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Especial - Matrix

Especial
___Matrix___



Mil novecentos e noventa e nove foi um ano que marcou a história do cinema. Foi neste ano que algumas pessoas revolucionaram o modo de se fazer cinema, o modo de se enxergar a sociedade. Dois filmes vêm a memória rapidamente: Clube da Luta, e claro, Matrix. Os dois viam a sociedade de um jeito único, traçavam paralelos unindo metáfora, inteligência e muita filosofia. O Sexto Sentido, O Gigante de Ferro, Quero Ser John Malkovich, Beleza Americana, À Espera de Um Milagre, O Informante, são apenas alguns dos brilhantes títulos que surgiram no final da década de noventa. Mas nenhum se destacou como os dois citados anteriormente. David Fincher injetava um cinismo e uma psicologia em seu Clube da Luta que o filme é, até hoje, referência em todos os lugares onde a psique humana tem de ser analisada, onde os comportamentos do homem (no sentido mais amplo da palavra) são estudados. Mas a genialidade de Fincher não foi a única a gritar, as mentes criativas e complexas de Andy e Larry (hoje, Lana) Wachowski também chamaram atenção. A premissa de sua obra era aparentemente simples: Neo é um hacker; certo dia ele recebe estranhas mensagens em seu computador. Depois de seguir passo a passo o que as mensagens diziam, Neo conhece Morpheus que lhe revela um assombroso segredo: há muitos e muitos anos, os humanos travaram um guerra contra as IA (Inteligência Artificial). As máquinas ganharam, e viram nos humanos uma inesgotável fonte de energia. Foi então que as máquinas começaram a usar os humanos como "bateria". Mas os humanos só serviam vivos e, de preferência, em sono profundo. As máquinas criaram a Matrix, um programa de computador que recria o mundo como era no final do século xx, mil novecentos e noventa e nove, mais precisamente. Fizeram com que os humanos dormissem e servissem de energia para todas elas, "colocaram" a Matrix na mente das pessoas e desde então os humanos acreditam que aquele programa é o mundo real. Em suma: tudo em sua volta, o mundo em si é uma mentira, tudo não passa de um programa, uma farsa criada para nos enganar.

Quem nunca pensou: "Será que estamos num tipo de Matrix?", "Será que tudo isso é mesmo real?", "Será que tudo isso não é uma mentira, um sonho?".

E eu lhes digo: Sim, estamos num tipo de Matrix. Ontem, hoje e sempre. Sempre fizemos parte de uma Matrix. Mas deixarei esta teoria para o final.

Analisando o mundo de Matrix

Bem, o básico do básico sobre o que é a Matrix você já sabe. Veremos então, quem é quem neste mundo:

Neo: interpretado por Keanu Reeves, Neo é um hacker, é, de certo modo, o outro lado de Thomas Anderson, simples mortal que trabalha numa empresa de software. Um não apresenta risco algum à Matrix, já o outro é a chave para o fim de tudo e a salvação da humanidade. É claro que este é Neo, o hacker. Neo sempre achou que tudo é um sonho. Ele comenta com as outras pessoas a possibilidade de tudo ser um sonho, ele diz que ás vezes nem sabe o que é sonho e o que é realidade. E esta possibilidade está correta. Tudo é um sonho, uma mentira. É então que aparecem Trinity e Morpheus. O último explica tudo para Neo e apresenta o "mundo real" para o hacker. Neo descobre que ele é o Escolhido, o Predestinado. Ele descobre que o destino da raça humana está em suas mãos, apenas ele é capaz de controlar tudo na Matrix, apenas ele detém os maiores poderes, só Neo é capaz de derrotar Agente da Matrix. Neo é, em suma, o Salvador. É claro que tudo isso choca o hacker que, curioso para descobrir a verdade e lutar por ela, mergulha neste complexo mundo.

