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Especial - Steven Spielberg - Parte 2

Steven Spielberg
___Especial - Parte 2___

Amistad (1997)



Muitos apontam 1941 como o primeiro grande erro de Spielberg, ou Além da Eternidade ou Hook como grandes fracassos artísticos. Pois particularmente considero Amistad seu primeiro erro na carreira. Se as outras obras menos cultuadas do cineasta apresentavam vários elementos elogiáveis, este fatídico drama entrega apenas um roteiro correto e uma beleza técnica incontestável. Se a direção de arte, fotografia e figurinos merecem destaque, o mesmo não se pode dizer do ritmo do longa. Arrastado e vazio, Amistad não escolhe um caminho e se perde várias vezes (ora almeja ser uma obra sobre tribunais ora quer discursar sobre abolicionismo e desigualdades). Muito falatório e pouco conteúdo. Não é insuportável, mas é, sem dúvidas, o filme mais decepcionante de Spielberg.


O Mundo Perdido - Jurassic Park (1997)



Tudo bem que a continuação de Jurassic Park não é tão boa quanto esperávamos que fosse, mas é uma fita divertida. O problema aqui é que o roteirista David Koepp e o próprio Spielberg se tornam prolixos. Inserindo novos personagens que em nada acrescentam à trama ou à mitologia já estabelecida pelo antecessor, Koepp acaba tornando alguns momentos fatídicos e desnecessários. Tempos preciosos são gastos com personagens que, mais à frente, são esquecidos ou relegados ao segundo plano. Se o primeiro tinha seus protagonistas e coadjuvantes bem definidos e seus arcos dramáticos eram explorados com inteligência, aqui o único propósito é largar pessoas pelo caminho para que, talvez, o público possa escolher por quem torcer ou por quem precisar recorrer quando quiser se imaginar na situação proposta pelo roteiro. É um bom filme, mas podia ser muito mais com o que tinha em mãos.

O Resgate do Soldado Ryan (1998)



Pela sequência inicial, O Resgate do Soldado Ryan já merece nossa atenção e respeito. É a típica cena em que dizemos: "só por isso, valeu o ingresso". Sangrenta, crua e de um realismo assustador, a sequência do desembarque na Normandia está naquele lugar sagrado de nossa memória, onde ficam os grandes momentos do Cinema. Naquela caixinha onde guardamos os trechos mais preciosos de nossos filmes favoritos. É lá que está a corrida de bigas de Ben-Hur, o prólogo de O Poderoso Chefão, o osso que se transforma, de repente, em uma nave espacial de 2001 - Uma Odisséia no Espaço e o pequeno alienígena fazendo uma bicicleta voar ante ao brilho incessante do luar em ET. A longa abertura - trinta incríveis minutos - trás planos-sequência vertiginosos, braços voando para todos os lados, balas cortando o vento, corpos partidos ao meio, as já famosas cenas de quando uma bomba explode ao lado de alguém deixando-o surdo, sangue, fogo, areia, suor, lágrimas e brados a Deus; jovens soldados clamando por ajuda, apelando ao céus por perdão e redenção. O problema é que naquele inferno, Deus não os escutaria. Essa meia hora inicial é a prova de fogo do espectador. Se você aguentar a este teste, poderá seguir assistindo o filme, se não, pode levantar e fazer outra coisa. Spielberg apresenta sua criação e mostra o que quer fazer no decorrer dos próximos 140 minutos. O restante da obra é uma aula de direção, mas só este início supracitado já deve ter garantido o segundo Oscar a Spielberg.

