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A América Oculta de Diane Arbus





Por Anabela






Esteticamente incômodo, profundamente perturbador, mas paradoxalmente belo; assim é o trabalho fotográfico de Diane Arbus.
Algo que podemos dizer sobre ela é que procurando a sombra encontrou a luz. Diane, nascida de uma rica família judia de Nova York em 1923, casou-se muito jovem aos 18 anos com o fotógrafo de moda Allan Arbus. Com ele aprendeu a fotografar e permaneceu como sua assistente durante algum tempo. Vivia então, entre belas modelos e cenários de luxo, num constante estado de inquietação. Separou-se do marido e do mundo de glamour no qual vivia em 1959 e aos 36 anos de idade, já completamente apaixonada por fotografia, foi ter aulas com Alexey Brodovitch, o criador da famosa revista Harper's Bazar.O foco de seu interesse começou a se definir; fotografava pessoas comuns, desprovidas de qualquer luxo e sempre em preto e branco, utilizando-se de uma Rolleiflex que posicionava na altura do umbigo. A utilização dessa técnica, acrescentava força às imagens que escolhia retratar e sua iluminação direta e crua não deixava margem a segundas interpretações; em uma evolução rápida de seu trabalho, Diane logo fez perceber que queria mostrar ao mundo, em fotos desconcertantes, o que a América tentava esconder.
Velhos, travestis, nudistas, prostitutas, anões, figuras infelizes e tocantes, passaram a ser seus modelos, prestando depoimentos mudos através de imagens eloquentes. A proposta da fotógrafa, segundo suas próprias palavras, era registrar coisas que ninguém conseguiria enxergar, a não ser que ela as capturasse com sua câmera. O inusitado e talentoso trabalho de Diane chamava a atenção, trazia-lhe reconhecimento e radicalizava-se cada vez mais.
Uma de suas séries mais famosas retrata “freaks”, pessoas nascidas com deformidades e que para sobreviver, se expunham como atrações de circo. Arbus declarava sua predileção por eles, explicando que enquanto as pessoas passavam a vida tentando evitar uma experiência traumática, os freaks já nasciam banhados pelo trauma, o que lhes conferia uma nobreza instantânea por haver passado no teste da vida; em sua concepção eram aristocratas e curiosamente, seu ponto de vista transparece em cada uma de suas fotos.
No final dos anos 60 produz Untitled, série na qual retrata velhos em asilos e doentes mentais internados em instituições; são retratos repletos de dor e miséria que chocam, seduzem e dignificam seus modelos, naquilo que a meu ver, tornou-se uma assinatura da artista. Dorothea Lange, famosa fotógrafa documentarista afirmava que cada retrato de outra pessoa era um auto retrato. Talvez tiremos dessa frase a explicação para o suicídio de Diane Arbus, em 1971, no auge de sua carreira e reconhecimento.
Seu trabalho excepcional serviu de inspiração para vários artistas gráficos, plásticos e cineastas como David Lynch e Stanley Kubrick, que baseou-se em uma famosa foto de Diane para criar suas sinistras gêmeas de O Iluminado.

Uma das melhores séries de TV já produzidas, a forte, adulta e bela Carnivale, traz a inspiração do trabalho de Diane em cada quadro.
Em 2006, Steven Shainberg dirigiu o longa A Pele (Fur), baseado no livro An Imaginary Portrait of Diane Arbus, de Patricia Bosworth. A história mistura livremente e sem pudores, realidade e ficção, ao criar um romance entre Diane (Nicolle Kidmann) e um de seus estranhos modelos (Robert Downey Jr.), para justificar a mudança súbita de rumo ocorrida tanto em sua vida, como em seu trabalho. O filme merece ser visto, porque retrata todo o clima de estranheza e lirismo presentes no trabalho de Diane, artista que distanciando-se do sensacionalismo aproximou-se da alma de seus retratados.

1 comentários:

uia! Que legal, não conhecia a história dela e nem sabia que as gêmeas do Iluminado tinham sido inspiradas em uma foto.

Mariana

6 de outubro de 2009 às 15:09  

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