Morpheus: interpretado por Laurence Fishburne, é ele que acredita em Neo como ninguém, convicto de que entrou o Escolhido, Morpheus começa a traçar o plano de destruição à Matrix. Nada, nem ninguém vão fazer com que Morpheus desista de Neo, não importa se ele vai morrer no caminho, a única coisa que importa é a sobrevivência do Escolhido. Morpheus é um líder nato. Ele parece dominar tudo no mundo real e saber tudo sobre a Matrix. Perto do outros humanos, Morpheus parece um Deus, com seu caminhar calmo, sua postura firme e sua incrível inteligência, Morpheus é respeitado por todos. É claro que alguns duvidam de suas escolhas e de sua sanidade, sua insistência na procura e na proteção do Escolhido incomodam muitos. Mas nada parece atingi-lo. O que importa é Neo e o futuro da humanidade. Morpheus pode ser visto, também, como um professor, um guia. Além de apresentar o novo mundo, ele ensina Neo a lutar e a entrar na Matrix. Muito do que Neo sabe, é graças a ele, mas Morpheus não dá tudo nas mãos de Neo, ele repete várias vezes durante a história que Neo deve abrir as portas e ver tudo com seus próprios olhos, ele mesmo tem de ver as coisas sozinho, aprender e tirar as conclusões.

Trinity: interpretada por Carrie-Anne Moss, podemos chamá-la de "braço direito" de Morpheus. Sempre ajudando o leal amigo nas escolhas e nas empreitadas, Trinity é uma mulher misteriosa. Hacker famosa, Trinity esbanja beleza e sensualidade. É o tipo de mulher intocável. É ela que encontra Neo, é ela o primeiro contato do mundo real com o Escolhido. Trinity, de início, parece não acreditar em Neo, mas aos poucos se surpreende com a capacidade do homem, e claro, não demora muito para uma paixão surgir entre os dois. Trinity não perde para os homens, luta de igual para igual e é considerada a melhor entre muitos. É, muitas vezes, o que faz Neo lutar, é ela que dá a força que ele precisa, ela é o combustível necessário, o que o mantém vivo. É ela que mais entra e sai da Matrix, tudo que Morpheus precisa, ela entra e faz; muitas vezes Trinity arrisca a vida, mas segue lutando.

Agentes: o líder é interpretado por Hugo Heaving. São guardas da Matrix. Programas criados para proteger a Matrix. São eles que mantêm o equilíbrio entre o mundo real e a Matrix. Tudo que ameaça a realidade virtual é destruído pelos Agentes. Se alguém descobre a farsa, é morto pelos poderosos homens de terno preto. Morpheus, Trinity e a Resistência são os maiores inimigos dos Agentes, afinal, eles sabem de toda a realidade e ameaçam a estabilidade da Matrix. Neo não demora a perceber que está sendo perseguido pelos Agentes, afinal, ele é o Escolhido, ele é o tal Predestinado que pode acabar de vez com toda a mentira. Os Agentes, é claro, sabem disso e vão atrás do hacker. Os Agentes são poderosos. São os mais fortes da Matrix e possuem poderes extraordinários. Apenas Neo é capaz de detê-los. A regra geral é: "Se ver um Agente, corra!".

Cypher: interpretado por Joe Pantoliano, é um dos membros da resistência que mais tem destaque, afinal, é dele que vêm a traição. Desde o início, Cypher parece não gostar das ideias de Morpheus, e depois de Neo chegar, Cypher demonstra uma clara inveja. É claro que seria melhor se ele fosse o Escolhido, se ele fosse a paixão de Trinity, e não um mero humano que sabe a verdade por trás da Matrix. Cypher é um dos personagens mais intrigantes, afinal, é ele que nos apresenta a pergunta: "Não seria melhor se eu tomasse a pílula azul, e voltasse para a casa, voltasse para a mentira?". É de se pensar, afinal, o mundo real não é fácil. É escuro, tedioso, perigoso e vazio, Cypher quer voltar a "viver", acha que a mentira chamada Matrix lhe trará muito mais felicidade que o mundo real, prefere viver uma boa mentira a uma dura realidade. Como ele mesmo diz em certo momento, ele só tomou a pílula vermelha porque tinha curiosidade, queria saber a tal assombrosa verdade, agora que ela foi revelada e nada de bom lhe trouxe, quer voltar à antiga vida. Não podemos criticá-lo. Coloque-se no lugar dele. Tudo bem que a maldade e a inveja faziam parte de Cypher, mas tirando estes graves erros, ele era apenas um homem com medo e, de certa forma, com razão. Cypher negocia com os Agentes para voltar à Matrix, para isso, deverá ceder informações sobre Zíon, a cidade onde os humanos abrigam, e Neo. É então que Cypher começa a traí-los e até mesmo mata alguns colegas para conseguir o que deseja.

