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Em Blu Ray - O Curioso Caso de Benjamin Button


Vida. O que é vida para você? Uma experiência? Uma missão? Um tempo?Uma chance? Tudo? Morte. O que é morte para você? Uma nova experiência? Uma passagem? Uma outra "vida"? O fim de tudo? Tempo. O que é tempo para você? O ontem, o hoje e o amanhã? O sempre? O agora? São coisas tão difíceis de ser compreendidas, são tão paradoxais, tão complexas. A vida austera, a morte certeira e o tempo indelével. Não percebemos, mas cada uma delas andam lado a lado. Como nos versos de Vinicius de Moraes: a gente mal nasce e já começa a morrer. A vida é um sopro, a morte é um piscar de olhos e o tempo é simplesmente inexorável. Importaria para você se nasceste normalmente ou com quase oitenta anos de idade? Você deixaria de se apaixonar? De conhecer as mesmas pessoas? De beijar os mesmos lábios? De ter a mesma namorada? Deixaria de ter os mesmos filhos? A vida é perfeita, seja do início ao fim ou do fim ao início.

Para Benjamin Button a vida é atípica: nasceu com quase oitenta anos de idade, e gradativamente vai rejuvenescendo. Imagine você, rejuvenescendo enquanto o mundo segue em sua evolução normal, imagine seus filhos envelhecendo enquanto você vai tornando-se, aos poucos, uma ingênua criança. Para Ben Button tudo passa, tudo envelhece, ele parece se distanciar a cada ano, fica mais jovem. No lugar das rugas, as espinhas. No lugar dos cabelos grisalhos, os cabelos claros de Brad Pitt. Em sua vida, Button conhece várias pessoas, beija várias mulheres, comete vários erros, mas ama apenas uma mulher. Em toda sua vida, Button só teve olhos para Daisay (Cate Blanchet, perfeita em todos os aspectos), o amor, teoricamente impossível, é belo. Os dois se conheceram ainda crianças: ela uma bela garotinha, ele um velho enrugado. Eles sempre mantêm contato. Desse amor nasce a filha do casal. É aí que o longa torna-se ainda melhor e repleto de mensagens, pois nos faz pensar sobre o tempo e as oportunidades. Oportunidade de ficar ao lado da filha, oportunidade de vê-la crescer e de simplesmente brincar com ela. Mas isso é praticamente impossível, já que um tempo depois, a filha seria quase adulta e Button seria uma criança. Como seria para Button ser um pai com cinco anos? E pior: como seria para a garota ser filha de uma criança de cinco anos? É por estas e outras escolhas do roteiro que o longa de David Fincher é tão interpretativo e significante.

Confesso que sou perfeccionista, e muitas vezes já fui criticado por querer tudo perfeito ou, ao menos, perto da perfeição. E para os perfeccionistas, O Curioso Caso de Benjamin Button é um prato cheio, não por ter vários erros para que os perfeccionistas apontem e critiquem, mas por estar isento de erros. Sim, é isso mesmo que você leu. O longa de David Fincher não tem erros, não tem imperfeições. Tudo, cada cena, cada segundo, tudo é feito com extremo cuidado. É impossível distinguir as cenas, é impossível notar o que é real e o que é feito digitalmente. Os efeitos de última geração impressionam, a transformação de Brad Pitt em um homem velho e cheio de rugas é assustadora, e o cuidado da produção em ir rejuvenscendo-o é de uma perfeição e de uma dedicação imensurável. Fincher sabe como ninguém como dirigir uma cena com efeitos especiais, sabe lidar com os efeitos em cena e misturar o digital com o real de maneira que ambos se fundam. Fincher sabe dirigir uma boa cena de ação, e a cena de batalha entre o submarino e o rebocador está entre as melhores e mais emocionantes do ano. Mas Fincher se sobressai ao dirigir cenas emocionalmente fortes. Fincher em momento algum faz de seu roteiro ou de suas cenas um melodrama barato. Fincher concebe um drama forte, poderoso, cheio de mensagens e extremamente complexo. Conhecido por sua intelectualidade, Fincher trata dos assuntos mais complexos com maestria, e consegue o que nenhum outro diretor conseguiria com tanta perfeição: construir uma história de trás pra frente. Fincher não se perde em meio a diálogos e cenas longas e difíceis, Fincher mantém seu roteiro equilibrado e faz com que o filme nunca se torne monótono ou massante. Fincher comprova aqui, que é o melhor diretor da atualidade.

