Crítica - Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
Há uma magia na série Harry Potter que fez com que esta durasse dez anos. Não a magia vista nos filmes, com pinturas que se mexem; carros que voam; salgueiros que lutam; mas sim, uma magia pura, simples e inestimável. Algo que ninguém - nem mesmo os responsáveis pela série - pode explicar. A magia a qual me refiro é aquela que moveu uma legião de fãs durante anos e anos; aquela que incentivou crianças a lerem e a escreverem; aquela que apresentou a fantasia e ativou a imaginação na mente de várias pessoas, de diversas idades; aquela incomparável magia que hoje faz com que várias pessoas derramem lágrimas sinceras durante o último e derradeiro filme da maior saga cinematográfica de todos os tempos.
E não tenho medo algum ao usar superlativos aqui; afinal, não há como negar o valor histórico e o impacto cultural que a série Harry Potter causou no mundo inteiro. Sendo fã da série ou não, amando ou odiando os livros e filmes, deve-se reconhecer que nenhuma outra franquia alcançou o que Harry Potter alcançou. Em 2001 (como o tempo passa rápido!), quando o primeiro capítulo da saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal, chegou aos cinemas, pelas mãos de Chris Columbus, ninguém imaginava o que aquela obra representaria para o Cinema e para o público. Lançado uma semana antes de O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, é importante salientar que, mesmo "concorrendo" com o épico arrebatador de Peter Jackson, o bruxinho arrecadou quase um bilhão nas bilheterias. Feito notável, visto que o primeiro capítulo da trilogia do anel é um enorme sucesso de público e crítica e, cinematograficamente falando, muito melhor que o exemplar dirigido por Columbus. Começava ali a maior e mais lucrativa franquia do Cinema. Quem poderia imaginar que estaríamos aqui, hoje, vendo e comentando sobre o último filme da série? Alguém pensou que chegaria até aqui? Talvez ninguém imaginou o quão emocionante e doloroso seria se despedir de personagens que aprendemos a gostar; personagens que o tempo se encarregou de torná-los praticamente reais.
Mas que fique claro: deixo meu "lado fã" de lado para analisar o último filme de maneira consciente e justa. Apesar de adorar cada filme, nunca fechei meus olhos para os erros e tropeços de cada um. O fato é que Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 é extremamente satisfatório, e os pequenos erros que eventualmente surgem em uma adaptação, em nada interferem no resultado final. David Yates prova, definitivamente, que foi o diretor que mais soube captar a essência dos livros e imprimi-la na tela. Talvez seja o diretor - juntamente a Alfonso Cuarón - que melhor entendeu o universo criado por J.K. Rowling. Responsável pela série desde o quinto filme, Yates só acrescentou coisas boas: o realismo bem mais acentuado e o clima de urgência e perigo são as colaborações de maior valor. O espectador pôde sentir a ameaça que Voldemort causava apenas a partir do quinto filme (o final do quarto capítulo, dirigido por Mike Newell, já dava sinais disso). Desde então, uma espiral crescente de terror e tensão tomou conta daquela franquia que, até então, era alegre, nada opressora e divertida.
As duas partes de Relíquias da Morte formam, indubitavelmente, um grande filme. O melhor exemplar da franquia, sem dúvida. A primeira parte, lenta e contemplativa, mostrava uma face de Harry Potter até então inexplorada. A angústia dos personagens virou foco principal, e a ação e os efeitos especiais deixados de lado. Algumas características do primeiro fragmento podem ser encontradas nos primeiros minutos desta segunda parte. Porém, logo em seguida, a Parte 2 assume um caráter bem diferente de seu anterior. Repleto de ação e uma urgência sufocante, o filme leva o espectador numa montanha russa de emoções muito divertida, e a sequência do Gringotes é um dos melhores momentos de toda a saga. De repente, já estamos em Hogwarts. E a grande batalha se aproxima. Graficamente violenta e emocionalmente profunda, a grande guerra na escola de magia e bruxaria é um espetáculo. David Yates concebe cenas deslumbrantes e sequências dignas de um épico.
