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Especial Oscar 2015
Melhor Ator

Não simpatizo com Eddie Redmayne. Sua atuação mais elogiada até então é aquela que o ator apresentou em Os Miseráveis. Pois bem, Redmayne é a pior coisa do musical dirigido por Tom Hooper. Agora, o ator é favorito ao Oscar por A Teoria de Tudo. E o sujeito está muito bem no papel de Stephen Hawing. O problema é: o filme não é bom; além disso, interpretar um personagem como Hawing, ainda que conte com várias dificuldades, é um prato cheio para um ator dedicado - não necessariamente talentoso - angariar alguns prêmios. Personagens com limitações físicas e mentais sempre atraem a Academia. O problema é que os votantes do Oscar acabam esquecendo atuações muito melhores como as de Michael Keaton, por Birdman, e David Oyelowo, por Selma, que sequer foi indicado.

Melhor momento em cena: caído e incapacitado nos primeiros degraus de uma escada, Hawking olha para o topo e vê seu filho, um bebê, cujas limitações físicas também são evidentes.


Não quer dizer muita coisa afirmar que Michael Keaton tem a melhor atuação de sua carreira em Birdman. Keaton, apesar de bom ator, nunca teve uma atuação digna de prêmios ou alguma cena dramática realmente memorável. Em Birdman, porém, Keaton reúne todas as suas qualidades como ator e as eleva à enésima potência, numa entrega total e surpreendente ao papel de um ator que busca se reerguer. Birdman é um filme cheio de qualidades, e Keaton é uma das maiores.

Melhor momento em cena: ao ficar preso do lado de fora do teatro no qual se apresenta, seu personagem dá a volta e corre de cuecas pela Times Square para entrar novamente no teatro.


O talento de Steve Carrel não é recente. Basta olhar para seus primeiros trabalhos (na maioria secundários, como em Todo Poderoso) e para a série The Office para ver que Carrel possui talento incontestável tanto para a comédia quanto para o drama. Sua performance em Pequena Miss Sunshine, por exemplo, é brilhante. Em Foxcatcher, Carrel surpreende pelo peso dramático e pela entrega ao complexo personagem. John du Pont esconde uma infinidade de segredos; é possível saber desde o início que há algo muito ruim e errado por trás do estranho sujeito. Os trabalhos vocal e corporal do ator são irretocáveis. Caso vencesse, não seria ruim.

Melhor momento em cena: no primeiro encontro com Mark (Channing Tatum), du Pont já demonstra não ser um sujeito totalmente normal.

A atuação de Benedict Cumberbatch em O Jogo da Imitação é impecável, de longe a melhor coisa do filme. Ainda assim, é preciso se perguntar: seu trabalho aqui é muito diferente de sua interpretação em Sherlock? Os personagens e atuação em si são, claro, distintas, mas o fato é que seu Alan Turing não está muito distante do seu deslocado Sherlock Holmes. De qualquer forma, sua indicação ao Oscar é completamente merecida, ainda que não tenha chances de vencer.

Melhor momento em cena: ao receber a visita de Joan (Keira Knightley), Turing revela um segredo e se emociona.

Polêmicas à parte, Sniper Americano é um bom filme (mais será discutido no Especial sobre os indicados a Melhor Filme), e a atuação de Bradley Cooper é surpreendente. O ator confere humanidade e sabe trabalhar com inteligência a complexidade de um personagem dúbio (Kyle parecia ter prazer em matar o que para ele eram apenas alvos); além disso, Cooper merece elogios por tornar o personagem mais humano e carismático, fazendo com que o público sinta certa empatia pelo sujeito, mesmo estando longe de concordar com seus atos. Ainda assim, Cooper está ocupando uma vaga que poderia ter sido preenchida pelo ator que teve a melhor atuação do ano: David Oyelowo, brilhante em Selma.

Melhor momento em cena: Kyle fica em dúvida se deve ou não atirar em determinado alvo.

 Especial Oscar 2015
Atriz Coadjuvante

Patricia Arquette não é uma atriz muito talentosa. A série que estrelou por anos na TV, Medium, é de qualidade duvidosa. Além disso, poucos de seus filmes ganharam grande atenção. Em Boyhood, a atriz fica no limite entre uma performance controlada e a total entrega ao dramalhão regado a gritos. É por ter o controle sobre o papel, não ultrapassar esse limite e ter cenas excelentes durante o filme que Arquette merece o Oscar. Seu passado agora não conta; o que vale é sua atuação exclusivamente em Boyhood, e esta merece reconhecimento. Além da boa atuação, Arquette tem papel importante dentro da trama, sendo parte vital de todo o projeto.

Melhor momento em cena: emocionada, sua personagem afirma que esperava mais da vida.


Birdman teve a atriz errada indicada nessa categoria. Emma Stone está excelente no papel da filha de Michael Keaton, é verdade, mas Naomi Watts está muito melhor e surpreendente como a atriz insegura que busca finalmente crescer na carreira. De qualquer forma, Stone representa bem as ótimas atrizes do elenco. É claro que não vencerá o prêmio, mas ela pode ficar tranquila: sua estatueta virá mais cedo ou mais tarde.

Melhor momento em cena: em um breve monólogo, sua personagem diz umas duras verdades para o pai. Aqui, os olhos gigantes da atriz parecem sair das órbitas.


Keira Knightley esgotou seus créditos de péssima atuação com Um Método Perigoso. Agora, que não é mais possível entregar performance pior que aquela, a atriz volta ao eixos e é novamente indicada ao Oscar (a primeira nomeação veio por Orgulho e Preconceito). Sua atuação em O Jogo da Imitação é a síntese do filme em si: correto, com algumas surpresas eventuais, mas, no geral, apenas dentro do normal. A favor da atriz está o fato de não ser ofuscada pela bela performance de Benedict Cumberbatch.

