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Há Dez Anos Atrás...


DE OLHOS BEM FECHADOS


DE: Staley Kubrick
COM: Tom Cruise, Nicole Kidman, Sydney Pollack, Madison Eginton, Jackie Sawiris, Leslie Lowe, Marie Richardson.
PREMISSA: Bill Harford (Tom Cruise) casado com a curadora de arte Alice (Nicole Kidman). Ambos vivem o casamento perfeito até que, logo após uma festa, Alice confessa que sentiu atração por outro homem no passado e que seria capaz de largar Bill e sua filha por ele. A confissão desnorteia Bill, que sai pelas ruas de Nova York assombrado com a imagem da mulher nos braços de outro.



Stanley Kubrick estendeu as filmagens de “De Olhos Bem Fechados” por 52 semanas. Como? Um filme erótico com meia dúzia de atores e sem efeitos visuais segurando a agenda de todo mundo por um ano? Ao rever o filme fiquei imaginando os investidores apreensivos. Imaginei Cruise e Nicole cancelando compromissos para mergulhar num trabalho em que teriam que fazer uma regressão gradual aos instintos mais básicos deles. Amparado por uma obra que gera excelentes dividendos a Warner desde “Laranja Mecânica” (1971), Kubrick ousou bater de frente com o Estúdio que exigia o cronograma de 18 semanas de filmagens. Tom Cruise e Nicole Kidman embarcaram na loucura se dispondo a se despir de qualquer fronteira do pudor, contanto que a equipe fosse reduzida.

O sigilo no set, construído no Pinewood Studios, em Londres, também era absoluto. Cruise e Nicole guardaram muito bem os segredos por trás dos bastidores. Durante os últimos dois anos toda espécie de rumores ressoou do Pinewood Studios, onde a equipe de pouco mais de cinqüenta integrantes fez um pacto de silêncio sobre a empreitada cinematográfica. Ventilou-se a fofoca de que o casal passava por vários tipos de experiência erótica, que Cruise aparecia travestido de mulher, que beijava e transava com um dos atores e que Nicole fazia uma junkie que se envolvia em qualquer experiência sexual por uma dose de ácido.

A criatividade da mídia foi muito além das imagens que Kubrick criou para o seu filme, o que de nenhuma forma quer dizer que “De Olhos Bem Fechados” é pouco imaginativo. O filme é sobre sexo sim, mas boa parte da história se passa na fértil cabeça dos personagens. O Dr. William Harford e a mulher Alice (Cruise e Nicole), uma ex-marchand, vivem uma feliz união há dez anos e estão se preparando para ir a uma festa. A câmera de Kubrick desvenda o corpo de Nicole, vestindo-se já na abertura do filme. Na festa, ambos brincam de flertar com os convidados. Quando uma ponta de ciúmes ameaça estragar a noite, ambos vão para casa.
Embora pareçam tranqüilos, a “escapadinha” de Alice faz com que se torne muito franca. No meio de uma noite descontraída, ela conta para Bill um segredo: o dia em que teve o desejo de transar com um oficial da marinha, que conheceu durante as férias do verão anterior num balneário. Alice admite que paquerou o homem, e que tudo foi muito inocente na hora, só depois percebeu que jogaria tudo para o alto, o casamento estável e até sua filha para ter uma noite com aquele oficial. O personagem de Cruise fica perplexo com a revelação e começa uma discussão que será interrompida por um telefonema. Mas a manipulação subliminar já está em ação. Como nos sonhos, estranhos detalhes se destacam. Ganham relevo. O telefonema é um pedido de socorro, feito pela filha de um paciente, que está passando mal. Bill faz uma visita a garota (Marie Richardson), que se insinua bem ao lado do pai moribundo. A mulher causa confusão na cabeça do médico e ele resolve abandonar a consulta. Antes de voltar para Alice, passa na casa de um amigo pianista. Durante o percurso é assombrado pela imagem da esposa transando com o oficial. Essa imagem voltará a cena em diversas ocasiões do filme.

Kubrick se inspirou no livro “Traumnovelle” (História do Sonho), publicado em 1926 por Arthur Schnitzler. A adaptação foi feita pelo próprio diretor com colaboração de Frederic Raphael. O projeto era acalentado pelo diretor há trinta anos (a adaptação era para ter sido feita logo depois de “2001 - Uma Odisséia no Espaço”), mas ninguém parecia muito empolgado com a idéia em Hollywood, sobretudo porque era a época da contracultura e os estúdios viam tudo que era relacionado com essa turma como uma ameaça.

Foi o status que Kubrick assumiu durante todos estes anos que fez o projeto se concretizar no presente. Na verdade, a Warner estava muito estimulada por outra realização, “A.I. – Inteligência Artificial”, uma ficção científica, que prometia ser tão revolucionária quanto “2001”. Como havia problemas tecnológicos complicados de resolver a médio prazo, Kubrick sugeriu rodar “De Olhos Bem Fechados” antes de partir para o novo empreendimento.

A produção menos complexa acabou levando seis meses para ser levantada, com mais 15 meses de filmagem e mais um ano para ser montada. Neste período, Harvey Keitel foi demitido por diferenças ideológicas (cogita-se que ele teria levado muito a sério as cenas de sexo com Nicole Kidman, o que teria causado ciúmes em Tom Cruise) e Jennifer Jason Leigh teve que abandonar o projeto por indisponibilidade na agenda (Kubrick a chamou diversas vezes para voltar ao set e numa das ocasiões ela não pode voltar porque já estava fazendo outro filme).

A cópia final com 2 horas e 39 minutos foi assistida por Kubrick e o casal em 28 de fevereiro. Cruise chorou duas vezes durante a sessão. Declarou recentemente que até hoje o filme mexe com ele e ele nem sabe explicar bem o porquê. Nicole não emite uma palavra a respeito. Uma semana depois, no dia 7 de março de 1999, Kubrick morreu em sua casa.

Curiosidades e revelações torna desse um dos mais brilhantes filmes do ano de 1999. A despedida de um mestre em grande e fenomenal estilo.



RiChaR Neves

1 comentários:

Esse é o filme menos compreendido do Kubrick! Muitas pessoas simplesmente o odeiam; eu acho curioso e fascinante.

23 de novembro de 2009 às 22:05  

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