Os Lançamentos em DVD e Blu-Ray de Junho
A Invenção de Hugo Cabret tem alguns problemas espalhados durante suas duas horas de duração, dentre eles, o fato de não ter uma identidade única: ora é um longa infantil, ora um drama e ora uma homenagem ao Cinema que contrapõe diretamente ao seu lado inocente. Seu humor também não é dos mais refinados e o ritmo cai consideravelmente em alguns instante. Porém, Scorsese contorna esses pecadilhos de forma tão positiva que logo esquecemos e nos deixamos levar pelo seu visual arrebatador e sua linda história. Quatro coisas saltam ao olhos em Hugo: a costumeira virtuosa direção de Scorsese, a direção de arte espetacular, a fotografia belíssima e a atuação de Ben Kingsley. O veterano ator entrega aqui uma das performances mais tocantes do ano, que curiosamente - e injustamente - passou desapercebida na temporada de prêmios.
Um Método Perigoso poderia ser muitas coisas. Dentre elas, uma obra-prima. Ao menos tinha tudo para ser: Viggo Mortensen e Michael Fassbender interpretando, respectivamente, Sigmund Freud e Carl Jung; climatização ideal e David Cronenberg no comando. São poucos, mas importantes motivos, daqueles que nos fazem esperar um projeto não menos que fantástico. Porém muita coisa não funcionou: o ritmo é extremamente irregular e o seu ponto forte - a dinâmica entre Freud e Jung -, mesmo que satisfatório, acaba empalidecendo no meio de tantas falhas. O roteiro é preguiçoso e arrastado, deixando na superfície personagens que renderiam grandes momentos. Mas o pior de tudo é Keira Knightley: péssima no papel de Sabina Spielrein, a atriz simplesmente estraga todas as cenas em que aparece. Exagerada e completamente deslocada, Knightley transforma uma personagem de grande potencial num poço de constrangimento. Podia ser bem melhor.
Clint Eastwood é um realizador fantástico, mas precisa rever, juntamente aos seus montadores habituais Joel Cox e Gary Roach, o ritmo de seus filmes. Cartas de Iwo Jima, A Troca, Invictus, A Conquista de Honra, Gran Torino, Além da Vida são todos grandes filmes, mas que encontram no desenrolar de suas histórias problemas notáveis. Todos sabem que existem "filmes chatos" e "filmes parados, mas excelentes". J. Edgar, por exemplo, caminha nessa corda bamba que faz a divisa entre os dois tipos e muitas vezes cai para o lado errado. Sobre Meninos e Lobos, por exemplo, é um estudo de personagens e situações reflexivo que se desenvolve calmamente, mas não cansa o espectador; J. Edgar é uma cinebiografia que vai e volta no tempo, enrola, desvia o foco, volta novamente, vomita informações e, ao final, ainda dá um tapinha no rosto da plateia, desfazendo certos acontecimentos e revelando sua frágil estrutura.
É de doer ver Al Pacino aqui. Mas não podemos ter pena: ele está sendo pago - e bem pago -, não atuou amarrado ou com uma arma apontada para sua cabeça, certamente tinha vários outros projetos esperando sua presença e é impossível acreditar que ele não tenha lido o roteiro antes de embarcar nesse barco furado. Mas, convenhamos: ler roteiro para que? Ninguém disse a ele que quando Adam Sandler lhe oferece um papel você deve recusar? Principalmente quando ele interpreta não um, mas dois personagens, seguindo a mania Eddie Murphy de gastar menos com atores/atrizes e aparecer mais tempo na tela.
É curioso ver dois oriundos da animação emprestando seus talentos aos filmes com "gente de carne e osso". Brad Bird dirigiu o bom Missão Impossível: Protocolo Fantasma, com John Carter foi a vez de Andrew Stanton provar que sabe movimentar uma câmera em cenários reais. Dois dos mais criativos criadores da Pixar não poderiam ficar devendo em suas novas empreitadas. John Carter - Entre Dois Mundos foi injustamente criticado por boa parte da crítica, e o público também não respondeu à altura do que a obra realmente é. Divertida, bem feita e interessante do ponto de vista temático, a fita merece atenção por inúmeros motivos. Taylor Kitsch segura bem as pontas e a inspirada direção de arte enche os olhos. É uma pena que não tenha dado tão certo quanto o estúdio esperava que desse.