Melhor momento em cena:
quando finalmente resolve ser sincera com Alan, que parece estar alheio a tudo ao seu redor.


Meryl Streep é, sim, uma lenda. Ponto. Ela merecia uma indicação por Caminhos da Floresta? Nem tanto. Sua atuação no musical de Rob Marshall é boa, mas não o suficiente para receber uma indicação ao Oscar. Além disso, Caminhos da Floresta está longe de ser um bom filme. Com tantas outras atrizes que mereciam a vaga, a indicação para Streep soa burocrática, pouco original.

Melhor momento em cena: ao soltar a voz e ao revelar os reais motivos para tudo que fez até o momento.


O que falar sobre a indicação de Laura Dern? Eis duas coisas: Livre não é um bom filme e Dern aparece muito pouco, e quando aparece, não impressiona. Em um ano de Tilda Swinton em Expresso do Amanhã e Jessica Chastain no ótimo, mas completamente esnobado, A Most Violent Year, Dern aparece completamente deslocada. Não a toa a atriz fora quase que completamente esquecida em premiações anteriores ao Oscar. De qualquer forma, ela foi nomeada e muito provavelmente verá Arquette subindo e fazendo seus agradecimentos - enquanto lê um pedaço de papel, como lhe é de costume.

Melhor momento em cena: sua reação estranha ao ouvir uma notícia ruim.


A vitória de J.K. Simmons por Whiplash será uma das mais previsíveis da próxima edição do Oscar. No longa de Damien Chazelle, Simmons faz o papel típico do Coadjuvante que protagoniza. Não que Miles Teller seja ofuscado pelo colega de elenco (o jovem é muito talentoso para ser apagado), mas o fato é que Simmons está assombroso no papel do professor descontrolado que leva seus pupilos ao limite. Simmons berra, desfere tapas no rosto do protagonista e, quando quer, usa a lábia para atingir seus objetivos. Pode parecer uma atuação simples, mas é um trabalho complexo executado com destreza pelo veterano que só agora parece chamar atenção. Caso vença - e as chances são enormes -, será por puro merecimento.

Melhor momento em cena: são vários, mas o melhor curiosamente não traz nenhuma explosão de raiva, mas o choro. Fletcher deixa algumas lágrimas escaparem ao lamentar a morte de um ex-aluno.

Apesar de todas as críticas que o tratam como uma pessoa difícil e complicada, Edward Norton é um excelente ator. Não é de agora que o talento do sujeito vem sendo confirmado: As Duas Faces de um Crime e A Outra História Americana (1996 e 1998, respectivamente), no início da carreira, mostraram que o ator já tinha talento. De lá para cá Norton apareceu em obras como Clube da Luta e A Última Noite, ambos com atuações hipnotizantes. Agora, Norton concorre por uma de suas melhores atuações. Em Birdman, o ator revela diversas qualidades diferentes em apenas uma cena. Com total domínio sobre o personagem, Norton seria a escolha ideal para prêmio caso J.K. Simmons não resolvesse aparecer em Whiplash.

Melhor momento em cena:
ao conhecer Riggan, Mike (Norton) mostra seu talento ao revelar diversas capacidades dramáticas. Sua indignação durante uma apresentação (que culmina na quebra do cenário) também é um ótimo momento.

Ethan Hawke não é um ator que gosta de exageros; pelo contrário, sempre foi apegado à sutilezas e atuações contidas. Talvez seja por isso que ele goste tanto de trabalhar com Richard Linklater, diretor que sempre prezou pela simplicidade, embora sempre esconda camada complexas sob a superfície. Com uma longa carreira iniciada em 1985, Hawke tem apenas uma indicação ao Oscar pelo filme Dia de Treinamento de 2001. Em Boyhood o ator entrega mais uma atuação minimalista, sem exageros ou cenas dramáticas. Não há uma cena de impacto, monólogo ou equivalentes; Hawke apenas entra no personagem e o interpreta da forma mais sincera possível. Essa abordagem, espero, ainda lhe renderá merecidos prêmios no futuro. 

Melhor momento em cena: a última conversa com o filho antes deste ir para a faculdade. Na cena, o personagem faz um retrospecto da própria vida e do que poderia - ou não - ter sido.

Assim como Hawke, Mark Ruffalo é um ator de abordagens contidas. Sua primeira indicação ao Oscar (e única até agora), pelo ruim Minhas Mães e Meu Pai, foi por uma atuação contida, sem grandes momentos ou cenas de impacto. O mesmo acontece em Foxcatcher, um filme inteiramente calcado em sutilezas. Ruffalo tem um trabalho corporal e vocal irretocável, que em nada deve à performance de Steve Carrel. Ruffalo interpreta aquele que talvez seja o único personagem sensato e aparentemente são de todo a trama e isso, dentro da estranha e lenta construção de Bennett Miller, é um feito notável. É outro ator que o tempo tratará de reconhecer.

Melhor momento em cena: sem dúvidas é o momento em que seu personagem é obrigado a dizer para uma câmera que Du Pont é seu mentor.

Robert Duvall já conseguiu se firmar como uma importante parte do Cinema americano. Ele foi Tom Hagen, afinal de contas. Em O Juíz (bom filme, nada mais que isso), Duvall surpreende com uma atuação que é maior que o próprio projeto no qual está inserida. Em um papel que gradativamente vai se complicada, Duvall mostra que ainda tem muita lenha para queimar e que não importa a qualidade do filme, pois sua performance sempre será excelente. Duvall certamente não vai ganhar (sua atuação é a que menos merece dentre os indicados), mas uma indicação para um ator como ele sempre será merecida. 

