Começa aqui um especial dividido em três partes sobre a filmografia de Steven Spielberg, um dos maiores cineastas de todos os tempos. As duas primeiras partes são constituídas de pequenas resenhas da maioria dos filmes realizados pelo diretor (poucos foram os que ficaram de fora). A terceira parte trás as críticas das novas obras de Spielberg, Cavalo de Guerra e As Aventuras de Tintim. É bem verdade que esse especial chega com certo atraso, mas a temporada de premiações tomou boa parte do blog, adiando outros planos. Mas agora que os ânimos cinéfilos estão, por hora, mais calmos, voltamos à programação normal.
Sem mais delongas - e dispensando apresentações de nosso homenageado -, vamos ao que interessa.
Tubarão (1975)
O primeiro sucesso de Spielberg, e seu primeiro filme conhecido pelo "grande público" é até hoje o melhor suspense envolvendo animais perigosos já feito. O lendário "problema que se tornou dádiva" merece um destaque: o tubarão mecânico, que não ficara com um visual bacana, teve de ser escondido sempre que possível; Spielberg, com receio de mostrar a estranha "máquina", não revelava a criatura completamente, mantendo-a em sombras ou, geralmente, imersa. O grande tubarão branco foi sendo apresentado gradativamente e o "problema" acabou se tornando o grande coringa da obra, afinal, ao não vermos o animal, o tememos muito mais; na angústia de encontrá-lo a qualquer momento, ou de a ameaça estar à espreita, a plateia fica imóvel e sobre tensão constante. A trilha sonora, clássica, de John Williams marca o suspense, tornando a obra inesquecível. Nascia aqui o Midas de Hollywood.
Contatos Imediatos de Terceiro Grau (1977)
No filme que lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar, Spielberg inaugura aquela que se tornaria uma de suas marcas: a paixão por alienígenas. Ainda que não tenha a força de Tubarão, Contatos Imediatos de Terceiro Grau é uma ficção inteligente e contemplativa, daquelas que mescla o fantástico e os efeitos especiais com o drama de seus personagens e suas inspirações. É bem verdade que a obra poderia ser um pouco menor, e alguns probleminhas de ritmo poderiam ser evitados, mas é uma fita tão bonita e tão intrigante, que merece a alcunha de clássico. Serviu para alicerçar a carreira, ainda promissora, apenas, de Spielberg.
Os Caçadores da Arca Perdida (1981)
Com Os Caçadores da Arca Perdida Spielberg se torna o queridinho de Hollywood, o diretor que todos adoram e todos querem acompanhar. Também pudera. Ainda que tenha tropeçado feio com 1941, o cineasta se redimiu com honra e perfeição na aventura do arqueólogo interpretado por Harrison Ford. Hoje imortalizado, o herói tornou-se outra marca na carreira do diretor, o que não pesou contra, já que o homem deu jeito de conceber outros projetos e ter uma identidade própria e variada. O que fez "Os Caçadores ..." ser um sucesso foi o fato de unir aventura descontrolada a mistérios, tramas bem amarradas, ótimo elenco e personagens marcantes. O terceiro clássico na carreira ainda jovem de Steven.
ET - O Extraterrestre (1982)
Na sua segunda incursão no universo alienígena Spielberg entrega uma obra tocante e de alma irretocável. Simples em sua trama, mas profundo nas suas nuances emocionais, ET - O Extraterrestre emocionou toda uma geração e segue arrancando lágrimas e suspiros até hoje, de velhos e crianças. Spielberg revela aqui sua veia melodramática - contida, dosada - e segue com suas histórias divertidas e cheias de aventuras. Nada de política, violência, tristeza, sexo, nudez e drogas, a onda do diretor era entreter e ganhar o público de maneira simples e pura. E ganhou. Mais um clássico...
Indiana Jones e o Templo da Perdição (1984)
Mais sombria e levando o nome do heroi no título, a segunda aventura do arqueólogo de Spielberg continua com mais mirabolantes mistérios e viagens pelo mundo. Aqui, Jones vai de Xangai a Índia e encara forças do mal de uma "tribo" assustadora, com direito a um simpático homem que arranca corações e tudo mais. Com direito a cérebro de macaco servido na recepção dos protagonistas, Templo da Perdição merece créditos por não copiar seu antecessor, mas trilha outros caminhos, o que acrescenta novas camadas à série e aos personagens.
A Cor Púrpura (1985)
O primeiro drama "adulto" de Spielberg parece não ter sido assistido por muita gente. E realmente não foi. É uma pena, já que esta obra intimista merece ser descoberta. Há de se apontar um melodrama um tanto exagerado e algumas escolhas narrativas - e até mesmo de cunho moral - duvidosas, mas a estreia de Woopie Goldberg é notável. Contando com Danny Glover e Oprah Winfrey como coadjuvantes, A Cor Púrpura é um tocante retrato sobre mulheres negras e os problemas que estas enfrentam. Spielberg talvez tenha abusado demais na sua primeira incursão num drama emocional e moralmente complexo, já que trata da violência e da opressão contra as mulheres e de racismo; são temas muito fortes para uma estreia e a demasiada segurança do diretor, que basicamente nunca errava, pode ter afetado alguns detalhes. Nada que comprometa o resultado final, um belo e emocionante drama.
