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Em DVD - Crítica - Arraste-me Para o Inferno


Quando um filme se propõe a fazer algo, você não pode criticá-lo por fazer esse algo proposto, ou seja, se uma comédia propõe-se a ser repleta de cenas de sexo e palavrões e ser "comédia pastelão" você não pode criticá-la por ter cenas de sexo e palavrões, afinal, foi isso ao que ela se propôs. Então, se um filme se propõe a ser reconhecido como terror B, estilo anos 70 e 80 e fazer com o orçamento pareça (e só pareça) baixo, você não pode criticá-lo por isso, você tem de assistir o filme e avaliá-lo dentro das características em que ele se auto-denominou. Um exemplo disso é o ótimo Arraste-me Para o Inferno, de Sam Raimi. Seria uma grande ignorância de minha parte chegar aqui e criticar os efeitos especiais toscos e os absurdos de certas cenas, pois é essa a imagem que o filme passa, os efeitos são toscos propositalmente, as cenas absurdas estão por que tem que estar ali, afinal, trata-se de um terror B, uma produção feita com baixíssimo orçamento e uma porção de cenas escatológicas feitas com muita criatividade. Então, já fique avisado: assista o filme de Raimi como se fosse um terror dos anos 80, com efeitos precários e muita gosma e pus, e não como um filme repleto de efeitos especiais de última geração e roteiro capenga. Aqui o assunto é terror, e terror dos bons, com sustos incríveis, sons assustadores e um ótimo roteiro, feito com cuidado e dirigido com maestria.

A vida da ambiciosa Christine Brown vai bem até que uma misteriosa senhora aparece no banco em que ela trabalha para implorar por uma extensão do empréstimo de sua casa. Quando Christine nega o pedido e despeja a idosa, ela lança a maldição da Lâmia sobre a jovem, transformando sua vida em um pesadelo. Assombrada por um espírito maligno e desacreditada por um namorado cético, Christine recorre ao vidente Rham Jas para salvar sua alma da condenação eterna. O médium a coloca em um caminho frenético para reverter o feitiço e a leva à única mulher que pode ajudá-la, a vidente Shaun San Dena. Enquanto as forças do mal ganham terreno, Christine precisa encarar o impensável: até onde ela irá para se livrar da maldição? O roteiro é muito inteligente em não se preocupar apenas com os sustos, e sim com os princípios e sonhos da protagonista. O roteiro escrito por Sam e Ivan Raimi (irmãos) acerta em todos os aspectos e nos manipula até o último segundinho, surpreendendo-nos.

Sam Raimi volta ás raízes, e dirige o filme como se tudo fosse uma brincadeira. Raimi se diverte, usa e abusa de cenas absurdas, de ângulos absurdos, de planos absurdas, de muita nojeira (um vômito constituído por barro, larvas, pedaços de comida e outras melecas é jorrado dentro da boca da pobre protagonista) e de um suspense quase que insuportável. É incrível como Raimi nos manipula: por mais que saibamos que atrás daquela porta, daquele quarto escuto há algo que nos assustará, vamos até lá e tomamos susto do mesmo jeito. Por mais que saibamos que a qualquer instante um assustador ruído romperá a barreira dos sons e algo assustador aparecerá na tela, tomamos um susto do mesmo jeito, nós humanos somos assim, sabemos que levaremos um susto, tentamos nos preparar, mas mesmo assim nos assustamos. E é isso que Raimi faz de melhor, ele nos avisa, ele nos dá provas concretas de que dali a dois segundos algo assustador aparecerá, ele parece nos avisar antes: "Daqui a pouco um ruído vai te assustar e uma bruxa feia vai aparecer, se prepare!", mas mesmo com esse muito pouco subjetivo aviso, nos assustamos, e não é pouco. Raimi consegue manipular tão bem nossa atenção e nossos temores, que um simples jogo de sombras nos assusta, nos deixa tensos. Ao ver as sombras das patas de um bode por trás de uma porta, confesso, fiquei tenso, e cada ruído me deixava cada vez mais tenso. Algo parecido, e explorado de maneira muito mais profunda, só fora visto, por mim ao menos, em O Exorcista, em nenhum outro filme de terror, eu vi os efeitos sonoros serem tão bem utilizados para fins de gerar tensões. Os ângulos de Raimi, além de serem absurdos, podem ser chamados de corajosos, ao focar de perto secreções, vômitos e tudo mais, tudo o que um outro (fresco) diretor esconderia, Raimi mostra, e com muito orgulho, como se cada larvinha e cada gota de secreção fosse um parente muito próximo. Raimi se diverte e concebe uma excelente direção, contanto com efeitos criativos, e bem precários.

Quando fazemos algo que nós gostamos, tudo sai melhor. Raimi se divertiu dirigindo este filme, logo sua direção foi excelente e dedicada. A mesma coisa acontece com o elenco. Todos parecem estar gostando e se divertindo em seus papéis. Todos estão ali porque querem e porque gostam, ninguém está sendo forçado, todos estão se dedicando de corpo e alma. E essa dedicação pode ser rapidamente notada. Os personagens tornam-se mais reais, conseguimos nos identificar com a personagem, conseguimos nos colocar em seu lugar. Conseguimos sentir medo junto a ela, sentimos o mesmo perigo, ficamos aflitos, não sentimos medo sozinhos, não estamos longe, estamos perto e sentindo medo juntos, sabemos que a qualquer momento uma sombra demoníaca entrará pela janela e nos colocará de ponta cabeça. Alison Lohman se mostra melhor do que o esperado, e injeta uma certa humanidade que torna-se incrível em certos momentos. Até Dileep Rao, que interpreta o vidente Rhan Jas faz um trabalho competente. E como é bom ver Adriana Barraza de volta.

A produção, ao que se propõem fazer, é caprichada. Boa maquiagem e muita criatividade são elementos constantes na produção. O DVD é repleto de Extras, Desde Diários de Vídeo da Produção até a Sonoplastia. Está bem recheado. Corra já para sua locadora, não faça pipoca (é impossível comer assistindo este filme) e se divirta, pois são pouco mais de uma hora e meia de bons sustos e muita diversão. Tomara que Raimi siga nesse rumo e faça mais ótimos filmes de terror. Nós agradecemos, e estes agradecimentos ficam ainda maiores tendo em vista os últimos lançamentos do gênero terror. Cenas absurdas e um final incrível fazem de Arraste-me Para o Inferno um filme inesquecível.

Filme: 8,0
Extras: 7,0

Matheus Pereira

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