Melhor momento em cena: depois de muito brigar com o filho, seu personagem abre o coração e se emociona ao revelar que não queria ser um carrasco, mas apenas um bom pai que educa os filhos sem se importar com os meios tomados para isso.

Os 10 Filmes que Mereceram o Oscar

Depois de elencar os 10 filmes que mereceram o Oscar, chegou a hora de listar os 10 longas que mereceram o prêmio de Melhor Filme na premiação mais importante do Cinema. Como afirmado na postagem anterior, eleger os 10 filmes que realmente mereceram o Oscar é uma tarefa relativamente fácil, visto que são poucas as obras dignas de tal honraria. Ainda assim, muita coisa boa ficou de fora. Para chegar a uma lista de apenas dez exemplares, alguns pontos foram levados em conta. De início, o básico: a qualidade do filme em questão. Além deste fator essencial, foram considerados o valor histórico da obra e seu reconhecimento com o passar dos anos; a concorrência também foi levada em conta (uma briga acirrada eleva os méritos do vencedor). Fazem parte da lista, também, filmes que acabaram subestimados com o tempo, mas que mereceram o Oscar de Melhor Filme a eles agraciado.

Eis, portanto, os 10 Filmes que Mereceram o Oscar:
Uma das obras-primas incontestáveis do Cinema não poderia ocupar outra posição se não a primeira. O Poderoso Chefão não só é o maior merecedor do prêmio como o melhor dentre todos os vencedores. A vitória da primeira parte da trilogia comandada por Francis Ford Coppola parece marcar uma mudança no perfil da Academia. A história do Oscar pode, enfim, ser dividida em duas partes: antes e depois de O Poderoso Chefão. E tal mudança não se dá apenas à qualidade do longa vitorioso, mas pelo fato de que os vencedores dali em diante representariam um Cinema em mudança constante. Os grandes mestres do Cinema antigo e clássico saíam de cena e os novos chegavam; foi na década de 70, por exemplo, que nomes como Martin Scorsese, Steven Spielberg, Brian De Palma, George Lucas e William Friedkin começaram a se firmar. Começava uma mudança notável no fazer cinematográfico, além de uma aparente reviravolta no gosto dos críticos e do público. O Cinema e seu público mudavam e se renovavam e O Poderoso Chefão marca esta mudança. É por tudo isso, e uma infinidade de outros fatores, que The Godfather é o maior merecedor do Oscar. E, sem exageros, um dos melhores e mais importantes filmes da história.
A vitória de O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei no Oscar é a prova de que o bom Cinema ultrapassa e vence qualquer barreira ou preconceito. Temia-se, na época, que a trilogia de Peter Jackson chegasse ao fim sem receber o reconhecimento da Academia. Isso porque os dois longas anteriores venceram apenas categorias técnicas e o histórico da premiação apontava para certo preconceito e resistência a "fantasias" (entende-se: histórias com seres mitológicos, fantásticos, como elfos, gigantes, etc.). Mas O Retorno do Rei é tão completo e bem realizado que fechar os olhos para isso seria um dos maiores erros da Academia. E 2003 foi um bom ano para o Cinema: Sobre Meninos e Lobos, um dos melhores dramas de Clint Eastwood, estava lá. Mestre dos Mares, de Peter Weir, é o típico épico que a Academia adoraria premiar. Nada bateu a arrasadora vitória da última parte de O Senhor dos Anéis: foram onze vitórias em onze indicações; o melhor aproveitamento da história do Oscar. Além disso, Retorno do Rei igualou-se a Ben-Hur e Titanic como um dos maiores vencedores da premiação. E o fato é: tivesse sido indicado a mais categorias, teria vencido em todas elas. 
Beleza Americana se encontra na terceira posição não por ser melhor que os outros filmes aqui citados, mas porque a concorrência na 72ª edição do Oscar estava acirrada. Não só os nomeados na categoria principal eram excelentes, como vários esnobados também podem ser considerados excepcionais. O ano de 1999 teve tantos filmes bons que é impossível dizer qual é o melhor. É possível que À Espera de um Milagre, Clube da Luta e O Informante sejam melhores que o longa dirigido por Sam Mendes. Mas Beleza Americana também é um longa-metragem de primeira grandeza. O roteiro de Alan Ball é irretocável e o elenco afinado. Kevin Spacey tem uma de suas melhores atuações (o que não é pouco em se tratando do ator) e a fotografia, que descortina a vida urbana e ordinária de famílias da classe média, é nada menos que belíssima. Muitos afirmaram na época, e em anos que seguiram, que Beleza Americana se tornaria um erro e seria apagado pela concorrência forte. O tempo passou e o filme segue como um dos melhores exemplares de um ano marcante para o Cinema recente.
Kramer vs. Kramer aparece na quarta posição por três grandes motivos: 1,º é um ótimo drama familiar; 2º, é uma obra subestimada; 3º, é conhecido como o filme que bateu Apocalypse Now. Muitos apontam o longa de Robert Benton como um dos piores vencedores do Oscar, o que é uma completa injustiça. Kramer vs. Kramer é uma obra com tudo no lugar: drama bem conduzido, com doses de humor; Dustin Hoffman no auge da carreira; Meryl Streep começando a se mostrar como uma das melhores novidades entre as atrizes; Robert Benton com uma direção segura e um roteiro preciso. Pouco ou nada parece errado neste longa que traz a ruína de uma família aparentemente perfeita que acaba no meio de uma disputa pela guarda do filho. Além disso, Kramer vs. Kramer prova que tamanho e escala não contam quando se trata de uma boa história: Apocalypse Now era o épico do ano. Dirigido por Francis Ford Coppola, o épico de Guerra é tecnicamente irrepreensível, mas se mostra enfadonho em uma visão geral, perdendo na comparação com o longa de Benton, um filme infinitamente menor e mais simples.
