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Em DVD - Crítica - J.C.V.D


Um dos filmes mais surpreendentes descobertos em DVD. Em JCVD, Jean-Claude Van Damme diz sobre si mesmo tudo o que há de mais deletério e cruel.

Críticos interessados em achincalhar Jean-Claude Van Damme sob qualquer prisma – como ator, celebridade, até como pai ou homem – ficam avisados de que perderam o bonde: não há nada de cruel ou deletério que possam dizer sobre o baixinho belga (inclusive isso, que ele é baixinho) que o próprio não diga, com franqueza brutal, em um filme surpreendente lançado diretamente em DVD. Em JCVD, Van Damme, astro decadente da pancadaria, interpreta – quem haveria de ser – Van Damme, astro decadente da pancadaria. Na sequência inicial, ele arfa e geme para dar conta de chutar e golpear um punhado de vilões; "tenho 47 anos", justifica ao diretor do filme que está rodando, que o olha com desprezo indisfarçável. Desesperado para achar algo melhor para fazer, pressionado moral e financeiramente em um humilhante processo pela guarda conjunta de sua filha (a menina diz ao juiz que não quer ficar com o pai porque, cada vez que um de seus filmes passa na televisão, ela tem de aguentar zombarias na escola) e há várias noites sem dormir, Van Damme, de passagem por sua Bruxelas natal, ganha uma descompostura de uma motorista de táxi: quem ele acha que é, diz ela, para se recusar a bater papo. Tenta tirar dinheiro de um caixa automático, e seu cartão é recusado. Vai ao banco, e não querem lhe entregar a quantia pedida – porque o banco, na verdade, está sob assalto. E os assaltantes têm a brilhante ideia de fazer parecer que é Van Damme o ladrão. O mais triste: ninguém, da polícia à imprensa e curiosos que se aglomeram na rua, duvida que ele possa ter chegado a esse ponto. Nem os pais dele (interpretados por atores), que perguntam, chorosos: "Como isso foi acontecer, meu filho?".


J.C.V.D (Mabrouk El Mechri,2008)


JCVD é, de ponta a ponta, uma ficção – exceto no que realmente interessa ao seu protagonista e também produtor executivo: o mecanismo da espiral descendente que não raro engole os astros desse gênero, e a amargura avassaladora que ela pode provocar. Há oito anos um filme de Van Damme não chega aos cinemas brasileiros. Ele é, hoje, estritamente uma celebridade de videolocadora. A chave para tal decadência não está apenas nas limitações do talento ou na idade. Está, sobretudo, em um paradoxo que os ícones dessa área raramente compreendem na juventude, quando ainda há tempo para equacioná-lo: para um astro de ação perdurar, ele tem de ter bem mais que músculos – precisa de inteligência. Do tipo que produz autocrítica, que alerta para a efemeridade do sucesso nesse segmento e analisa alternativas. Os outros três astros que por muito tempo dominaram o gênero ilustram bem o resultado de uma visão lúcida – ou da falta dela. Bruce Willis, o mais versátil e dedicado, estabeleceu uma carreira que, não obstante as irregularidades, vende saúde. Arnold Schwarzenegger percebeu antes mesmo que o público seu deslize rumo à insignificância, e partiu para uma bem-sucedida aventura política. Sylvester Stallone só é viável porque escreve, produz e dirige seus filmes – mas vive do passado. Van Damme está em situação ainda pior: não se desafiou como ator, não cultivou o trânsito junto aos grandes estúdios americanos, preferindo o jogo fácil e rápido dos produtores asiáticos e europeus, e não se preparou para um segundo ato. Este é o que ele tenta iniciar, na marra, com JCVD. De alguma forma, consegue: embora exponha seus fracassos e falhas de maneira calculada, Van Damme às vezes exala um pânico tão genuíno que chega de fato a comover. O que é bem mais do que se pode dizer de qualquer outro dos quase quarenta filmes que ele fez até aqui

NOTA = 9,5

2 comentários:

Excelente texto! Fiquei com vontade de assistir. Gosto do belga, acho alguns de seus filmes bem legais e até hoje lembro do mico que ele pagou no programa do Jô metido a besta Soares. Espero que esse filma de alguma maneira o redima e ele volte à ativa.

28 de outubro de 2009 às 11:07  

Richar, bom texto, até deu vontade de ver o filme. Só fico de cara com uma coisa: eu sou baixinho, e ele consegue ser 15cm mais baixo que eu!!!!

3 de novembro de 2009 às 00:18  

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