Se Sobrenatural, fita dirigida por James Wan (Jogos Mortais, o único bom exemplar da franquia), não tivesse o final que tem, certamente seria o melhor filme de horror do ano. Claramente dividido em duas partes - o antes e depois da chegada dos paranormais -, Sobrenatural (péssimo título nacional para Insidious) tem em sua primeira parte sustos legítimos. É surpreendente a forma como o diretor carrega sua trama simples e como a transpõe à tela. A tensão é pesada e os sustos não são baratos. Wan soube usar os clichês a seu favor. Se em outras obras a trilha dissonante ecoava alta quando algum vulto surgia na tela, aqui o artifício funciona e sempre somos surpreendidos. Curiosamente produzido por Oren Peli (diretor do superestimado Atividade Paranormal), Sobrenatural acerta em tudo que o longa de 2007 erra. Se aquela fita era prejudicada pela monotonia e pela falta do que mostrar, Sobrenatural explora muito bem a paranormalidade e os fatos. Superior ao filme de Peli, Sobrenatural cria um bom clima de tensão e tem um relativo desenvolvimento de personagens. Ainda que alguns clichês apareçam aqui e ali, é interessante acompanhar a consternação da mãe (Rose Byrne) e a estranha frieza do pai (Patrick Wilson). A primeira parte acerta também ao não ser explícita. Os "seres sobrenaturais" não são completamente mostrados e isso ajuda na construção da trama, diferente do que acontece na segunda parte, em que a explicitação quase prejudica toda a experiência. A segunda metade, a propósito, é infantil. Com explicações absurdas para os fatos e revelações que em nada surpreendem (desde o princípio é possível antecipar as grandes reviravoltas), tudo que é dito nos minutos finais de Sobrenatural pode ser considerado como outro filme. Afinal, é deprimente constatar que todo aquele clima tenso e todo o terror desenhado até ali quase cai por terra ao ver a tentativa dos roteiristas em explicar a obra. Seria melhor se o filme de Wan tivesse quarenta minutos e terminasse sem uma conclusão. Assim, seríamos poupados de toda a explicação e de todo o pavoroso desfecho. Mas tem bons momentos: o pequeno plano sequência em que a câmera acompanha a personagem de Byrne pela casa recém adquirida enquanto um espectro aparece "escondido" em um canto da casa é excelente.
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Um Lugar Qualquer
Eu tento ver algo a mais nos filmes que assisto. É estranho entender, mas sempre tento buscar algo realmente interessante num filme. Se o exemplar que estou assistindo é excelente, tento melhorá-lo com novas descobertas. Mas às vezes não consigo. Às vezes os filmes estão ali e são aquilo mesmo, nada mais. Eles tentam ser algo mais, mas não passam de filmes interessantes que contam alguma história. Um Lugar Qualquer, último de Sofia Coppola (do fabuloso Encontros e Desencontros), é um exemplo desses filmes. Eu tentei enxergar algo mais profundo na análise de seu personagem central, mas não achei muita coisa. Talvez seja antipatia para com a obra, e entendam, eu gostei do filme, só não consigo ver muita coisa. A impressão que tive ao término da fita, era de que a diretora/roteirista tentara mostrar muita coisa, tentara esculpir um personagem complexo, mas que derrapara na falta de tempero. O silêncio e a estagnação que diretora impõe em vários momentos, por exemplo, às vezes incomodam. Por mais que as várias voltas de carro logo no início e a cena em que o ator é submetido ao demorado processo de maquiagem possam dizer muitas coisas, alguns momentos soam triviais e sem muito propósito. É interessante acompanhar a rotina do ator de filmes de ação interpretado surpreendentemente por Stephen Dorf e como sua vida muda com a chegada repentina da filha de onze anos, mas chega um ponto que alguns detalhes cansam. É compreensível a monotonia e o tédio em vários instantes, afinal, estamos acompanhando a vida de alguém que, assim como a minha e a sua, tem seus momentos chatos, mas a insistência de Coppola aqui depõe contra o resultado final. Ainda assim, Um Lugar Qualquer merece uma conferida. É um bom estudo de personagem e um filme, de uma maneira ou outra, agradável. Há de se entrar no ritmo da diretora apenas.
Matheus Pereira
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Insidious (prefiro chamar assim do que o pavoroso título nacional, que incomoda ao confunfir com a famosa série da Warner)é simplesmente excelente. Só discordo da crítica sobre o final. Muitos filmes de terror são escraxados ao não explicarem muita coisa, mas esse aqui explica tudo e é muito interessante. Realmente ficou muito "explícito", mas não diminui este que é um dos melhores filmes de terror do novo século!
Jesso Carvalho disse...
24 de setembro de 2011 às 09:39