Mas Harry Potter 7.2 não é só ação e diversão. Pelo contrário. Os personagens são os mais importantes. Acima de tudo: os reflexos da guerra em cada um é o que mais impressiona. Cansados e feridos, pais, alunos e professores lutam e sofrem a cada momento. E ainda que seja uma batalha com varinhas e feitiços, é impossível não acreditar em cada frame, tamanha a carga emocional e o realismo investidos. Yates e o roteirista Steve Kloves se preocupam com os sentimentos e com o desenvolvimento dos personagens, e talvez pela primeira vez em toda a saga, certos personagens têm o devido espaço. Snape (Alan Rickman, em atuação excepcional), diferente do que acontece na primeira parte, tem grande espaço, podendo ser considerado como um dos grandes pontos do filme. A professora Minerva McGonagall (Maggie Smith) finalmente tem alguns segundos a mais em cena e protagoniza, justamente com Rickman/Snape, um dos melhores momentos da fita. O trio central está, como nunca antes, excelente. Com destaque para Daniel Radcliffe que enfim mostra total domínio sobre o personagem.
Do ponto de vista técnico, 7.2 é excelente. A fotografia de Eduardo Serra é belíssima, e Hogwarts nunca foi tão surpreendente e o ambiente nunca tão assustador. A batalha, cuja maior parte do tempo se passa a noite, é lindamente fotografada; as luzes e cores, aliadas aos belos quadros de Yates, formam grandes e impactantes imagens. A trilha sonora é soberba. Alexandre Desplat supera o excelente trabalho feito na primeira parte e entrega uma trilha melancólica, vibrante e acolhedora em vários momentos. E se os fãs clamam por indicações ao Oscar, Desplat é o grande merecedor de tal mérito. Já os efeitos especiais, ainda que ótimos na maioria das sequências, não funcionam em alguns pontos, como na parte em que os personagens saem da Sala Precisa e num momento chave do grande duelo entre Harry e Voldemort. Extremamente fiel ao livro, Kloves soube abordar vários aspectos da obra e soube amarrar com inteligência várias pontas soltas, e é admirável o feito do roteirista, já que o último livro é um dos mais complicados e repleto de detalhes importantes. A única falha é o descarte do passado de Dumbledore. Os maiores segredos do passado do poderoso bruxo foram omitidos. Toda a relação dele com a irmã e com outro poderoso bruxo foram deixadas de lado (quem leu o livro saberá do que estou falando).
Mas aqui, devo citar algo mais pessoal sobre o grande final de Harry Potter: eu nunca vi, em nenhuma outra ocasião, uma emoção tão forte dentro da sala de cinema. A comoção, a angustia, o choro nunca foram tão evidentes como desta vez. Vi fãs e admiradores do bom cinema ficarem presos à poltrona, acompanhando de perto cada segundo do emocionante capítulo final. Os soluços de cada fã, a dor da despedida... Nunca uma sessão foi tão emocionante. Confesso que segurei as lágrimas várias vezes; o ápice da emoção acontece em um momento inesperado para muitos: o fim de Severo Snape. É óbvio que não contarei o que acontece, só deixo o aviso: as sequências são arrebatadoras e impressionantes. Yates, que antes pecava na despedida de certos personagens e nunca gostou de fortes emoções, agora e se rende e capricha (ainda que falhe numa das passagens mais importantes, protagonizada por Harry e o antigo diretor de Hogwarts). Surpreendentemente violento (a morte de dois personagens - um importantíssimo, e outro nem tanto - em si, são inacreditáveis), a todo instante vemos cadáveres e uma quantidade considerável de sangue, 7.2 alcança uma maturidade e complexidade emocional invejável.
