Amor a Toda Prova


Falar das várias variações do amor, e seus caminhos mais sórdidos, tornou-se um difícil trabalho depois que Richard Curtis lançou o seu Simplesmente Amor. O filme, o qual considero a melhor comédia romântica dos últimos tempos, reunia um grande elenco (britânico em sua maioria) e retratava as várias faces do amor e os diversos lugares onde ele aparecia. Não que falar de amor sempre fora fácil, mas depois que o parâmetro máximo foi estabelecido, tratar do amor nos moldes que aquele belo filme tratou seria tarefa árdua. Que fiquei claro: ninguém alcançou o feito de Curtis e nenhum filme - nem este Amor a Toda Prova - se igualou a Simplesmente Amor. De qualquer forma, a nova fita de Glenn Ficarra e John Requa (diretores de O Golpista do Ano), ainda que em suas devidas limitações de roteiro, é o que mais se aproxima daquilo que o filme britânico alcançou com louvor. Amor a Toda Prova não tem a complexidade narrativa e emocional necessária para fazê-lo um grande ponto na história da comédia atual, mas tem competência suficiente para ser notado e apreciado. O elenco encabeçado pelo sempre carismático e talentoso Steve Carrel, reúne Julianne Moore, Ryan Gosling, Emma Stone e Kevin Bacon, numa salada amorosa cheia de vai e vens e surpresas pelo caminho. O roteiro não apresenta grandes reviravoltas e é até previsível em vários momentos, mas caso o espectador entre no clima e saiba apreciar suas investidas, a experiência pode ser agradabilíssima. Dirigido economicamente, mas com vigor, pela dupla, o filme ainda trás uma excelente montagem e uma leveza mais que bem vinda num gênero que ultimamente resolveu reunir grupos e grupos de amigos para falar palavrões e apelar para a escatologia. Ainda que em filmes diferentes, com pessoas diferentes e tratando de casos diferentes, Amor a Toda Prova objetiva falar apenas de uma coisa: simplesmente amor.


Quando o mundo e a indústria se encontram na mediocridade artística e cultural na qual nos encontramos atualmente, é natural que nos tornemos nostálgicos. Que passemos a encarar o passado, e todo o clima que ele encerra. Assim podemos explicar porque festas temáticas dos anos oitenta façam tanto sucesso, ou porque filmes e as demais mídias, quando voltam os olhos e incorporam décadas passadas, recebam tanta atenção. Drive, dirigido por Nicolas Winding Refn (vencedor do prêmio de Melhor Direção no último festival de Cannes), evoca esta aura, esse clima oitentista que, quando bem abordado, dá bons resultados. Com Ryan Gosling à frente de um elenco que ainda conta com Carey Mulligan (não muito diferente dos outros papéis que apresentou até aqui) e o ótimo Bryan Cranston (da magnífica série de TV Breaking Bad), Drive é um filme simples, mas refinado. Com direção caprichada (Refn ganhou o prêmio em Cannes, afinal) e um ótimo estudo de personagem, o filme se mantém em poucos, mas importantes pilares: direção, atuação e clima. O clima, juntamente aos outros dois pontos recém citados, é o cerne da fita, que exala elegância e consistência. Gosling, carismático e arrebatador, entrega aqui aquela que talvez seja sua melhor atuação neste ano, e carrega a obra com firmeza e segurança. Alternando algumas cenas mais intensas com outras mais intimistas, Drive mistura ação e drama e é certamente um filme diferente, original. Ainda que tenha um esqueleto comum, é a gordura, os detalhes e a abordagem que fazem de Drive único e um dos melhores do ano.
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Drive
Drive


Quando o mundo e a indústria se encontram na mediocridade artística e cultural na qual nos encontramos atualmente, é natural que nos tornemos nostálgicos. Que passemos a encarar o passado, e todo o clima que ele encerra. Assim podemos explicar porque festas temáticas dos anos oitenta façam tanto sucesso, ou porque filmes e as demais mídias, quando voltam os olhos e incorporam décadas passadas, recebam tanta atenção. Drive, dirigido por Nicolas Winding Refn (vencedor do prêmio de Melhor Direção no último festival de Cannes), evoca esta aura, esse clima oitentista que, quando bem abordado, dá bons resultados. Com Ryan Gosling à frente de um elenco que ainda conta com Carey Mulligan (não muito diferente dos outros papéis que apresentou até aqui) e o ótimo Bryan Cranston (da magnífica série de TV Breaking Bad), Drive é um filme simples, mas refinado. Com direção caprichada (Refn ganhou o prêmio em Cannes, afinal) e um ótimo estudo de personagem, o filme se mantém em poucos, mas importantes pilares: direção, atuação e clima. O clima, juntamente aos outros dois pontos recém citados, é o cerne da fita, que exala elegância e consistência. Gosling, carismático e arrebatador, entrega aqui aquela que talvez seja sua melhor atuação neste ano, e carrega a obra com firmeza e segurança. Alternando algumas cenas mais intensas com outras mais intimistas, Drive mistura ação e drama e é certamente um filme diferente, original. Ainda que tenha um esqueleto comum, é a gordura, os detalhes e a abordagem que fazem de Drive único e um dos melhores do ano.
Matheus Pereira
Um pouco sobre alguns filmes que assisti recentemente.
Zack Snyder nunca fez um filme excelente. Seus filmes são bons. Criador de belos enquadramentos, de visuais belos e arrebatadores, os filmes do diretor pecam, geralmente, no roteiro. Watchmen, seu filme mais ambicioso, é o que mais se aproxima das "cinco estrelas". Mas Madrugada dos Mortos é um filme divertido e interessante e é uma boa prova de que o cineasta tem talento, só que muito dependente do texto de outras pessoas. E isso nos leva a Sucker Punch - Mundo Surreal, que é o primeiro filme com roteiro original de Snyder. Com trama frouxa e capenga, Sucker Punch serve apenas como diversão e apreciação do belo visual. Snyder usa e abusa da beleza de suas atrizes, numa insistência incomodativa. A narrativa não flui, a edição é fraca e até o diretor, que antes ao menos sabia criar boas sequências, tropeça nos exageros e falta de pulso.