Titanic encarou uma concorrência relativamente forte: L.A. - Cidade Proibida era o favorito de boa parte da crítica. Naquele ano ainda concorriam os ótimos Gênio Indomável e Melhor Impossível, além do bom Ou Tudo Ou Nada. Fora da competição pela estatueta principal ainda havia Boogie Nights, de Paul Thomas Anderson. Nada bateu, porém, a escala gigantesca do épico de James Cameron. Sucesso absoluto de público, Titanic emocionou milhares de espectadores e conquistou a maioria dos críticos. Tecnicamente impecável, o longa ainda trazia Kate Winslet confirmando seu talento. Ainda que muito critiquem o romance e o roteiro simples de Cameron, Titanic é um filme que tem e exige do público muito mais coração do que cérebro. E isso, às vezes, não é ruim. Enquanto os concorrentes traziam tramas elaboradas e/ou ambiciosas, Titanic contava a história de um romance manjado que antecedia uma tragédia. Ao fim, Titanic lembra os bons e velhos clássicos épicos do Cinema com dramas, romances e tragédias.
Por ser um vencedor de 2 Oscar, Milos Forman tem uma carreira relativamente curta. Com pouco mais de 10 filmes no currículo, Forman, que nasceu na República Tcheca, venceu o prêmio de Melhor Direção por Um Estranho no Ninho e Amadeus. Enquanto muito consideram o longa com Jack Nicholson a sua melhor criação, é Amadeus que merece o reconhecimento como sua melhor obra. Com F. Murray Abraham no melhor papel de sua carreira, Amadeus é um filme elegante, realizado com esmero e debruçado em um roteiro impecável. Se a música de Mozart enche os ouvidos, a beleza da direção de arte e dos figurinos são um deleite para os olhos. São quase três horas de uma história fascinante onde nada parece fora do lugar, assim como o incomparável O Poderoso Chefão. A 57ª edição de Oscar ainda teve Os Gritos do Silêncio e Passagem Para Índia, última realização de David Lean. Nada poderia vencer esta impecável releitura da vida de Mozart pelos olhos de Antonio Salieri.
O Silêncio dos Inocentes é tido como o único filme de horror vencedor do Oscar de Melhor Filme. É uma consideração tola. Independente de gênero (horror, comédia, fantasia, etc.), O Silêncio dos Inocentes é Cinema de primeira grandeza. A direção de Jonathan Demme é daquelas que se vê poucas vezes: minuciosamente pensada, cada quadro quer dizer, implícita ou explicitamente, alguma coisa sobre a trama ou personagens. Não é a toa que um longa metragem tão bem idealizado e realizado levou cinco dos principais prêmios: Filme, Direção, Ator, Atriz e Roteiro. O prêmio de Melhor Ator para Anthony Hopkins, aliás, é, além de merecido, uma surpresa. Isto porque, temos de reconhecer, Hopkins é coadjuvante da história. É sabido que o ator aparece pouco mais de quinze minutos em cena; ainda assim, a atuação é tão impressionante que o tempo em tela é apenas um detalhe. Cada segundo de Hannibal Lecter em cena é um pequeno clímax dentro da trama. Mas não é só Hopkins que brilha: Jodie Foster também impressiona com sua personagem firme, determinada e inteligente que parece sufocada pelo mundo machista que a cerca, mas que encara o preconceito e opressão com coragem, sem temer ninguém. Com um filme como este, quem se importa com a concorrência? Ainda assim, o longa de Demme derrubou ótimos indicados como JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar e O Príncipe das Marés. Além disso, 1991 foi o ano de Cabo do Medo, Thelma & Louise, O Exterminador do Futuro 2 e O Pescador de Ilusões, que sequer foram indicados na categoria principal.
Steven Spielberg precisou de três indicações (Contatos Imediatos de Terceiro Grau, E.T. - O Extraterrestre e Os Caçadores da Arca Perdida) e algumas esnobadas (Tubarão, A Cor Púrpura, Império do Sol) para finalmente vencer seu merecido Oscar de Melhor Filme e Direção. A Lista de Schindler é daqueles trabalhos pelos quais um realizador quer ser lembrado e reverenciado com o passar dos anos. Filmado num belo preto e branco (um dos melhores trabalhos de fotografia no estilo desde que a cor tornou-se "lei" no Cinema), Schindler tem pelo menos três atuações memoráveis (Liam Neeson, Ben Kingsley e, principalmente, Ralph Fiennes) e uma série de momentos memoráveis. Lista não é o melhor filme de Spielberg (ele ainda realizaria O Resgate do Soldado Ryan e Munique, dois de seus melhores filmes), mas é um dos mais importantes e mereceu cada estatueta da 66ª edição do Oscar. O ano fraco (os ótimos Filadélfia e Short Cuts ficaram de fora) não diminui a vitória deste que é mais um belo exemplar na quase irretocável carreira de Spielberg.
Há muito mais em Laços de Ternura do que os olhos podem ver e que o tempo pôde mostrar. Aparentemente leve e descompromissado, a corajosa mistura de comédia e drama familiar de James L. Brooks tem um elenco em perfeita sintonia. Shirley MacLaine e Jack Nisholson estão ótimos, mas quem rouba o filme é Debra Winger. A doce, mas forte, Emma tenta construir sua própria vida e família enquanto tenta se desprender da profunda ligação com sua mãe (MacLaine), uma mulher carente e superprotetora. Jack Nicholson aparece como um astronauta mulherengo que parece estar sempre feliz e de bem com a vida. Assim como todos os outros personagens, porém, o sujeito criado por Nicholson apenas precisa de alguém para ficar, dividir sua vida, suas alegrias e angústias. O tom leve e o jeitão oitentista (poucos filmes têm a cara dos anos 80 como Laços de Ternura) ornam um drama que se revela complexo e realmente triste conforme caminha para seu fim.
O ano de 1957 teve pelo menos três obras-primas: 12 Homens e uma Sentença, Glória Feita de Sangue e A Ponte do Rio Kwai, vencedor da 30ª edição Oscar. Qualquer um dos três mereceria qualquer prêmio. O longa sobre a primeira Guerra Mundial dirigido por Stanley Kubrick não foi indicado a nenhuma categoria, mas o drama de Sidney Lumet foi um ótimo concorrente ao épico de David Lean. A Ponte do Rio Kwai é uma obra de escala gigantesca, bem ao estilo de Lean. Encabeçado por Alec Guinness e William Holden, o filme merece um espaço na lista por dois motivos óbvios: é um excelente drama de guerra e venceu vários prêmios em um ano concorridíssimo. Kwai é tão bem feito e tem um visual tão impactante, que nenhum longa recente, cheio de efeitos visuais, pode comparar. Nenhum efeito realizado em um computador, por exemplo, pode substituir a explosão legítima da ponte. É um épico que sintetiza o que havia de melhor nos milionários clássicos de outrora.