A triste despedida já passou. Foi difícil. O que ficou foi um imenso vazio. Peço desculpas se a resenha ficou demasiado longa, mas a ocasião pedia algo mais completo. Foi triste ver aquelas figuras, que acompanhamos por tantos anos, ficarem para trás. Foi um estranho misto de tristeza e alegria ouvir o tema da saga ecoando nos créditos finais. Não posso afirmar, pois o tempo é remoto e imprevisível, mas duvido, realmente, que algo como Harry Potter surja novamente nos cinemas e na literatura. Tenho orgulho de dizer, com uma tristeza inimaginável no coração: eu cresci com Harry Potter.
E não tenho medo algum ao usar superlativos aqui; afinal, não há como negar o valor histórico e o impacto cultural que a série Harry Potter causou no mundo inteiro. Sendo fã da série ou não, amando ou odiando os livros e filmes, deve-se reconhecer que nenhuma outra franquia alcançou o que Harry Potter alcançou. Em 2001 (como o tempo passa rápido!), quando o primeiro capítulo da saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal, chegou aos cinemas, pelas mãos de Chris Columbus, ninguém imaginava o que aquela obra representaria para o Cinema e para o público. Lançado uma semana antes de O Senhor dos Anéis - A Sociedade do Anel, é importante salientar que, mesmo "concorrendo" com o épico arrebatador de Peter Jackson, o bruxinho arrecadou quase um bilhão nas bilheterias. Feito notável, visto que o primeiro capítulo da trilogia do anel é um enorme sucesso de público e crítica e, cinematograficamente falando, muito melhor que o exemplar dirigido por Columbus. Começava ali a maior e mais lucrativa franquia do Cinema. Quem poderia imaginar que estaríamos aqui, hoje, vendo e comentando sobre o último filme da série? Alguém pensou que chegaria até aqui? Talvez ninguém imaginou o quão emocionante e doloroso seria se despedir de personagens que aprendemos a gostar; personagens que o tempo se encarregou de torná-los praticamente reais.
Mas que fique claro: deixo meu "lado fã" de lado para analisar o último filme de maneira consciente e justa. Apesar de adorar cada filme, nunca fechei meus olhos para os erros e tropeços de cada um. O fato é que Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2 é extremamente satisfatório, e os pequenos erros que eventualmente surgem em uma adaptação, em nada interferem no resultado final. David Yates prova, definitivamente, que foi o diretor que mais soube captar a essência dos livros e imprimi-la na tela. Talvez seja o diretor - juntamente a Alfonso Cuarón - que melhor entendeu o universo criado por J.K. Rowling. Responsável pela série desde o quinto filme, Yates só acrescentou coisas boas: o realismo bem mais acentuado e o clima de urgência e perigo são as colaborações de maior valor. O espectador pôde sentir a ameaça que Voldemort causava apenas a partir do quinto filme (o final do quarto capítulo, dirigido por Mike Newell, já dava sinais disso). Desde então, uma espiral crescente de terror e tensão tomou conta daquela franquia que, até então, era alegre, nada opressora e divertida.
As duas partes de Relíquias da Morte formam, indubitavelmente, um grande filme. O melhor exemplar da franquia, sem dúvida. A primeira parte, lenta e contemplativa, mostrava uma face de Harry Potter até então inexplorada. A angústia dos personagens virou foco principal, e a ação e os efeitos especiais deixados de lado. Algumas características do primeiro fragmento podem ser encontradas nos primeiros minutos desta segunda parte. Porém, logo em seguida, a Parte 2 assume um caráter bem diferente de seu anterior. Repleto de ação e uma urgência sufocante, o filme leva o espectador numa montanha russa de emoções muito divertida, e a sequência do Gringotes é um dos melhores momentos de toda a saga. De repente, já estamos em Hogwarts. E a grande batalha se aproxima. Graficamente violenta e emocionalmente profunda, a grande guerra na escola de magia e bruxaria é um espetáculo. David Yates concebe cenas deslumbrantes e sequências dignas de um épico.
