O Melhor da TV
2015
The Knick já mereceria o topo da lista só por ser uma das séries mais regulares da TV. Depois de uma primeira temporada impecável, a criação de Jack Amiel e Michael Begler chega ao segundo ano e não deixa a qualidade cair. A impressão é que não houve hiato de alguns meses entre uma temporada e outra, e que estamos assistindo a um longo filme milimetricamente escrito e filmado. Muito dessa regularidade se deve à competência de Steven Soderbergh, diretor de todos os episódios. Os capítulos são tão bem dirigidos que não há concorrência, este ano, para o brilhante trabalho de Soderbergh. À frente de tudo, Clive Owen garante seu posto como um dos melhores atores da telinha. O episódio final, coroado por uma importante e chocante decisão, apenas comprova a coragem e a originalidade de The Knick.
Os que criticam a terceira temporada de House of Cards dizendo que esta decaiu vertiginosamente não percebem o belíssimo arco desenvolvido por Beau Willimon e seus roteiristas. É aceitável que se reclame o fato de que o terceiro ano recicla algumas ideias da temporada anterior, mas alegar queda de qualidade é inaceitável. A série encabeçada por Kevin Spacey e Robin Wright avança sem parar e sem olhar para trás, assim como os personagens centrais. Há sempre algo acontecendo e uma surpresa espreitando a cada minuto. No roteiro ágil e no elenco afiado, House of Cards segue como um dos dramas mais alinhados da atualidade.
Confesso que já critiquei, e muito, Mad Men. Em outros tempos, quando as três primeiras temporadas foram lançadas, considerava a série de Matthew Weiner arrítmica. A impressão que tinha, era que nada acontecia. Episódios após episódio e os personagens pareciam não sair do lugar; as tramas pareciam não avançar. É bem verdade que exagerei nas críticas, mas é igualmente verídico o fato de que Mad Men, em suas primeiras temporadas, sofria de uma excessiva lentidão. A partir do quarto ano a coisa mudou, e o que se viu desde então foi um arco narrativo tão belo que os tropeços iniciais foram completamente perdoados. Além disso, analisando toda a história, tudo parece em seu devido lugar, em seu devido ritmo. Assim, Mad Men chegou ao seu filme praticamente da mesma forma que sempre levou suas tramas: sem exageros, sem explosões, sem grandes reviravoltas. Apenas um texto impecável e atores comprometidos. Assim, person to person, cara a cara, pessoa para pessoa.
Quando uma série é cancelada logo em sua primeira temporada, diversos questionamentos e teorias surgem. Afinal, o projeto teria chances de melhorar ou apresentar novas ideias em uma segunda oportunidade? Muitos torceram o nariz para o primeiro ano de The Leftovers, abandonando a produção ainda em seus primeiros capítulos. É bem verdade que o início da série não empolga, mas logo o programa já envolve e entrega belíssimos episódios. A grande questão, porém, é que se a HBO cancelasse o show e não apostasse nos criadores, nós não teríamos presenciado a impecável segunda temporada de The Leftovers. Literalmente renovada, a série de Damon Lindelof e Tom Perrotta mudou de locação, limou diversos nomes do elenco e trouxe tramas completamente novas, nunca esquecendo a mitologia, claro. O resultado são dez episódios irrepreensíveis, regados a metáforas, simbolismos e muita criatividade. Pouco se viu na televisão tanta coragem, tanta originalidade. The Lefotvers tem sua forma única de contar histórias, e isso a torna única.
Quem esperava por uma nova versão de Breaking Bad, se decepcionou. E não foram poucos aqueles que não aprovaram o derivado do sucesso da AMC. O fato é que Vince Gilligan e Peter Gould, os criadores, nunca disseram que Better Call Saul seria uma continuação de Breaking Bad. Não teria propósito, aliás, perder tempo e dinheiro em uma releitura, uma cópia com diferentes personagens. Assim, a série já mergulha no bom humor logo no primeiro capítulo. Nada daquele perigo constante, da tensão sufocante de Breaking Bad. Saul não é Walter, muito menos Heisenberg, e isso é ótimo. Ao focar na persona do advogado, Gilligan, Gould e os demais brilhantes roteiristas criam uma história única, completamente independente do programa de origem. O ritmo é outro, a abordagem é outra, tudo é diferente. O universo, porém, é o mesmo. E isso já bastaria para tornar esta uma das melhores séries do ano.
