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Crítica - Amor Sem Escalas

Amor Sem Escalas, de Jason Reitman, é do tipo "Tá, e daí? Só isso?", mas também é daquele "Pensando bem, é um ótimo filme". Fica difícil tomar partido. Escolher um lado. Para este que vos fala, tomar uma decisão certeira, para este filme, é muito difícil. Por isso, que esta produção nunca vai receber uma nota dez vinda de mim, muito menos uma nota cinco, indicando mediocridade, afinal, o filme me agradou, mas alguma coisinha parece que não conectou. Algo pequeno (ou não tão pequeno assim) parece ter ficado fora de órbita. Não sei explicar ao certo. Talvez seja por isso que uma análise para este longa está sendo bem difícil de ser redigida. Talvez seja um tempero. Sim. Um detalhe que você nota apenas quando experimenta. Um detalhe que modifica, atrapalha, mas no fundo, no fundo, não atrapalha drasticamente o resultado final. Parece que faltou a pimenta, que você sente falta, mas no final da refeição ainda abre um sorriso, pois com pimenta ou não, a refeição incrivelmente te agradou. Acho que essa descrição cabe perfeitamente ao que eu senti no final do novo filme de Jason Reitman. É um ótimo filme, sem dúvidas, mas também é, assim como os outros dois filmes do cineasta, muito superestimado.

A história: Ryan Bingham é um consultor que tem a tarefa de demitir funcionários para cortar os gastos das empresas. Quando não está no trabalho, ele gosta de passar o tempo em quartos de hotéis e cabines de vôos. Mas seu emprego e as constantes viagens ficam ameaçadas quando a jovem Natalie chega em sua empresa apresentando uma nova forma de demitir pessoas: através do computador e sem precisar sair de casa ou da empresa. Ryan vê nisso uma ameaça sem tamanho e faz de tudo para provar que a invenção é inapropriada. Assim, seu chefe manda Natalie viajar com Ryan durante um tempo para que ela aprenda um pouco sobre a profissão. No caminho, Ryan se apaixona por Alex, uma sensual executiva e aprende sobre as coisas boas da vida, ou não.

É um filme "ok". Corretinho. Certinho demais. Cada item está em seu devido lugar, dando a impressão de que tudo foi muito pensado antes de ser feito, o que pode suar como algo ensaiado. Mas para ser tudo isso que as pessoas dizem e para ser um "quase bicho-papão" das premiações, um filme não pode ser certinho. Tem que ser mais que certinho. Tem que correr um perigo. Tem que chegar no limite. Bater na cara de quem tiver em tal limite e voltar para terreno seguro. Amor Sem Escalas fica todo tempo em terreno seguro e não alça voos perigosos que resultariam em resultados ainda melhores. Fica todo tempo no mesmo campo, do mesmo jeitinho. A impressão que temos é que Reitman tem medo. Tem medo de chegar em um lugar sem volta. Tem medo de arriscar, e depois, não saber voltar para o calor do "campo seguro". Por optar ficar neste mesmo lugar, Amor Sem Escalas tem sempre o mesmo clima. Sempre o mesmo jeito certinho e, por vezes, irritante. Não é a toa que os melhores momentos ocorrem fora do mundo sem graça do personagem de George Clooney (o casamento, por exemplo) e reservam as melhores frases, os melhores simbolismos e momentos de maior descontração.

Jason Reitman, diretor dos também superestimados Obrigado Por Fumar e Juno, concebe uma direção interessante no ponto de vista técnico e narrativo, o único problema e o citado no parágrafo acima. Reitmam parece ter medo de escolhas mais perigosas e escolhe ficar no mesmo ritmo, no mesmo clima, na mesma coisa. Reitmam transporta muito bem o texto que tem em mãos (adaptado de um livro de Walter Kirn por Sheldon Turner e pelo próprio Reitman) e dirige suas cenas muito bem, mostrando um grande avanço na direção desde Juno. Quadros bem alinhados e planos "normais", mas interessantes (como os que seguem de perto os personagens, focando suas malas e a rápida montagem que mostra o personagem de Clooney arrumando sua mala, mostrando perfeitamente que o sujeito já está mais do que acostumado com o ritmo e com a tarefa). Reitman é sutil e inteligente em seus simbolismos. Ao mostrar Ryan (Clooney) diante de suas irmãs num completo desconforto, Reitman mostra que o sujeito é, na verdade, um estranho. Nada mais que isso. Apenas um homem que elas chamam estranhamente de irmão. O cineasta acerta também, em uma cena em que Ryan está de frente para um grande painel de viagens (aquele grande painel nos aeroportos que indicam quais os voos que estão acontecendo e os próximos) e o foca de longe, mostrando o insignificante tamanho do sujeito ante a todas aquelas viagens que ele tanto ama fazer. Reitman usa imagens e palavras para provar que Ryan pensa apenas nele mesmo. Note, que Ryan anda sempre bonito. Sempre bem arrumado, com ótima aparência e com uma mala milimetricamente arrumada. Porém, Ryan não tem casa e vive longe da família, logo, não se apega a nada, tanto objetos quanto pessoas. É por isso que seus apartamentos nunca sofrem um toque de decoração, por exemplo. Ryan entra e sai dos apartamentos e não muda nada, afinal, em poucas horas ele estará indo embora e deixará tudo aquilo pra trás. Ryan não pára em lugar nenhum e procura não ter amigos. É só ele e a mala. Reitmam sabe ilustrar isso muito bem, através de simbolismos e imagens sutis. Reitmam criou, sem dúvidas, um interessante personagem (embora tal personagem revolte ás vezes) e o compôs (juntamente ao ator, Clooney) milimetricamente.