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Peter Weir conduz sua câmera com inteligência e talento neste drama edificante sobre pessoas que buscam a liberdade. Não se precisa saber muito para acompanhar a bela e envolvente história desenhada com cuidado por Weir. Com o costumeiro cuidado técnico, o diretor constroi belas sequências e concebe uma fita com narrativa fluida, diferente de seu último trabalho, Mestre dos Mares, em que o ritmo era o ponto negativo. Aliás, muitos criticam o ritmo de Caminho da Liberdade, o que é compreensível, visto que tudo acontece lentamente e a duração do longa é um pouco elevada. Com excelentes atuações e fotografia deslumbrante, Caminho da Liberdade é um dos filmes mais interessantes do ano.
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Alejandro Gonzáles Iñárritu pesa a mão na melancolia, mas ainda assim entrega um tocante e sincero retrato da degradação emocional de um homem. Interpretado brilhantemente por Javier Bardem, Uxbal descobre ter câncer e que tem poucos meses de vida. O que já era triste fica mais e os problemas parecem se acentuar. A mediunidade do personagem é vaga, mas, em geral, o estudo do personagem é excelente e bem cuidado. Assim como em Preciosa, por exemplo, os roteiristas parecem buscar tudo que há de triste e sujo no mundo para incluir em seu texto. Câncer, prostituição, drogas, imigração ilegal, tráfico e, claro, morte. Às vezes toda a tristeza pode soar forçada e vazia, e há de se ter paciência para acompanhar tudo que é mostrado na tela. Mas é um ótimo filme. Iñárritu capricha em alguns quadros e sequências (os reflexos, ainda que repetitivos, são ótimos) e a atuação de Bardem é arrebatadora.
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O atual vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro pode não ter a força que O Segredo de Seus Olhos tem, por exemplo, mas é um belo retrato da vida e dos problemas de pessoas comuns. Contanto a história de famílias que se cruzam através de seus rebentos, Em um Mundo Melhor traça paralelos entre os opostos de seus personagens de maneira interessante, quase beirando no simplista e em metáforas inócuas, mas, felizmente, Susanne Bier mantém a narrativa firme e coerente, sempre no caminho certo e sem desvios. Com elenco afiado e roteiro fluido, o longa dinamarquês busca na simplicidade de contar uma história, uma forma de passar sua mensagem.
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Namorados para Sempre tem uma estrutura narrativa simples. O filme começa mostrando os personagens principais (um casal, interpretado brilhantemente por Ryan Gosling e Michelle Williams), após um acontecimento, o personagem de Gosling relembra seu passado, pouco antes de conhecer sua parceira. Depois voltamos ao presente. Após outro acontecimento, é a vez de voltarmos ao passado, mas agora junto a Williams. Retornamos para os dias atuais. E assim voltamos ao início enquanto acompanhamos o fim do relacionamento numa rima bela e inteligente. É fabuloso perceber o cuidado que os roteiristas têm ao construir o relacionamento intercalando com a desconstrução do mesmo. Vemos o primeiro beijo, em seguida vemos brigas constrangedoras. Vemos a união se intensificar, logo após vemos o casal rompendo pouco a pouco o que nutriam há anos. É um filme sobre amores reais, pessoas reais. Não há vilão ou vilã. Mocinho ou donzela. Há pessoas que brigam e se amam. Dão carinho e se machucam. O amor é assim; a vida é. É realmente interessante ver a história sendo costurada nas idas e vindas no tempo, mas perto do final, com os nervos à flor da pele e o drama tomando contornos cada vez mais sérios, a tensão beira o insuportável e o exagero em alguns pontos pode incomodar. Mas é o romance mais verdadeiro e visceral a aparecer nos últimos meses.
Matheus Pereira
Crítica - Planeta dos Macacos: A Origem


Planeta dos Macacos: A Origem é uma surpresa. Você já deve ter lido essa frase várias vezes em vários meios de comunicação. Num contexto geral pode até ser "surpresa", visto que a grande maioria não estava muito empolgada com o lançamento do filme. Desde o primeiro trailer, que fora cercado de suspense pela Fox, uma demasiada curiosidade tinha despertado em mim. Fiquei com muita vontade de assistir o filme, mesmo sabendo que a nova investida na franquia poderia resultar num completo desastre. O filme estreou em seu país de origem e as críticas logo surgiram. Positivos em sua grande maioria, os comentários foram surpreendentes. Muitos alardearam a fita como o melhor blockbuster do ano e a comprovação da revitalização da Fox que, neste mesmo ano, lançou o elogiado X-Men: Primeira Classe e estava encarando uma má fase. Os macacos chegaram por aqui e foi a mesma coisa: público e crítica aprovaram. E não tem como não aprovar. Planeta dos Macacos: A Origem é o típico "filmão pipoca" que não ofende o espectador, é muito bem realizado e respeita suas origens. Se as refilmagens e novas roupagens de clássicos do Cinema desapontam e afrontam seus originais, Planeta foge desta regra e mostra uma equipe preocupada não só com os novos espectadores que virão a se apaixonar pela história, mas com aqueles que sempre valorizaram a antiga série.
A história é simples, mas coesa e esperta: Will Rodman (James Franco) é um cientista que está prestes a desenvolver um vírus capaz de curar o mal de Alzheimer e faz os testes em uma símia chamada Olhos Brilhantes. Rodman percebe que, após os testes, o animal fica demasiado inteligente, o que prova a eficácia do experimento. Tal inteligência passa para o filhote, batizado como Cesar pelo pai de Rodman (que sofre do mal de Alzheimer) depois que Olhos Brilhantes é morta durante um incidente. Adotado e morando com Rodman e seu pai, Cesar evolui sem precedentes e mostra grande inteligência. Oito anos depois, Cesar começa a questionar Rodman sobre seu passado e sente-se desconfortável com algumas coisas (ele pergunta ao "pai" se ele é um animal de estimação depois de ver um cão andando, assim como ele, com uma coleira no pescoço, numa interessante sacada dos roteiristas). Depois de um incidente, Cesar vai para um abrigo reservado para símios e, assim, a (r)evolução começa. Os escritores Rick Jaffa e Amanda Silver mantêm o ritmo durante toda a narrativa e desenvolvem o personagem central, Cesar, de forma inteligente e dedicada. Ainda que alguns personagens não tenham o mesmo cuidado relegado a Cesar, este quesito do roteiro não chega a prejudicar o resultado final. Bem estruturado, o texto nasce praticamente do zero e se firma sozinho, sem depender de toda a franquia que o precedeu, o que é um feito louvável. Fazendo ótimas referências ao original (como a Estátua da Liberdade em miniatura que Cesar "brinca"), a dupla toma cuidado ao costurar pontas e unir detalhes dos filmes.