De tempos em tempos Steven Spielberg resolve trabalhar sem parar e lança dois filmes quase que simultaneamente. E nunca erra! Se os pares Jurassic Park/A Lista de Schindler, Minority Report/Prenda-me se For Capaz não decepcionam em nenhum ponto, Cavalo de Guerra/As Aventuras de Tintim seguem o mesmo caminho. Fica claro que o diretor tenta mesclar "filme sério" com "filme família"; neste caso, As Aventuras de Tintim é pura diversão. Spielberg bota a imaginação para funcionar e usa vários dos truques que aprendeu em sua notável carreira para criar uma animação virtuosa e belíssima. Fiel ao seu material de origem, o longa diverte pelo visual e pela história bem amarrada. Não há tempo para respirar nesse vertiginosa viagem que promete uma continuação comandada por Peter Jackson. É esperar para ver!
O Homem que Mudou o Jogo é um drama feito de momentos. E existem vários bons momentos nessa emocionante história. O melhor deles talvez seja o que encerra a obra. Brad Pitt mais uma vez prova sua seriedade agora na pele de Billy Beane, gerente geral de um time de beisebol desacreditado que ganha novo fôlego graças a um programa que diz qual o melhor caminho a seguir, ou seja, quais os jogadores melhor se encaixam nos anseios do grupo. O roteiro excelente de Steven Zaillian e Aaron Sorkin não poupa quem não entende sobre o esporte e vomita na tela informações e palavras que só quem conhece o jogo vai entender; mesmo assim, é o desenvolver do personagem central, e os acontecimentos que giram ao seu redor, que fazem de O Homem que Mudou o Jogo uma pequena joia. Bennett Miller capricha na direção e a montagem ajuda na construção da trama.
Michael Shannon é um grande - e subestimado - ator. E é dando vida a personagens perturbados que ele se sobressai. Sua performance em Foi apenas um Sonho lhe rendeu uma indicação ao Oscar e seu talento vem sendo comprovado até na TV, como coadjuvante de Boardwalk Empire, onde rouba a cena. Em O Abrigo, Shannon interpreta Curtis, um simples trabalhador de uma pequena cidade que começa a ter visões assustadoras sobre o fim do mundo. O grande acerto da obra, além de seu protagonista, é o estudo delicado de seu personagem; a dubiedade da situação enriquece a trama, somos apresentados a variadas pistas que nos ajudam a montar nossas próprias opiniões. Um pequeno filme que merecia muito mais atenção do que recebeu
Liam Neeson parece ter migrado definitivamente para o gênero "ação". Depois de participar de filmes bacanas como Busca Implacável e outros péssimos como Esquadrão Classe A, Nesson retoma a parceria com o diretor deste último e surpreende. Com trama simples e elenco praticamente desconhecido, A Perseguição se beneficia principalmente pela ambientação. Os acontecimentos são óbvios e a resolução dos fatos também, mas o desenrolar dessa história de sobrevivência vale a pena. Com excelente fotografia, A Perseguição cria um clima de tensão crescente e entrega aquilo que podia se esperar: boas cenas de ação - quando acontecem, claro - e suspense acentuado. Uma grata surpresa.
Revitalizar clássicos é sempre uma aposta arriscada com noventa por centos de chances de dar errado. Tentar dar novo fôlego a uma obra que já em sua época beirava o absurdo e abordagens que andavam numa corda bamba entre o aceitável e o puramente gore (que muitas vezes não é positivo) é insanidade. O Enigma de Outro Mundo é um dos clássicos que deveriam ficar para sempre intocados, quietos na lembrança dos cinéfilos, guardados no extenso arquivo cinematográfico, na seção dos grandes filmes de terror, na pasta dos "trash movies" autênticos. Pois algum imbecil resolveu tirar o pó disso tudo e dar sua visão do alienígena sem rosto. O que antes era engraçado, divertido e, claro, assustador, vira um festival de bobagens inaceitáveis com um elenco sofrível. Temos cenas que tentam homenagear momentos marcantes da obra original, mas que acabam apenas constrangendo sua fonte e os que assistem, corajosamente, esse torturante remake.
