Crítica - Bravura Indômita
"Bravura Indômita" é cool. E qual filme escrito/dirigido pelos irmãos Coen que não é? Depois do sensacional "Um Homem Sério" (que, assim como esta nova obra, fez parte do Oscar nas categorias de Melhor Filme e Roteiro Original; um feito louvável, diga-se, já que este é o segundo ano consecutivo que os irmãos entram para a seleta lista dos dez melhores do ano), Joel e Ethan resolveram alçar um voo mais alto. Sem converter gêneros ou apostar no pesado estilo já registrado, os irmãos decidiram fazer um filme de gênero puro (western) e mais calcado no estilo geral que a maioria dos cineastas atribui. Mas não se engane; o "jeitinho" de fazer cinema, único da dupla, está lá. Como deixar de lado o humor negro tão característico? Ou a galeria de personagens estranhos e multifacetados? Ou os diálogos?
Baseado no livro de Charles Portis, "Bravura Indômita" conta a história de Mattie Ross (interpretada pela fabulosa Hailee Steinfeld, a grande protagonista), garota de 14 anos que contrata o velho e rabugento caçador de recompensas Rooster Cogburn (Jeff Bridges, numa atuação que considero superior a de "Coração Louco") para vingar a morte do pai. Cogburn, segundo ordens precisas da jovem, deve levá-la para a caçada, achar e matar Tom Chaney (Josh Brolin, que tem poucos minutos em cena, mas que está ótimo), o assassino. No meio do caminho surgem LaBoeuf (Matt Damon, muito melhor e com atuação mais inspirada do que em "Invictus"), que também persegue Chaney; Ned Pepper (Barry Pepper, quase irreconhecível), chefe do bando que Chaney faz parte e uma série de outros personagens que fazem do filme uma grande galeria de personagens verdadeiros e únicos.
Joel e Ethan Coen entregam, mais uma vez, um roteiro magnífico em que os personagens são definidos em poucos segundos. Com algumas palavras e gestos, os perfis de cada um são traçados com elegância e perícia. Cogburn, por exemplo, poderia ser um clichê ambulante, um câncer maligno em toda a trama, mas o roteiro o trata como um homem surrado pelo tempo e pela vida, uma caixa velha cheia de segredos que, diferentes do que muitos pensam, tem medo de muita coisa. Valente e desprovido de muitas emoções, Cogburn em hipótese alguma deve ser considerado herói. Anti-herói, talvez, mas nunca um homem cujos atos devem ser seguidos. Cogburn não é um exemplo, apenas um homem que vive e tira vidas por dinheiro. E o carisma infindável de Bridges faz com que torçamos por um sujeito de características tão reprováveis. Não fosse a sutileza da atuação magnífica do veterano agraciado com um Oscar no ano passado, sentiríamos nojo, desprezo e não nos importaríamos com o destino do mercenário, mas o que acontece é a clara percepção de que o sujeito tem um bom coração; um homem que, mesmo corrompido pelo efeito do tempo e das coisas, pode surpreender com atos de pura bravura.
Mas o predicado "bravura" também se aplica à Mattie Ross. Decidida, a jovem usa sua inteligência para o negócio, e o tino da garota para tal chega a assustar. De fala rápida, Ross une as peças que precisa com ótima lábia e demonstra enorme maturidade. O grande trunfo do roteiro e da brilhante novata Steinfeld, é não transformar Ross em um robô; uma simples garotinha em busca de vingança que vomita as palavras sem injetar emoção ou verdade alguma. A atuação cheia de nuances que revela a verdadeira menina escondida sob a falsa casca é a força motriz da obra. Seja nos olhares cheios de saudade, ou no sorriso sutil, ou no belo momento em que põe o chapéu do pai e vê que este é grande demais para servir. Analisando cada personagem (incluindo LaBoeuf, Chaney e Pepper), nota-se que todos são trágicos. Caça e caçadores. Todos já sofreram, todos já perderam algo ou alguém. Todos são humanos. Em "Bravura Indômita" não há mocinhos ou vilões.
Parceiro habitual dos irmãos, Roger Deakins concebe, mais uma vez, uma belíssima fotografia. Tendo o "Velho Oeste" como cenário, Deakins proporciona aos olhos do espectador belas imagens que, aliadas aos quadros dos Coen, fazem do filme uma obra de visual impecável. A direção de arte também é competente e presta grande serviço na construção dos personagens: o lugar onde Cogburn aparece dormindo, por exemplo, nada mais é do que a exteriorização daquilo que ele é e está acostumado a fazer; já o fato da casa onde Mattie Ross esta hospedada nunca ser mostrado em muitos detalhes, mostra o desapego da jovem com relação ao lugar: primeiro porque o que importa para ela é a vingança e o início de uma nova vida; segundo pois aquele não é o seu lar, não são as coisas dela, e viver naquele estado degradante talvez seja um dos fatores que lhe davam mais força para seguir com o plano de vingança.
A direção dos irmãos pode ser considerada mais convencional, no quesito técnico, se comparada a outros trabalhos recentes dos diretores, mas isso não é demérito; a única diferença é que não se tem planos inventivos ou muitas ambições. Considerável sucesso de bilheteria, "Bravura Indômita" amealhou 10 indicações ao Oscar (incluindo Melhor Filme e Direção) e merece todos os elogios que vem recebendo.
