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Moviemix


O Mundo de Andy Kaufman


Por Anabela


Andy Kaufman era um sujeito esquisito e um comediante peculiar. Muito antes do humor politicamente incorreto tornar-se moda, ele subia ao palco e soltava o verbo em textos que muitos, por não compreender, não achavam a menor graça. Era um humor para poucos.



Fazendo sotaques estranhos, representava personagens que pareciam perdidos e sem nada a dizer, o que fazia a platéia confundir-se sem saber separar o personagem do artista. Dublava temas de antigos desenhos animados como Super Mouse e um de seus poucos números que a platéia entendia, apreciava e aplaudia, era uma imitação caricata de Elvis Presley. Foi justamente durante uma dessas apresentações que foi descoberto por um famoso produtor de TV, George Shapiro, que na época iniciava a produção de uma série, a hoje famosa Taxi, e convidou Andy para protagonizar um dos principais papéis, o mecânico Latka, que tinha um sotaque hilário de origem desconhecida e era ingênuo e encantador. Andy, por não se imaginar fazendo um tipo convencional de humor, exitou bastante em aceitar a oferta irrecusável.



Foi persuadido por Shapiro, que comprometeu-se com Andy a encaminhar para a direção do estúdio uma lista, elaborada por Kaufman, de exigências inegociáveis para que ele assinasse o contrato. Inacreditavelmente os diretores, convencidos por Shapiro do talento de sua descoberta, concordaram com cada uma delas! Andy queria, entre outras coisas, liberdade total na produção de programas especiais esporádicos e a participação de seu amigo Toni Clifton em alguns episódios da série. Shapiro sabia que Toni era na verdade um dos personagens mais transgressores e incompreensíveis de Andy. Já havia testemunhado o criador de casos Toni Clifton humilhar e agredir uma pessoa na platéia de um show. Quando questionou Andy a esse respeito, descobriu que a pessoa na verdade era Bob Zmuda, amigo e colaborador de Andy na criação de seus números e que tudo aquilo não passava de encenação para provocar a indignação da platéia. Essa era a concepção de humor de Andy Kaufman.



Ele não queria provocar apenas risadas, mas também raiva, perplexidade e qualquer outro sentimento que tirasse o público de sua zona de conforto. Queria mesmo causar controvérsias e polêmicas, como quando foi convidado a retirar-se do elenco do humorístico Saturday Night Live, a pedido do público que não entendia a verdadeira intenção de seu humor. A série Taxi tornou-se bastante popular e o personagem de Andy o mais adorado. Ele contudo, não estava feliz. Em suas apresentações solo, a audiência pedia Latka, sem demonstrar o menor interesse em qualquer outra coisa que Andy apresentasse. Após o 2º ano da série e no auge do sucesso, Kaufman queria livrar-se dela a qualquer custo. Desejava dar um rumo diferente à sua carreira e, para isso, precisava livrar-se de seu longo contrato.



Conseguiu afinal, quando o personagem Toni Clifton fez uma participação desastrosa no programa, que culminou em uma briga durante as gravações e na consequente dispensa de Andy. Finalmente livre, resolveu levar seu humor peculiar aos ringues de luta livre. Lançou-se como lutador, mas só desafiava mulheres. Muito mais apanhava que batia e as ofensas e provocações que dirigia às suas oponentes, rendeu-lhe o ódio daqueles que não percebiam que tudo aquilo era apenas encenação. Na verdade Andy era um amável cavalheiro, vegetariano e que dedicava-se com afinco à prática de yoga e meditação. Seu humor inovador e desconcertante permaneceu incompreendido por muitos, até sua morte prematura em 1984, aos 35 anos de idade, vitimado por um raro tipo de câncer nos pulmões.



Curiosamente muitos pensaram que sua doença era apenas parte de mais um de seus esquemas para enganar e desorientar sua audiência. Quando saía às ruas de cadeira de rodas, totalmente fragilizado pela quimioterapia, pessoas o abordavam rindo e dizendo que ele não as enganaria desta vez. Levou tão longe essa capacidade de confundir o público, que alguns achavam que em seu velório levantaria do caixão. Fã declarado de Andy, o diretor Milos Forman escolheu Jim Carrey para revivê-lo com perfeição em seu belíssimo O Mundo de Andy. A cena de abertura do filme, completamente inusitada, me fez pensar que talvez Andy Kaufman não tenha mesmo morrido. Acredito que tenha ditado à Forman os rumos de seu filme, tamanha a identificação entre a obra e seu retratado. Andy vive.

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