Mas Harry Potter 7.2 não é só ação e diversão. Pelo contrário. Os personagens são os mais importantes. Acima de tudo: os reflexos da guerra em cada um é o que mais impressiona. Cansados e feridos, pais, alunos e professores lutam e sofrem a cada momento. E ainda que seja uma batalha com varinhas e feitiços, é impossível não acreditar em cada frame, tamanha a carga emocional e o realismo investidos. Yates e o roteirista Steve Kloves se preocupam com os sentimentos e com o desenvolvimento dos personagens, e talvez pela primeira vez em toda a saga, certos personagens têm o devido espaço. Snape (Alan Rickman, em atuação excepcional), diferente do que acontece na primeira parte, tem grande espaço, podendo ser considerado como um dos grandes pontos do filme. A professora Minerva McGonagall (Maggie Smith) finalmente tem alguns segundos a mais em cena e protagoniza, justamente com Rickman/Snape, um dos melhores momentos da fita. O trio central está, como nunca antes, excelente. Com destaque para Daniel Radcliffe que enfim mostra total domínio sobre o personagem.
Do ponto de vista técnico, 7.2 é excelente. A fotografia de Eduardo Serra é belíssima, e Hogwarts nunca foi tão surpreendente e o ambiente nunca tão assustador. A batalha, cuja maior parte do tempo se passa a noite, é lindamente fotografada; as luzes e cores, aliadas aos belos quadros de Yates, formam grandes e impactantes imagens. A trilha sonora é soberba. Alexandre Desplat supera o excelente trabalho feito na primeira parte e entrega uma trilha melancólica, vibrante e acolhedora em vários momentos. E se os fãs clamam por indicações ao Oscar, Desplat é o grande merecedor de tal mérito. Já os efeitos especiais, ainda que ótimos na maioria das sequências, não funcionam em alguns pontos, como na parte em que os personagens saem da Sala Precisa e num momento chave do grande duelo entre Harry e Voldemort. Extremamente fiel ao livro, Kloves soube abordar vários aspectos da obra e soube amarrar com inteligência várias pontas soltas, e é admirável o feito do roteirista, já que o último livro é um dos mais complicados e repleto de detalhes importantes. A única falha é o descarte do passado de Dumbledore. Os maiores segredos do passado do poderoso bruxo foram omitidos. Toda a relação dele com a irmã e com outro poderoso bruxo foram deixadas de lado (quem leu o livro saberá do que estou falando).
Mas aqui, devo citar algo mais pessoal sobre o grande final de Harry Potter: eu nunca vi, em nenhuma outra ocasião, uma emoção tão forte dentro da sala de cinema. A comoção, a angustia, o choro nunca foram tão evidentes como desta vez. Vi fãs e admiradores do bom cinema ficarem presos à poltrona, acompanhando de perto cada segundo do emocionante capítulo final. Os soluços de cada fã, a dor da despedida... Nunca uma sessão foi tão emocionante. Confesso que segurei as lágrimas várias vezes; o ápice da emoção acontece em um momento inesperado para muitos: o fim de Severo Snape. É óbvio que não contarei o que acontece, só deixo o aviso: as sequências são arrebatadoras e impressionantes. Yates, que antes pecava na despedida de certos personagens e nunca gostou de fortes emoções, agora e se rende e capricha (ainda que falhe numa das passagens mais importantes, protagonizada por Harry e o antigo diretor de Hogwarts). Surpreendentemente violento (a morte de dois personagens - um importantíssimo, e outro nem tanto - em si, são inacreditáveis), a todo instante vemos cadáveres e uma quantidade considerável de sangue, 7.2 alcança uma maturidade e complexidade emocional invejável.
A triste despedida já passou. Foi difícil. O que ficou foi um imenso vazio. Peço desculpas se a resenha ficou demasiado longa, mas a ocasião pedia algo mais completo. Foi triste ver aquelas figuras, que acompanhamos por tantos anos, ficarem para trás. Foi um estranho misto de tristeza e alegria ouvir o tema da saga ecoando nos créditos finais. Não posso afirmar, pois o tempo é remoto e imprevisível, mas duvido, realmente, que algo como Harry Potter surja novamente nos cinemas e na literatura. Tenho orgulho de dizer, com uma tristeza inimaginável no coração: eu cresci com Harry Potter.
Matheus Pereira
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