A.I. - Inteligência Artificial (2001)



Defendo A.I. sempre que se precisa. Quando criticam a estrutura ou a emoção exagerada de Spielberg ou quando detonam o desfecho criado pelo sensível diretor. O fato é que considero A.I. um de seus melhores filmes, e ver os nomes de Spielberg e Kubrick ao mesmo tempo na tela é quase surreal; um sonho de qualquer cinéfilo. A história otimista e com jeito de fábula do garoto-robô que quer se tornar um menino de verdade e, assim, ser amado por sua mãe, parece ter sido criada para Steven transpor para as telas. Foi por se tratar de uma obra extremamente emocional e fantasiosa que Stanley Kubrick ofereceu o trabalho a Steven. Sabendo que seria uma pessoa incapaz de transpor todas as nuances emocionais para as telas - Kubrick era racional e seco em suas abordagens, preferindo a triste realidade a uma feliz fantasia - o falecido cineasta resolveu apenas produzir o longa e ajudar em sua criação, sem interferir na direção ou em questões muito importantes para o andamento da trama. Após a morte de Stanley, Spielberg achou que era sua obrigação dar vida ao pequeno robô David; assim, reescreveu o primeiro tratamento já escrito por Kubrick, adaptando e enxertando seu ponto de vista e criando novas cenas e um novo final. O que as pessoas não entendem é que este é um filme de Steven Spielberg e não de Stanley Kubrick, e que a fita é uma homenagem do primeiro para o segundo. Contando com Haley Joel Osment em atuação fantástica e um inesquecível ursinho Teddy, A.I. possui erros inegáveis, mas uma alma que transcende qualquer tropeço.

Minority Report (2002)



Minority Report é um dos filmes mais belos que já vi. É de uma competência técnica que as palavras somem para descrevê-la. A começar pela fotografia de Janusz Kaminski, sempre mergulhada em uma paleta azulada, alternando da vivacidade à sobriedade com eficiência. Os efeitos especiais são impecáveis e a direção de arte criativa (o futuro além de crível trás elementos belíssimos - os carros, criados especialmente para o filme, são um atrativo à parte). A trilha sonora, composta por John Williams, se mostra bem melhor utilizada aqui do que em outras obras do diretor. O clima de urgência é ressaltado pela música e pela ágil edição. Mas tudo isso não seria nada sem o inteligente roteiro assinado por Scott Frank e Jon Cohen, baseado num conto de Philip K. Dick. Apostando em uma narrativa longa sem nunca perder o ritmo ou o foco, o roteiro é uma sucessão de acontecimentos típicos de um filme de ação/aventura, mas que confia na inteligência do público para inserir ideias mirabolantes pelo caminho. Um dos meus filmes favoritos de Spielberg.

Prenda-me se for Capaz (2002)



Spielberg repete várias vezes alguns temas em seus filmes, mas de uma forma orgânica, de modo que sequer percebamos as semelhanças entre um exemplar e outro. Prenda-me se for Capaz tem alguns elementos recorrentes na carreira do cineasta. Um deles é o - quase - sempre presente tema da paternidade. Em todas as suas obras Spielberg dá certa atenção para o relacionamento entre pais e filhos, sejam estes firmes ou apenas vasos quebrados. Outro ponto é a homenagem que o diretor presta à uma época, tanto ao Cinema quanto aos costumes do período. Nessa divertida aventura, aliado a brilhante fotografia e a direção de arte primorosa, Spielberg conta uma história simples enquanto brinca com a geografia e o clima da década de 60. Leonardo DiCaprio convence em diferentes épocas da vida de seu personagem (no início, por exemplo, DiCaprio encara Frank Abagnale com dezesseis anos) e Tom Hanks é um coadjuvante de luxo. Os créditos iniciais merecem atenção.

O Terminal (2004)



Depois de ter lançado dois filmes num só ano, Spielberg descansou em 2003 e voltou em 2004 com O Terminal, deliciosa comédia com toques dramáticos que angariou algumas críticas ao diretor. Creio que o fato de ser fã de alguém bloqueia sua mente para grandes problemas ou erros que acontecem pelo caminho, pois não consigo ver uma fita ruim na carreira do cineasta. E O Terminal não foge dessa regra. Tom Hanks, em atuação fabulosa, cria Viktor Navorski. Aqui se tem uma daquelas parcerias que funcionam sempre, e vê-la acontecendo novamente é gratificante. Spielberg aliando-se a Hanks para um filme leve, descompromissado (diferentes de O Resgate do Soldado Ryan, outra parceria da dupla), é notável. Sem se preocupar com os exageros e absurdos de contar a história de um homem que mora num terminal, Spielberg cria gags engraçadas e bonitinhas, garantindo boas risadas. Não é uma obra perfeita - ainda mais ao pensar nos dois impecáveis filmes que o antecederam -, mas merece todo nosso respeito.

