Crítica
O Pacto
O Pacto
Depois de vários fracassos seguidos e poucos acertos (Presságio e Vicio Frenético talvez sejam os únicos que salvem a década do ator), criou-se certa marcação sobre Nicolas Cage. Todo trabalho que o sujeito anuncia e participa é visto com outros olhos pelo público; seus filmes são criticados e rotulados como fracassos antes mesmo do lançamento. Ainda que obras como O Sacrifício, Perigo em Bangkok, Motoqueiro Fantasma, O Aprendiz de Feiticeiro e Fúria sobre Rodas sejam investidas lamentáveis, parece ter virado moda criticá-lo. O Pacto é apenas mais um na filmografia do ator a receber unanimemente comentários negativos, o que até certo ponto, é injusto, já que se trata de um filme, pelo menos, divertido.
A trama acompanha Will Gerard (Cage), que após ter sua esposa estuprada recebe uma proposta irrecusável: vingança sem ter que sujar as mãos. Quem oferece tal ajuda é Simon (Guy Pearce, sempre ótimo), misterioso homem de terno. A oferta é simples: Simon e seu grupo farão justiça, porém, Will terá que pagar a dívida de alguma forma no futuro, um pagamento simples, segundo o homem ("quebrar uma câmera, entregar um envelope, talvez", diz o ofertante). A melhor parte do frágil roteiro escrito por Robert Tannen se encontra na primeira parte da fita: desenvolvendo os fatos de maneira simples e convencional, mas intrigante, o aparente ciclo de vingança elaborado pela equipe de Simon convence e, ainda que absurdo, não deixa de ser interessante. A coisa perde força quando o protagonista deve quitar a dívida, e uma enxurrada de clichês é jogada na tela; a obviedade dos fatos também incomoda: é possível prever praticamente todos os desfechos das subtramas e sequências do longa. O roteiro peca também pela superficialidade com que trata seus personagens. A esposa de Gerard (interpretada pela sempre péssima January Jones) é uma criação risível, cujo papel é apenas ser o ponto de partida para o restante da história. Simon também não recebe a atenção que merecia, surgindo apenas como um mero vilão, daqueles que conversam muito antes de atirar e finalizar o serviço e daqueles que mandam os capangas correrem atrás de seu alvo, enquanto ele mesmo sabe que é capaz e que vai encontrar o mesmo a qualquer momento. Igualmente mal concebido é o personagem central que, ainda que tenha mais tempo em cena, é totalmente inconstante, partindo de um mero professor a um ladrão articulador e meticuloso notável.
Cage segue com suas conhecidas muletas de interpretação. Muitas vezes caricato, o ator parece, ao menos, se divertir no papel. O que o salva de um fracasso é seu carisma e sua própria figura. É inegável que, mesmo lançando bombas todos os anos, nós torcemos por Cage, queremos vê-lo num bom filme. O Pacto prova uma coisa: não devemos enxergar o ator como um artista, e sim como um mercenário. Se esperarmos muitos pelos seus trabalhos ou aguardarmos uma ressurreição surpreendente, é bem provável que nos decepcionemos. A fita em questão não promete absolutamente nada, apenas mantém Cage num terreno em que ele já se encontrava. O elenco reduzido, pouco ou nada pode fazer; à exceção de Guy Pearce, nada chama atenção nesse quesito. Todos os personagens que surgem na trama são subaproveitados, e o pior de tudo é que, quando aparecem, pronunciam diálogos inacreditáveis, risíveis e expositivos. A frase de efeito principal do longa é dita a todo o momento e por várias pessoas, provando o total despreparo do roteirista.
Mas a grande falha que resume O Pacto é sua simplicidade; é uma fita de ação genérica. Da direção convencional e pouco inspirada até a edição atrapalhada, todos os quesitos da obra são comuns e não trazem nada novo ao Cinema ou ao espectador. As ideias são aproveitadas de outros projetos e a execução em nada se difere dos inúmeros filmes de ação lançados todo o mês. Mas O Pacto não é o lixo que muitos alardeiam: intrigando e mantendo o espectador atento mesmo que superficialmente, a obra é um bom passatempo, e mesmo que o final, óbvio e praticamente anti climático, destrua os poucos pontos positivos que antecederam tal desfecho, com boa vontade é possível relevar tal falha. Está longe de um "Vício Frenético", mas também não é nenhum "Sacrifício" assisti-lo.
Ok, ok. Eu poderia ter encerrado sem essa última frase.
Matheus Pereira
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