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Crítica: A Rede Social


Parece proposital: pouco mais de dez anos depois de lançar o profundo estudo da mente humana na virada do século com o sensacional Clube da Luta, David Fincher concebe novamente um estudo incrível dos costumes e da mente humana na passagem da primeira para a segunda década do século. Filmes feitos em datas distintas que tem muito em comum: mostram, embasados em alguns seres humanos, o que a maioria das pessoas faz em seu dia a dia. Se em Clube da Luta o consumismo e sua dependência ocasional era o tema principal em A Rede Social o tema não é tão diferente. Assim como o longa estrelado por Edward Norton e Brad Pitt, A Rede Social também trata e vícios. O vício quase instantâneo que o Facebook causa nos usuários é o mais fidedigno retrato do que realmente acontece, e Fincher ilustra isso com muita inteligência: em certo instante uma adolescente estudante de Stanford diz que acessa o site cinco vezes por dia, e os criadores dizem em uma reunião que as pessoas acessam muito mais a rede social do que qualquer outro site. Esta é uma verdade que, depois de tomar conta das faculdades ianques, tomou conta de mais de duzentos países, tornando-se um vício instantâneo.

A Rede Social, como você já deve ter lido em vários lugares, não é necessariamente sobre a criação do Facebook, é sobre o criador da rede e seu "tino" social e, ainda mais, sobre a geração da rede social, a geração da internet. Depois de falar numa velocidade em que quase não acompanhamos a legenda em que Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg) fala sobre QI e clubes da faculdade e ao mesmo tempo humilha a namorada sem perceber, o jovem leva um fora da namorada. Bêbado, retorna para o alojamento e cria, com a ajuda dos amigos, em especial do brasileiro Eduardo Saverin (Andrew Garfield), o Facemash, um site onde as garotas "gostosas", segundo eles, eram separadas das feias. É lógico que o site não foi aceito pelas garotas, mas os rapazes proporcionaram mais de 22 mil acessos na primeira noite. Tantos acessos chamaram atenção de muita gente: a direção e os programadores de Harvard, a faculdade onde Zuckerberg estuda, intimaram e puniram o jovem gênio pois eles derrubara toda a rede da faculdade devido aos vários acessos do Facemash; mas por outro lado, o nerd recém-solteiro chama atenção dos ricos irmãos gêmeos Winklevoss e do sócio deles Divya Nerendra (Max Minghella) que propõe à Zuckerberg a criação e a sociedade de uma rede social, uma rede onde os estudantes de Harvard estariam ligados. Porém Mark decide fazer seu próprio site, sua própria rede social: thefacebook. Mesmo usando códigos diferentes, é claro para ele, para os gêmeos e para o espectador que Zuckerberg se aproveitou da ideia. Foi então, ao lado do amigo Eduardo que começaram a criação do thefacebook. E então, os processos: os irmãos, ao lado do sócio Nerendra, processam Zuckerberg pelo roubo da ideia, e Eduardo Saverin o processa por diminuir sua participação no capital da empresa. É com esse enredo que David Fincher, aliado à brilhante montagem, conta a história daquelas pessoas envolvidas na criação do Facebook.

Adaptado do livro "Bilionários por Acaso - A Criação do Facebook" de Ben Mezrich, o roteiro de Aaron Sorkin é afiado e inteligente. Com uma trama bem costurada que vai e vem no tempo intercalando momentos da criação e dos processos contra Zuckerberg. Sorkin mantém o ritmo de A Rede Social; em nenhum momento o ritmo cai, a obra fica monótona. Nas duas horas de duração acompanhamos uma ótima trama lógica e eletrizante. Mas a melhor coisa do roteiro de Sorkin são os diálogos. São inúmeros diálogos memoráveis. "Eu criei o Napster e fui processado por todos que vão ao Grammy", diz o descolado Sean Parker (Justin Timberlake); "Eu era seu melhor e único amigo", diz o traído Eduardo; "Você mantém as garotas afastadas não porque é nerd, é porque é um babaca", diz a triste ex-namorada; "Como tanta gente acessa essa rede social? O que ele (Zuckerberg) tem? Cinco amigos?", lamenta o sócio dos gêmeos; "Você não é um babaca, apenas faz de tudo para se tornar um", diz a advogada que acompanha um dos processos; "Eu criei o que seus clientes não tiveram nem intelecto nem criatividade para criar", diz o esperto Zuckerberg ao advogado do gêmeos. Eu poderia citar todas as falas de A Rede Social, mas deixo que você assista a obra e fique maravilhado com as palavras e a rapidez com que são ditas.

Mas as falas escritas por Aaron não teriam a mesma força se não fosse o brilhante elenco de A Rede Social. Encabeçado por Jesse Eisenberg numa atuação fantástica, o elenco conta com inúmeras atuações memoráveis. Andrew Garfield, futuro Homem-Aranha, no papel do brasileiro Eduardo, surpreende pela força e pelo equilíbrio com que interpreta o co-fundador e amigo de Mark. Armie Hammer, aliado a um soberbo efeito especial, interpreta os dois irmãos, convencendo o espectador que acha estar vendo dois atores diferentes interpretando os irmãos (na verdade, o rosto de Hammer é usado sobre o corpo de outro ator, o que não minimiza o trabalho do jovem ator) e Justin Tiberlake rouba a cena como o gênio sem rumo Sean Parker que se envolve com sexo, drogas e processos e ajuda o criador do Facebook (é ele que dá a ideia a Mark de tirar o "the" e deixar apenas Facebook, dizendo que o nome fica mais "limpo" desse jeito) a divulgar o site e levá-lo a outros países.

Contando muita coisa em 120 minutos (o filme é tão bom que passa rápido demais), David Fincher prova que não lança trabalho ruim. Todos os seus filmes são de "bom" para cima e que merece a atenção há muito atrasada. Cuidando menos de exercícios de estilo e mais da história e dos personagens (coisa que, na verdade, sempre fez), Fincher concebe uma direção firme e mostra que é um dos gênios de sua geração. Com uma bela trilha sonora e uma excelente montagem, A Rede Social é um filme completo.

Sendo considerado por muitos o melhor filme do ano (ainda acho A Origem uma obra um pouco melhor, o longa de Fincher vem em segundo lugar na minha lista) e cotado à várias estatuetas douradas em fevereiro, A Rede Social é o retrato da atual geração.

Quem sabe daqui a dez anos David Fincher faça mais um retrato fiel da próxima geração...

Nota: 10,0

Matheus Pereira

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