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Eddie e sua fé

Admiro pessoas obstinadas que são fiéis àquilo em que acreditam. Não estou nem aí se as causas em questão são mais ou menos nobres, porque o que me fascina é a dedicação da criatura a elas.
Mais ou menos como o Nick Cage em Despedida em Las Vegas. Ali estava um cara que sabia o que queria!
Desnecessário dizer que isso também me leva a admirar pessoas bem pouco convencionais.
Pois bem. Quando o assunto é cinema, dificilmente encontramos um personagem menos convencional do que o excêntrico, obstinado e apaixonado Edward D. Wood Jr. O doidão Eddie, nasceu em 1924 e aos 8 anos ganhou uma pequena filmadora de presente dos pais. Fascinado por filmes de terror, ainda bem novinho, caiu de amores pelo Conde Drácula, de Bela Lugosi.
Jovem, alistou-se no exército – era paraquedista – e declarou várias vezes que, na guerra, seu maior medo era ser ferido, e que então descobrissem que por baixo de seu uniforme, usava lingerie. Sim, ele cultivava o hábito de travestir-se.
O que no entanto o consumia e ditava os rumos de sua vida era o cinema e sua fé inabalável em sua capacidade de tornar-se conhecido e reconhecido por uma indústria que, convenhamos, costuma ter muito pouca simpatia por pessoas como ele. Cercado de um bando de desvalidos, loucos e idealistas sem dinheiro como ele próprio, entre os quais se encontrava um Bela Lugosi devastado pelo vício em heroína, em 1953 realizou o hoje memorável Glen or Glenda. A temática misturava transsexualismo, travestismo e psicologia de almanaque. Foi estrelado por ele e sua noiva Dolores.
Realizou mais de 20 filmes, sem um tostão no bolso e com muita criatividade, entre os quais se encontram o hoje cultuado Plan Nine From Outer Space. Morreu em 1978, alcoólatra, vitimado por um ataque cardíaco, pobre, de coração partido e sem reconhecimento algum.
Quinze anos depois, Tim Burton resgatou sua memória e o homenageou com seu tocante Ed Wood. Em 1996, um fã absoluto de Eddie, o autodenominado pastor Steve Galino, funda o Woodism, religião pop cultural que encara Wood como um salvador (não como O Salvador) e utiliza seus filmes como meio de espiritualizar seus membros. Atualmente conta com mais de 3.000 seguidores, prega a ampla aceitação ao próximo e a si mesmo e a fé na realização de seus ideais. Aceitam a todos de braços abertos sem exceção. Um bando de lunáticos, excêntricos e idealistas? Com certeza. Isso traria um belo sorriso ao rosto do Eddie de coração partido.

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