Império do Sol (1987)
Outra fascinação do diretor começa aqui: a guerra. Tudo bem que ele já ensaiara os primeiros passos em 1941, mas esqueçamos aquela fatídica comédia e atenhamo-nos a este curioso retrato da guerra. Através dos olhos inocentes de um garoto (Christian Bale, em notável revelação), Spielberg descortina uma guerra muitas vezes irreal, fantasiosa, o que acaba se tornando uma grande sacada da fita. Ora, estamos vendo tudo da ótica de uma criança, nada mais natural do que enxergarmos sua imaginação aflorando, tentando amenizar os horrores de uma batalha entendível, ilógica para sua inocência. É fantástico acompanhar os passos do garoto e conhecer figuras e presenciar acontecimentos notáveis pelo caminho (a explosão da bomba atômica é, particularmente, não só um dos melhores momentos do filme, mas um dos momentos mais marcantes da carreira do cineasta). A longa duração não prejudica e a obra tem ótimo dinamismo. Sem monotonia e discursos patrióticos, Império do Sol falha raramente (algumas relações que o garoto trava durante a trama são mal exploradas e algumas ilógicas). Um dos meus filmes favoritos na carreira do diretor.
Além da Eternidade (1989)
Pela primeira vez a lado melodramático de Spielberg não conta a seu favor e acaba soando exagerado em alguns momentos. A história do bombeiro que morre e volta para ajudar a namorada nunca convence e a previsibilidade atrapalha. O diretor pesa a mão da emoção e tem aqui um pequeno tropeço numa carreira já brilhante e consolidada. Hoje poucos conhecem a obra, e é, ao lado de 1941 o filme menos citado e lembrado do diretor em rodas cinéfilas e fóruns na internet. Não é ruim, longe disso, só prova que muito sucesso faz um artista tropeçar e ficar cego de vez em quando. O bom da situação é que com esses erros os melhores e mais competentes sempre aprendem e voltam ainda mais surpreendentes e imperdíveis.
Indiana Jones e a Última Cruzada (1989)
O capítulo final da então trilogia do aventureiro Indiana Jones em nada deve aos filmes anteriores. Cheio de aventura e contando com Sean Connery como o pai de Indy, A Última Cruzada tem um leve modernização em sua concepção, o que não é um defeito, apenas prova o avanço da série e que esta é capaz de mudar de um exemplar a outro. Para alguns, a terceira aventura do arqueólogo supera o sombrio antecessor, para outros, é apenas um término correto de uma história que já apresentara momentos melhores. George Lucas e Spielberg apresentam novos personagens e dão novo frescor ao personagem e os acontecimentos que o cercam. É interessante e admirável a escolha dos responsáveis aqui: eles souberam quando parar; assim, acabaram com sucesso e honra. Até 2008.
Hook - A Volta do Capitão Gancho (1991)
Convenhamos que Hook não é esse erro que muitos dizem que é. A fita é muito divertida e trama bem interessante. A direção de arte e fotografia são impecáveis e o elenco em sintonia - Dustin Hoffman se diverte e apenas Julia Roberts parece estar incomodada com tudo à sua volta. Robin Williams interpreta um crescido e amargurado Peter Pan, que retorna à Terra do Nunca para resgatar seus filhos, que foram sequestrados pelo cruel Capitão Gancho. O próprio Spielberg diz não ter ficado satisfeito com o resultado final de sua obra, mas o clima de nostalgia permeia o filme que merece, sim, ser visto.
Jurassic Park (1993)
Steven Spielberg gosta de fazer dobradinhas. O ano de 2011 (quando lança Cavalo de Guerra e As Aventuras de Tintim no Brasil; 2010 nos EUA) não é o primeiro a ter dois filmes do diretor em cartaz. O ano de 1993 foi o primeiro a ter duas ótimas produções lançadas: Jurassic Park e A Lista de Schindler. É interessante notar a diferença entre as duas obras: uma aventura descompromissada e um drama intimista sobre a Segunda Guerra Mundial. Este fato se repetiu anos depois, sempre com um filme divertido e outro mais sério. Jurassic Park foi mais um estouro de bilheteria, o maior blockbuster depois de ET... Este termo, aliás, foi criado, basicamente, por Steven. O já considerado Midas de Hollywood presenteou as plateias do mundo todo com efeitos extraordinários, inacreditáveis. Os dinossauros são, até hoje, incríveis e fantásticos (os melhores dinossauros ainda são os daqui). Qualquer adjetivo para descrever o que foi - e é - Jurassic Park para o Cinema e para as pessoas é pouco. Puro entretenimento aliado a um roteiro impecável, simples, direto e inteligente.
A Lista de Schindler (1993)
Quando Spielberg despe-se de suas próprias características e abraça, sem medo, os tabus e os assuntos polêmicos, acaba criando suas melhores obras-primas. A Lista de Schindler, O Resgate do Soldado Ryan e Munique, por exemplo, são três filmes que fogem à regra que permeia a filmografia do diretor, e mostram que ele também sabe tocar em feridas e conduzir histórias pesadas e profundas. Em Schindler Spielberg revisita a Guerra e tem um de seus melhores momentos ao retratar Oscar Schindler em sua luta por um modo melhor de se conviver. O longa esconde o lado obscuro de seu biografado, o que passa uma imagem irreal do suposto heroi. É verdade, também, que o cineasta maquia certos acontecimentos e dramatiza outros para dar maior vazão à emoção e aos fatos que fazem a trama girar e se aproximar do público. Nada prejudica, apenas afasta a fita de uma visão mais verídica dos fatos. A fotografia em preto e branco é soberba. As atuações de Liam Neeson, Ben Kingsley e Ralph Fiennes são memoráveis e o resultado de tudo isso rendeu a Steven seu primeiro Oscar de Melhor Filme e o primeiro de Melhor Direção.
Matheus Pereira
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