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The Walking Dead 3.1

The Walking Dead 3.1


SPOILERS
Leia apenas se já assistiu todas as temporadas da série

The Walking Dead voltou para o seu terceiro ano renovada. Depois de Frank Darabont abandonar o navio, a série ficou, basicamente, nas mãos de quem criou todo o universo que ela comprime. As mudanças já ficam explícitas na abertura. Renovada e com várias mudanças em seu elenco e equipe, as imagens, acompanhadas do impactante tema musical, representam um pouco do que a série buscou e conseguiu: uma mudança; esta, diga-se, extremamente positiva. Os personagens principais já foram apresentados, o universo já está bem estabelecido e a fonte original, as HQs, vai muito bem, seguindo seu próprio caminho.

O primeiro ano de The Walking Dead não provou muita coisa. Foram seis episódios no total; um piloto fantástico e cinco episódios mornos, incluindo aí uma season finale pouco empolgante. As promessas para o próximo ano eram muitas. Treze episódios viriam e novos personagens seriam apresentados. Eis que a segunda temporada estreia e acaba e nada de muito importante é mostrado. Com poucos momentos relevantes (geralmente ocorridos no início, no episódio central e no final), a segunda parte do programa se mostrou enfadonha e sem rumo. A fazenda que deveria ser apenas um local passageiro acabou ocupando toda a história, a busca por um personagem se alongou e se mostrou óbvia. O segundo ano acabou, personagens importantes morreram, o produtor principal foi embora e as coisas ficaram nubladas.

Nada mais normal, portanto, que renovar, fazer uma faxina geral na casa. Expulsar os parentes chatos e chamar gente boa pra festa. O resultado até aqui não podia ser melhor. The Walking Dead, superando expectativas e surpreendendo até os mais pessimistas, entregou oito episódios impecáveis. Da premiere até a mid-season finale a série se mostrou corajosa e direta, sem os rodeios e medos que tanto atrapalharam a temporada número dois. Assim como no ano anterior, oito episódios foram lançados até meados de dezembro. Quando todos são exibidos há um recesso, um hiato de mais ou menos dois meses até que novos episódios sejam mostrados. No último episódio de 2011, The Walking Dead revelou um episódio forte, dinâmico, que deixou os fãs salivando por mais história. Desta vez não é diferente, mas agora há um catalisador: toda a trama mostrada até aqui foi muito mais regular do que aquela mostrada nos episódios inicias da segunda temporada, assim, temos este ano uma ânsia maior de voltar a assistir novos episódios, já que a história foi muito melhor desenvolvida e envolvente. 

Isso nos leva a um ponto importante de 2012. Em 2011/início de 2012 tivemos um período fraco para as séries. Boardwalk Empire apresentou uma temporada fraquíssima, Game of Thrones decepcionou se comparada ao ano de estreia, Dexter teve seu ano mais fraco, The Walking Dead tropeçou e até a toda poderosa Downton Abbey teve seu ponto mais frágil em sua segunda empreitada, tomando novo fôlego no recém encerrado terceiro ano. Outros exemplos podem ser levados em conta, mas agora tudo isso não vem ao caso. O importante é que algumas delas conseguiram reencontrar o rumo nos últimos meses. Dexter está tendo uma sétima temporada coerente, bem escrita e que reascende a esperança dos fãs. Downton Abbey, como dito, retomou suas forças e The Walking Dead, principal ponto deste texto, tem, até agora, seu melhor ano. 


Toda essa qualidade se dá, claro, por alguns motivos específicos. O programa mostrou coragem. "Matou" quem merecia e explorou aquele que mais despertou dúvidas e ansiedade: o Governador. Interpretado pelo talentoso David Morrissey (que é britânico e teve de treinar bastante para falar com sotaque americano), o Governador é um personagem intrigante e um dos mais complexos que surgiram na TV em 2012. Confesso que não li todas as edições da HQ, apenas as primeiras, e não tive a oportunidade de conhecer o Governador dos quadrinhos e, assim, não sei dizer se o personagem do papel é tão complexo e multifacetado como o da TV. O fato é que cada vez que o sujeito é visto sendo puramente humano, lidando com as pessoas ou não sabendo se despedir da filha-zumbi, podemos ver o quão denso é o personagem. Ele é um simples humano. Ainda que muitas vezes finja ser melhor do que realmente é ou tente parecer um líder sereno e apaziguador, muito do que se vê de bom nele é verdade. Temos um homem que sofreu na vida, que perdeu tudo. Se ele nasceu mau, louco ou assassino, não podemos dizer, mas podemos afirmar, porém, que toda a jornada que precedeu a história vista atualmente na série ajudou e muito a moldar o homem de agora.

E mais uma vez volto a afirmar o talento de Morrissey. Fugindo da armadilha de mero vilão malvado que usa sua eloquência para compor frases de efeito, o ator constrói um personagem complexo e intrigante. Seus saltos de "homem bom" para "homem mau" surpreendem e o texto esperto ajuda na concepção ambígua do indivíduo. Sabendo mostrar e ocultar o que deve, o time de roteiristas entregou nessa metade de temporada um texto enxuto. Os diálogos fracos não desapareceram, mas não incomodam tanto quanto antes. A ação parece ter ficado melhor e a resolução de certos acontecimentos mais ágeis e lógicos. O ritmo da série melhorou consideravelmente e o gosto de assistir cada episódio aumentou. 

O que espero agora, é que os próximos cinco episódios mantenham o ritmo. Poucas séries conseguem manter um nível tão regular por um longo tempo (o máximo que elas conseguem é cinco episódios fantásticos/bons/ótimos e um mediano ou ruim), e isso é, ao mesmo tempo, bom e ruim. Bom porque pode indicar que os cinco episódios finais seguirão o bom caminho, e ruim pelo fato de que todas as cartas podem ter se esgotado e a reta final se resumirá a idas e vindas desnecessárias e enfadonhas. Para descobrir isso tudo, temos de esperar até fevereiro (um hiato absurdo, que fique registrado), quando The Walking Dead volta para marcar esta ou como a melhor temporada ou como a maior enganação.

 Matheus Pereira

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