Tecnicamente irrepreensível, Planeta dos Macacos: A Origem apresenta uma fotografia interessante, tendo em vista o material em questão, que, em outras mãos, seria algo burocrático e sem novidades. O fato é que aqui, a fotografia salta aos olhos nos momentos em que Cesar se encontra entre as árvores e contemplando a cidade do alto. Com reflexos, diferentes paletas (as cores no habitat natural são fortes e vivas, já as cenas do clímax na cidade tem como cor predominante o cinza e uma forte névoa) e bons quadros, as imagens enchem os olhos e comprovam o cuidado da produção. Outro ponto que merece destaque é a edição. Diferente da maioria dos filmes de ação/aventura atuais, as cenas são montadas com clareza e coesão. Podemos apreciar cada instante da ação sem perder detalhe algum. O clímax é um dos melhores momentos do ano: cheio de cenas tensas e bem coreografados, Planeta: A Origem chega, neste instante, a um patamar que nenhum outro exemplar do gênero conseguiu nos últimos meses.
Mas são três pontos que elevam Planeta: a direção de Rupert Wyatt; os efeitos especiais que beiram a perfeição e a atuação cheia de humanidade de Andy Serkis. A direção de Wyatt (e aqui temos um ponto realmente surpreendente) é o pilar do filme: conduzindo com inteligência e talento as cenas de ação e com cuidado e calma as cenas mais dramáticas, Wyatt, que é um estreante nesse tipo de produção, mostra fibra e criatividade durante todo o tempo. Os planos abertos que revelam a cidade ou os closes que focam as mais sutis reações/emoções de Cesar, merecem atenção. E isto nos trás aos efeitos especiais do longa: com realismo impressionante, os símios de Planeta parecem reais. Os pêlos, os movimentos, os olhos; tudo é perfeito e detalhado. E isso ajuda na construção dos personagens e dão aos atores total liberdade. E assim chegamos ao terceiro item: a atuação de Serkis. Perito nesse tipo de projeto, Serkis já interpretou o lendário Gollum, em O Senhor dos Anéis, o King Kong e em dezembro chega aos cinemas em As Aventuras de Tintim, também vestindo os trajes da captura de movimento. Aqui, Serkis prova mais uma vez o seu talento interpretando não apenas um chimpanzé, mas sim, um ser dotado de inteligência e emoções, e cada olhar do ator e movimento, denotam o estudo aprofundado do mesmo com relação ao personagem e ao animal que ele teve de interpretar. É possível ver Serkis ali; podemos ver alguns traços de seu rosto em Cesar, o que dá ainda mais veracidade à atuação do ator.
Pensando bem, Planeta dos Macacos: A Origem é sim uma surpresa: consegue ser melhor do que eu pensava. A fita não se limita apenas à guerra de símios versus humanos, mas desenha com calma e esperteza toda a evolução, o caminho de Cesar até a revolução. A obra trás também pontos interessantes da própria metalinguagem cinematográfica: até que ponto torcemos pelo "mocinho"? Quem representa o bem e o mal aqui? Tais questões podem soar maniqueístas, mas se tornam interessantes quando percebemos que os humanos são seres desprezíveis - e sabemos disso - e passamos a torcer pelo símio que, sem falar, nos agarra e nos faz pensar como e com ele. E isso é um grande feito dos roteiristas, do diretor, de Serkins e do filme como um todo.
Matheus Pereira
Pipoca Net
2 Anos
2 Anos

De qualquer forma, agradeço você que vem aqui de vez em quando (ou sempre), você que comentou em algum post, que indicou o blog, que o segue de perto; e você que criticou, afinal, seu ponto de vista, absurdo ou não, serviu de alguma coisa.
Com vários posts ou não, peço que siga junto ao Pipoca Net. Acompanhe, leia, comente! São dois anos de puro amor ao Cinema!
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Matheus Pereira
Se Sobrenatural, fita dirigida por James Wan (Jogos Mortais, o único bom exemplar da franquia), não tivesse o final que tem, certamente seria o melhor filme de horror do ano. Claramente dividido em duas partes - o antes e depois da chegada dos paranormais -, Sobrenatural (péssimo título nacional para Insidious) tem em sua primeira parte sustos legítimos. É surpreendente a forma como o diretor carrega sua trama simples e como a transpõe à tela. A tensão é pesada e os sustos não são baratos. Wan soube usar os clichês a seu favor. Se em outras obras a trilha dissonante ecoava alta quando algum vulto surgia na tela, aqui o artifício funciona e sempre somos surpreendidos. Curiosamente produzido por Oren Peli (diretor do superestimado Atividade Paranormal), Sobrenatural acerta em tudo que o longa de 2007 erra. Se aquela fita era prejudicada pela monotonia e pela falta do que mostrar, Sobrenatural explora muito bem a paranormalidade e os fatos. Superior ao filme de Peli, Sobrenatural cria um bom clima de tensão e tem um relativo desenvolvimento de personagens. Ainda que alguns clichês apareçam aqui e ali, é interessante acompanhar a consternação da mãe (Rose Byrne) e a estranha frieza do pai (Patrick Wilson). A primeira parte acerta também ao não ser explícita. Os "seres sobrenaturais" não são completamente mostrados e isso ajuda na construção da trama, diferente do que acontece na segunda parte, em que a explicitação quase prejudica toda a experiência. A segunda metade, a propósito, é infantil. Com explicações absurdas para os fatos e revelações que em nada surpreendem (desde o princípio é possível antecipar as grandes reviravoltas), tudo que é dito nos minutos finais de Sobrenatural pode ser considerado como outro filme. Afinal, é deprimente constatar que todo aquele clima tenso e todo o terror desenhado até ali quase cai por terra ao ver a tentativa dos roteiristas em explicar a obra. Seria melhor se o filme de Wan tivesse quarenta minutos e terminasse sem uma conclusão. Assim, seríamos poupados de toda a explicação e de todo o pavoroso desfecho. Mas tem bons momentos: o pequeno plano sequência em que a câmera acompanha a personagem de Byrne pela casa recém adquirida enquanto um espectro aparece "escondido" em um canto da casa é excelente.