Quem detém o poder da "Bravura Indômita" do título? Todos os personagens são bravos, indômitos. Talvez sejam os Coen; os caras que puseram o western de volta no mapa cinematográfico.
Nota: 10,0
Baseado no livro de Charles Portis, "Bravura Indômita" conta a história de Mattie Ross (interpretada pela fabulosa Hailee Steinfeld, a grande protagonista), garota de 14 anos que contrata o velho e rabugento caçador de recompensas Rooster Cogburn (Jeff Bridges, numa atuação que considero superior a de "Coração Louco") para vingar a morte do pai. Cogburn, segundo ordens precisas da jovem, deve levá-la para a caçada, achar e matar Tom Chaney (Josh Brolin, que tem poucos minutos em cena, mas que está ótimo), o assassino. No meio do caminho surgem LaBoeuf (Matt Damon, muito melhor e com atuação mais inspirada do que em "Invictus"), que também persegue Chaney; Ned Pepper (Barry Pepper, quase irreconhecível), chefe do bando que Chaney faz parte e uma série de outros personagens que fazem do filme uma grande galeria de personagens verdadeiros e únicos.
Joel e Ethan Coen entregam, mais uma vez, um roteiro magnífico em que os personagens são definidos em poucos segundos. Com algumas palavras e gestos, os perfis de cada um são traçados com elegância e perícia. Cogburn, por exemplo, poderia ser um clichê ambulante, um câncer maligno em toda a trama, mas o roteiro o trata como um homem surrado pelo tempo e pela vida, uma caixa velha cheia de segredos que, diferentes do que muitos pensam, tem medo de muita coisa. Valente e desprovido de muitas emoções, Cogburn em hipótese alguma deve ser considerado herói. Anti-herói, talvez, mas nunca um homem cujos atos devem ser seguidos. Cogburn não é um exemplo, apenas um homem que vive e tira vidas por dinheiro. E o carisma infindável de Bridges faz com que torçamos por um sujeito de características tão reprováveis. Não fosse a sutileza da atuação magnífica do veterano agraciado com um Oscar no ano passado, sentiríamos nojo, desprezo e não nos importaríamos com o destino do mercenário, mas o que acontece é a clara percepção de que o sujeito tem um bom coração; um homem que, mesmo corrompido pelo efeito do tempo e das coisas, pode surpreender com atos de pura bravura.
Mas o predicado "bravura" também se aplica à Mattie Ross. Decidida, a jovem usa sua inteligência para o negócio, e o tino da garota para tal chega a assustar. De fala rápida, Ross une as peças que precisa com ótima lábia e demonstra enorme maturidade. O grande trunfo do roteiro e da brilhante novata Steinfeld, é não transformar Ross em um robô; uma simples garotinha em busca de vingança que vomita as palavras sem injetar emoção ou verdade alguma. A atuação cheia de nuances que revela a verdadeira menina escondida sob a falsa casca é a força motriz da obra. Seja nos olhares cheios de saudade, ou no sorriso sutil, ou no belo momento em que põe o chapéu do pai e vê que este é grande demais para servir. Analisando cada personagem (incluindo LaBoeuf, Chaney e Pepper), nota-se que todos são trágicos. Caça e caçadores. Todos já sofreram, todos já perderam algo ou alguém. Todos são humanos. Em "Bravura Indômita" não há mocinhos ou vilões.
Parceiro habitual dos irmãos, Roger Deakins concebe, mais uma vez, uma belíssima fotografia. Tendo o "Velho Oeste" como cenário, Deakins proporciona aos olhos do espectador belas imagens que, aliadas aos quadros dos Coen, fazem do filme uma obra de visual impecável. A direção de arte também é competente e presta grande serviço na construção dos personagens: o lugar onde Cogburn aparece dormindo, por exemplo, nada mais é do que a exteriorização daquilo que ele é e está acostumado a fazer; já o fato da casa onde Mattie Ross esta hospedada nunca ser mostrado em muitos detalhes, mostra o desapego da jovem com relação ao lugar: primeiro porque o que importa para ela é a vingança e o início de uma nova vida; segundo pois aquele não é o seu lar, não são as coisas dela, e viver naquele estado degradante talvez seja um dos fatores que lhe davam mais força para seguir com o plano de vingança.
A direção dos irmãos pode ser considerada mais convencional, no quesito técnico, se comparada a outros trabalhos recentes dos diretores, mas isso não é demérito; a única diferença é que não se tem planos inventivos ou muitas ambições. Considerável sucesso de bilheteria, "Bravura Indômita" amealhou 10 indicações ao Oscar (incluindo Melhor Filme e Direção) e merece todos os elogios que vem recebendo.
Quem detém o poder da "Bravura Indômita" do título? Todos os personagens são bravos, indômitos. Talvez sejam os Coen; os caras que puseram o western de volta no mapa cinematográfico.
Nota: 10,0
Matheus Pereira
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Olá!
Sou a Fabiane do DVD, Sofá e Pipoca. Passei por aqui para te convidar a paticipar da blogagem coletiva Bolão do Oscar 2011.A brincadeira está programada para a véspera da premiação. Mais informações no blog (http://dvdsofaepipoca.blogspot.com/2011/02/bolao-oscar-2011.html)
Até!
Fabiane Bastos disse...
23 de fevereiro de 2011 às 16:06