O Artista é uma linda homenagem ao Cinema que, caso não a fosse, seria mais uma historinha comum sobre dois apaixonados que, através das adversidades e dos acontecimentos absurdos, se conhecem e se apaixonam ainda mais. Mesmo com isso em mente, é impossível não adorar O Artista. Temos de entender que o atual vencedor do Oscar de Melhor Filme é uma autêntica homenagem e segue essa característica à risca: antigamente os filmes contavam histórias simples, de amor ou não, eram contos singelos sobre as coisas, as pessoas e os fatos; nada de roteiros muito elaborados e complicados, eram apenas histórias bem escritas e belamente contadas. É o caso do filme de Michel Hazanavicius; trata-se de um arco dramático simples que presta uma homenagem à Sétima Arte e a todos que já a fizeram e fazem. Não é o melhor filme do ano, mas é o que mais devemos respeitar.
Shame, se fosse uma obra literária, seria um conto. Simples em sua estrutura, mas profundo em seus estudos, Shame não seria um romance, pois caso o fosse, teria pouquíssimas páginas, já que poucas coisas acontecem de fato. Temos um homem, sua irmã e sua rotina. Só. Acompanhamos o sujeito (interpretado brilhantemente por Michael Fassbender) ir e vir, conhecer pessoas, caminhar pela casa, flertar com jovens e belas moças, entregar-se a uma condição e uma melancolia que nós, como observadores, percebemos, mas que ele não vê, ou ao menos não quer. Solitário, abraça a causa e vive todos os dias igualmente, mudando apenas o objeto com o qual se diverte. Contos podem ser fantásticos e tão marcantes quanto os romances, são apenas menores e com um núcleo mais contido. A questão é que Shame só alcança seus objetivos e instiga o público de um jeito: no Cinema. Talvez não há outro meio de contar essa história em sua magnitude tão complexa.
Sempre digo que não sou fã de Stephen Daldry, e essa opinião não mudou. Todos os seus filmes são superestimados e não me convencem; não consigo me sentir atraído pelas histórias que dá vida e o considero um realizador convencional, tanto narrativa quanto esteticamente falando. Há, porém, duas de suas criações que gosto: O Leitor e este Tão Forte e Tão Perto, mas como observações negativas ainda assim. Tão Forte e Tão Perto, por exemplo, parece não se sustentar na frágil história com o 11 de setembro como plano de fundo, soando covarde e barato muitas vezes e demasiado sentimental em outras tantas.
True Blood teve uma primeira temporada fantástica, e um segundo ano à altura. A terceira temporada continuou indo por um bom caminho, mas a coisa ficou feia na quarta parte desta história. O quarto ano de True Blood é vergonhoso em vários sentidos, mas principalmente nos principais e mais abrangentes: a narrativa e o visual. A série abraçou o lado cafona e os seres sobrenaturais que já não eram muito aceitáveis no terceiro capítulo acabam tomando conta do show, resultando num programa frágil e de gosto duvidoso. O texto preguiçoso não desenvolveu os personagens e não apresentava nada de novo; foram doze episódios - quase doze horas, portanto - de "muito nada". A bruxa que aterrorizou humanos e vampiros não convenceu e mesmo sendo interpretada por uma atriz competentíssima (Fiona Shaw, a tia Petúnia de Harry Potter), fica devendo - e muito - para Russell Edgington e Maryann Forrester (Dennis O'Hare na terceira e Michelle Forbes na segunda temporada, respectivamente). A quinta temporada já estreou e recentemente apresentou o sexto episódio. Até agora podemos considerar uma considerável melhora do ano passado para o atual, uma clara tentativa dos produtores e roteiristas tentarem resgatar a brilhante True Blood de seus três primeiros anos.
Matheus Pereira
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial
Assinar:
Postar comentários (Atom)
0 comentários:
Postar um comentário