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Crítica - Preciosa

Preciosa é um filme triste, depressivo e forte. Um filme desaconselhável para pessoas que estão passando por problemas ou estão tristes de alguma maneira, já que a história do filme pode deixá-las mais tristes ainda. Ou não. Preciosa talvez seja extremamente recomendável, já que a esperança que se esconde atrás de tanta tristeza é recompensadora. Há de se ter paciência e mente aberta para assistir o filme, do contrário, a raiva tomará conta, e talvez, nem consiga chegar ao final da projeção. A desgraça é protagonista. Da violência ao estupro. Do analfabetismo à exclusão. Tudo de ruim que pode-se pensar está em Preciosa. Mas surpreendo-me ao dizer, que isso não é um problema. Pode até ser exagerado de vez em quando, mas talvez essa desgraça seja necessária, para quando a esperança e a volta por cima se fizerem presentes o contraste ser notável. É triste. Não é para qualquer um ver o pai estuprando a própria filha. Não é fácil ver a mãe jogando qualquer coisa na direção da menina. Não é fácil ver tamanho sofrimento para uma pessoa só, mas como eu já dissera, quando a esperança vem, a tristeza tira férias. E Preciosa (filme e personagem) toma rumos diferentes e uma luz no fim do túnel inspiradora.

O filme se baseia em Push by Sapphire e conta a história de Claireece Precious Jones, garota de 16/17 anos que é obesa, analfabeta, pobre, é estuprada pelo pai e agredida violentamente pela mãe, tem uma filha com problemas mentais e um segundo bebê está a caminho. Em suma: uma pessoa extremamente sofrida. Precious encontra esperança quando é expulsa da escola onde estuda e é mandada para uma escola alternativa. Precious começa a ver o lado bom de ter o segundo filho e poder ser uma mãe exemplar. Em sua caminhada para melhorar de vida, Precious conhece uma professora bondosa (a bela Paula Patton), um enfermeiro que quer ajudar acima de tudo (um surpreendente Lenny Kravitz), amigas que a inspiram e uma assistente social (uma irreconhecível e excelente Mariah Carey). Aos poucos, o sofrimento vai dando espaço para o começo de uma nova vida.

Dirigido com vigor por Lee Daniels (seu segundo filme, o primeiro fora o mediano Matadores de Aluguel, com Helen Mirren), Preciosa é um filme emocionante. Daniels concebe uma direção segura tanto com os atores quanto com história que tem em mãos. Além de ter um poder incrível de manipulação emocional, o cineasta sabe utilizar recursos técnicos. Não é a toa, que os momentos mais difíceis de assistir são aqueles em que a menina está em casa, sendo agredida (moral e fisicamente) pela mãe e violentada pelo pai, e os melhores são os que ela está na escola. Daniels passa com perfeição o simbolismo: a casa da menina é apertada, escura, suja. O poço. O lixo. Já a escola é iluminada, grande, passa bem a imagem de "lugar feliz". É claro que Daniels contou com a ajuda do competente diretor de fotografia e da direção de arte. Daniels falha apenas em misturar alguns estilos. Na maioria das vezes adota uma câmera estática, sem muitos movimentos. Em outras, adota a câmera na mão, bem movimentada e com bastantes zooms. Mas isso não prejudica (já que uma câmera de mão é sempre bem vinda), só não adota nem um estilo, nem outro. Daniels concebe quadros interessantes e bem elaborados, e planos inteligentes (nas cenas de estupro, Daniels posiciona muito bem sua câmera). Mereceu a indicação ao Oscar.

O roteiro é competente e tem um ótimo ritmo. Apesar de se tratar de um drama, o ritmo é excelente e em nenhum momento o filme se torna monótono. Sabendo misturar o lado "sujo e triste" com o lado "limpo e promissor" sem confundir, o roteiro, mesmo abusando da desgraça, é interessantíssimo e nunca se perde. Tratando seus personagens com cuidado e carinho, o emocional dos personagens é que tem prioridade. "Do bem" ou "do mal", cada personagem tem um coração. Cada personagem tem um passado, mesmo que este não seja mostrado. Sabemos de tal passado simplesmente olhando o presente. Um feito notável. O roteiro dá uma pequena tropeçada com o destino do enfermeiro e das colegas de Precious, mas isto se torna insignificante ante a toda inteligência e competência mostrada até ali.

Mas é o elenco de Preciosa que merece todos os calorosos aplausos. Preciosa é, com certeza, um filme de atores. São as atuações que o mantém firme. Começando pelos coadjuvantes, temos a bela e meiga Paula Patton. A professora que faz de tudo para ajudar Precious vê, logo no primeiro encontro, que ali há uma menina com um ótimo futuro, mas que só precisava ter o presente ajustado. Apostando na simplicidade, Patton emociona. Mariah Carey, é sem dúvida, uma das melhores coisas deste brilhante elenco. Despida de qualquer luxo, glíter, maquiagem ou seja lá o que a deixava linda, Carey surpreende ao não querer chamar atenção, e sim, conceber uma atuação emocionante e centrada. Não reconheci a cantora, devido a falta de maquiagem e a excelente atuação (o que não era esperado). Mas as maiores surpresas são essas duas: Mo'Nique e Gabourey Sidibe. A primeira merece, sem dúvidas, todos os prêmios que recebeu e com certeza vai receber. Aquela comediante sem um talento notável parece não mais existir. Aqui, a carga dramática de sua personagem é surpreendente, e Mo'Nique dá conta do recado, e todas as suas cenas exigem muito dela. Mas a melhor de todas é aquela em que sua personagem explica o porquê de toda sua raiva, e acaba desmoronando num choro contido, mas revelador. Um verdadeiro monstro mal-amado e facilmente compreendido. Uma das melhores atuações femininas do ano. A grande descoberta é Gabourey Sidibe. O descoberta de Lee Daniels começa envergonhada, calminha, mas aos poucos vai demonstrando grande emoção e um espírito único. A cena em que ela faz uma revelação para sua professora e para suas colegas e começa a chorar, parte o coração de qualquer um e provavelmente vai ser o clipe que vai passar quando seu nome for citado na cerimônia do Oscar.

Mesmo sendo pesado, Preciosa tem uma esperança inspiradora e é capaz de achar um raio de luz e futuro no mais escuro dos túneis. No final, nos emocionamos. Pensamos. Precious passa por muito sofrimento e mesmo assim levanta a cabeça e segue em frente, em quanto alguns de nós somos saudáveis, felizes e mesmo assim reclamam da vida. Marca. Gruda na memória, e de lá, não sairá tão cedo.

Nota: 8,5

Matheus Pereira

3 comentários:

Mesmo que o filme fosse ruim, o diretor já merecia um salve por fazer a Mariah Carey atuar bem! (quem viu Glitter sabe do que estou falando!)

12 de fevereiro de 2010 às 12:10  

Essa coisa de "manipulação emocional" costuma me deixar puta. O único que eu deixo fazer isso comigo é o James Cameron e olhe lá!!! rsrsrsrsrsrs

12 de fevereiro de 2010 às 13:03  

O filme é magnífico!
Retrata a realidade de muitas pessoas com histórico de violência doméstica.
É de fazer a gente chorar, o drama vivido pela Preciosa.
E eu nunca havia reparado como a Maryha Carey é feinha!!! Mas fez um bom trabalho de atriz.
Valeu o Oscar!

23 de abril de 2010 às 07:34  

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