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Um Lugar Qualquer


Eu tento ver algo a mais nos filmes que assisto. É estranho entender, mas sempre tento buscar algo realmente interessante num filme. Se o exemplar que estou assistindo é excelente, tento melhorá-lo com novas descobertas. Mas às vezes não consigo. Às vezes os filmes estão ali e são aquilo mesmo, nada mais. Eles tentam ser algo mais, mas não passam de filmes interessantes que contam alguma história. Um Lugar Qualquer, último de Sofia Coppola (do fabuloso Encontros e Desencontros), é um exemplo desses filmes. Eu tentei enxergar algo mais profundo na análise de seu personagem central, mas não achei muita coisa. Talvez seja antipatia para com a obra, e entendam, eu gostei do filme, só não consigo ver muita coisa. A impressão que tive ao término da fita, era de que a diretora/roteirista tentara mostrar muita coisa, tentara esculpir um personagem complexo, mas que derrapara na falta de tempero. O silêncio e a estagnação que diretora impõe em vários momentos, por exemplo, às vezes incomodam. Por mais que as várias voltas de carro logo no início e a cena em que o ator é submetido ao demorado processo de maquiagem possam dizer muitas coisas, alguns momentos soam triviais e sem muito propósito. É interessante acompanhar a rotina do ator de filmes de ação interpretado surpreendentemente por Stephen Dorf e como sua vida muda com a chegada repentina da filha de onze anos, mas chega um ponto que alguns detalhes cansam. É compreensível a monotonia e o tédio em vários instantes, afinal, estamos acompanhando a vida de alguém que, assim como a minha e a sua, tem seus momentos chatos, mas a insistência de Coppola aqui depõe contra o resultado final. Ainda assim, Um Lugar Qualquer merece uma conferida. É um bom estudo de personagem e um filme, de uma maneira ou outra, agradável. Há de se entrar no ritmo da diretora apenas.
Matheus Pereira
Crítica - Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
0 comentários Postado por Matheus Pereira às 15:07Crítica - Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2


Há uma magia na série Harry Potter que fez com que esta durasse dez anos. Não a magia vista nos filmes, com pinturas que se mexem; carros que voam; salgueiros que lutam; mas sim, uma magia pura, simples e inestimável. Algo que ninguém - nem mesmo os responsáveis pela série - pode explicar. A magia a qual me refiro é aquela que moveu uma legião de fãs durante anos e anos; aquela que incentivou crianças a lerem e a escreverem; aquela que apresentou a fantasia e ativou a imaginação na mente de várias pessoas, de diversas idades; aquela incomparável magia que hoje faz com que várias pessoas derramem lágrimas sinceras durante o último e derradeiro filme da maior saga cinematográfica de todos os tempos.
E não tenho medo algum ao usar superlativos aqui; afinal, não há como negar o valor histórico e o impacto cultural que a série Harry Potter causou no mundo inteiro. Sendo fã da série ou não, amando ou odiando os livros e filmes, deve-se reconhecer que nenhuma outra franquia alcançou o que Harry Potter alcançou. Em 2001 (como o tempo passa rápido!), quando o primeiro capítulo da saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal, chegou aos cinemas, pelas mãos de Chris Columbus, ninguém imaginava o que aquela obra representaria para o Cinema e para o público. Lançado uma semana antes de O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, é importante salientar que, mesmo "concorrendo" com o épico arrebatador de Peter Jackson, o bruxinho arrecadou quase um bilhão nas bilheterias. Feito notável, visto que o primeiro capítulo da trilogia do anel é um enorme sucesso de público e crítica e, cinematograficamente falando, muito melhor que o exemplar dirigido por Columbus. Começava ali a maior e mais lucrativa franquia do Cinema. Quem poderia imaginar que estaríamos aqui, hoje, vendo e comentando sobre o último filme da série? Alguém pensou que chegaria até aqui? Talvez ninguém imaginou o quão emocionante e doloroso seria se despedir de personagens que aprendemos a gostar; personagens que o tempo se encarregou de torná-los praticamente reais.
Mas que fique claro: deixo meu "lado fã" de lado para analisar o último filme de maneira consciente e justa. Apesar de adorar cada filme, nunca fechei meus olhos para os erros e tropeços de cada um. O fato é que Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 é extremamente satisfatório, e os pequenos erros que eventualmente surgem em uma adaptação, em nada interferem no resultado final. David Yates prova, definitivamente, que foi o diretor que mais soube captar a essência dos livros e imprimi-la na tela. Talvez seja o diretor - juntamente a Alfonso Cuarón - que melhor entendeu o universo criado por J.K. Rowling. Responsável pela série desde o quinto filme, Yates só acrescentou coisas boas: o realismo bem mais acentuado e o clima de urgência e perigo são as colaborações de maior valor. O espectador pôde sentir a ameaça que Voldemort causava apenas a partir do quinto filme (o final do quarto capítulo, dirigido por Mike Newell, já dava sinais disso). Desde então, uma espiral crescente de terror e tensão tomou conta daquela franquia que, até então, era alegre, nada opressora e divertida.
As duas partes de Relíquias da Morte formam, indubitavelmente, um grande filme. O melhor exemplar da franquia, sem dúvida. A primeira parte, lenta e contemplativa, mostrava uma face de Harry Potter até então inexplorada. A angústia dos personagens virou foco principal, e a ação e os efeitos especiais deixados de lado. Algumas características do primeiro fragmento podem ser encontradas nos primeiros minutos desta segunda parte. Porém, logo em seguida, a Parte 2 assume um caráter bem diferente de seu anterior. Repleto de ação e uma urgência sufocante, o filme leva o espectador numa montanha russa de emoções muito divertida, e a sequência do Gringotes é um dos melhores momentos de toda a saga. De repente, já estamos em Hogwarts. E a grande batalha se aproxima. Graficamente violenta e emocionalmente profunda, a grande guerra na escola de magia e bruxaria é um espetáculo. David Yates concebe cenas deslumbrantes e sequências dignas de um épico.
