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Crítica: Cisne Negro


Após assistir "Cisne Negro", novo filme de Darren Aronofsky (diretor dos impecáveis "O Lutador" e "Réquiem Para Um Sonho"), fiquei seriamente confuso. Não porque eu não entendera a história contada, mas porque eu realmente não sabia se havia gostado ou não da obra. Uma parte de mim dizia que o longa era belo, competente, profundo e, em qualquer circunstâncias, e de todos os pontos de vista, Cinema com "C" maiúsculo. Já outra parte me dizia que Cisne Negro foi, de uma forma ou de outra, uma fita um tanto decepcionante, não ruim, mas aquém daquilo que se esperava. Talvez eu não entendera todas as nuances e nem penetrara em todas as camadas que Aronofsky pôs em seu filme. Talvez eu não entrara no clima denso, complexo, no estudo aprofundado da loucura que Cisne Negro retrata. Depois de duas partes distintas brigarem muito, fazendo dos meus pensamentos um campo de batalha, resolvi parar, deixar as duas partes, com observações bem distintas de lado, e me ater aos detalhes - que não são poucos - da obra que acabara de assistir.

Foi com calma, e com a mente bem tranquila, que comecei a enxergar a verdadeira mensagem de Cisne Negro. Mas não irei transcrever aqui a mensagem que o filme me passou, pois Cisne Negro é tão complexo, tão profundo e interpretativo que eu não gostaria que minha opinião interferisse na sua, então, deixo que cada um assista e tire suas próprias conclusões. O longa de Aronofsky é, como poucos, aquele que, entre dez pessoas, pode ser interpretado de dez maneiras diferentes. É um dos melhores estudos de personagem dos últimos meses. É a construção de um lado desconhecido, adormecido até então; é o rito de passagem doloroso e indelével.

Cisne Negro conta a história da bailarina Nina (Natalie Portman), que depois de dançar um bom tempo em uma companhia de dança, ganha do diretor do espetáculo Thomas o papel principal de "O Lago dos Cisnes". O papel antes era de Beth (Winona Ryder onde ela terá que interpretar duas irmãs gêmeas: uma o Cisne Branco; a outra, o Cisne Negro. O cobiçado papel é tido como um dos mais difíceis entre as bailarinas, e interpretá-lo torna-se um desafio inimaginável para Nina que consegue interpretar com facilidade o Cisne Branco (que é doce, frágil e, de certa forma, ingênuo, assim como a própria Nina), mas tem dificuldades homéricas de interpretar o Cisne Negro que requer sedução e um apelo sexual ainda não alcançado por Nina. Nesse meio tempo surge a jovem e bela Lily (Mila Kunis) que representa uma preocupante ameaça aNina, já que ela pode ficar com o seu papel caso ela não alcance a perfeição com o Cisne Negro. A mãe de Nina, Erica (Barbara Hershey), a trata como uma criança e põe certa culpa na jovem por ela ter sido, de uma forma ou de outra, a razão de ela ter parado de dançar. Mas o escopo principal de Cisne Negro é, realmente, a caminhada de Nina rumo à perfeição. A busca da jovem bailarina pelo Cisne Negro (e aí entra os dois lados do Cisne Negro: o real e o metafórico).

O filme Cisne Negro é, na verdade, o próprio "O Lago dos Cisnes" transposto para as telonas, e devo me ater apenas a esta frase para não estragar o desfecho antes de seus fim. O roteiro de Mark Heyman, John J. McLaughlin e Andres Heinz faz esse balanço entre a peça e a vida real de forma impecável. Não é um tradução literal dos atos para o cinema, é algo muito sutil. Uma dança equilibrada entre as duas realidades, entre as duas verdades. Os pequenos detalhes que remetem ao Cisne Negro querendo florescer em Nina, ainda tímido, também são formidáveis. A cena em que Nina vê uma "outra" Nina em um vagão do metrô e depois passando por ela na rua é a prova da manifestação do Cisne Negro, afinal, a "outra" Nina visualizada pela "Nina real" está sempre de preto e com estilo fatal, sempre poderosa e sedutora. Imagem que se opõe diretamente à "Nina real", sempre vestida em tons claros que com um jeitinho meigo que ás vezes se torna até mesmo irritante.

