aqui o negócio é outro. São fadas, monstros não tão assustadores. Um legítima fantasia. Um legítimo conto de fadas. A história: uma "narf" chega a um complexo de apartamentos, lá conhece um homem, que tem de ajudá-la a voltar para casa. Aos poucos o homem descobre que todos ali estão ligados e juntos podem fazer com que a "narf" volte para seu lar. Porém, criaturas malígnas seguiram a ninfa até o complexo e a volta ao lar pode ser mais difícil do que se pensa. Eu, particularmente, gostei bastante do filme, mas algumas partes são vergonhosas (um personagem tem um braço musculoso e outro não). O filme foi um fiasco de público e crítica. As metáforas estão lá, umas escondias, outras escrachadas (um crítico de cinema é brutalmente assassinado, será um aviso...), assim como o teor religioso. E Shyamalan ainda não deixara a fórmula. Ela ainda estava lá, escondida, mas ainda lá.

-Mark Wahlberg conversa com uma planta

E o cara volta para o suspense. Pena que de maneira tão vergonhosa. Tudo bem, o filme nem é tão ruim assim, mas algumas cenas, falas e resoluções são de fazer rir o mais sério dos espectadores. O filme começa bem, com cenas fortes, mas depois começa se perder. Shyamalan investe em subtramas desnecessárias, afinal, qual a razão de ser da crise no casamento de Wahlberg e bela Zooey Deschanel? E os momentos WTF? São vários! Em uma cena os personagens fogem do vento (pausa pra muita gargalhada ou vergonha alheia). Noutra os personagens assistem um vídeo de um homem oferecendo os próprios braços para leões famintos comerem (tudo é mostrado: o homem estende o braço, o leão morde e arranca. Vemos a pele se rasgando e o sangue jorrando). Violência barata? Talvez sim. Noutra cena, um homem liga uma máquina de aparar grama e deita na frente da mesma. A máquina passa por cima do sujeito, cortando-o e jogando sangue pra todo lado. Aí, a violência já não é mais barata ou gratuita, é tola, é desnecessária. Shyamalan nunca, nunca precisara da violência para chegar ao topo. Sempre usou de diálogos e bons enredos, nunca apelou para cenas como estas.
Mas nunca uma cena foi tão constrangedora para um ator e um diretor como a que Wahlberg conversa com uma planta. Sério (...).

-Reinventando-se...

Depois de tantas críticas, Shyamalan decide se reinventar. Agora, o indiano resolveu adaptar para o cinema o sucesso animado "Avatar: A Lenda de Aang". O longa é a primeira parte de uma trilogia inspirada na série animado Avatar, desenho que se passa num mundo dividido em quatro nações: Água, Terra, Ar e Fogo. Algumas pessoas nestas nações dominam o poder de seu respectivo elemento, e a cada geração nasce um Avatar – o espírito do planeta em forma humana, capaz de manipular os quatro elementos e é o único capaz de reestabelecer a paz. Shyamalan que só trabalhara com roteiros originais próprios, agora faz sua primeira adaptação. Sem suspense, ou finais surpreendentes (será?), Shyamalan pode alçar voo ou cavar ainda mais a cabeça na terra. Confesso que não estou animado com o filme. Não gostei dos trailers e sinto um forte teor infantil e absurdo na trama. Espero estar errado. Preferia ver uma obra original, assustadora, nem precisa de final chocante. Apenas um boa história. Seja ela com espíritos, com ET's, fadas ou plantas que matam. Espero que o indiano antes chamado de "novo Spielberg" consiga crescer e surpreender como fez em 99 e não começar a década tão mal como terminou.


O Sexto Sentido




Nota: 10,0.

Corpo Fechado




Nota: 8,0

Sinais




Nota: 9,0

A Vila




Nota: 8,5

A Dama na Água




Nota: 7,0

Fim dos Tempos




Nota: 6,0

O Último Mestre do Ar




Matheus Pereira

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