Os 10 Filmes Que (Não) Mereceram o Oscar

Escolher dez filmes que não mereceram o Oscar de Melhor Filme foi uma tarefa muito mais difícil do que listar os dez longas que realmente mereceram a honraria. Isso porque são vários os exemplos de obras que não mereceram o prêmio principal. Poderia facilmente, por exemplo, fazer uma lista com vinte ou trinta exemplos. Ainda assim, confira a lista dos dez longas-metragens que menos mereceram o prêmio principal do Oscar.

Para a seleção foram levados alguns pontos em consideração. Nem todos são ruins - pelo contrário, quase todos são bons filmes -, mas é certo que não eram os melhores dentre os indicados de suas respectivas edições. O número de concorrentes superiores ao vencedor e a qualidade destes foram fatores decisivos. Além disso, a importância histórica destes filmes também foi avaliada, bem como o contexto histórico de cada ano: por mais que os cinéfilos critiquem Kramer Vs. Kramer, por exemplo, devemos ter em mente que o filme, na época, foi considerado excelente e merecedor dos elogios e prêmios. O tempo passa e os gostos mudam, afinal.

Sem mais delongas, eis os 10 filmes que não mereceram o Oscar na categoria principal.
Conduzindo Miss Daisy talvez seja um dos melhores exemplos de filmes que não mereceram o Oscar de Melhor Filme. Primeiro por um fator básico: o filme não é bom. Jessica Tandy e Morgan Freeman estão bem, mas não é o suficiente para ser considerado o "melhor" em qualquer que seja a situação. Além disso, 1989 teve vários outros filmes muito melhores que o dirigido por Bruce Beresford (que sequer foi indicado na categoria de Melhor Direção). Para começar, todos os outros quatro nomeados daquele ano são melhores que Conduzindo Miss Daisy; de Nascido em 4 de Julho, passando por Sociedade dos Poetas Mortos, Meu Pé Esquerdo até Campo dos Sonhos, Miss Daisy era o que menos merecia reconhecimento. Para tornar a situação mais absurda, temos várias ótimas obras que sequer foram indicadas; entre elas, Faça a Coisa Certa, Henrique V, Sexo Mentiras e Videotape e o subestimado Tempo de Glória, de Edward Zwick. E a lista de ótimos longas não para por aí: Crimes e Pecados, de Woody Allen, Harry e Sally, de Rob Reiner, O Segredo do Abismo, de James Cameron, De Volta para o Futuro II, de Robert Zemeckis e a obra-prima Cinema Paradiso, de Giuseppe Tornatore. TODOS infinitamente melhores que Conduzindo Miss Daisy.
Shakespeare Apaixonado não é ruim. Mas está longe de ser o Melhor Filme de qualquer ano. O absurdo chama atenção pois tudo indicava que aquele era o ano de O Resgate do Soldado Ryan, um dos melhores representantes dos filmes de Guerra. Se alguém ainda duvidava do poder de Harvey Weinstein, passou a não questionar a capacidade do produtor em elevar um produto/filme. Pois não há outra explicação que satisfaça a grande questão: por que uma comédia romântica mediana como esta conseguiu ser escolhida como a melhor obra cinematográfica de 1998? O longa dirigido por John Madden é tecnicamente irrepreensível: dos figurinos à direção de arte, passando pelo elenco em sintonia e um roteiro esperto. Nada vence, porém, a qualidade não só do épico de Steven Spielberg, mas de Além da Linha Vermelha, de Terrence Malick e A Vida é Bela, de Roberto Benigni. Além, claro, de obras sequer indicadas como A Outra História Americana, de Tony Kaye, Central do Brasil, de Walter Salles, Um Plano Simples, de Sam Raimi e, claro, O Show de Truman, de Peter Weir.

