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Crítica - Não me Abandone Jamais

Crítica - "Não me Abandone Jamais"



"Não me Abandone Jamais" poderia muito bem ser uma aventura futurística cheia de efeitos visuais, cenas de ação e clichês do gênero. Poderia se passar numa realidade paralela cheia de mistérios e segredos mirabolantes. A base da trama ajuda. Mas não é isso que acontece. O filme dirigido por Mark Romanek (do bom "Retratos de uma Obsessão) é um drama intimista repleto de questões filosóficas. É, também, um romance que foge das convenções do gênero e emociona genuinamente. Melancólico, "Não me Abandone Jamais" é um filme difícil. Trás personagens tristes afogados num mundo igualmente triste. Da trilha sonora a fotografia, tudo remete a uma tristeza que parece nunca acabar. É uma obra que certamente não irá agradar quem busca histórias de amor e redenção com finais felizes e reconfortantes.

A trama se passa num passado alternativo onde a ciência descobriu uma maneira para que as pessoas possam viver até os cem anos. Mas este não é o grande atrativo da obra. A história de Kathy (Carey Mulligan, ótima), Tommy (interpretado por Andrew Garfield que rouba todas as cenas) e Ruth (Keira Knightley. Um pouco apagada perto de Mulligan e Garfield) desde a infância num colégio interno até a descoberta do mundo na juventude, esconde algumas verdades que mudam suas vidas radicalmente. As "razões de ser" de cada um são abaladas com revelações assustadoras que comprometem suas esperanças do futuro e suas vontades de viver.

Romanek guia o brilhante texto de Alex Garland (o mesmo roteirista do ótimo "Extermínio) - baseado na obra de Kazuo Ishiguro - com firmeza. Sem revelar as surpresas da trama antes do tempo e criando um clima opressor e melancólico com sabedoria, o cineasta não se rende a exercícios de estilo ou devaneios tolos, seu objetivo é mostrar a vida e as questões que movem as ações dos personagens. O roteiro de Garland, aliás, desenvolve os personagens com cuidado, revelando detalhes mínimos no decorrer da trama que tornam cada um em seres críveis e multifacetados. E ainda que perca um pouco do ritmo em certos instantes, o roteiro volta a dar guinadas interessantes e toma novo fôlego de tempos em tempos.

As atuações vistas em "Não me Abandone Jamais" merecem atenção especial. Mulligan concebe uma personagem meiga, contida que, mesmo sabendo da verdadeira razão de sua existência, não deixa de ser a amiga fiel e a mulher forte que já dava sinais desde a infância. Ainda que demonstre inegável tristeza e parece vencida em alguns momentos, a fibra de Kathy, sua personagem, nunca é posta em cheque. Já Garfield rouba todas as cenas. Sem cair na pieguice que facilmente poderia se render, Garfield entrega uma interpretação sutil, e mesmo na cena em que se entrega a gritos histéricos não perde a linha, o foco. Já Knightley, como já apontado anteriormente, tem seu brilho ofuscado pelo talento dos colegas de cena. Sua personagem é a menos interessante, não devido a sua atuação ou as ações repreensíveis de sua personagem, mas porque o talento e a história dos outros dois personagens são muito maiores e mais interessantes.

Não muito rebuscado do ponto de vista técnico, mas profundo se analisarmos sua narrativa, "Não me Abandone Jamais" é cult sem forçar. Não obriga ninguém a considerá-lo assim. Apenas é. É um drama "simples" que passa sua mensagem sem apelar a sentimentalismos baratos e a clichês desnecessários. Uma obra para ser apreciada e guardada com gosto.

Matheus Pereira

2 comentários:

Nem sei dizer o quanto gostei de sua crítica meu querido. Um punhado de críticos profissionais poderiam aprender uma coisa ou duas com vc. Vou postá-la, com o devido crédito, em uma comunidade de cinema da qual participo ok?
Bj gde, talentoso sobrinho!

21 de março de 2011 às 12:50  

Concordo com você. Filme sensacional.

Faço uma crítica dele tbm no meu blog http://incenema12.blogspot.com

21 de março de 2011 às 22:29  

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