Como conectar-se à Matrix: conectando-se a cabos e amparados por um Programador (que sabe ler os códigos da Matrix e os guia pelo sistema), uma pessoa pode entrar na Matrix. Enquanto dorme, a pessoa anda pela Matrix normalmente, como outra pessoa qualquer. Se uma pessoa morrer na Matrix, morre no mundo real. Como Morpheus diz em certo momento, você precisa de sua alma para estar vivo, logo, se uma pessoa é ferida na Matrix os efeitos são notados no mundo real. Se uma pessoa é desconectada indevidamente, morre na Matrix e no mundo real.

Alguns detalhes: Para sair da Matrix, o Programador guia as pessoas até um telefone. Ao atender o telefone, a pessoa sai da Matrix e acorda no mundo real. É o único jeito de sair do sistema. O Oráculo é uma "vidente", é praticamente o cérebro da Matrix, ela sabe tudo que acontece e acontecerá. Algumas vezes erra e suas profecias não se concretizam. Morpheus acredita profundamente no Oráculo. No primeiro encontro de Neo com o Oráculo, ela disse que ele não era o Escolhido, talvez em outra vida ele fosse; em outra oportunidade.

Analisando o filme Matrix:

É claro que o universo criado pelos irmãos Wachowski é muito complexo, e jamais alguém poderá escrever um texto completo, analisando cada detalhe, primeiro por que é difícil, segundo, é desnecessário, afinal, cada um acredita em uma coisa diferente, a Matrix pode ser uma coisa pra mim e outra pra você. Analisar o mundo de Matrix poder ser tempo jogado fora, pois muitos outros já o analisaram e, hoje, mais de dez anos depois, pode parecer um exercício fatídico, tanto para quem escreve quanto para quem lê, mas é impossível ficar calado depois de assistir a obra-prima que é Matrix. A princípio, eu apenas assistiria o primeiro filme, não queria escrever texto algum sobre ele e também não assistiria os outros dois filmes, porém, o vício falou mais alto, e logo pensei em analisar o universo e, claro, assistir o resto da trilogia. Assistir novamente, para ser sincero, afinal, já assisti umas três vezes cada filme, e apesar de achar as sequências inferiores ao original, me vi obrigado a assisti-las após o original, impossível ficar sem saber o que acontece a seguir, mesmo sabendo do final, e que este não supriria todas as expectativas.

É claro, também, que Matrix é revolucionário em todos os aspectos. Tanto pelo lado narrativo quanto pelo técnico. Hoje, os efeitos visuais podem parecer caretas, pedestres, mas, indubitavelmente, na época, era o futuro do cinema. Depois daqueles efeitos, tudo que viria a seguir seriam cópias ou reciclagens. As técnicas dos irmãos, os jogos de câmera, os quadros inspirados, faziam com que nós, cinéfilos sedentos por algo novo, vibrássemos e víssemos na dupla, o futuro do cinema. Irmãos promissores, sem dúvida. Prestemos atenção na brilhante montagem, por exemplo. Área vencedora do Oscar na época, a montagem de Matrix trazia novidades incríveis. Seja amparando os efeitos, seja amparando meros "exageros" estilísticos. O momento em que a câmera atravessa um televisor e a imagem projetada no aparelho torna-se real, é um bom exemplo. A direção de arte também deve ser ressaltada, note, por exemplo, o cuidado com o mundo real. Da superfície (onde estão os prédios destruídos e o pouco que sobrou do mundo) às profundezas (onde vemos as naves e as sentinelas, máquinas semelhantes a polvos). A fotografia de Matrix também é um ponto chave na obra, e anda lado a lado com a direção de arte. A Matrix, por exemplo, é constituída, em sua maior parte, de tons de verde, já o mundo real está entre o cinza e o azul. Os figurinos são simples, mas dizem muito sobre seus personagens. Impossível não lembrar Jornada nas Estrelas ao ver os tripulantes das naves com roupas coloridas, uma diferente da outra. Um com uma roupa vermelha, outra azul, outro bege, é claro que não são tão bem cortadas e belas como as de Star Trek, mas remetem diretamente ao clássico da ficção-científica.

