Quem merecia uma vaga
em Melhor Direção?
Primeiro de tudo: a direção de
Tom Hooper em Os Miseráveis não é
esse caos que todos andam apregoando nos últimos dias. É um trabalho que pode
não agradar a muitos, mas não é o fiasco que grande parte tem comentado. O
problema é que uma crítica negativa é como um vírus na internet: se a pessoa
que viu primeiro resolveu criticar uma decisão do diretor, todos que virão a
seguir criticarão a mesma coisa. É incrível o número de críticas que falam
exatamente a mesma coisa. Não condeno, claro, que as pessoas gostem ou desgostem
das mesmas coisas, mas poucos foram os que contra-argumentaram ou então deram
mais profundidade a tal crítica. Todos resolveram criticar os ângulos
escolhidos por Hooper em seu novo filme, mas poucos se aprofundaram no assunto,
resolveram pegar o bonde e falar a mesma coisa. Entendam: não sou um fã xiita –
como muitos – deste musical. Aprecio a obra, mas vejo alguns problemas em sua
composição; só queria deixar claro, portanto, este pequeno pensamento acerca do
que tenho visto ultimamente.
Assim, vamos à resposta da
pergunta: qual diretor(a) merecia uma vaga entre os cinco finalistas? A
resposta é fácil: Paul Thomas Anderson. Nada de Tom Hooper ou Kathryn Bigelow,
quem merecia um espaço era PTA. É claro que Ben Affleck também merecia uma
chance, mas falemos sobre ele depois. Dos diretores que estavam fora da roda de
apostas (e até mesmo entre os nomes mais quentes), Anderson é o mais merecedor
de indicações. Vencedor de alguns prêmios da crítica por seu trabalho no
fabuloso O Mestre e clamando por um
Oscar a cada obra que faz, PTA seria aquele indicado por puro merecimento, um
trabalho digno que realmente merece uma lembrança, e não o nomeado do tipo “propaganda”,
indicado por ter um nome respeitado ou mais amigos na indústria. Anderson ficou
de fora por ter um filme muito polêmico e pesado para os padrões da Academia.
Fica, porém, o descontentamento com sua ausência.
Entre os três nomes que eram
apontados e ficaram de fora (Affleck, Bigelow e Hooper), o único que merecia
uma indicação era Affleck. Bigelow é uma grande diretora, mas seu momento foi
em Guerra ao Terror (fita muito
superior a A Hora mais Escura);
agora, seu nome cresceu mais do que ela, tornando-a em uma artista
superestimada, com excesso de confiança (o que pode ser visto em seu último
filme). Já Hooper ficou de fora por dois motivos claros: primeiro porque venceu
um Oscar há pouquíssimo tempo; segundo porque as pessoas ficaram visivelmente divididas
com relação à obra. Pegue, por exemplo, a crítica especializada: muitos
gostaram, mas outros tantos desaprovaram o trabalho de Hooper. Assim, é fácil
imaginar que os membros da Academia também tiveram problemas com o musical.
Além disso, o estilo carregado do diretor pode não agradar a todos. Enfim,
temos Ben Affleck, uma injustiça legítima. Seu trabalho em Argo é excelente e uma indicação seria essencial. Uma vitória? Talvez
não, mas seu nome entre os cinco finalistas cairia bem.
Para encerrar, é preciso olhar
para os indicados da Academia avaliando as coisas boas e não as ausências. A
maioria olha os finalistas e parte direto para as críticas, apontando quem
ficou de fora, quem roubou a vaga de quem, etc. O fato, porém, é que as
escolhas da Academia na categoria de Direção deste ano são invejáveis. Corajosa
como há muito não o era, a lista trás nomes improváveis e realmente merecedores.
Michael Haneke é um dos monstros do Cinema atual, sua nomeação é completamente
merecida; já Benh Zeitlin, de Indomável
Sonhadora, tem um trabalho impecável como diretor. Com total domínio da
história, do elenco e, principalmente, da câmera, a indicação do jovem cineasta
é uma das melhores surpresas do ano.
Quentin Tarantino levará mais um de Roteiro Original?
Ao que tudo indica sim. Depois
que A Hora mais Escura teve uma queda
vertiginosa ainda no início da corrida, Tarantino se viu como favorito na
categoria. Se eu pudesse escolher, ficaria dividido entre os roteiros de
Haneke, do belo Amor, ou de Wes
Anderson e Roman Coppola, de Moonrise
Kingdom. Mas Tarantino é tão bom roteirista que mais um Oscar não vai ser
nada ruim ou imerecido. É uma categoria difícil, de todo modo. Haneke, que
provavelmente levará de Melhor Filme Estrangeiro, foi indicado como Melhor
Direção, regalia que Tarantino não conta. Além disso, a Academia pode sentir
necessidade de premiar o veterano diretor de Caché e A Fita Branca, e
deixar o ainda jovem Tarantino, que já levou um Oscar nesta mesma categoria, e
que provavelmente será indicado mais vezes nos próximos anos, de fora. Assim, o
mais sensato seria dar o prêmio a Haneke. Um detalhe, porém, conta a favor e contra Tarantino: a polêmica. Amor é um longa pesado, melancólico e
polêmico, os membros votantes podem se afastar de uma escolha tão arriscada.
Mas a polêmica também não conta muito a favor de Quentin: seu texto (e ele
próprio) já foi tratado como racista inúmeras vezes, e a Academia talvez não
queira premiar um roteiro envolto em tamanha acusação. De todo o modo,
Tarantino já levou o Globo de Ouro, o Critics Choice e o BAFTA na categoria.
Seu segundo Oscar parece bem próximo.
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Concordo com sua análise, até mesmo porque gosto muito da direção de Tom Hooper em "Os Miseráveis". Ao que tudo indica, a estatueta vai para Spielberg, e isso me chateia muito.
BRENNO BEZERRA disse...
17 de fevereiro de 2013 às 15:44
Matheus Pereira disse...
17 de fevereiro de 2013 às 19:07
Eu também gosto muito da direção dele. É carregada, claro, mas não é o caos que muitos têm declarado.
Eu gosto muito do Spielberg, então um prêmio pra ele não me desagrada; é um pena, talvez, que seu terceiro Oscar venha por um filme menor em sua carreira...
Acho que, caso tivesse de votar, escolheria Haneke, embora não ache Amor seu melhor filme...
Abraço!
Matheus Pereira disse...
17 de fevereiro de 2013 às 19:08