Capítulo 1
Estava cansado.
Nos pés, as bolhas ardiam. Os joelhos já não suportavam o peso do dono. De tempos em tempos quase caía, mas sempre se esforçava para que isso não acontecesse.
Talvez esta fora sua maior viagem. Já caminhara muito na vida, mas nunca como agora. O sol já lhe queimara a pele. A garganta doía de tão seca. A barba estava comprida. O cabelo fedia. Há tempos não tomava um banho. Apenas caminhara, e muito.
Vestia trapos. Não roupas, mas trapos. Aqueles pedaços rasgados de pano não poderiam ser chamados de roupas. Vestia uma túnica branca. Ou melhor, era branca. Agora estava uma mistura de cinza, com preto e cores sem nome. Vestia uma longa peça de roupa parecida com um casaco, ou sobre-tudo. Era marrom. Esta até que estava bem limpa e cuidada perto do resto. Estava descalços, caminhara tanto que perdera os calçados no caminho. As pequenas pedrinhas do caminho já perfuraram o pé. E as bolhas ainda ardiam.
Ele nem sabia para onde estava indo. Só estava caminhando. Já vira tanta coisa. Vira o homem, no sentido mais amplo da palavra, ir do topo ao mais fundo dos precipícios. Vira o mundo ruir e nascer de novo. Vira um ser, muito conhecido das maiorias, pintar e bordar com suas criações. Vira irmão matando irmão...
Aos poucos, a paisagem desértica foi mudando. Ao longe, o cinza predominava. Continuou caminhando. Quanto mais se aproximava, mais a paisagem ia tomando forma. E mais confuso ele ficava.
O que era aquilo?
A alguns metros de seus pés a terra se transformava em um tipo de assoalho cinza escuro, quase preto. Havia alguns desenhos em tal chão. Tal chão era duro como pedra. Parecia estar colocado sobre a dura terra daquela paisagem semi-árida.
Continuou caminhando.
À sua direita, enormes construções.
"Várias casas empilhadas", pensou. Uns eram cinza, outros coloridos. Tinham buracos quadrados nas paredes. Buracos estes tapados por vidros. À esquerda, mais casas empilhadas. Um grande e estranho objeto com quatro rodas viradas para cima exalava uma fumaça.
Continuou caminhando.
Mais adiante viu o corpo de uma pessoa. Do pescoço jorrava um sangue vermelho escuro. Ele ficara chocado. Já vira muitas coisas, mas sempre se chocava ao ver um cadáver. A poucos metros dali, mais casas empilhadas e casa normais. Muito, mas muito diferentes daquelas que conhecia, mas dava pra ver nitidamente que eram casas. Mais e mais objetos com quatro rodas. Uns tinham apenas duas e estavam jogados, com seus supostos donos mortos ao lado.
Mais e mais corpos. Já estava sendo impossível caminhar e não pisar num corpo. Alguns estavam empilhados.
Uma explosão. De uma das casas empilhadas uma forte fumaça saía. Dava para ver o fogo ardendo lá no alto. Uma coisa enorme, parecida com um pássaro caía velozmente há metros dali. Sem saber o que era e o que estava acontecendo, apenas viu o "pássaro gigante" cair. Não levou muitos segundo para o grande pássaro atingir o solo e ocasionar uma enorme explosão. As labaredas foram alto. O barulho deixou-o temporariamente surdo.
Correu até uma das coisas de quatro rodas e se escondeu. Tal coisa tinha suas rodas voltadas para cima. Ficou sentado. Escondido. O mundo estava desmoronando. Ele sabia disso. Não sabia onde estava, nem o que eram aquelas coisas estranhas, mas sabia que o mundo estava caindo. Sempre dá pra notar.
As bolhas ainda ardiam. A cabeça doía como nunca doera. Podia ouvir barulhos vindos de longe. Podia ouvir gritos. De repente, uma mulher vestida com as mais ridículas e estranhas roupas que já vira, aparecera correndo em seu campo de visão. Estava gritando histericamente.
-Ei, ei você! Sua louca! - estava falando num idioma estranho. Muito estranho. - Ei, mulher. - o que ele queria falar saía de sua boca, só que em outro idioma. Ele sabia o que estava falando, mas de outra forma.
A mulher parou e gritou:
-Você está normal? Não falou no celular? Não atendeu? Responde! Você está bem?
Surpreendentemente ele entendera o que a mulher dissera. Era outra língua, mas ele entendera. "Ah, Ele sabe tudo, Ele sempre sabe!"
-Sim, sim! Estou bem sim! O que é celuar?
-Olha, você está bem ou não?
-Sim!
-Se está bem, por que não fala direito?
-Olha mulher, não estou lhe entendendo. Acabei de chegar, não sei o que está acontecendo!