Fargo chega ao fim de sua segunda temporada de forma irrepreensível. Quando lançada em 2014, o show foi muito associado a outra antologia: True Detective. As duas produções não eram ligadas por serem parecidas, dividirem temas ou atores, mas sim porque eram dois programas excelentes que oxigenavam a televisão com personagens originais e tramas complexas, pouco trabalhadas na TV. True Detective trazia a filosofia, Fargo vinha com o humor negro. O ano passou e ambas retornaram para suas segundas temporadas. O problema é que Detective decepcionou, mas Fargo confirmou o que já se suspeitava anteriormente: esta é, realmente, uma das melhores coisas dos últimos anos na televisão. Do elenco afiado, passando pela direção absurdamente inteligente e chegando ao texto impecável de Noah Hawley e seus roteiristas, Fargo atingiu em dois anos o que algumas séries levam quase uma década para atingir: a perfeição.
Flesh and Bone chegou de mansinho. Produzida pelo Starz, canal americano a cabo que não possui o mesmo prestígio e audiência que uma HBO ou AMC, a produção recebeu um tratamento pouco cuidadoso por parte do canal. Para começar, o projeto surgiu como série, mas em seguida foi tratada como minissérie, já que o canal considerou a história pouco abrangente, o que impossibilitaria a produção de várias temporadas. Além disso, os oito episódios produzidos foram disponibilizados integralmente na internet no dia da estreia do piloto na televisão. O resultado: Flesh and Bone é, indubitavelmente, uma das melhores coisas da TV em 2015. Passados os oito excelentes capítulos produzidos, a impressão que fica é que a produção renderia, pelo menos, mais duas temporadas.
UnREAL é aquilo que grande parte da crítica tem considerado como a melhor estreia da summer season. E talvez seja. Em um período relativamente produtivo (Sense8, Wayward Pines, Deutschland 83, etc.), a série do canal Lifetime é, no mínimo, a mais surpreendente. Começando com um piloto que é tudo que um bom primeiro episódio deve ser, UnREAL conquista a audiência de cara com doses cavalares de sarcasmo e intrigas. O tom novelesco não atrapalha, ao contrário, torna a narrativa bem construída ainda mais envolvente. Assim, UnREAL entrega dez ótimos episódios e se revela a grande surpresa da summer season. Quem busca por sarcasmo, roteiro esperto, boas e constantes reviravoltas e a boa e velha busca pelo poder e pela vitória, terá um prato cheio.
Depois de uma segunda temporada sólida e bem delineada, Masters of Sex tinha uma missão: seguir a qualidade de primeira linha e ampliar os horizontes. A relação profissional e pessoal de Bill e Virgínia já estava muito bem firmada e a caminhada rumo ao reconhecimento já passara de sua fase inicial. O terceiro ano começou, portanto, no anseio de intensificar as relações entre os personagens e tornar as tramas mais sérias, aumentando o escopo: se antes a dupla lutava para publicar o livro, agora precisa vendê-lo, e mais: reafirmá-lo frente a sociedade conservadora dos anos 60. A temporada se desenvolve bem, com um notável crescimento dos personagens e reviravoltas que remontam todo o tabuleiro, deixando o futuro incerto. No último capítulo, o show tropeça, mas não compromete o belíssimo terceiro ano.
Wayward Pines é uma das melhores estreias do ano. Mergulhada em um universo sombrio, cheio de mistérios, a série foi recebida com certa desconfiança pelo público. Primeiro porque M. Night Shyamalan, roteirista/diretor que não tem se saído muito bem nos últimos anos, era um dos responsáveis pela adaptação e segundo porque o programa parecia mais um suspense convencional que mais pergunta do que responde. Quem duvidou teve de se contentar com uma série inventiva com ótimo elenco e ambientação impecável. Boatos afirmam que Blake Crouch, criador dos romances originais, planeja novos livros relacionados. Todos os envolvidos já afirmaram que, caso uma boa história seja criada, mais episódios serão feitos e todos desejam retornar. A Fox ouviu os pedidos e acabou renovando o show que, a principio, seria apenas uma minissérie. Não será má ideia revisitar Wayward de vez em quando.
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Não vi "Flesh and Bone" ainda e desgostei do novo ano de "Masters of Sex", mas é impossível não louvar o alto nível da lista Matheus.
Parabéns!
Reinaldo Glioche disse...
31 de dezembro de 2015 às 15:48