Mas Harry Potter 7.2 não é só ação e diversão. Pelo contrário. Os personagens são os mais importantes. Acima de tudo: os reflexos da guerra em cada um é o que mais impressiona. Cansados e feridos, pais, alunos e professores lutam e sofrem a cada momento. E ainda que seja uma batalha com varinhas e feitiços, é impossível não acreditar em cada frame, tamanha a carga emocional e o realismo investidos. Yates e o roteirista Steve Kloves se preocupam com os sentimentos e com o desenvolvimento dos personagens, e talvez pela primeira vez em toda a saga, certos personagens têm o devido espaço. Snape (Alan Rickman, em atuação excepcional), diferente do que acontece na primeira parte, tem grande espaço, podendo ser considerado como um dos grandes pontos do filme. A professora Minerva McGonagall (Maggie Smith) finalmente tem alguns segundos a mais em cena e protagoniza, justamente com Rickman/Snape, um dos melhores momentos da fita. O trio central está, como nunca antes, excelente. Com destaque para Daniel Radcliffe que enfim mostra total domínio sobre o personagem.
Do ponto de vista técnico, 7.2 é excelente. A fotografia de Eduardo Serra é belíssima, e Hogwarts nunca foi tão surpreendente e o ambiente nunca tão assustador. A batalha, cuja maior parte do tempo se passa a noite, é lindamente fotografada; as luzes e cores, aliadas aos belos quadros de Yates, formam grandes e impactantes imagens. A trilha sonora é soberba. Alexandre Desplat supera o excelente trabalho feito na primeira parte e entrega uma trilha melancólica, vibrante e acolhedora em vários momentos. E se os fãs clamam por indicações ao Oscar, Desplat é o grande merecedor de tal mérito. Já os efeitos especiais, ainda que ótimos na maioria das sequências, não funcionam em alguns pontos, como na parte em que os personagens saem da Sala Precisa e num momento chave do grande duelo entre Harry e Voldemort. Extremamente fiel ao livro, Kloves soube abordar vários aspectos da obra e soube amarrar com inteligência várias pontas soltas, e é admirável o feito do roteirista, já que o último livro é um dos mais complicados e repleto de detalhes importantes. A única falha é o descarte do passado de Dumbledore. Os maiores segredos do passado do poderoso bruxo foram omitidos. Toda a relação dele com a irmã e com outro poderoso bruxo foram deixadas de lado (quem leu o livro saberá do que estou falando).
Mas aqui, devo citar algo mais pessoal sobre o grande final de Harry Potter: eu nunca vi, em nenhuma outra ocasião, uma emoção tão forte dentro da sala de cinema. A comoção, a angustia, o choro nunca foram tão evidentes como desta vez. Vi fãs e admiradores do bom cinema ficarem presos à poltrona, acompanhando de perto cada segundo do emocionante capítulo final. Os soluços de cada fã, a dor da despedida... Nunca uma sessão foi tão emocionante. Confesso que segurei as lágrimas várias vezes; o ápice da emoção acontece em um momento inesperado para muitos: o fim de Severo Snape. É óbvio que não contarei o que acontece, só deixo o aviso: as sequências são arrebatadoras e impressionantes. Yates, que antes pecava na despedida de certos personagens e nunca gostou de fortes emoções, agora e se rende e capricha (ainda que falhe numa das passagens mais importantes, protagonizada por Harry e o antigo diretor de Hogwarts). Surpreendentemente violento (a morte de dois personagens - um importantíssimo, e outro nem tanto - em si, são inacreditáveis), a todo instante vemos cadáveres e uma quantidade considerável de sangue, 7.2 alcança uma maturidade e complexidade emocional invejável.
A triste despedida já passou. Foi difícil. O que ficou foi um imenso vazio. Peço desculpas se a resenha ficou demasiado longa, mas a ocasião pedia algo mais completo. Foi triste ver aquelas figuras, que acompanhamos por tantos anos, ficarem para trás. Foi um estranho misto de tristeza e alegria ouvir o tema da saga ecoando nos créditos finais. Não posso afirmar, pois o tempo é remoto e imprevisível, mas duvido, realmente, que algo como Harry Potter surja novamente nos cinemas e na literatura. Tenho orgulho de dizer, com uma tristeza inimaginável no coração: eu cresci com Harry Potter.
E não tenho medo algum ao usar superlativos aqui; afinal, não há como negar o valor histórico e o impacto cultural que a série Harry Potter causou no mundo inteiro. Sendo fã da série ou não, amando ou odiando os livros e filmes, deve-se reconhecer que nenhuma outra franquia alcançou o que Harry Potter alcançou. Em 2001 (como o tempo passa rápido!), quando o primeiro capítulo da saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal, chegou aos cinemas, pelas mãos de Chris Columbus, ninguém imaginava o que aquela obra representaria para o Cinema e para o público. Lançado uma semana antes de O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, é importante salientar que, mesmo "concorrendo" com o épico arrebatador de Peter Jackson, o bruxinho arrecadou quase um bilhão nas bilheterias. Feito notável, visto que o primeiro capítulo da trilogia do anel é um enorme sucesso de público e crítica e, cinematograficamente falando, muito melhor que o exemplar dirigido por Columbus. Começava ali a maior e mais lucrativa franquia do Cinema. Quem poderia imaginar que estaríamos aqui, hoje, vendo e comentando sobre o último filme da série? Alguém pensou que chegaria até aqui? Talvez ninguém imaginou o quão emocionante e doloroso seria se despedir de personagens que aprendemos a gostar; personagens que o tempo se encarregou de torná-los praticamente reais.
Mas que fique claro: deixo meu "lado fã" de lado para analisar o último filme de maneira consciente e justa. Apesar de adorar cada filme, nunca fechei meus olhos para os erros e tropeços de cada um. O fato é que Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 é extremamente satisfatório, e os pequenos erros que eventualmente surgem em uma adaptação, em nada interferem no resultado final. David Yates prova, definitivamente, que foi o diretor que mais soube captar a essência dos livros e imprimi-la na tela. Talvez seja o diretor - juntamente a Alfonso Cuarón - que melhor entendeu o universo criado por J.K. Rowling. Responsável pela série desde o quinto filme, Yates só acrescentou coisas boas: o realismo bem mais acentuado e o clima de urgência e perigo são as colaborações de maior valor. O espectador pôde sentir a ameaça que Voldemort causava apenas a partir do quinto filme (o final do quarto capítulo, dirigido por Mike Newell, já dava sinais disso). Desde então, uma espiral crescente de terror e tensão tomou conta daquela franquia que, até então, era alegre, nada opressora e divertida.