-De que mundo você é? Se for de outro, volte rápido, porque este está acabando! - e ela mal acabara de falar quando um homem com sangue escorrendo pelo rosto a ataca. O homem morde o ombro da mulher. Ela grita. O sol já se escondera atrás de uma nuvem. O homem agora morde o braço da pobre mulher. A roupa ridícula que a coitada vestia agora estava suja de sangue. Ela fechou os olhos e caiu. O homem gritou alguma coisa. Algo que não entendera. Não era em seu idioma antigo, nem no novo. Talvez nem fora uma palavra. Era mais um rugido. Depois de gritar umas três vezes, o homem deixa sua presa para trás. Dá pra ver que o homem ensanguentado caminha sem rumo. Tropeçando nos próprio pés.
Sem motivo aparente, o homem com sangue no rosto ignorara o estranho encostado na "coisa com rodas". O andarilho levantou e caminhou. Chocado com tudo a sua volta, nunca vira o mundo ruir de uma maneira tão violenta. Talvez até vira, mas o cenário desconhecido ajudava na percepção dos acontecimentos. A alguns metros dali, pessoas atacavam pessoas. Muito sangue. O estranho chão cinza escuro, com listras amarelas pintadas no centro, estava decorado com poças de sangue.
Mais adiante havia um lugar cujo chão era revestido com um gramado verde forte e vivo, talvez um pouco morto agora, mas ainda vivo. Em sono eterno, pessoas ali jaziam. Aquele lugar onde a vida era tão comum, onde a alegria deveria ser a regra única, hoje abrigava, sob a grama verde, corpos ainda quentes.
O caminhante desviava dos corpos. Viu um cão morto e sem um das orelhas. Sentiu uma ânsia dentro de si.
O andarilho despencou e fitou o céu. Em uma das esquinas, tinha a palavra "Parque" escrita numa placa enfeitada.
O nome do andarilho era Caim.
E ele estava cansado.
Nos pés, as bolhas ardiam. Os joelhos já não suportavam o peso do dono. De tempos em tempos quase caía, mas sempre se esforçava para que isso não acontecesse.
Talvez esta fora sua maior viagem. Já caminhara muito na vida, mas nunca como agora. O sol já lhe queimara a pele. A garganta doía de tão seca. A barba estava comprida. O cabelo fedia. Há tempos não tomava um banho. Apenas caminhara, e muito.
Vestia trapos. Não roupas, mas trapos. Aqueles pedaços rasgados de pano não poderiam ser chamados de roupas. Vestia uma túnica branca. Ou melhor, era branca. Agora estava uma mistura de cinza, com preto e cores sem nome. Vestia uma longa peça de roupa parecida com um casaco, ou sobre-tudo. Era marrom. Esta até que estava bem limpa e cuidada perto do resto. Estava descalços, caminhara tanto que perdera os calçados no caminho. As pequenas pedrinhas do caminho já perfuraram o pé. E as bolhas ainda ardiam.
Ele nem sabia para onde estava indo. Só estava caminhando. Já vira tanta coisa. Vira o homem, no sentido mais amplo da palavra, ir do topo ao mais fundo dos precipícios. Vira o mundo ruir e nascer de novo. Vira um ser, muito conhecido das maiorias, pintar e bordar com suas criações. Vira irmão matando irmão...
Aos poucos, a paisagem desértica foi mudando. Ao longe, o cinza predominava. Continuou caminhando. Quanto mais se aproximava, mais a paisagem ia tomando forma. E mais confuso ele ficava.
O que era aquilo?
A alguns metros de seus pés a terra se transformava em um tipo de assoalho cinza escuro, quase preto. Havia alguns desenhos em tal chão. Tal chão era duro como pedra. Parecia estar colocado sobre a dura terra daquela paisagem semi-árida.
Continuou caminhando.
À sua direita, enormes construções.
"Várias casas empilhadas", pensou. Uns eram cinza, outros coloridos. Tinham buracos quadrados nas paredes. Buracos estes tapados por vidros. À esquerda, mais casas empilhadas. Um grande e estranho objeto com quatro rodas viradas para cima exalava uma fumaça.
Continuou caminhando.
Mais adiante viu o corpo de uma pessoa. Do pescoço jorrava um sangue vermelho escuro. Ele ficara chocado. Já vira muitas coisas, mas sempre se chocava ao ver um cadáver. A poucos metros dali, mais casas empilhadas e casa normais. Muito, mas muito diferentes daquelas que conhecia, mas dava pra ver nitidamente que eram casas. Mais e mais objetos com quatro rodas. Uns tinham apenas duas e estavam jogados, com seus supostos donos mortos ao lado.
Mais e mais corpos. Já estava sendo impossível caminhar e não pisar num corpo. Alguns estavam empilhados.
