É estranho
ver um filme que dividiu a crítica ter espaço tão grande no Oscar (a
fita é favorita para Atriz principal e coadjuvante), mas não podemos nos
surpreender muito, visto que Tão Forte e Tão Perto, massacrado
por boa parte dos especialistas, foi indicado para Melhor Filme. É só
percorrer a internet, por blogs e sites, e ver que a própria atuação de
Octavia Spencer não é unanimidade. O ponto negativo que muitos apontam é a
caricatura que a atriz faz de seu personagem. Se o próprio filme já é
raso e tem roteiro fraco, com personagens superficiais, Spencer ajuda a
piorar a situação. Não precisamos assistir o longa para constatar certos
problemas no trabalho da atriz. Perceba no trailer, por exemplo,
características básicas como interpretação corporal e articulação verbal
serem levadas ao cúmulo do exagero por alguém que não está bem
preparada para um papel dramático e de profundidade como deveria ser o
interpretado por ela. A impressão que fica ao final, é que Spencer
estava na hora e no lugar certo. Caiu de pára-quedas no gosto de boa
parte do público e das premiações. Buscou na simplicidade e no carinho
de muitos espectadores sua maior força na temporada de premiações. O
resultado, até certo ponto, já surpreendeu: Histórias Cruzadas foi
indicado a praticamente todos os prêmios desse ano, venceu em três
categorias no SAG, incluindo melhor elenco, e caminha rumo a dois Oscar
importantes. No caso da protagonista, como será comentado em outro
texto, há outros empecilhos no caminho rumo à vitória, já no caso da
coadjuvante em questão, há pouco contando contra sua consagração.
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Bérénice Bejo talvez fosse a escolha mais adequada na categoria, mas é praticamente impossível vencer. Para início de conversa, Bejo é, ao lado de Jean Dujardin, a protagonista de O Artista, sua presença como coadjuvante denota questões políticas e comerciais, afinal, Bejo tem cacife, no máximo, para coadjuvante, já na categoria principal, a esposa do diretor Michel Hazanavicius talvez nem fosse indicada. Bejo é puro carisma em O Artista, e compõe, ao contrário do que se possa pensar, um personagem denso, profundo. Seria fácil, nas mãos de uma atriz incompetente, tornar Peppy Miller em uma mulher mesquinha e interesseira, já que ganha fama e mais fama enquanto seu amado, que lhe ajudou rumo ao estrelato, cai no ostracismo. Bejo concebe um ser humano meigo, acima de tudo; sua paixão por George Valentin em momento algum é questionada. Além disso, a atriz incorpora a personagem e se entrega aos passos de dança e ao estilo de atuação dos anos 20. É uma pena perder. Pena maior ainda é perder para Octavia Spencer. Bérénice também não venceu prêmio algum na temporada e isso conta, e muito, no final.
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Janet McTeer tem uma filmografia relativamente pequena e ficou conhecida esse ano como a mulher que roubou a vaga da bonitinha Shailene Woodley. Ainda que não tenha assistido Albert Nobbs, acredito que a inclusão de McTeer no lugar de Woodley seja justa. A composição da veterana parece muito mais convidativa e merecedora de atenção e prêmios do que a da estreante. Além do mais, já tivemos em outras ocasiões a adolescente queridinha que consegue uma vaga em detrimento de outra atriz realmente merecedora, Saoirse Ronan e Hailee Steinfeld, ainda que em interpretações excelentes, saltam à mente. McTeer é coadjuvante em seu filme e aqui na categoria também. Deve fazer figuração, sorrir quando seu nome for anunciado entre as indicadas e aplaudir Spencer quando esta vencer. A atriz foi indicada anteriormente na categoria principal por Livre para Amar, em 2000, mesmo assim, não é conhecida pelo grande público, fez e faz poucos trabalhos, não tem muitos fãs e está concorrendo por uma fita criticada por boa parte dos especialistas. Esses fatores são determinantes na hora de colocar o derradeiro nome na cédula de votação.
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É a queridinha do ano, a revelação, e ninguém duvida disso. Numa estreia apoteótica, carreira que emergiu surpreendentemente rápido e com qualidade, Chastain era uma das certezas nessa edição do Oscar. A pequena pulga atrás da orelha era acerca do filme que ela representaria. Só esse ano, a atriz esteve em The Debt, O Abrigo (ao lado de um Michael Shannon soberbo), A Árvore da Vida, Coriolanus, Em Busca de um Assassino e do concorrente Histórias Cruzadas. O desfecho, todos já anteviam: acabaria indicada pelo filme errado. A ruiva não ganhará pro vários motivos: não é atuação principal da fita pela qual concorre, e isso é nítido; ainda que tenha feito vários filmes, nenhuma atuação é digna de Oscar, em Histórias Cruzadas não é diferente; tem em Spencer, sua colega de elenco, sua maior rival, ou seja, os holofotes estão virados para a provável vencedora; não venceu um prêmio sequer, não por esse filme, ao menos; só em 2012, a jovem tem cerca de quatro ou cinco (!) obras para serem lançadas, o que trás o inevitável pensamento: ela poderá vencer no futuro.
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Melissa McCarthy é carismática e ótima atriz, e em Missão: Madrinha de Casamento é a melhor coisa de todo o filme. O que não justifica uma indicação ao Oscar. Quantas outras atrizes e quantos outros atores interpretaram papeis quase idênticos ao de Melissa e sequer foram pré-candidatos? Respondeu certo quem disse nenhum. É inexplicável a adoração da Academia para com a fita e a atriz, mas não entrarei nesse assunto novamente; já citei e expliquei o porquê não gosto de Bridesmaids e não irei repetir argumentos; digo, porém, os motivos óbvios que comprovam a derrota de McCarthy: é uma atriz de TV, logo vem o preconceito; não é uma grande atuação; a filmografia da atriz é pequena, composta por filmes pequenos, e o pior de tudo é que os outros exemplares de tal filmografia serão pequenos e muitos deles fracos; está claramente deslocada entre as cinco finalistas.
Vence: Octavia Spencer por Histórias Cruzadas
Poder vencer: Ninguém tira de Spencer...
Minha favorita: Bérénice Bejo por O Artista
Matheus Pereira
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