Os concorrentes de Carruagens de Fogo não eram excelentes, mas qualquer um dentre os indicados e não indicados é melhor que este enfadonho drama esportivo. Para começar, 1981 foi um ano fraco: dos cinco nomeados, o único conhecido pelo grande público e digno de nota é Os Caçadores da Arca Perdida, de Steven Spielberg. O vencedor e os outros indicados caíram no anonimato. O legado de Carruagens de Fogo foi deixar uma poderosa composição de Vangelis para a posteridade; composição esta que a maioria das pessoas nem desconfia que faz parte do longa dirigido por Hugh Hudson. A vitória de Carruagens, aliás, foi uma surpresa na época; o Oscar poderia ter ido para Num Lago Dourado, vencedor do Globo de Ouro, ou Reds, que levou o prêmio de Melhor Direção e era o favorito da competição. Ao fim, Carruagens de Fogo é um dos grandes exemplos de que o Oscar não é garantia de qualidade, muito menos garantia de que alguém vá lembrar ou se importar com algum filme
Quer Quer Ser Um Milionário? é o novo Conduzindo Miss Daisy. Dirigido por Danny Boyle, o longa de qualidade duvidosa foi sucesso de público e crítica, mas é consenso entre diversos cinéfilos que a aventura romântica cheia de diálogos terríveis era o pior dentre os indicados da 81ª edição do Oscar. Assim como o vencedor do prêmio em 1990, Slumdog Millionaire não só era o pior entre os cinco como estava abaixo de diversos outros filmes que sequer foram indicados. Naquele ano concorriam O Curioso Caso de Benjamin Button (o melhor dentre os nomeados), Frost/Nixon, Milk e O Leitor. Todos, em maior ou menor grau, melhores que o longa de Boyle. E 2008 ainda teve outras obras notáveis que foram ignoradas pela Academia: O Lutador, de Darren Aronofsky, Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen, Dúvida, de John Patrick Shanley e os dois maiores esnobados: Batman - O Cavaleiro das Trevas, de Christopher Nolan e Wall-e, de Andrew Stanton. Muitos afirmam, aliás, que a escolha da Academia em nomear 10 filmes no ano seguinte se deu pelo fato de a indústria e o público criticarem duramente as ausências de ótimas obras. Alguns dos não indicados, inclusive, não só são melhores que o vencedor como melhores que os demais nomeados. O Oscar de 2009 (que premiou os lançamentos de 2008), portanto, estabeleceu-se como uma das piores edições do prêmio.
O Último Imperador, de Bernardo Bertolucci é um bom filme. Não entenda mal, mas a longa cinebiografia do último imperador da China, apesar do apuro estético, está longe de ser algo memorável. A 60ª edição do Oscar, aliás, realizada em 1988, é completamente esquecível e vergonhosa. Além do vencedor não ser um grande filme, todos os demais nomeados também não mereciam vencer ou sequer receber uma indicação como Melhor Filme. Pois vejamos: Feitiço da Lua, Atração Fatal, Esperança e Glória e Nos Bastidores da Notícia foram os indicados daquele ano. Todos são bons filmes, mas nenhum é melhor que Os Intocáveis, de Brian De Palma, por exemplo. E não foi esse o esnobado: 1987 foi o ano de lançamento de Império do Sol, de Steven Spielberg, e Nascido Para Matar, do mestre Stanley Kubrick. Este, aliás, é um dos melhores filmes sobre Guerras já realizado (o melhor sobre o Vietnã) e só recebeu uma indicação como Melhor Roteiro Adaptado. Nada de Kubrick na Direção, nada de R. Lee Ermey como Coadjuvante, nada de Fotografia ou Montagem. É claro que o tempo trata de colocar tudo no lugar e decidir quais serão lembrados e quais serão esquecidos pelo público; isto não muda o fato, porém, de que todos os longas mais memoráveis foram colocados de lado por cinco filmes medianos.
É fácil entender porque Gandhi foi escolhido como o Melhor Filme de 1982. A interminável cinebiografia de Richard Attenborough tem tudo que a Academia gosta: produção de grande escala, uma grande atuação de um ator talentoso, um personagem poderoso e mensagens edificantes. Nada disso ajuda se o resultado final não agrada. Não que Gandhi seja um filme ruim, mas aquele foi o ano de E.T. - O Extraterrestre, de Steven Spielberg. Um dos primeiros clássicos de Spielberg talvez não tivesse o feitio da Academia, mas aquele também foi o ano de O Veredito, drama intenso dirigido por Sidney Lumet e estrelado por Paul Newman. Estavam indicados naquele ano, também, Tootsie, de Sydney Pollack, e Desaparecido, de Costa Gavras, ambos superiores a Gandhi. 1982 ainda contou com os ótimos O Barco, de Wolfgang Petersen, e A Escolha de Sofia, de Alan J. Pakula. Além destes, estava, claro, Blade Runner, de Ridley Scott, que recebeu apenas duas indicações técnicas. Premiar o acadêmico Gandhi e esnobar os originais e corajosos E.T. e Blade Runner é a síntese do que foi - e ainda é - o Oscar.