Mas as duas coisas que fazem de Cisne Negro uma obra estupenda são: a direção de Aronofsky e a atuação de Portman. A direção de Darren é fantástica, tanto na parte técnica quanto na parte emocional. Assim como em "O Lutado", Aronofsky segue sua protagonista com a câmera na mão e filmando suas costas, ele acompanha cada passo da personagem. Aliás, a câmera na mão é seguidamente usada em Cisne Negro, seja em sequências de dança (a maioria gravada em belos planos sequência), na rua ou na casa da jovem, dando um tom muito bem vindo de realismo à trama. Aronofsky usa a iluminação e o jogo de espelhos/reflexos com inteligência e cuidado criando belíssimos quadros. Digo, sem medo que Aronofsky teve, sem dúvida, uma das três melhores direções dos últimos meses (e ouso ao dizer que poucos serão os que alcançarão este feito no ano que recém iniciou), e torço para que seja indicado ao Oscar desse ano e não ficarei nem um pouco triste se vencer de favoritos como Christopher Nolan e David Fincher (que são dois que também torço). A atuação de Natalie Portman merece aplausos à parte, elogios separados da brilhante obra que participou. Assim como interpretar os dois Cisnes é extremamente complicado, interpretar Nina também não é fácil. Portman mostra com sutilezas a transição de sua personagem, suas ambições. A troca de um olhar para o outro são impressionantes e nem parecem vir da mesma pessoa. Chega a ser irônico precisar de uma bailarina/atriz tão boa para a peça retratada no filme e uma atriz excelente para o filme, já que ambos os papéis são excelente. É uma rima interessante e é quase um exercício de metalinguagem da parte de Portman que mostra como uma atriz/bailarina se prepara para um papel difícil.

Contando com um elenco de coadjuvantes excepcional (de Cassel à Kunis, todos perfeitos e em sintonia) e uma parte técnica de encher os olhos (a fotografia e os efeitos especiais são sutis e perfeitos), Cisne Negro pode ser mal interpretado logo que o nome do diretor aparece na tela dando início aos créditos finais, mas depois de um tempo, lutando com duas opiniões diferentes assim como a própria protagonista, você pode entender a obra melhor e considerá-la indispensável.

A propósito, os créditos finais começam ao som de fervorosos aplausos. Nada mais que apropriado de se ouvir ao término de uma obra como esta.

Nota: 9,0

Matheus Pereira

3 comentários:

Olá gostei bastante da sua critica, mas fiquei confuso tanto quanto a personagem "Nina", porque uma parte de mim diz que quer ver o filme e que também parece ser uma obra de arte muito bem contada, mas a outra diz que tem muitas partes tensas ao meu ver.. Talvez eu iria ficar meio confuso ao ver Nina passar por essa transição de personagens.
Enfim...ainda não me decidi se vou ver ou não, mas devo adiantar que mexe com a cabeça de qualquer pessoa

16 de fevereiro de 2011 às 19:10  

Adorei a historia, tem tempo que não admiro uma historia que me remete para refletir sobre nossas superações. A luta interior de nina nos faz pensar em como temos que lutar para sobreviver no dia a dia, aquela historia, matar um leao todo dia. Viajei pelo mundo fantástico que nos faz ver a vida pelo angulo que nem sempre é o melhor.A superação deve ser medida e temos que supera-la também....

20 de fevereiro de 2011 às 09:45  

Olha.... Antes de tudo quero dizer que respeito a opinião de cada um e que gosto não se discuti, mas quero dizer que "Black Swan" é um dos filmes mais chatos que já vi, sem pé nem cabeça e com um enredo totalmente angustiante, concordo que foi bem produzido e que Natalie estava impecável, mas sejamos sensatos, o filme não acrescentou nada para ter o destaque que teve, só incrementou o número de pessoas que defendem um filme sem noção desses para se acharem mais cultas e inteligentes, e só por decifrarem que a protagonista é uma obcecada com dupla personalidade.

20 de setembro de 2011 às 14:49  

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