As duas partes de Relíquias da Morte formam, indubitavelmente, um grande filme. O melhor exemplar da franquia, sem dúvida. A primeira parte, lenta e contemplativa, mostrava uma face de Harry Potter até então inexplorada. A angústia dos personagens virou foco principal, e a ação e os efeitos especiais deixados de lado. Algumas características do primeiro fragmento podem ser encontradas nos primeiros minutos desta segunda parte. Porém, logo em seguida, a Parte 2 assume um caráter bem diferente de seu anterior. Repleto de ação e uma urgência sufocante, o filme leva o espectador numa montanha russa de emoções muito divertida, e a sequência do Gringotes é um dos melhores momentos de toda a saga. De repente, já estamos em Hogwarts. E a grande batalha se aproxima. Graficamente violenta e emocionalmente profunda, a grande guerra na escola de magia e bruxaria é um espetáculo. David Yates concebe cenas deslumbrantes e sequências dignas de um épico.
Mas Harry Potter 7.2 não é só ação e diversão. Pelo contrário. Os personagens são os mais importantes. Acima de tudo: os reflexos da guerra em cada um é o que mais impressiona. Cansados e feridos, pais, alunos e professores lutam e sofrem a cada momento. E ainda que seja uma batalha com varinhas e feitiços, é impossível não acreditar em cada frame, tamanha a carga emocional e o realismo investidos. Yates e o roteirista Steve Kloves se preocupam com os sentimentos e com o desenvolvimento dos personagens, e talvez pela primeira vez em toda a saga, certos personagens têm o devido espaço. Snape (Alan Rickman, em atuação excepcional), diferente do que acontece na primeira parte, tem grande espaço, podendo ser considerado como um dos grandes pontos do filme. A professora Minerva McGonagall (Maggie Smith) finalmente tem alguns segundos a mais em cena e protagoniza, justamente com Rickman/Snape, um dos melhores momentos da fita. O trio central está, como nunca antes, excelente. Com destaque para Daniel Radcliffe que enfim mostra total domínio sobre o personagem.
Do ponto de vista técnico, 7.2 é excelente. A fotografia de Eduardo Serra é belíssima, e Hogwarts nunca foi tão surpreendente e o ambiente nunca tão assustador. A batalha, cuja maior parte do tempo se passa a noite, é lindamente fotografada; as luzes e cores, aliadas aos belos quadros de Yates, formam grandes e impactantes imagens. A trilha sonora é soberba. Alexandre Desplat supera o excelente trabalho feito na primeira parte e entrega uma trilha melancólica, vibrante e acolhedora em vários momentos. E se os fãs clamam por indicações ao Oscar, Desplat é o grande merecedor de tal mérito. Já os efeitos especiais, ainda que ótimos na maioria das sequências, não funcionam em alguns pontos, como na parte em que os personagens saem da Sala Precisa e num momento chave do grande duelo entre Harry e Voldemort. Extremamente fiel ao livro, Kloves soube abordar vários aspectos da obra e soube amarrar com inteligência várias pontas soltas, e é admirável o feito do roteirista, já que o último livro é um dos mais complicados e repleto de detalhes importantes. A única falha é o descarte do passado de Dumbledore. Os maiores segredos do passado do poderoso bruxo foram omitidos. Toda a relação dele com a irmã e com outro poderoso bruxo foram deixadas de lado (quem leu o livro saberá do que estou falando).
Mas aqui, devo citar algo mais pessoal sobre o grande final de Harry Potter: eu nunca vi, em nenhuma outra ocasião, uma emoção tão forte dentro da sala de cinema. A comoção, a angustia, o choro nunca foram tão evidentes como desta vez. Vi fãs e admiradores do bom cinema ficarem presos à poltrona, acompanhando de perto cada segundo do emocionante capítulo final. Os soluços de cada fã, a dor da despedida... Nunca uma sessão foi tão emocionante. Confesso que segurei as lágrimas várias vezes; o ápice da emoção acontece em um momento inesperado para muitos: o fim de Severo Snape. É óbvio que não contarei o que acontece, só deixo o aviso: as sequências são arrebatadoras e impressionantes. Yates, que antes pecava na despedida de certos personagens e nunca gostou de fortes emoções, agora e se rende e capricha (ainda que falhe numa das passagens mais importantes, protagonizada por Harry e o antigo diretor de Hogwarts). Surpreendentemente violento (a morte de dois personagens - um importantíssimo, e outro nem tanto - em si, são inacreditáveis), a todo instante vemos cadáveres e uma quantidade considerável de sangue, 7.2 alcança uma maturidade e complexidade emocional invejável.
A triste despedida já passou. Foi difícil. O que ficou foi um imenso vazio. Peço desculpas se a resenha ficou demasiado longa, mas a ocasião pedia algo mais completo. Foi triste ver aquelas figuras, que acompanhamos por tantos anos, ficarem para trás. Foi um estranho misto de tristeza e alegria ouvir o tema da saga ecoando nos créditos finais. Não posso afirmar, pois o tempo é remoto e imprevisível, mas duvido, realmente, que algo como Harry Potter surja novamente nos cinemas e na literatura. Tenho orgulho de dizer, com uma tristeza inimaginável no coração: eu cresci com Harry Potter.
Matheus Pereira
Cannes 2011
Eis os vencedores do Festival de Cannes 2011. Ano de algumas polêmicas, ótimos filmes, fracassos, vaias e aplausos; em outras palavras: o costumeiro Festival de Cannes.
Prêmio Palma de Ouro: "A árvore da vida", de Terrence Malick
Melhor Atriz: Kirsten Dunst, por "Melancolia"
Melhor Ator: Jean Dujardin, por "The artist"
Melhor Diretor: Nicolas Winding Refn, por "Drive"
Melhor Roteiro: "Footnote", de Hearat Shulayim
Grande prêmio: "Garoto de bicicleta" e "Once upon a time in anatolia", de Nuri Bilge Ceylan .
