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Tim Burton é um gênio louco e talentoso. Mas é daqueles que cria/dirige para duas fontes, dois modos. Uma é a fonte emocional. Aquela que ele faz por gosto. Ele escreve, ele produz, ele dirige, ele faz tudo. Faz porque gosta, não porque mandaram. Já a segunda fonte/modo é o lucro. É o "piloto-automático". Os estúdios mandam, ele faz. Os poderosos ditam as regras e ele as segue. É triste constatar isso, afinal, uma pessoa com tanto talento se vendendo assim é um absurdo. Foi assim, se vendendo e trabalhando para os outros que nasceram seus filmes mais irregulares: Planeta dos Macacos e este Alice no País das Marailhas. Não que os filmes sejam ruins (gosto bastante de "Planeta", e "Alice" me deixou bem feliz), mas a criatividade de Burton parece presa, ou controlada. Sua genialidade está lá. É impossível deixá-la de fora, mas a falta de respeito e a visão de lucro é tanta que o resultado final fica comprometido.

Podemos ver já no primeiro segundo que trata-se de um filme de Burton graças a inconfundível trilha sonora (única, perfeita, trilha sempre característica de seus filmes), mas podemos constatar de cara que também é um filme de estúdio quando o logo da Disney aparece na tela (afinal, qual foi o último filme distribuído pela Disney que não tenha uma forte influência do estúdio? Só os da PIXAR...) e quando, nos créditos finais, surge uma "música encomendada". Nota-se que é um filme de Burton graças a incrível direção de arte, ao estilo inconfundível. O mundo de "Alice", criado por Lewis Carrol, casa perfeitamente com o estilo de Burton. É como unir sinônimos. O universo ora sombrio, ora alegre, mas sempre surreal de "Alice" é um parque de diversões para Burton e sua equipe de arte/figurino/fotografia. E que equipe!

Impossível não se encantar com todas as cores. Cada detalhe, cada flor, cada criatura. Os figurinos são excelentes (mas ás vezes pensei estar vendo um desfile de moda, pois Alice coloca um vestido, depois tira e coloca outro mais bonito, aí ela cresce ou diminui e tem que trocar...) e a fotografia é algo digno de nota. Desde as primeiras cenas na festa até a chegada no mundo subterrâneo, tudo é muito bem cuidado. Mas "Alice" tem sim seus problemas técnicos, e estes envolvem seus efeitos especiais e sua maquiagem. Muitas vezes o excesso de efeitos aproxima o filme de um longa de animação e o torna muito irreal. Às vezes as criaturas não passam a veracidade necessária e o "País das Maravilhas" parece um jogo de video-game. Não posso criticar o 3D, pois não assisti o longa neste formato, mas posso afirmar que muitas vezes o 3D é usado de modo convencional (volta e meia os personagens jogam coisas na direção do espectador). Há também problemas com as perspectivas. Quase tudo no mundo subterrâneo tem tamanho alterado, nada é, simplesmente, normal. Só que isso dificultou a vida da equipe e falhou em alguns momentos. Note, por exemplo, quando o personagem de Crispin Glover, o Valete de Copas, se aproxima da Rainha Vermelha (Helena Bonham Carter). Ele, alto demais, perto dela, cabeçuda demais, proporciona uma estranha cena, que poderia sim, ter um melhor acabamento. A maquiagem exagerada de Johnny Depp (eu sei que o exagero faz parte do personagem, mas exagero demais não cai bem...) também causa um sensação estranha.

O roteiro fica só na superfície. Alice fica sempre escondida, nunca mostra ser a Alice que todos esperavam que ela fosse, até mesmo depois que ela resolve se "libertar", fazendo com que nós, os espectadores, assim como todos no "País das Maravilhas", duvidemos: "Será essa, a verdadeira Alice?". O roteiro não tem grandes defeitos, só é simples e frágil. Não se aprofunda em seus personagens e se preocupa apenas com a diversão. Burton faz o que pode e dirige com competência, porém sempre é claramente barrado pelas "regras" do estúdio.

No final, fica claro que Alice no País das Maravilhas foi feito para os olhos, não para a mente. É, como tantos outros, um produto. Basta ver as bolsas, acessórios e todas as bobagens feitas e baseadas no filme. É uma pena que Burton não esteja "cem por cento" nesta obra, seria inesquecível se estivesse. Mas ainda com todos os problemas, Alice ainda encanta pela beleza e é divertido, mesmo sendo um legítimo poduto.

Ou você já viu bolsas do Sweeney Todd ou do Beetlejuice por aí?


Nota: 7,0

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