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Crítica - A Origem


Sobre Sonhos e Ideias...

...e o Melhor filme do ano...

...até agora.

Antes de tecer qualquer comentário, deixo aqui um aviso: um Spoiler surgirá aqui e ali, então, este texto é direcionado apenas àqueles que já assistiram ao brilhante filme de Christopher Nolan.

Comecemos então, pela premissa: Dom Cobb (Leonardo DiCaprio) é um ladrão. Ele entra na mente das pessoas através dos sonhos e, assim, rouba importantes informações das vítimas. Logo nos primeiros momentos, somos apresentados a Cobb, Arthur (parceiro de Cobb interpretado por Joseph Gordon-Levitt) e Saito (japonês, vítima da dupla interpretado por Ken Watanabe). Cobb e Arthur tentam roubar alguma informação de Saito, que logo, descobre os planos dos ladrões. O sonho começa a desabar e, então, voltam à suposta realidade. Sim, "suposta", afinal, o segundo cenário o qual o trio se encontra também é um sonho. Nele, conhecemos um arquiteto, as projeções e o chute. De início ficamos perdidos, mas depois, tudo é explicado em outras ocasiões. Depois de todas as mortes e chutes, o trio acorda. Agora realmente no mundo real. Todos estes momentos servem como uma introdução aos personagens e a premissa.

Agora, depois da tentativa de roubo, Saito é o empregador. Só que o japonês não quer um trabalho simples. Saito quer que Cobb reúna a melhor equipe para implantar um ideia na mente de um rival. Só que "criar" uma ideia é muito mais complexo que simplesmente roubar. A ideia plantada fará com que o tal rival divida o império construído por seu pai. O pagamento que Cobb irá receber é irrecusável: ele será inocentado das acusações e poderá ver os filhos novamente. Cobb não pensa muito e aceita o serviço. É então que começa a busca pela equipe. Primeiro conhecemos a arquiteta (Ariadne, interpretada por Ellen Page, cuja função é criar o cenário do sonho. É ela que conhece cada detalhe do sonho. É ela que constroi o labirinto e o torna crível para a vítima e para a equipe. Em seguida, conhecemos o Falsificador (Eames, Tom Hardy). Este é responsável pela pesquisa. É ele que se infiltra na vida das vítimas e descobre tudo que é de importância para o serviço. É um dos mais inteligentes do grupo, e como os outros, é peça fundamental para o êxito da equipe. Depois vem o Químico (Yusuf, Dillep Rao), responsável pelos sedativos que a equipe toma para poder dormir por um longo tempo. Mas ele não executa apenas esta tarefa. Ele cuida da segurança de cada membro da equipe ao entrar no primeiro nível e todos os seus planos devem sair como combinados, se não, tudo está perdido. Cobb é o extrator e Arthur seu braço direito. A Vítima é Robert Fischer (Cillian Murphy), bilionário que teve seu subconsciente treinado para se proteger de extratores como Cobb. Só que Cobb e sua equipe não estão ali para roubar...

Depois de toda a apresentação, Nolan começa a tecer sua complexa história de sonhos e ideias. A missão, que se divide em três níveis (um sonho dentro de outro e de outro e de outro), mostra toda a genialidade de Nolan para criar mundos e história intrincadas. A capacidade do Nolan roteirista de manter um sonho dentro de outro sem se perder é incrível. Cada nível tem seu clímax, tem seu objetivo. O primeiro nível trás uma das melhores cenas de ação do longa. Sob uma forte chuva, a equipe tem que fugir das projeções do subconsciente de Fischer que estão preparadas para proteger a mente da vítimas. Nolan capricha nas perseguições e nos tiroteios, tudo muitíssimo bem orquestrado. É num desse tiroteios que Saito é baleado e morre aos poucos, indo diretamente para o limbo (devido a forte sedação, a pessoa que morre em um dos níveis do sono, diferente do normal, onde simplesmente se acordava, agora vai para o limbo, espécie de lugar vazio da mente, onde tudo desmorona e a presença de vida é mínima). No limbo, a pessoa começa a misturar sonho e realidade, podendo ficar no lugar durante toda a eternidade. Nolan vai costurando sua obra ainda mais, incluindo agora uma crise interna. Os motivos pessoais de Cobb ficam mais evidentes, e talvez alguma informação do início já foi esquecida.