Guerra dos Mundos (2005)



Guerra dos Mundos é um filme que não canso de ver. Repleto de cenas marcantes, esta ficção cheia de ação entrega um Spielberg mais escapista, preocupado, basicamente, com o espetáculo. E que espetáculo! Do início ao fim Guerra dos Mundos é um show visual inesquecível. Novamente a fotografia de Kaminski salta aos olhos. Da tempestade elétrica que mergulha as ruas em um cinza opressor, ao porão onde Tom Cruise e Dakota Fanning (no papel da criança mais chata do Cinema) se escondem ao lado de Tim Robbins. As imagens criadas por Kaminski e Spielberg são belíssimas. Os efeitos especiais, mais uma vez, garantem a diversão e o êxtase (o plano sequência em alta velocidade é um dos pontos altos de toda a carreira de seu criador). Guerra dos Mundos não oferece nenhuma metáfora ou crítica de cunho político ou social. É uma aventura escapista pura e simples. Não espere filosofias ou analogias; apenas relaxe e curta o show.

Munique (2005)



Munique é outro exemplo da seriedade de Spielberg. Este talvez seja o filme mais sério do diretor. Um complexo jogo de ideias e emoções costurado com belas imagens e acontecimentos impactantes (cada assassinato, as bombas, as mortes...). Eric Bana, em seu melhor trabalho, encarna Avner, líder de um pequeno grupo designado a matar todos os envolvidos nos atentados a Munique, nas Olimpíadas de 1972. O foco aqui, diferente da outra película do cineasta lançada no mesmo ano, não é a ação, mas o resultado das decisões tomadas pelas pessoas. Aqui o que vale é o jogo político como pano de fundo e o dia-a-dia dos "assassinos". Aqui os crimes são crus, sem muita elaboração. As mortes são frias e atrapalhadas. Os algozes são, até certo ponto, despreparados, e vê-los perdendo suas respectivas almas aos poucos é triste e desolador. Os efeitos do acontecimento (no caso, o massacre de Munique e a vingança que se seguiu) em cada um são analisados com cuidado pelos roteiristas e pelo diretor. A relação entre os integrantes do grupo, suas opiniões, suas divergências. São humanos cometendo atrocidades que eles sequer entendem. As aflições, a paranóia, tudo é esmiuçado em tons opacos em Munique. Uma obra-prima.

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008)



Spielberg "joga" a culpa do fracasso artístico de O Reino da Caveira de Cristal em George Lucas e os demais argumentistas e roteiristas da fita. O fato é que Spielberg deve ter adorado quando descobriu alienígenas no meio do caminho. Impossível até mesmo não rir quando vemos ETs e Indiana Jones numa mesma sequência. É ilógico, mesmo se tratando de Indiana. Lucas pediu demais do público e foi difícil engolir toda a conversa dos "deuses astronautas". Com um mundo cheio de mistérios o povo resolveu mexer com seres do espaço. Shia Labeouf parece cansado, Harrison Ford parece estar fazendo um favor e até mesmo Spielberg demonstra querer estar em outro lugar ao dirigir uma trama frouxa de maneira convencional. O heroi escapa de uma bomba ("A" bomba) dentro de uma geladeira que voa pelos ares no momento da explosão, o filho do heroi salta em cipós ao lado de macaquinhos, a vilã (encarnada por Cate Blanchett) apela pra canastrice, um louco John Hurt balbucia bobagens e uma família de castores aparece aqui e ali. Não é ruim. Mas também não é bom.

Matheus Pereira

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