Melhor Curta-metragem: "Cross country", de Marina Vroda
Prêmio Câmera de Ouro (para o diretor estreante em Cannes): "Las acacias", de Pablo Giorgelli
Prêmio de júri: "Polisse", de Maiwenn Le Besc
Prêmio Palma de Ouro: "A árvore da vida", de Terrence Malick
Melhor Atriz: Kirsten Dunst, por "Melancolia"
Melhor Ator: Jean Dujardin, por "The artist"
Melhor Diretor: Nicolas Winding Refn, por "Drive"
Melhor Roteiro: "Footnote", de Hearat Shulayim
Grande prêmio: "Garoto de bicicleta" e "Once upon a time in anatolia", de Nuri Bilge Ceylan .
Melhor Curta-metragem: "Cross country", de Marina Vroda
Prêmio Câmera de Ouro (para o diretor estreante em Cannes): "Las acacias", de Pablo Giorgelli
Prêmio de júri: "Polisse", de Maiwenn Le Besc
Crítica - "Thor"


A colcha de retalhos que a Marvel costura desde Homem de Ferro, em 2008, ganha mais uma peça com Thor, o Deus do Trovão, filho de Odin. É claro que as ideias vindas das mentes da Marvel são ótimas, os detalhes que unem os filmes são excelentes, mas ás vezes tudo parece um prólogo para o que vai acontecer em Os Vingadores, que será o momento em que todos os herois se reúnem. A preocupação dos produtores em largar pistas no decorrer do filme, ainda que interessantes, muitas vezes desviam a atenção do espectador, como a breve aparição do Gavião Arqueiro ou as constantes referências a Tony Stark. Esses detalhes fazem Thor parecer uma simples peça de um quebra-cabeça, e não um filme solo de um interessante super-heroi. Mas este detalhe não prejudica a nova investida da produtora em seu universo graças ao ótimo elenco, a produção caprichada e a ótima direção de Kenneth Branagh.
Thor (Chris Hemsworth) estava prestes a receber o comando de Asgard das mãos de seu pai Odin (Anthony Hopkins) quando forças inimigas quebraram um acordo de paz. Disposto a se vingar do ocorrido, o jovem guerreiro desobedece as ordens do rei e quase dá início a uma nova guerra entre os reinos. Enfurecido com a atitude do filho e herdeiro, Odin retira seus poderes e o expulsa para a Terra. Lá, Thor acaba conhecendo a cientista Jane Foster (Natalie Portman) e precisa recuperar seu martelo, enquanto seu irmão Loki (Tom Hiddleston) elabora um plano para assumir o poder. A trama parece infantil, mas tal adjetivo não diz respeito ao roteiro e, sim, às versões originais de Thor. O conflito entre irmãos: o mau que deseja roubar o poder do bom (que é o favorito do pai) e todos os fatos que vêm acarretados; tudo é um clichê, mas bem utilizado em Thor, em parte pelo mundo em que tal conflito é ambientado, cheio de Deuses e cenários grandiosos, em parte pelo roteiro coeso escrito a quatro (!) mãos.
O grande acerto de Thor, desde o início, foi a contratação de Kenneth Branagh para o comando da fita. O cineasta, conhecidamente shakespeariano, que levou às telas Hamlet e Henrique V, usa todo o seu conhecimento acerca da mitologia e dos conflitos familiares para dar vida ao deus nórdico Thor. É bem verdade, diga-se, que Branagh exagera em alguns vícios (como o constante uso de planos inclinados), porém, o diretor enche os olhos do espectador com cenas vertiginosas e espetaculares. A sequência em Jotunheim, reino dos Gigantes de Gelo, por exemplo, é sensacional e certamente um dos melhores pontos do filme. Branagh, diferente de muitos cineastas, sabe manusear a câmera e fundir - sem confundir o espectador - efeitos visuais com cenários e pessoas reais. A sequência é eletrizante e divertida, o cartão de visitas perfeito. É nesse momento que Branagh mostra que é capaz de comandar uma aventura do cacife de Thor e prende o espectador levando-nos a uma emocionante aventura que passa pelo reino gelado de Jotunheim, pelo soberbo mundo de Asgard (o design é perfeito, e o longa poderia se passar inteiramente no reino governado por Odin) e pela Terra, onde o todo-poderoso Deus do Trovão conhece seu affair, Jane Foster (Natalie Portman).
O elenco é um grande acerto. Chris Hemsworth é carismático e talentoso, e as dúvidas acerca da capacidade do ator caem por terra ao ver que o australiano sabe segurar o filme praticamente sozinho. As presenças de Kat Dennings e Stellan Skarsgård, ainda que secundárias, são interessantes. O único "porém" é Natalie Portman. O papel da atriz é pequeno, simples e mal desenvolvido. O relacionamento entre Thor e sua cientista é superficial, e, ainda que a atriz se esforce, o público não consegue sentir empatia por sua personagem, já que pouca coisa relevante sobre ela é dito. Anthony Hopkins, ainda que pareça atuar no piloto automático, parece, ao menos, se divertir interpretando Odin, e o velho Hannibal Lecter na pele do rei de Asgard é, certamente, a escolha mais acertada da produção. A surpresa mesmo fica por conta de Tom Hiddleston, que interpreta Loki, meio-irmão de Thor e vilão da história. Hiddleston concebe um interessante antagonista e seu maior feito foi não deixar que seu personagem se tornasse uma figura caricata, um mero vilão de quadrinhos. O talento do ator também impede que seu personagem, claramente um clichê ambulante na mitologia de Thor, se torne algo fútil na trama.
Tecnicamente irrepreensível e com bom roteiro (uma falha aqui e ali, mas nada que prejudique o resultado final), Thor é divertido e certamente uma das mais interessantes peças do quebra-cabeça da Marvel. É sempre bom ver um blockbuster do tamanho de Thor ter esse tratamento, repleto de boas escolhas e boas ideias. Depois desse ótimo exemplar, resta esperar pela óbvia sequência e por Capitão América, que estreia no badalado verão americano. A única certeza é que o super soldado vai ter que rebolar para ser melhor que Thor, e Chris Evans talvez seja ofuscado quando Os Vingadores aportarem nos cinemas, afinal, Robert Downey Jr. e Chris Hemsworth também estarão lá. Um defendendo sua armadura, o outro seu martelo. No meio de tantos astros, há o talentoso Mark Ruffalo. É, Chris Evans também vai ter que rebolar. Mas isso é outra peça nesse interessante mosaico de herois.