Nolan nos leva para o segundo nível. O melhor dos três, em minha opinião. É aqui que Nolan mostra o seu talento com cenas inacreditáveis. Lutas sem nenhuma gravidade, homens andando pelas paredes, flutuando, Nolan capricha nas cenas e comprova já na metade da obra que sua direção é uma das melhores do ano. Christopher gira sua câmera e nos proporciona o melhor tipo de vertigem do cinema, e comprova de uma vez por todas que a edição picotada de Michael Bay e companhia é a pior maneira de se construir uma cena de ação. É de Gordon-Levitt todo o segundo nível. É ele o protagonista da segunda parte da missão. O corredor isento de gravidade é todo dele, e as brilhantes coreografias são executadas com elegância pelo ator. Sem dúvida é um dos melhores em cena.

Chegamos então ao terceiro nível. Um tanto diferente, para dizer o mínimo. O sonho se passa na neve. E mais uma vez Nolan cria cenas espetaculares de perseguições, explosões e avalanches. Em um momento pensei: "tudo que um diretor quer colocar num filme, Nolan fez: cena sob forte chuva, lutas sem gravidade alguma e ação na neve". O terceiro nível da missão talvez seja o momento mais complicado da obra. É nele que as teorias dos chutes começam e que o vai-e-vem se torna mais frequente. É no terceiro nível que viajamos pelo primeiro e segundo níveis, e depois, pelo limbo. Nolan salta de um nível para outro, para o limbo, e para outro nível. Todo o tempo é marcado por uma van que cai em câmera lenta. A tensão aumenta a cada segundo. Estava presenciando um dos melhores e mais longos clímax dos últimos anos.

Mas não pense que A Origem é um filme de difícil compreensão. E é aí que reside a maestria de Nolan. O cineasta/roteirista constroi sua história sem dar um nó no espectador. Tudo é explicado. A única coisa que ele exige é atenção. É só sentar, abrir a mente e deixar-se levar. Acompanhe cada palavra, cada detalhe, tenho certeza que se você prestar atenção o resultado vai ser marcante. Nolan capricha nos conceitos, cria um universo novo e assim, concebeu um dos roteiros mais originais do ano.

Mas A Origem não é só Nolan e Nolan. Há também o brilhante elenco. Não há um ator/atriz que não desempenhe um excelente trabalho. De DiCaprio a Michael Caine. Todos brilham em cena. Seja em longas sequências ou em cenas curtas. Todos têm seu espaço e ninguém rouba a cena de ninguém. É impossível dizer quem é o melhor. DiCaprio mais um vez entrega uma atuação primorosa, Page empresta seu talento, beleza e juventude à arquiteta, Levitt dá todo o seu carisma para o parceiro de Cobb, Tom Berenger, velho e gordo, também concebe uma participação memorável, Hardy é uma surpresa, Watanabe serve sua experiência, inteligência e elegância em um personagem complexo e interessante, Marion Cottilard podia emprestar apenas sua estonteante beleza, mas além disso, a atriz empresta seu profundo talento e todos, juntos, formam um dos melhores elencos que vi nos últimos meses.

A Origem também é um dos filmes mais belos. E não só graças a Nolan, mas também a incrível e competente equipe. Da fotografia sempre forte e correta até a marcante trilha sonora de Hans Zimmer. Dos figurinos criados e pensados milimetricamente que servem à história até os inacreditáveis efeitos especiais. Tudo é pensado em A Origem. Cada passo, cada palavra, tudo é muito bem feito. A Origem é, na falta de outra palavra, um épico. Grandioso e belo. Há tempos uma diversão não era tão inteligente.

Talvez seja cedo para afirmar, mas A Origem pode ser considerado uma obra-prima.

O Final

Afinal de contas, o pião parou de girar ou não no final. Bem, sabemos que Cobb foi para o limbo, onde Saito já estava. Sabemos também que antes, o totem, o pião era de Mal. Sabemos também que Mal, mesmo depois de sair do limbo, achava que estava sonhando e só acordaria se morresse. Pois bem.

A primeira interpretação que tirei, ainda assistindo o filme, foi a seguinte: Mal estava certa, eles estavam sonhando e, ao se matar, ela acordou. Mas isto seria muito óbvio, e em A Origem, a primeira interpretação nunca é certa. Então, tomemos consciência de que Mal estava errada.

Mas isso não responde se o pião parou de girar ou não. Bem, se tudo fosse um sonho, o pião iria girar perfeitamente, sem falhas ou desequilíbrios. E o pião dá sinais de que irá cair, mas não cai. Retomo a informação: o pião era de Mal, e só o proprietário pode tocar seu totem, mais ninguém. Se outra pessoa pegar o totem, ele perde seu valor, seu sentido. Então o totem não funcionava com Cobb, o que complica mais a história, pois parando de girar ou não, ele poderia muito bem estar sonhando, ou não.