Eric Roth foi duramente criticado pelas semelhanças com um outro roteiro seu: Forrest Gump. Eu, sinceramente, não acho essas semelhanças graves ou tão grandes. Agora um cineasta não poderá fazer um filme sobre pecados capitais porque David Fincher já mexeu com o assunto em Seven, um cineasta não poderá fazer uma cena de guerra de trinta minutos só porque Spielberg já fez isso em O Resgate do Soldado Ryan, por exemplo. É burrice dizer que Benjamin Button seja idêntico a Forrest Gump só porque ambos possuem vidas atípicas, amam uma única mulher e são filhos de mães protetoras. Comparações errôneas são feitas, também, entre Quem Quer Se Um Milionário? e Cidade de Deus, e ultimamente com os filmes Atividade Paranormal e A Bruxa de Blair, de cinco críticas ou comentários sobre o primeiro, quatro possuem o nome do segundo em meio a suas palavras, a mesma acontece com o longa de Fincher: em noventa e nova por cento das críticas e comentários o nome do longa de Robert Zemenckis aparece. A semelhança torna-se ainda maior por se tratar do mesmo roteirista, coisa que eu também acho pífia. Nada, nem comparações e nem críticas descerebradas diminuirão o brilho de "O Curioso Caso...". Eric Roth talvez seja, juntamente a de Fincher, a mente mais corajosa da equipe, Roth lidou com temas complexos e transformou o conto de F. Scott Fitzgerald em uma complexa odisséia. Além de transformar certas ideias, Roth dá novas ideias ao conto, cria suas próprias conclusões e transforma um bom conto em um ótimo longa (imagino o roteiro de Roth na forma de um romance literário...), o que poderia se tornar uma maçante e repetitivo longa, torna-se um dos filmes mais completos dos últimos anos, Roth mantém o longa vivo, nunca deixa o ritmo cair.

Brad Pitt faz um trabalho surpreendente. O ator que pendia entre a canastrice e a atuação mediana, prova aqui, que o tempo foi gentil, o passar dos anos lhe proporcionou dedicadas atuações, basta lembrar de Babel, Queime Depois de Ler, Clube da Luta e 12 Macacos. Pitt usa e abusa de sua expressão facial. Mesmo sem usar sem corpo nas cenas em que Button é um garotinho, seu rosto é posto digitalmente em um corpo de uma criança, Pitt faz um trabalho excelente, do olhar até um simples movimentos com os lábios, tudo e minuciosamente interpretado por Pitt e captado pelas câmeras de última geração. Pitt não apenas interpreta o personagem, ele vive o personagem, ele encarna todos os sentimentos, todos os trejeitos, em um simples olhar sabemos o que Button está sentindo. A atuação de Pitt é baseada nos detalhes, e é isso que a torna tão primorosa. Cate Blanchett, como sempre, entrega uma atuação magnífica, mesmo sendo secundária na história, Blanchett rouba a cena com sua beleza estonteante e tamanho profissionalismo. Sua personagem é ambígua, nunca sabemos se ela realmente ama Button ou a qualquer momento pode largá-lo, e Blanchett passa essa ambiguidade perfeitamente. Todo o elenco secundário é ótimo, com destaque, é lógico, para Taraji Henson, numa emocionante atuação.

Vencedor dos Oscar de Efeitos Visuais, Maquiagem e Direção de Arte, O Curioso Caso merecia muito mais, estava à frente de todos os outros indicados, mereceu o prêmio de melhor arte, pois o filme é extremamente detalhista com a recriação da época, merecia o prêmio de melhor fotografia e melhor trilha sonora, mas o mundo não é justo e nem perfeito como o filme. Fincher já não precisa provar mais nada para o mundo, já lançou no mínimo, três obras-primas, coisa que muitos cineastas que estão no ramo há anos, não conseguiram.

De O Curioso Caso de Benjamin Button emana a mais pura arte e mais exímia perfeição.

Nota: 10,0

Matheus Pereira

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