Estava muito ansiosa para assistir Distrito 9. As muitas críticas positivas classificando-o como um dos melhores filmes do ano e as pouquíssimas críticas negativas, elevaram minha curiosidade em relação ao filme a um nível praticamente inédito até então! Bem, enfim todas as dúvidas foram tiradas. Depois de tanta expectativa, assisti a um filme que além de me desgostar, me incomodou. Muito se falou de sua “brilhante” metáfora sobre racismo, xenofobia e segregação, mas e daí? Pessoalmente prefiro ver assuntos tão sérios e relevantes abordados objetivamente e não usados como desculpa e maquiagem para um filme de ação, que nem sequer é dos melhores! A morte de um filme supostamente sério é provocar o tal do riso involuntário. Isso aconteceu comigo em vários momentos na 1ª parte do filme, precisamente naqueles em que forçou-se a semelhança entre o comportamento dos aliens e das minorias que vivem segregadas e oprimidas. Aliens roubando tênis dos humanos? Relações sexuais inter raciais (aparentemente impossíveis) que nos fazem rir ao simplesmente imaginá-las? Afinal, na cabeça dos roteiristas qual seria a idade do público alvo desse filme? Na verdade acho que é aí que reside o problema. O nível em geral é aceitável para um filme destinado a um público jovem e inaceitável para uma platéia adulta que esperasse uma abordagem mais séria do assunto segregação racial.O tempo todo analogias são forçadas, em um didatismo irritante como se fôssemos incapazes de compreender uma situação que, sejamos francos, é do conhecimento de qualquer adulto minimamente bem informado. Chega a ser ofensiva tamanha exposição de humanitarismo fast food, fazendo pouco caso da inteligência da platéia. O tão elogiado personagem central Wikus, não desperta simpatia alguma, por mais familiarizada que eu esteja com o conceito de anti herói. Burocrata burro, que não enxerga um palmo diante do nariz, só resolve reagir e encarar a óbvia verdade, quando a coisa piora a níveis absurdos para o seu lado e não lhe resta outro recurso a não ser buscar ajuda entre aqueles que até então oprimia. Isso faz com que sua redenção movida pelo interesse e embalada por uma musiquinha étnica e melosa de dar nos nervos perca toda a força, coisa que o roteirista parece não perceber.
Personagens estereotipados, de maldade desmedida e comportamento previsível, dignos de qualquer filmezinho B e que tiram qualquer credibilidade de um filme que se assuma como sério também estão presentes, como o sogro de Wikus e o líder das tropas de ataque aos aliens. Também não faltam situações clichês como aquela em que o alien descobre todas as maldades realizadas contra seus semelhantes, entra em crise e em meio a balas zunindo por todos os lados é convencido por seu amigo humano e interesseiro a pensar em seu filho e continuar lutando por sua vida. Ao retratar a situação do Distrito 9, sempre recorrendo a rasas metáforas, o filme consegue mais reforçar preconceitos do que combatê-los. O tom caricatural dos personagens e das cenas, faz com que qualquer boa intenção ideológica se dilua e seja perdida em meio a um festival histérico de sangue, violência e efeitos especiais. A cena final em que o lagostão alienígena carinhosamente confecciona uma florzinha com suas próprias garras em meio a um lixão é desde já, um dos mais ideais exemplos de humor involuntário de que se tem notícia. Ao pretender ser tocante e obviamente obter uma resposta emocional da platéia, consegue apenas ser engraçado pelo absurdo da situação.
A idéia central do filme, que era interessante, apresentava o desafio de uma abordagem menos panfletária, mais austera e comedida. Infelizmente, um conjunto de escolhas erradas fez com que uma boa idéia fosse desperdiçada. A boa bilheteria e o final em aberto prometem uma segunda parte. Boa sorte a todos os envolvidos. Desta vez, manterei distância.
Nota 5/10
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adorei a critica bella... eh justamente disso q eu gosto, de cinefilos que tem sua propria opiniao e nao vai com a do "gueto", apesar, de nao concordar, amei de verdade o texto. Digno de profissa... Tamo junto titiaa...
RiChaR disse...
27 de outubro de 2009 às 23:00
Jura? Putz! Pensei que vc nunca mais ía falar comigo! rsrsrsrsr
Anabela disse...
28 de outubro de 2009 às 10:52
Bela resenha. Havia lido apenas críticas muito favoráveis, inclusive a da Veja (o que não quer dizer grande coisa...).
Mas acho que o que vc escreveu é muito convincente.
Detalhe: não vi o filme, e não vou mais ver.
Parabéns pelo blog, tá muito legal.
Ah, se der , coloca de vez em quando alguma coisa dos anos 70, a década perdida do cinema, no sentido de que boa parte do que foi lá produzida é muito difícil de achar.
Beijos a todos.
Luiz disse...
1 de novembro de 2009 às 16:55
Puxa Luiz! Obrigada! Mas não deixe de assistir prá formar sua opinião; só não vá esperando tanto quanto eu fui....rsrsrsrsr Quanto à década de 70, tenho certeza que nossos experts Caio, Richard e Matheus, devem estar pensando à respeito.
Anabela disse...
16 de novembro de 2009 às 21:04