1º - Cobb ainda está no limbo com Saito.
2º - Cobb está no limbo, mas nunca encontrou Saito.
3º - Cobb nunca saiu do limbo. Está lá desde a primeira vez.
4º - Cobb está perdido em vários sonhos ou em lembranças.
5º - Tudo deu certo, e ele retornou para os filhos (esta é a opção mais inviável).
6º - Em um momento, um pouco depois de experimentar o sedativo de Yusuf, Cobb vai ao banheiro e gira seu pião para ver se estava acordado ou não. Saito chega na hora e Cobb não consegue saber se está sonhando ou não (é uma das mais improváveis).
7º - Cobb vai e vem, acorda, sonha, acorda, sonha de novo e se mantém nessa tênue linha que separa o real do imaginário, por isso a oscilação do pião.

Há várias outras possíveis respostas, mas eu acho a segunda opção a mais intrigante.

Mas sinceramente, a melhor coisa do filme, é justamente isso. Essa dúvida. Esse mistério. Essa gostosa dor de cabeça que Nolan proporciona é a melhor coisa de toda a experiência.

A Origem é um filme que marca e te persegue durante dias e dias.

Nenhum filme me perseguiu tanto como este. Estou intrigado. Estou chocado.

Nota dez, ás vezes é pouco.


Nota: 10,0

2 comentários:

O filme consegue ser tudo isso e ainda uma linda e triste estória de amor. Perfeito!

17 de agosto de 2010 às 13:56  

Achei o filme muito bem bolado, to até agora pensando no desfecho.
Mas aqui vai meu comentário pra suas teorias.
1º Pra mim é a mais aceita.
2º Essa não é tão diferente da 1º, porque de qualquer forma saito morreu e se ambos estão no limbo fica difícil saber se o que vivenciam é real ou não.
(não sei se repararam, mas quando o Saito pega arma no final do filme o peão ainda está girando, e caso não tenham voltando à primeira cena do filme QUEM GIROU O PEÃO FOI O SAITO NÃO O COBB que, aliás, o peão foi tocado tanto pela Mal, quanto pelo Saito, quanto pelo guardinha do Saito, e primeiramente pelo Cobb)
3º pra mim essa é uma das que provaria que na verdade a Mal está certa só que como ela estava com a idéia implantada ela falava coisas sem saber, mas tentava sempre regatar o Cobb que no fim terminou ficando preso no limbo.
4º...
5º Essa é a que eu queria acreditar.
6º Essa é uma das mais improváveis, porque essa quebraria todas as outras, mas devemos lembrar que independente disso ele não conseguiu ver se estava acordado ou não pois saiu do banheiro assim que o Saito apareceu.
E depois dessa cena várias vezes Cobb usa o totem e ele cai o que nos leva a 2 alternativas - ou depois dessa cena tudo é um sonho e ele está na cama do químico e ficou preso no limbo OU simplesmente não é um sonho e o filme segue.
7º a oscilação do peão pode mostrar várias coisas, pode mostrar que cobb é muito bom na maestria de um peão que pode fazê-lo girar por bastante tempo (rsrs..), mas sim concordo é um bom motivo pra oscilação são essas indas e vindas na mente de cobb.
Bem como eu estou com o DVD bem aqui do lado não pude deixar de perceber certas coisas.
1º Se ao morrer eles acordam, porque cobb não acordou quando levou uma facada da Mal na última cena? Ao morrer ele cairia no limbo, pois estava sob efeito químico, Mas ele já não estava no Limbo? Isso não o faria voltar à camada anterior??
Tendo essas últimas referências
Eu fico com as seguintes teses:
- Cobb ficou preso no limbo quando levou a facada, e como era louco pelos filhos ao perceber que ferrou tudo, não aceita sua própria realidade e prefere ficar no limbo, isso é revelado quando ele não espera ver se o peão cai no final do filme. Claro se ele ficou preso, obviamente Saito também ficou e os demais voltaram.
- Agora para aceitar essa temos que lembrar que: o totem já tinha sido tocado por todo mundo, Cobb não conseguiu verificar duas vezes se estava sonhando ou não. Aqui vai->Mal estava certa e quando foram atropelados pelo trem, só ela voltou do limbo, Cobb ficou preso e o filme se passa na tentativa dela de tentar fisgá-lo de volta, porém ela está com a mente infectada e sempre que entra no mundo dos sonhos acredita esse ser o mundo real e sempre que ela morre ela volta e se lembra que tem que resgatá-lo (ao contrário do que Cobb disse q ao acordar ela continuou infectada ela acordou normal e ele forjou tudo para tentar aceitar o porque estava preso no limbo – Freud explica).
- Essa, acredito eu é a que todos queríamos que acontecesse, mas como o diretor é uma mente que adora criar labirintos é a menos provável. No final do filme o peão oscila até cair e pronto.

31 de dezembro de 2010 às 13:05  

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