Uma explosão. De uma das casas empilhadas uma forte fumaça saía. Dava para ver o fogo ardendo lá no alto. Uma coisa enorme, parecida com um pássaro caía velozmente há metros dali. Sem saber o que era e o que estava acontecendo, apenas viu o "pássaro gigante" cair. Não levou muitos segundo para o grande pássaro atingir o solo e ocasionar uma enorme explosão. As labaredas foram alto. O barulho deixou-o temporariamente surdo.
Correu até uma das coisas de quatro rodas e se escondeu. Tal coisa tinha suas rodas voltadas para cima. Ficou sentado. Escondido. O mundo estava desmoronando. Ele sabia disso. Não sabia onde estava, nem o que eram aquelas coisas estranhas, mas sabia que o mundo estava caindo. Sempre dá pra notar.
As bolhas ainda ardiam. A cabeça doía como nunca doera. Podia ouvir barulhos vindos de longe. Podia ouvir gritos. De repente, uma mulher vestida com as mais ridículas e estranhas roupas que já vira, aparecera correndo em seu campo de visão. Estava gritando histericamente.
-Ei, ei você! Sua louca! - estava falando num idioma estranho. Muito estranho. - Ei, mulher. - o que ele queria falar saía de sua boca, só que em outro idioma. Ele sabia o que estava falando, mas de outra forma.
A mulher parou e gritou:
-Você está normal? Não falou no celular? Não atendeu? Responde! Você está bem?
Surpreendentemente ele entendera o que a mulher dissera. Era outra língua, mas ele entendera. "Ah, Ele sabe tudo, Ele sempre sabe!"
-Sim, sim! Estou bem sim! O que é celuar?
-Olha, você está bem ou não?
-Sim!
-Se está bem, por que não fala direito?
-Olha mulher, não estou lhe entendendo. Acabei de chegar, não sei o que está acontecendo!
-De que mundo você é? Se for de outro, volte rápido, porque este está acabando! - e ela mal acabara de falar quando um homem com sangue escorrendo pelo rosto a ataca. O homem morde o ombro da mulher. Ela grita. O sol já se escondera atrás de uma nuvem. O homem agora morde o braço da pobre mulher. A roupa ridícula que a coitada vestia agora estava suja de sangue. Ela fechou os olhos e caiu. O homem gritou alguma coisa. Algo que não entendera. Não era em seu idioma antigo, nem no novo. Talvez nem fora uma palavra. Era mais um rugido. Depois de gritar umas três vezes, o homem deixa sua presa para trás. Dá pra ver que o homem ensanguentado caminha sem rumo. Tropeçando nos próprio pés.
Sem motivo aparente, o homem com sangue no rosto ignorara o estranho encostado na "coisa com rodas". O andarilho levantou e caminhou. Chocado com tudo a sua volta, nunca vira o mundo ruir de uma maneira tão violenta. Talvez até vira, mas o cenário desconhecido ajudava na percepção dos acontecimentos. A alguns metros dali, pessoas atacavam pessoas. Muito sangue. O estranho chão cinza escuro, com listras amarelas pintadas no centro, estava decorado com poças de sangue.
Mais adiante havia um lugar cujo chão era revestido com um gramado verde forte e vivo, talvez um pouco morto agora, mas ainda vivo. Em sono eterno, pessoas ali jaziam. Aquele lugar onde a vida era tão comum, onde a alegria deveria ser a regra única, hoje abrigava, sob a grama verde, corpos ainda quentes.
O caminhante desviava dos corpos. Viu um cão morto e sem um das orelhas. Sentiu uma ânsia dentro de si.
O andarilho despencou e fitou o céu. Em uma das esquinas, tinha a palavra "Parque" escrita numa placa enfeitada.
O nome do andarilho era Caim.
E ele estava cansado.
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Matt, parabéns!!! Excelentes livros, ótima narrativa. O trabalho vai ser árduo e aguardaremos aqui ansiosos pelas próximas aventuras.
Parabéns!
Abraço
Fernando Fonseca disse...
25 de junho de 2010 às 23:51
Daqui a pouco o blog vira um diário,tamanha é a imbecibilidade do autor!
O texto não ficou bom!
Anônimo disse...
1 de julho de 2010 às 22:21
Valeu Fernando meu irmão! Muito obrigado!
Anônimo, tens todo o direito de não gostar. Identifique-se (diga seu nome verdadeiro ou o artístico, já que desconfio quem é vc) pois não gosto de conversar com anônimos, faça críticas construtivas para que eu possa melhorar e por fim respeite.
Abraços e volte sempre, pois sei que gostando ou não vc sempre está aqui.
Matheus Pereira disse...
3 de julho de 2010 às 14:11