Rocky é um pequeno clássico e não há dúvidas sobre isso. Seu sucesso entre o público e suas qualidades, que não são poucas, porém, não o fazem melhor que obras como Taxi Driver, Rede de Intrigas e Todos os Homens do Presidente, que concorriam ao Oscar daquele ano. O "amor" da Academia pelo drama esportivo, aliás, é estranho e desproporcional: Rocky venceu apenas três estatuetas - Filme, Direção para John G. Avildsen e Montagem. Nada para o Roteiro ou para as atuações. Ora, presume-se que um longa que tenha vencido as duas principais categorias (Filme e Direção) também leve outros prêmios para casa. É estranho notar que a obra tenha sido ignorada em Roteiro Original, Ator e demais categorias técnicas e tenha vencido as estatuetas mais cobiçadas. Falta lógica ao fato. Rede de Intrigas e Todos os Homens do Presidente receberam, cada, quatro prêmios. O primeiro venceu quatro importantes estatuetas: Ator, Atriz, Atriz Coadjuvante e Roteiro Original. Todos estes prêmios, pela lógica, fariam o longa vencer não só como Melhor Filme como Lumet também venceria como Melhor Diretor. Todos os Homens do Presidente também se destacou com Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Som e Direção de Arte. Ainda assim, Rocky foi o grande vencedor. Nem entraremos na questão de que Taxi Driver estava lá e saiu de mãos vazias. É possível que os votantes tenham se dividido entre os dois longas que polarizaram a premiação e Rocky, possível terceiro colocado, acabou levando vantagem.
O que Chicago fez entre os indicados a Melhor Filme é um mistério. Absurdo maior ainda é aceitá-lo como vencedor. Quatro dos cinco indicados tinham a mão de Harvey Weinstein na produção (a ironia é que o merecedor e favorito daquele ano era O Pianista, único nomeado que não tinha envolvimento com o produtor), e se a Academia tinha tanta vontade de homenagear o sujeito, que fosse premiando Gangues de Nova York, de Martin Scorsese, que é infinitamente superior ao musical de Rob Marshall. Concorriam naquele ano, também, os fantásticos As Horas, de Stephen Daldry, e O Senhor dos Anéis - As Duas Torres, de Peter Jackson. A campanha pelo Oscar realizada por Weinstein em 2002/2003 foi uma das mais vergonhosas da história da premiação. É notável, por exemplo, que o produtor pode ter sido um dos maiores responsáveis por uma campanha difamatória contra o diretor Roman Polanski. Harvey fez de tudo para que Scorsese levasse o prêmio de Melhor Direção, incluindo festas e jantares particulares e uma série de matérias especiais que elevavam os valores artísticos do longa. A tentativa de comprar votos não deu completamente certo: Polanski foi escolhido o Melhor Diretor, revelando certa lucidez por parte dos votantes. Chicago, porém, foi escolhido como Melhor Filme. Aquele ano ainda teve Estrada Para Perdição, Adaptação, Um Grande Garoto, E Sua Mãe Também e não um, mas dois ótimos filmes de Spielberg: Prenda-me se for Capaz e Minority Report.
Golpe de Mestre é um grande filme, mas a 46ª edição do Oscar contou com outros clássicos inesquecíveis. A começar por O Exorcista, enorme sucesso de público e crítica que merecia o honraria principal. Além dele, foram indicados Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman, Loucuras de Verão, de George Lucas, e o pouco conhecido Um Toque de Classe, de Melvin Frank. Golpe de Mestre é divertido, inteligente, visualmente impecável e tem atuações memoráveis de Robert Redford e Paul Newman. O Exorcista, porém, era a obra a ser reconhecida naquele ano. Além dos ótimos indicados, 1973 ainda teve Serpico, de Sidney Lumet e Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci. A vitória de Golpe de Mestre não chega a incomodar, mas parece ficar claro hoje, quarenta anos depois, que esse não era o verdadeiro merecedor do prêmio principal. É claro que a Academia, engessada como era e é, teria receio em premiar um longa de terror explícito como o dirigido por William Friedkin. Ainda assim, O Exorcista levou duas estatuetas, incluindo a importante categoria de Roteiro Adaptado. Outro fator que pode ter influenciado é o fato de Friedkin ter vencido o Oscar poucos anos antes por Operação França, que por sua vez não merecia o prêmio que deveria ter ido para Laranja Mecânica. O tempo mostra que Exorcista segue como um dos filmes mais aterrorizantes já realizados, enquanto Golpe de Mestre ficou perdido no tempo e na memória de cinéfilos mais aficionados.
Gente como a Gente é outro exemplo de um filme correto, bem escrito e com boas atuações que acabou vencendo o prêmio principal mesmo sem merecê-lo. A passagem da década de 70 para a de 80 foi uma época onde a Academia parecia prezar por dramas familiares e/ou menores: no ano anterior, Kramer Vs. Kramer, pequeno drama familiar, ganhou do gigantesco Apocalypse Now; no ano seguinte, Carruagens de Fogo levou a melhor, deixando a superprodução Reds para trás. Além de Star Wars - Episódio V: O Império Contra-ataca, a edição de 1981 não trouxe nenhum grande épico, mas contou com filmes muito melhores que o longa de Robert Redford. Na categoria principal havia pelo menos duas obras-primas superiores que o longa vencedor: Touro Indomável, de Martin Scorsese e O Homem Elefante, de David Lynch. Este, aliás, era o real merecedor do prêmio, ainda que a cinebiografia de Scorsese também merecesse reconhecimento. De qualquer forma, não foi apenas o Oscar que demonstrou carinho por Gente como a Gente. O drama de Redford venceu o Globo de Ouro, o DGA e diversos prêmios da crítica. Ainda que o tempo tenha transformado outros filmes em clássicos, é perceptível que, na época, Gente como a Gente era a obra em destaque. Por mais interessante e bem conduzido que seja, o vencedor da 53ª edição do Oscar jamais alcança a qualidade transcendental de Touro Indomável e, principalmente, O Homem Elefante.

