Crítica
A Mulher de Preto
A Mulher de Preto
É importante que se diga, de início, que A Mulher de Preto falha justamente naquilo que poderia transformá-lo num bom filme: a calma com que desenvolve sua trama e o simples duelo entre um homem comum e as manifestações sobrenaturais que o cercam. A fita conta a história de Arthur Kipps (Daniel Radcliffe), advogado e pai viúvo que, desestabilizado emocionalmente, vai até uma pequena cidade aparentemente isolada do mundo para cuidar dos papéis de um cliente recém falecido. É na mansão deste que Kipps tem um contato mais explícito com a Mulher de Preto. Ainda que o argumento principal abrisse caminho para um bom estudo de personagens dentro de um gênero que na maioria das vezes não apresenta isso, o roteiro de Jane Goldman não explora a psique abalada de seu protagonista, optando apenas por segui-lo a esmo durante a maioria do tempo. E embora acerte ao centrar sua história no passado - em torno de 1900 - e ao investir um bom tempo no silêncio para que a tensão torne-se mais acentuada, Goldman erra na resolução dos fatos que apresenta no transcorrer da trama. São igualmente risíveis e decepcionantes as explicações para a existência da Mulher de Preto - tal qual seus objetivos e motivos para assombrar - e o desfecho da obra em si. A roteirista peca, também, ao não saber quando parar com certa abordagem; a solidão retratada a partir da metade final e a insistência de mostrar o herói indo atrás do perigo, por exemplo, cansa a certa altura.
Pontos positivos, entretanto, devem ser apontados acerca da concepção e abordagem como um todo: acertadamente os realizadores optaram por um estilo de terror clássico: um tanto explícito, mas sem muitos efeitos especiais e visuais. Vê-se aqui, trucagens de câmera e manipulações antigas. É um terro, grosso modo, mais cru, direto. Outro fato que merece destaque é direção de arte do longa: adotando a pequena cidade como o fim do mundo, esquecido pela cor e pela vivacidade, A Mulher de Preto faz um parâmetro entre o lugar e o interior conturbado e nublado de seu protagonista. A falta de alegria e os tons opacos do local trazem um clima opressor bem vindo à trama. A fotografia também merece atenção, principalmente nas sequências que ocorrem dentro do casarão e nos arredores, quando a bruma parece cercar toda a edificação, escondendo espíritos inquietos e ameaçadores. Ainda que não seja um artifício original - a névoa cerca e cega o homem -, na fita em questão funciona por ser empregada organicamente e sem exageros.
Radcliffe: personagem com muita densidade, ator com pouca capacidade |
Mas a grande ressalva do projeto é mesmo a atuação de Radcliffe. Notadamente um ator limitado - até mesmo na série Harry Potter - o jovem, pra início de conversa, não convence como um homem viúvo, pai de um criança de quatro ou cinco anos e advogado. Os defensores da obra e do ator podem alegar que naquela época as coisas eram diferentes, casamentos aconteciam mais cedo e os homens detinha empregos muito jovens. Tal argumento não funciona nesse caso. Radcliffe simplesmente parece um garoto, e ainda que isso não seja culpa do ator, é difícil crer na maturidade do personagem, na bagagem emocional e racional do homem. O fato não seria um grande problema caso os próprios trejeitos e voz do sujeito não o denunciassem; além disso, ele jamais consegue passar a carga dramática exigida por seu personagem. Pecando ao adotar uma consternação constante e exagerada durante toda a projeção, que seria perdoável, visto que é um pai viúvo, depressivo e sozinho numa cidade estranha, mas que torna-se superficial e cansativa dentro da incapacidade do intérprete.
Perdendo o ritmo no momento em que a mansão é apresentada e desvendada, A Mulher de Preto seria melhor caso tivesse uma história mais intrigante e original e um ator mais competente na fronte. Os longos minutos gastos mostrando o protagonista andando a esmo pela casa só comprovam a fragilidade de uma trama clichê e totalmente vazia.
Matheus Pereira
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