O roteiro é uma mistura de originalidade e adaptação. Explico porque: o livro de Walter Kirn, no qual o filme se baseia, conta apenas a história de um homem que gosta de viajar, foi Reitman e Turner que deram a profissão para o personagem. Se parar pra pensar, cinquenta por cento é adaptação e cinquenta de roteiro original, afinal, toda a profissão e as coisas que giram em torno dela não estavam no livro. É por este e outros motivos que o roteiro ganhou e ganhará vários prêmios por aí, e merece. Faz escolhas interessantes (o final é bem resolvido e foge dos clichês, porém, sigo dizendo que o roteiro, assim como a direção, não alça grandes voos) e assim como o resto do filme, é certinho. Está no ponto, por isso, não há muito o que falar. Tenho de comentar, claro, que o roteiro tem um cuidado extremo com o personagem principal. Ao final da projeção, Ryan se torna um amigo quase íntimo do espectador. Conhecemos cada traço da personalidade do sujeito. É um homem solitário e organizado consigo mesmo. Eu vejo muitas semelhanças entre Ryan e Summer, personagem de Zooey Deschanel em (500) Dias Com Ela. Ambos gostam da solidão. Ambos fogem de relacionamentos e coisas que podem se apegar. Tudo que possa lhe machucar ou lhe prender em um só lugar os assombra. Principalmente a Ryan. O homem foge da família, dos amigos e dos relacionamentos sérios. Tudo que o prende, que lhe dá responsabilidades e que o impede de viajar ele abomina. Isso fica explícito nas palestras que ele dá. Ryan tenta passar que tudo que temos em volta, só nos prende, impede que nos movamos. Ryan sempre leva uma mochila. Ele diz para as pessoas sentirem as alças nos ombros e depois colocarem tudo: de objetos como escovas de dente e celulares até a casa ou apartamento, cachorro e familiares. No final, pede para eles voltarem a sentir os peso da mochila e as alças nos ombros. O resultado: a mochila está muito pesada, e tal peso, impede que nos movamos. Em suma: quando nos apegamos a algo ou alguém, permanecemos no mesmo lugar ou pra sempre ou quase isso. Quando temos todos esses objetos e todos estes familiares paramos num mesmo lugar, e dependendo, no tempo. A filosofia de Ryan é tão inteligente e tem argumentações tão boas, que acabamos nos rendendo. Acabamos concordando com tudo e passamos a entender o sujeito. Mas o roteiro não está isento de erros. A personagem de Vera Farmiga é um tanto superficial. Ela é apenas uma mulher com que Ryan sai e transa. Nada mais. Pouco é dito sobre ela. Ela é elegante, sexy, inteligentíssima, viaja como Ryan e não gosta de se prender a coisas e pessoas. Mas parece que a personagem merecia um pouco mais de atenção. De resto, os personagens são interessantes e bem construídos.

Mas vamos ao tão comentado elenco. Digamos que está como todo o resto: certinho (não quero me tornar repetitivo, mas é verdade). Começando por George Clooney interpretando... George Clooney (só que com outro nome). Sim! Ele interpreta ele mesmo. Um homem que não quer casar, que não para num lugar só, dorme com quer quiser e dispensa depois, não quer ter filhos e está bem como está: sozinho. É um retrato dele mesmo com nome e profissão diferentes. Durante o filme algumas piadas em relação a isso são ligadas diretamente à vida real do ator. Quando a personagem de Anna Kendrick lhe pergunta se ele nunca vai casar (ele diz que nunca) e se algum dia vai ter filhos (esta pergunta ele responde com um "Talvez", assim como o ator na vida real), por exemplo. Clooney interpretando Clooney pode prejudicá-lo nas premiações(assim como Mickey Rourke ano passado), afinal, interpretar si mesmo é muito fácil (imagine você interpretanto você mesmo! Que chato e fácil seria). O que quero dizer com isso, é que Clooney não faz um trabalho excepcional, apenas correto e interessante. Mas nada que faça com que ganhe prêmios ou receba tanto elogios como tem recebido. Vera Farmiga é uma superestimação dentro de uma superestimação. É incrível (e absurdo) que a atriz tenha recebido indicações a tantos prêmios. Ela não faz nada demais (com muita ênfase no "nada"). Se ela foi indicada por uma atuação tão simples, porque Mariah Carey não foi? Ela interpreta uma personagem comum, sem grandes desafios. Nada mais. Quem se destaca no elenco é a linda (linda, linda, linda, linda, linda, perfeita, linda...) Anna Kendrick. A atriz injeta uma doçura e uma segurança a sua personagem que é impossível não se apaixonar. Merece todos os elogios que vem recebendo.

Enfim, Amor Sem Escalas tem seus problemas e é muito corretinho, mas é interessante e inteligente de um modo geral. Faltou um temperinho. No final ficamos com a sensação "É só?", mas depois vamos interpretando-o de forma mais adequada. O filme é como a filosofia de Ryan: é tão inteligente e tem argumentações tão boas que acabamos nos rendendo.

Nota: 8,5

Matheus Pereira

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