Matrix é complexo, mas não é impossível entendê-lo. É só prestar atenção nos detalhes e nas explicações que surgem aqui e ali. São muitas informações e você pode se perder, mas nada que impeça a apreciação da obra. É necessário prestar uma atenção extra nos diálogos do Oráculo e na maioria das falas de Morpheus. Geralmente é o Oráculo que dita o futuro da saga, então, é altamente necessário guardar e entender suas informações. É muito melhor chegar no momento e dizer "Nossa, foi o que o Oráculo disse", do que "Não entendi, isso aconteceu do nada, sem explicação". Morpheus funciona como os irmãos roteiristas dentro da história, explicando para Neo, e para os espectadores, todos os segredos já revelados da Matrix. A história criada pelos irmãos vai muito além dos filmes. Tanto que nem tudo foi explicado na trilogia, mas tenho certeza que eles têm todas as respostas. Mas deixemos claro o seguinte: Matrix (filme e sistema), é feito de perguntas e não de respostas, se fosse de respostas, todos saberiam a verdade. E é aí que está o segredo, ninguém quer saber a verdade, lá no fundo, querendo assumir ou não, queremos viver na mentira, na indagação. Queremos ser enganados.

Interpretando Matrix:

Você já deve ter lido por aí várias e várias teorias sobre Matrix. Já estamos cansados de saber que Neo é um anagrama de One, Trinity remete à Santa Trindade e todas as alusões a Jesus, o Salvador, que por sua vez é personificado por Neo, é claro. É impossível tecer opiniões sem que algumas já existam com autoria de outras pessoas, mas vamos lá.

Logo no início, falei que vivemos numa Matrix. Analisemos nosso mundo, nosso cotidiano. Todos os dias somos levados a acreditar num modo de vida, num governo num futuro. Através da mídia, das outras pessoas, da religião somos forçados a acreditar no que eles querem que acreditemos. É como o velho "subconsciente coletivo", ou algo do tipo. No caso do nosso mundo real, não são as máquinas que construíram e fazem a Matrix, somos nós mesmo. Os grandes, os poderosos são os que construíram e que mantêm a nossa Matrix. Eles nos fazem acreditar nos estilos de vida, nos costumes deles, não é a toa que nos vemos usando roupas da moda porque alguém nos disse que aquilo está na moda, não é a toa que vamos ao cinema assistir "Avatar" porque nos disserem que este era o futuro do cinema. Não é à toa também que compramos Coca-Cola, alguém nos influenciou, alguém nos comanda sem nos conhecer, alguém nos usa como energia. Somos todos parte de algo maior, de algum sistema infindável, do nosso complexo sistema. Vivemos em uma mentira, em algo que os mais fortes criam; em um mundo que outros criaram para nós vivermos, um mundo que a gente cria para os próximos viverem. Vejamos um lado mais amplo da nossa história: a religião. Fazem-nos acreditar num Deus, em um ser que talvez não exista. Não quero levantar questões morais profundas ou sobre as religiões, só estou comentando que nós acreditamos em algo que devemos acreditar, simples assim. Alguém nos diz, direta ou indiretamente, que devemos acreditar num Deus, acreditar na existência de um Salvador. Alguém nos fez acreditar em céu e inferno, o que talvez, nem exista. Alguém nos fez acreditar que temos futuro.

Os irmãos Wachowski traçaram paralelos perfeitos e complexos com nosso mundo real. A Matrix nada mais é do que uma representação do nosso mundo e da nossa vida. Com perfeição e inteligência, os irmãos nos mostraram uma "realidade" (ou uma mentira?) que não queríamos enxergar. Eles representam Neo como Jesus, e assim como o verdadeiro Salvador, Neo nem exista. Talvez seja uma esperança que não exista, nós queremos que ele exista, ou que tenha existido. Talvez seja um simples humano ou, nem isso, seja um programa, uma peça da farsa que é a Matrix.

Como citado em alguma parte deste texto, o Oráculo diz para Neo que ele não é o Escolhido, que talvez seja em outra vida, em outra oportunidade. Pois bem, Neo morre perto do final. Após ser inúmeras vezes baleado por um Agente, Neo falece. É então que surge Trinity, a fonte de vida de Neo, e o ressuscita. Sim! Com palavras e um beijo, Trinity dá vida a Neo. Pode parecer ridículo, mas é verdade e, além disso, foi uma das melhores escolhas dos roteiristas, pois assim, Neo teve outra oportunidade, outra vida e, assim, tornou-se de uma vez por todas o Escolhido, podendo assim, interpretar os códigos da Matrix, voar, parar balas e uma série de poderes inacreditáveis.

Ou você chega a inúmeras interpretações ou vê Matrix como um bom filme de ação.

Eu vejo um marco na história do cinema.

Nota: 10,0

Matheus Pereira

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