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Crítica - A Viagem

 

Seriam os Wachowski mágicos de um só truque? Não creio. Muitos consideram Matrix o único bom filme da dupla, mas precisamos lembrar V de Vingança, ótima adaptação com grande cooperação de Andy e Lana. Além disso, Matrix Reloaded e Revolutions não são obras ruins. Os Wachowski são criativos, escrevem bem e sabem como dirigir um filme, assim, criticar A Viagem antes do tempo por achar que os irmãos cometeram alguma atrocidade, é um erro. Mas a complicada adaptação não é comandada apenas pela dupla. Tom Tykwer, diretor dos bons Corra, Lola, Corra e Perfume, é o terceiro diretor e ao lado de Andy e Lana entrega um longa curioso, bem montado, bem dirigido, mas com alguns problemas evidentes.

É preciso ter em mente, antes mesmo de assistir A Viagem, que a mitologia por trás de tudo é complexa e difícil de ser trabalhada. O filme acompanha seis histórias que se passam em seis épocas e cenários diferentes. Da amizade entre um homem branco e um escravo em um navio do século XIX até um mundo pós-apocalíptico e cheio de mistérios. Todas as histórias, de uma forma ou outra, se conectam. São ligações sutis, algumas vezes superficiais, mas unem um período a outro com elegância. É interessante acompanhar a trama e tentar descobrir as ligações, os pontos de fissura onde uma coisa se junta a outra para formar um arco maior. Além disso, há um subtexto de vidas passadas que permeia toda a obra – literária e cinematográfica – que pode ser demasiado perigoso. Atos passados que reverberam no futuro podem funcionar quando usados com cautela, podendo injetar certa elegância à trama, mas se usados sem controle, o que poderia ser uma complexa e interessante construção de personagens e fatos torna-se um drama barato. Por sorte, Andy, Lana e Tom, também roteiristas, conseguem manter o equilíbrio e não passam do limite nas suposições e referências.

O elenco homogeneamente talentoso é um deleite à parte. Tom Hanks, Jim Broadbent e Hugo Weaving, por exemplo, se divertem dando vida a diversos personagens. A adaptação dos atores a cada contexto, a cada cenário e época é notável. Além disso, cada segmento tem claramente um gênero pré-definido, o que aumenta o trabalho de cada um. Enquanto a história de 2144 é uma ficção cyberpunk cheia de aventura, o segmento de 2012 é uma comédia modesta. Todos se saem admiravelmente bem. O contraponto, porém, se encontra na maquiagem usada nos atores para diferenciar os diferentes personagens em épocas diferentes. Hanks e Broadbent não sofrem muito, mas Halle Berry, por exemplo, fica irreconhecível – e no sentido negativo – com o excesso de maquiagem utilizada. O excesso atrapalha não só o artista que tenta atuar, mas o espectador que fica incomodado com o visual claramente falso e risível.

Mas A Viagem é, em suma, um filme lindo. Com fotografia primorosa e direção inspirada (de todos os envolvidos: Tykwer com as histórias de época e os Wachowski encarregados da história atual e das do futuro), é uma obra que merece atenção e boa vontade do público. É uma longa viagem de três horas, com muitos personagens e histórias. Não espere um épico, mas um belo filme que se preocupa com o desenvolvimento de sua trama e de seus personagens. A resolução de cada segmento pode não agradar por completo, mas a caminhada vale a pena.

Matheus Pereira

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