Menções honrosas: Cavalgada; Como Era Verde Meu Vale (concorria contra Cidadão Kane); Perdidos na Noite; Operação França (concorria contra Laranja Mecânica); O Franco Atirador; Entre Dois Amores; Forrest Gump (concorria contra Um Sonho de Liberdade e Pulp Fiction), Crash (concorria contra Munique e O Segredo de Brokeback Mountain)

Globo de Ouro 2015 - Apostas

Melhor Filme - Drama

Vence: Boyhood
Merece: Boyhood

Tudo indica que Boyhood dominará todas as premiações. No Globo de Ouro, sem a concorrência de Birdman na categoria, sua vitória fica ainda mais fácil. Selma é um ótimo filme e faz o perfil do Globo de Ouro, mas não é bom o suficiente e nem tem a força para derrubar o filme de Richard Linklater.

Melhor Filme - Comédia/Musical

Vence: Birdman
Merece: Birdman

O mesmo que acontece para Boyhood serve para Birdman. Sem a concorrência do drama de Linklater, o metalinguístico e corajoso projeto de Alejandro González Iñárritu é o favorito da categoria. Ainda que O Grande Hotel Budapeste seja excelente, nada supera o brilhantismo de Birdman.

Melhor Direção

Vence: Alejandro G. Iñárritu por Birdman
Merece: Alejandro G. Iñárritu por Birdman

Boyhood pode ser o melhor filme, mas a melhor direção é a de Iñárritu. Linklater merece o reconhecimento, e talvez os votantes do Globo de Ouro queiram premiá-lo em reconhecimento à coragem de fazer um filme no decorrer de doze anos. Iñárritu, porém, também se dedicou a um projeto de complexidade indiscutível. Seu elenco inteiro funciona e seu apuro estético/visual é assombroso. É uma briga difícil e indefinida, onde os dois maiores concorrentes merecem o prêmio.

Melhor Ator - Drama

Vence: Eddie Redmayne por A Teoria de Tudo
Merece: Benedict Cumberbatch por O Jogo da Imitação

Não gosto de A Teoria de Tudo e não considero a atuação de Redmayne tão boa como dizem. Os outros quatro concorrentes, porém, estão impecáveis em seus papeis. Steve Carrel surpreende e concorre por aquele que é indiscutivelmente sua melhor atuação. Jake Gyllenhaal segue sua sina rumo ao topo com o ótimo O Abutre e David Oyelowo é a melhor coisa de Selma. Cumberbatch, porém, está imbatível em O Jogo da Imitação e caso seja derrotado, o que pode facilmente acontecer, será a pior escolha do Globo de Ouro.

Melhor Atriz - Drama

Vence: Julianne Moore por Para Sempre Alice
Merece: Moore

Moore é uma grande atriz e merece uma temporada de prêmios só pra ela há muito tempo. É chegada a hora e dificilmente alguém vai tirar a sua vitória por Para Sempre Alice, drama com roteiro competente que funciona realmente bem graças à entrega de Moore.

Melhor Ator - Comédia/Musical

Vence: Michael Keaton por Birdman
Merece: Michael Keaton por Birdman

Em um ano de grande atuações masculinas, Keaton talvez tenha a melhor de todas elas. A confirmação virá em uma das maiores barbadas da noite com sua vitória por Birdman.

Melhor Atriz - Comédia/Musical

Vence: Amy Adams por Grandes Olhos
Merece: Amy Adams por Grandes Olhos

Amy Adams venceu ano passado nesta mesma categoria por Trapaça e, por isso, muitos acreditam que o prêmio vá para Emily Blunt por sua atuação no fraco Caminhos da Floresta. O problema é que Blunt, apesar de ser uma das melhores coisa do musical de Rob Marshall, não merece uma honraria como melhor atriz, principalmente por ser basicamente uma coadjuvante no filme. Caso não queiram premiar Adams novamente e acharem que Blunt não merece o prêmio, Julianne Moore pode surpreender e ser escolhida como a Melhor Atriz da categoria. 

Melhor Ator Coadjuvante

Vence: J.K. Simmons por Whiplash
Merece: J.K. Simmons por Whiplash

J.K. Simmons. Apenas.

Melhor Atriz Coadjuvante

Vence: Patricia Arquette por Boyhood
Merece: Patricia Arquette por Boyhood

Emma Stone pode surpreender e levar o prêmio apenas por ser a queridinha do público e da crítica dos últimos meses, mas será difícil bater Arquette, que parece ter garantido a vitória há muito tempo.

Melhor Roteiro

Vence: O Grande Hotel Budapeste
Merece: Boyhood ou Birdman

Os votantes do Globo de Ouro fizeram uma excelente seleção de roteiros. Cinco grandes nomeados onde pelo menos três são impecáveis. A curiosidade - e boa notícia - é que os três melhores são roteiros originais, projetos criados do zero por mentes brilhantes. A vitória de Wes Anderson é possível pelo fato do Globo de Ouro querer agradar a todos os convidados e ao público, tirando brevemente os holofotes dos dois filmes que polarizam a noite que são Boyhood e Birdman. 


Melhor Filme Estrangeiro

Vence: Ida

Assisti apenas Ida dentre os indicados, então não posso afirmar qual é o melhor. De qualquer modo, Ida é o grande favorito. É uma pena, pois todos os outros quatro devem ser melhores que o superestimado representante polonês.

Melhor Animação

Vence: The Lego Movie
Merece: Operação Big Hero

Lego Movie é um ótimo filme; agradável, original, ágil e "diferente". Tem tudo para ganhar a categoria. Caso Big Hero vença, porém, não será ruim.

Melhor Trilha Sonora

Vence: Birdman
Merece: Interestelar.

Os votantes talvez premiem Interestelar para democratizar a premiação que pode acabar dominada por apenas dois filmes. Premiar Birdman, por outro lado, é um grito de liberdade e uma irresistível referência ao Oscar, que considerou a trilha do filme não elegível. 

Melhor Canção Original

Vence: Selma
Merece: Selma

O prêmio de Melhor Canção para Selma é outra tentativa de pulverizar a premiação em diversos filmes diferentes. Além disso, Selma é um ótimo filme que todos elogiam, todos indicam a prêmios, mas que dificilmente vai ganhar alguma coisa. O Globo de Canção serve como prêmio de consolação. A não ser que os votantes resolvam premiar Lorde apenas por ela ser mais famosa.

Os Melhores do Cinema em 2014 - Vencedores
 
 
 
 
 
 
 

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