Matheus Pereira
Crítica - "Os Agentes do Destino"


As obras de Philip K. Dick parecem pedir para serem adaptadas para o cinema. Os textos do autor são, na falta de uma palavra melhor, cinematográficos; parece que foram concebidos com o intuito de serem adaptados. "Blade Runner", de Ridley Scott, "Minority Report", de Steven Spielberg, "O Homem Duplo", de Richard Linklater, são alguns exemplos de adaptações de seus textos. Recentemente, George Nolfi (roteirista de "Doze Homens e outro Segredo" e "O Ultimato Bourne", por exemplo) roteirizou e dirigiu "Os Agentes do Destino", mistura de romance e ficção científica bem ao estilo de Dick. "Os Agentes do Destino", assim como outras adaptações das obras do escritor, é um filme que lida com assuntos delicados. Os temas não são tabus ou tópicos para longos debates, mas as histórias exigem bom senso e, muitas vezes, paciência do espectador. Ainda que a ficção científica seja um terreno onde os autores e diretores podem brincar tranquilamente, é difícil crer em "anjos" que usam chapéu e controlam o destino a mando de Deus. Alguns detalhes fazem com que a obra perca um pouco da seriedade, tendo em vista o cenário onde tudo ocorre, mas nada que interfira no resultado final.
A trama é interessante: David Norris (Matt Damon) é um político. Sozinho no mundo desde cedo, Norris parece ter achado suas razões de ser e é o favorito a ocupar um importante cargo da política americana. Porém, antes da eleição, alguns fatos antigos vêm à tona, e Norris acaba perdendo votos, sendo assim derrotado. No dia da derrota, Norris conhece Elise Sellas (Emily Blunt), uma dançarina que desperta um amor quase inacreditável no congressista. Alguns dias depois eles se reencontram num ônibus, e aí as coisas complicam. Norris não pode ficar com Elise. Segundo os agentes do destino (anjos, em outras palavras), Elise não fará bem ao político e será a causa da derrocada de todos os seus sonhos. Seguindo os planos de "Deus" (ou Presidente, como é dito no longa), os agentes fazem de tudo para impedir o relacionamento do casal. Com detalhes interessantes e um bom embasamento, "Os Agentes do Destino" é um ótimo entretenimento inteligente, que só peca por ser absurdo e implausível em certos instantes.
É difícil acreditar, por exemplo, na rapidez com que o amor entre o casal floresce. Ainda que tal amor estivesse escrito nos planos, predestinado há muito tempo, chega a ser absurdo a velocidade com que as coisas acontecem. Tal absurdo só não é insuportável graças à incrível dinâmica entre Damon e Blunt. Os improvisos e a química entre a dupla é tanta, que a veracidade do relacionamento se deve apenas aos dois. O casal exala carisma, e o espectador acaba torcendo pelo futuro de ambos. A existência dos agentes, por exemplo, soa mais crível, afinal, sabemos que se trata de uma peça ficcional da trama, algo irreal que só existe na obra cinematográfica. Ao ver o "anjos" de chapéu, impossível não lembrar os observadores de "Fringe", que no seriado desempenham praticamente a mesma função.
Como dito, "Os Agentes do Destino" é um ótimo entretenimento, mas nunca esquece a história em prol da ação. O objetivo da fita é o suspense e o romance, dosando, entre os gêneros, algumas cenas mais intensas e um humor agradável. Sem tentar ser mais inteligente do que é e sem ser didático, "Os Agentes do Destino" não desperta longas discussões ou intensas reflexões, é um produto divertido com boas doses de criatividade e inteligência. Nolfi, que estreia na direção, não acrescenta nada de novo ao gênero e faz o serviço como deve ser feito, muitas vezes apenas posicionando a câmera e deixando os bons atores fazendo o resto.
"Os Agentes do Destino" é uma boa dica para uma sessão no sábado à noite, ou depois de um longo dia de trabalho ou estudo. É uma fita descompromissada divertida e centrada, não exige muito do espectador, porém não o trata com retardado.
Matheus Pereira
Especial - Zack Snyder - "A Lenda dos Guardiões"


Com "A Lenda dos Guardiões", Zack Snyder prova, de uma vez por todas, que é um cineasta que liga mais para a estética de seus filmes do que para o roteiro. As tramas de suas obras não são terríveis ou desinteressantes, mas não possuem o escopo, a força que outros filmes têm. "A Lenda dos Guardiões", por exemplo, poderia seguir os rumos da infalível Pixar e ser uma animação profunda cheia de nuances e interpretações. Mas o que se tem é um belíssimo filme que até tenta alçar alguns voos mais altos, mas que fica num terreno seguro que faz com que se iguale a outras produções do gênero. "A Lenda dos Guardiões" (primeira animação de Snyder e concebida simultaneamente a "Sucker Punch") é - e não tenho medo de afirmar - a animação mais linda do ano passado. As imagens impressionam e o uso constante da câmera lenta não incomoda tanto, pois o espectador entra na onda do diretor e se vicia nos maneirismos do cineasta. Se Snyder se diverte e se deslumbra com a câmera e com o que os computadores podem fazer com uma animação, nós nos divertimos e nos deslumbramos com belos quadros em movimento. O realismo quase tátil da animação a eleva num patamar invejável, patamar esse tão respeitável que faz com que esqueçamos os vários erros do roteiro. Clichê e ousado na mesma medida (corujas não são os animais mais carismáticos do mundo e fazê-las críveis e interessantes deve ser um trabalho difícil), "A Lenda dos Guardiões" falha principalmente por ser uma animação que não sabe se direciona suas ideias para o público jovem ou para os adultos, já que sua violência e algumas passagens em nada lembram filmes infantis. "A Lenda dos Guardiões" é um filme interessante e belo, ainda que frágil na sua estrutura.
Matheus Pereira
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